FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA E O ENSINO RELIGIOSO

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Transcrição:

Formação para a cidadania e o ensino religioso FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA E O ENSINO RELIGIOSO Lurdes Caron * Resumo Os desafios e as mudanças atuais estão a exigir transformações profundas na maneira de viver e relacionarse. Exigem constante atualização na e da educação, privilegiando o aprender a ser, o aprender a aprender, o ter acesso ao saber acumulado, o aprender conviver em solidariedade. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) fala da educação para suprir as necessidades de aprendizagem básica 1. O Estado não é o único responsável pela formação cidadã. Todas as instituições sociais (família, escola, igreja) têm essa função. Todas precisam colaborar para a formação da cidadania, direito fundamental do ser humano. Ser cidadão é recuperar sentimentos que levem para o engrandecimento do ser humano, no respeito à liberdade e no direito de agir para a construção de um mundo sem violência, pacífico e harmonioso. A ação cidadã precisa estar em função da felicidade do ser humano. Palavras-chave: Ensino Religioso Educação Formação do Professor Cidadão. Resumen Los desafíos y las mudanzas atuales están exigiendo transformaciones profundas en la manera de vivir y de relacionarse. Exigen una actualización constante de la educación, privilegiando el aprender a ser, el aprender a aprender, el tener acceso al saber acumulado, el aprender a convivir en solidaridad. Un relatorio de la Organización de las Naciones Unidas para la educación, la ciencia y la cultura (UNESCO) habla de la educación como instrumento para suplir las necesidades del aprendizaje básico. El estado no es el único responsable por la formación de los ciudadanos. Todas las instituciones sociales (familia, escuela e iglesia) tienen esa función. Todas deben colaborar en la formación a la ciudadanía, derecho fundamental del ser humano. Ser ciudadano es recuperar sentimientos que conduzcan al engrandecimiento del ser humano, en el respeto a la libertad y en el derecho a actuar en la construcción de un mundo sin violencia, pacífico y harmonioso. La acción ciudadana precisa estar en función de la felicidad del ser humano. Palabras-clave: Enseñanza Religiosa - Educación - Formación del Profesor - Ciudadano. * Assessora da CNBB - Setor de Ensino Religioso, Doutoranda na PUCSP. Rua: Marcondes de Brito, n. 33, Vila Matilde, São Paulo SP, CEP. 03509-000. E-mail: ensinoreligioso@cnbb.org.br Revista Educação em Movimento. Curitiba, v.2, n.5, p. 11-19, (Supl.), maio/ago. 2003. 11

Lurdes Caron Introdução Há um novo mundo surgindo. Mudanças tecnológicas, políticas, religiosas, culturais e econômicas transformam a vida. Ao mesmo tempo em que trazem benefícios, produzem um batalhão de excluídos. Vive-se o preocupante clima do consumismo, provocado pela propaganda exacerbada e pela competitividade geradora de exclusão social, cada vez mais crescente. Constata-se, no entanto, um número cada vez mais crescente de pessoas com o desejo de participar na construção de um mundo justo e solidário, que coloque a pessoa humana como centro do seu desenvolvimento. Cresce, também, a preocupação com a preservação da vida no planeta. 1. Educação para a cidadania 1.1. A compreensão de cidadania O conceito de cidadania não é neutro. Cidadão é todo aquele que, em todos os estágios possíveis, desenvolve o seu pensar e o seu agir. É o ser humano relacional. Constrói-se, construindo. A história do ser humano e suas relações de produção nos ensinam que a cidadania é uma construção social, e que, dependendo do grau de consciência das pessoas em relação à sua organização produtiva, teve diferentes significados ao longo do tempo. (frenandes, 1996, P. 5) No século passado, a cidadania era compreendida como o reconhecimento dos direitos e deveres inerentes à convivência político-social e econômica. (Gonçalves filho, 1998, P. 110-11). Cidadania é um termo que vem da palavra cidade, origem também do termo política. Significa dizer que cidadania é o verdadeiro exercício do ser político da pessoa humana. Cidadania significa conviver na cidade, conviver coletivamente, em que cada componente do ser humano tem a ver com os destinos do todo, de todos e de cada um. O primeiro conceito de cidadania surgiu, entre os gregos, quando conquistaram o direito de decidir sobre os destinos da cidade. O ser humano é um sujeito de ação política. É ele quem a cria, a promove e a controla. Na origem do termo, política é a atividade das pessoas, exercida na cidade (cidade = polis, em grego). Precisamos construir um projeto de cidadania que defenda e aponte horizontes de libertação pessoal e de transformações que garantem uma sociedade justa, solidária, participativa e igualitária. (GUARESCHI, 1995, P. 48). Cidadania é um compromisso de cada ser humano, que a exerce por sua participação intensamente ativa na sociedade. 1. 2. Formação para a cidadania A formação para a cidadania não se restringe somente ao ambiente escolar, mesmo que a escola exerça um papel indispensavelmente fundamental. Isto acontece concretamente quando se estabelecem práticas pedagógicas reflexivas sobre determinados aspectos da realidade que incidem diretamente na vida pessoal de cada cidadão. É preciso ter claro que a educação para a cidadania não se dá somente por meio de conteúdos programáticos explícitos, e nem só por aulas de Ensino Religioso. Educa-se muito mais pela experiência de vida. A Escola, como instituição social, contribui para a formação de cidadãos comprometidos e esclarecidos sobre a gestão dos problemas socioambientais do mundo em que se vive. Isto, sem dúvida, passa pela construção de saberes e ações educacionais que se concretizam ao longo do processo formativo (GARCIA, 1998). A escola, como instituição social, em razão de sua essência, precisa oferecer um espaço digno de vivência cidadã, pacífica e harmoniosa. A escola precisa definir, com clareza, no seu projeto político/pedagógico, o tipo de ser humano a formar e o modelo de sociedade a cultivar para gerar um mundo humano, justo, fraterno e participativo. Educar para a cidadania é educar para a solidariedade. Educar para a cidadania inclui participar nas decisões dos grupos sociais, respeitar e ser respeitado, ouvir e ser ouvido. Formar para a cidadania é formar cidadãos conscientes, críticos, engajados, atuantes. É preciso formar cidadãos que: atuem na diminuição das práticas sociais excludentes, e que se voltem para a construção de um ambiente menos degradante. 1. 3. O direito ao exercício da cidadania Uma das conquistas alcançadas no mundo contemporâneo é o direito à cidadania (Carta dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos, elaborada na Assembléia Nacional Francesa, em 1789). Esta mesma concepção foi resgatada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, 12

Formação para a cidadania e o ensino religioso garantindo ao cidadão o direito de expressar-se. A compreensão atual de cidadania assumida no texto da Constituição em vigor, no Brasil, é resultado de diversos movimentos de mobilização social que procuraram interferir na elaboração da Carta Magna (1988), assegurando a possibilidade de que a população estabelecesse um novo horizonte de relações. (JUNQUEIRA, 2002, p. 7). É importante para o ser humano o exercício da autonomia e da emancipação, desenvolvendo a capacidade e a liberdade de pensar, de agir e de participar. Hoje se precisa de pessoas (crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos), pensando, falando, criando, escrevendo, pesquisando, questionando e construindo na construção de um mundo melhor, alegre, agradável, humano e feliz. Ser cidadão é participar das decisões. É ter acesso moradia, à alimentação, à saúde, à educação, à escola e ao trabalho. É respeitar e ser respeitado nos seus direitos fundamentais. É poder produzir, constituir família, amar e ser amado, conhecer o mundo e dele usufruir. É lutar coletivamente contra toda a exploração. É poder expressar-se e comunicar-se. 1.4. A formação de professores A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n.º 9.394/96, instituiu dois níveis de educação no território nacional: a básica e a superior. A educação básica é constituída pela educação infantil, pelo ensino fundamental, pelo ensino médio e pela educação de jovens e adultos. Para atender a esta educação básica é preciso professores competentes. A formação de professores competentes se constitui, sem dúvida, no grande desafio do sistema de ensino do Brasil. Toda e qualquer mudança educacional, em nível federal, estadual e municipal, defronta-se com a questão da formação e valorização dos profissionais da educação. Esta formação está condicionada muito mais aos interesses do sistema vigente, do que voltada para as reais necessidades do educador, do educando e da sociedade. A pessoa humana é um ser em busca de realização e de felicidade. Ela, à luz da razão, descobre-se a si mesma e ao mundo que está ao seu redor, como um universo de possibilidades, diante dos quais tem que se definir. Seu comportamento, na maioria das vezes, é pautado por respostas a estes desafios. Na permanente construção de si e do mundo, a pessoa encontra-se num processo de busca de auto-realização e, por isso, necessita de constante formação (IGREJA CATÓ- LICA, GAUDIUM ET SPES, n. 53). O educador exerce, na formação para o exercício da cidadania, um papel importante. A permanente construção da pessoa exige do educador, como profissional, a busca de uma continuada formação para a aquisição de conhecimentos e da consciência da complexidade do universo pluralista em que vive e atua. Além disso, esta formação continuada exige que o educador estude a realidade em constante mudança. Para bem atender aos educandos e aos docentes, principalmente no que se refere à formação, é imprescindível a existência de um projeto político/pedagógico. A formação do profissional de educação acontece, também, no exercício cotidiano da cidadania, ao responder, livre e corresponsavelmente, aos desafios e exigências da realidade Ȯ projeto político-pedagógico, bem como o profissional da educação, precisam perguntar-se sobre o tipo de ser humano e de sociedade a construir. Não há ato educativo neutro. Precisamos saber para quê educar. Todos os profissionais de educação são chamados a contribuir na sua própria formação, melhorando as próprias condições de trabalho, e a qualidade de ensino, de modo a reduzir as desigualdades sociais e oportunizar o progresso científico e técnico. O profissional da educação para o Ensino Religioso precisa estar disponível para o diálogo e ser capaz de articulá-lo a partir de questões suscitadas no processo de aprendizagem do educando. Cabe ao educador escutar e ser o interlocutor entre escola e comunidade. Frente a isso, faz-se necessária uma formação específica no qual sejam contemplados conteúdos, tais como: culturas, tradições religiosas, textos sagrados, teologias; ritos e ethos (PCNs, 1998, p. 28). 2. Formação para a cidadania e ensino religioso 2.1. A relação Estado-Igreja A relação Estado Igreja (política e religião) sustenta um ideário a respeito do Ensino 13

Lurdes Caron Religioso desde a Escola dos Jesuítas (as primeiras escolas no Brasil - 1549, visavam a educar segundo os princípios do cristianismo), passando pelo Império quando a religião católica foi estabelecida como a religião oficial do Estado. Dessa forma, é neste senso comum que se estabelece a histórica ausência de clareza entre Ensino Religioso e Religião. A separação Estado-Igreja, a partir da República (1889), acelera a definição do ensino leigo, nas escolas públicas. E o novo para o Ensino Religioso começa a ser vislumbrado fortemente a partir dos anos 90, quando, por circunstâncias históricas, segmentos da sociedade se manifestaram em favor do Ensino Religioso como disciplina curricular. (FONAPER, 2000, p. 7). 2.2. Dados históricos do Ensino Religioso a partir da LDB A LDB, assinada em 20 de dezembro de 1996, no seu artigo 33, definiu um Ensino Religioso confessional, ignorando experiências existentes no Brasil. Em 1996, mais de 17 Estados da Federação tinham práticas de Ensino Religioso Ecumênico e ou interconfessional. A organização e a mobilização de professores, organizações sociais e de igrejas resultou na entrada de três projetos, no Congresso Nacional, para alterar o artigo 33 da Lei n.º 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. O Deputado Federal, Pe. Roque (PT/PR), membro da Comissão de Educação Cultura e Desporto, foi escolhido para relator dos projetos. Assessorado por professores da área, é o principal responsável pela construção da nova proposta de legislação para o Ensino Religioso. Assim, em 22 de julho de 1997, foi aprovada a Lei nº 9.475/97. Esta lei é resultado de consenso e participação de diferentes níveis da sociedade. O artigo 33 foi o primeiro, da LDB, a ser modificado. O sentido da lei está em garantir que toda a escola de ensino fundamental oportunize aos alunos o acesso ao conhecimento religioso, dentro do horário normal de aulas, respeitando a diversidade cultural e religiosa de cada um. Compete à escola garantir aos alunos o acesso ao conhecimento religioso, compreendendo diferentes aspectos epistemológicos, sociológicos e históricos. O ensino de uma doutrina religiosa específica é competência das próprias igrejas. O Ensino Religioso está, pois, garantido na Constituição Federal (artigo 210 - parágrafo 1º): O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas do ensino fundamental. 2.3. A Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997 Esta Lei, nos termos que segue, sancionada pelo Presidente da República, dá nova redação ao art. 33 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional: Art. 1. - O art. 33 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 1. - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. 2. - Os Sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. Art. 2. - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3. - Revogam-se as disposições em contrário. 2.3.1. O novo paradigma do Ensino Religioso a partir da Lei 9.475/97 Da nova Lei pode-se destacar os seguintes enfoques: o Ensino Religioso é parte integrante da formação básica do cidadão; é assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil; são vedadas quaisquer formas de proselitismo; é disciplina dos horários normais das escolas públicas do ensino fundamental; é disciplina dos sistemas de ensino; os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição de conteúdos do Ensino Religioso; 14

os sistemas de ensino estabelecerão as normas para a habilitação e admissão de professores; a entidade civil será constituída para acompanhar o seu desenvolvimento do Ensino Religioso; a entidade civil é constituída pelas diferentes denominações religiosas (FONAPER, 2000, p. 14). 2.4. Concepção de Ensino Religioso de acordo com FONAPER (2000, p. 13-4); A trajetória do Ensino Religioso no Brasil está ligada a diferentes concepções de religião. A palavra vem do latim religio que deu a origem às concepções expressas pelos verbos: religere (re-escolher) Teologia (saber em si) religare(re-ligar) Antropologia (saber em relação) relegere (re-ler) - Fenomenologia religiosa (saber de si) Até a segunda metade do século XX, predominou no Brasil o Ensino Religioso na concepção de religere, no entendimento de reescolher, com a finalidade de fazer seguidores. Neste contexto, o Ensino Religioso se caracterizava como evangelização, aula de religião, catequese, ensino bíblico. O conhecimento veiculado era o da informação sobre elementos de uma religião. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB, n.º 4.024/61) refletiu sobre esta concepção. A segunda concepção é a do religare, significando religar as pessoas a si mesmas, aos outros, à natureza e a Deus. Neste contexto, o Ensino Religioso caracterizou-se como pastoral, aula de ética e valores. O conhecimento veiculado era o da formação antropológica da religiosidade, pelo saber em relação (a si próprio, aos outros, ao mundo, à natureza e a Deus). Esta concepção desenvolveu-se a partir dos anos 70 e está refletida na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, nº 5.692/71). A partir da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso, elaborados pelo Fórum Nacional de Ensino Religioso (FONAPER), está se refletindo e trabalhando numa nova concepção de Ensino Religioso. Esta concepção parte do verbo relegere, que significa reler. Reler o fenômeno religioso no contexto da realidade sociocultural. Esta concepção se dá a partir da Lei de Diretrizes e Bases Formação para a cidadania e o ensino religioso (LDB, nº 9.394/96), no seu artigo 33, alterado pela Lei nº 9.475/97 que deu uma nova redação. O Ensino Religioso passa a ser entendido como área do conhecimento da Base Nacional Comum (cf. Parecer 04/98 e Resolução 02/98 2 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação). Tem como objeto de estudo o fenômeno religioso e o conhecimento veiculado. É o entendimento desse fenômeno que o educando constata a partir do convívio social. A concepção de Ensino Religioso na perspectiva do relegere responde às exigências da educação para o século XXI e dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER). É necessário compreender, pedagogicamente, as relações que se estabelecem entre as concepções de Ensino Religioso e sua conseqüente prática no cotidiano da sala de aula, em que a concepção, forçosamente, determina a relação ensino-aprendizagem por meio do tratamento didático, da metodologia utilizada e da avaliação. 2.5. Busca de compreensão para o Ensino Religioso O ser humano constitui-se num ser em relação. Na busca de sobreviver e dar sentido à sua existência ao longo da história, desenvolve as mais variadas formas de relacionamento com a natureza, com a sociedade, com o transcendente e consigo mesmo. Estabelece estas relações na busca de respostas às suas perguntas existenciais: quem sou, de onde vim, e para onde vou? Nesta busca, o ser humano desenvolve conhecimentos que lhe possibilitam interferir no meio ambiente (CARON, 1996). O Ensino Religioso, entendido como área do conhecimento da Base Nacional Comum, faz parte do currículo escolar, integra os horários normais nas escolas públicas. É de matrícula facultativa para o aluno. Exige o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil e proíbe toda e qualquer forma de proselitismo. Ele é compreendido como parte integrante e integrador e essencial para a formação do cidadão. Este ensino, bem como toda a atividade escolar, tem como sujeitos pessoas com características próprias e concretas. Realiza-se num determinado contexto sociocultural, do qual recebe influências e no qual procura interferir. 15

Lurdes Caron O Ensino Religioso tem como objeto de estudo o fenômeno religioso. Entende-se, aqui, o processo de busca que o ser humano realiza na procura da transcendência, desde a experiência pessoal do Transcendente até a experiência religiosa na partilha de grupo; desde a vivência em comunidade até a institucionalização pelas tradições religiosas (FONAPER, 2000, p. 16). O Ensino Religioso compreendido como um direito do cidadão favorece que o ser humano, no exercício de sua cidadania, desenvolva suas potencialidades. Visa a uma educação que possibilite ao educando formular, em profundidade, o questionamento religioso e o ajude a dar suas respostas, devidamente informado, responsável, engajado Ȯ Ensino Religioso a partir de sua proposta pedagógica, visa, mediante seus conteúdos, a proporcionar ao educando o conhecimento de elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, nas dimensões antropológica, sociológica, psicológica e teológica. 2.6. Pressupostos pedagógicos do Ensino Religioso para a formação da cidadania conforme preconiza o FONAPER (2000, p. 22-6). O Ensino Religioso não é o único e o exclusivo componente curricular para tratar da questão da cidadania, como também não pode arrogar-se o direito de ser o único. Este ensino no sentido de contribuir para a formação da cidadania, como toda disciplina escolar, tem uma prática docente própria. Para isto, é necessário partir, primeiramente, da concepção do Ensino Religioso, do seu significado na diversidade da sala de aula e do novo enfoque que lhe é dado. É fundamental ter presente a nova Lei n 9.475 de 22 de julho de 1997, e os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso. Ambos colocam alguns pressupostos fundamentais para o desenvolvimento do Ensino Religioso na escola. 2.6.1. O Ensino Religioso é parte integrante da formação básica do cidadão (artigo 33 da LDB nº 9.394/96) O Ensino Religioso alicerça-se nos princípios da cidadania, do entendimento do outro enquanto outro, da formação integral do educando. Pois, mesmo que muitas pessoas neguem serem religiosas, é um dado histórico que toda pessoa é preparada para ser religiosa, do mesmo modo que é preparada para falar determinada língua, gostar disto ou daquilo, comer, vestir-se de uma forma, acreditar ou não, pois o ser religioso é um dado antropológico, cultural, presente no substrato de cada cultura. E no Brasil, constitui a Base Comum Nacional. 2.6.2. Ensino Religioso é um conhecimento que subsidia o educando para que ele se desenvolva sabendo de si (PCNER). O Ensino Religioso, como área do conhecimento, trata do conhecimento religioso. E este conhecimento, segundo os PCNER, é um conhecimento em relação de, que numa visão pedagógica progressista oportuniza o saber de si: o educando conhecerá ao longo do ensino fundamental os elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, para que possa entender melhor a sua busca do Transcendente. 2.6.3. Ensino Religioso faz parte da Base Nacional Comum (DCNEF) Em todas as escolas deverá ser garantido a igualdade de acesso para os alunos a uma Base Nacional Comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional (DCNEF artigo 3º, inciso IV). 2.6.4. O Ensino Religioso é área do conhecimento (DCNEF) A Base Nacional Comum e sua parte diversificada deverá integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise a estabelecer a relação entre a Educação Fundamental e: a) a vida cidadã por meio de sua articulação entre vários aspectos como: a saúde, a sexualidade, a vida familiar, e social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia, a cultura e as linguagens; b) as áreas de conhecimento: língua portuguesa, língua materna (para populações indígenas e migrantes), matemática, ciências, geografia, história, língua estrangeira, educação artística, educação física, educação religiosa (na forma do art. 33 da LDB). 16

Formação para a cidadania e o ensino religioso 2.6.5. O Ensino Religioso é disciplina dos horários normais, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa e vedadas quaisquer formas de proselitismo (artigo 33 da LDB). Ensino Religioso parte sempre do convívio social dos educandos para que se respeite a tradição trazida de suas famílias e assim se salvaguarde a liberdade de expressão de cada um. Só assim o educando se desenvolverá no desarmamento pessoal e no empenho pelo entendimento mútuo, na paz e na fraternidade. O Ensino Religioso não quer fazer proselitismo (seguidores) de qualquer tradição. 2.6.6. O Ensino Religioso com conteúdos que subsidiam o entendimento do fenômeno religioso a partir da relação: culturastradições religiosas. O Ensino Religioso, mediante seus conteúdos, proporciona o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso. Estes conteúdos, numa seqüência cognitiva e respeitando as características próprias dos educandos em cada série, fazem parte dos eixos organizadores do Ensino Religioso: culturas e tradições religiosas, teologias, textos sagrados, ritos e ethos que se sustentam na pluralidade cultural-religiosa do povo brasileiro Ȧssim, conhecer a trajetória do Ensino Religioso é valorizar a trajetória particular de cada grupo, proporcionar a convivência fraterna de modo que o educando possa vivenciá-la. 2.6.7. O Ensino Religioso é uma aprendizagem processual, progressista e permanente. O Ensino Religioso necessita sempre ter presente na aprendizagem os conhecimentos anteriores do educando e possibilitar uma continuidade progressiva no entendimento do fenômeno religioso, sem comparações, confrontos ou preconceitos de qualquer espécie. Também é necessário acreditar que a alteridade (com o diferente, alter) acontece o processo de conscientização, reconhecimento e superação das diferenças de modo gradual e progressivo. 2.6.8. O Ensino Religioso sensibiliza para o mistério, na alteridade. O Ensino Religioso trata do conhecimento religioso, que é ao mesmo tempo historicamente construído e revelado. Os assuntos religiosos são complexos em si e muito mais em seu tratamento na diversidade de sala de aula. Isto requer do educador um aprofundamento mais apurado, pois é nas relações do conhecimento religioso próprio com o do outro que o educando vai se sensibilizando para o mistério, compreendendo o sentido da vida e da vida além-morte, elaborado pelas tradições religiosas. 2.6.9. O Ensino Religioso é conhecimento que constrói significados. O Ensino Religioso é área do conhecimento da Base Nacional Comum, cujo conhecimento constrói significados a partir das relações que o educando estabelece no entendimento do Fenômeno Religioso. Esta construção vai se arquitetando pela observação do que constata, pela reflexão do que se observa e pela informação sobre o que se reflete. O educando, na aquisição de competências, atualiza seu conhecimento pela reflexão sobre experiências religiosas percebidas; compreende, numa análise, o significado delas para a vida e entende as atitudes morais diferenciadas como conseqüência do fenômeno religioso que o instiga para buscar respostas às suas perguntas existenciais: quem sou, de onde vim, para onde vou? 2.6.10. O Ensino Religioso é uma disciplina com prática didática contextualizada e organizada (PCNER). O Ensino Religioso tem sua prática didática que se desenrola na relação ensino-aprendizagem pela preparação e compreensão de: Quem é esse educando? Para que ensinar isso? - O que se quer que o educando aprenda? - O que é necessário saber para ser mediador na reflexão? - Como desenvolver no cotidiano da sala de aula? Isto se dá, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso: - pela organização do que se quer desenvolver: preparação da aula; - pelo tempo e espaço: horário estabe- 17

Lurdes Caron lecido para analisar, retomar as observações feitas ao longo da semana; - pela organização do que se seleciona e dos critérios para uso de materiais e recursos para os temas de aula. Isto tudo com a colaboração dos educandos. A prática didática que é sempre um ato intencional que se efetua numa atitude dialogal, cooperativa e participativa. 2.6.11. Ensino Religioso com avaliação processual que permeia objetivos, conteúdos e prática didática (PCNER) O Ensino Religioso utiliza-se da avaliação como elemento integrador entre a aprendizagem do educando e a atuação do educador na construção do conhecimento. Esta avaliação tem como pressupostos e se desenvolve em etapas para cada tema desenvolvido: inicial: reconhecimento no convívio social dos educandos dos grupos culturais/religiosos diferentes, crenças e expressões religiosas presentes na turma; formativa: alargamento do conhecimento do fenômeno religioso do educando pela percepção, análise e reflexão do mesmo dado socioreligioso da turma; final: aferimento dos resultados e do que se quer alcançar. Os instrumentos para acompanhar a aprendizagem são comuns do processo de ensino, desde que correspondam à forma de desenvolver o Ensino Religioso: observação, reflexão e informação no respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo. 2.6.12. Ensino Religioso e o sujeito como sujeito O Ensino Religioso desenvolve o conhecimento na tríplice relação: educando-conhecimento-educador. Nesta tríplice relação pedagógica fazse necessário admitir: - que o educador é o profissional mediador do processo, disponível para o diálogo e capaz de articulá-lo a partir do convívio dos educandos; - que o conhecimento do fenômeno religioso é percepção, análise e informação do que aparece e como aparece, na relação com o Transcendente; - que o educando é a pessoa, sujeito como sujeito, manifestação da realidade e da alteridade. É na sala de aula que cada um pode se exprimir como é, sem máscaras e sem disfarces. Considerações finais O Ensino Religioso, na visão do Estado brasileiro, não é catequese, não é ensino da Bíblia ou de algum outro livro sagrado; não é ensino de determinada religião. O Estado brasileiro admitiu o Ensino Religioso como disciplina escolar, um importante componente curricular para ajudar o educando na busca de sentido às suas perguntas existenciais. O Ensino Religioso, como parte obrigatória dos currículos nacionais, como área do conhecimento, refere-se às noções e conceitos essenciais sobre fenômenos, processos, sistemas e operações que contribuem para a constituição de saberes, conhecimentos, valores e práticas sociais, indispensáveis ao exercício da cidadania (JUNQUEIRA, 2002, p. 21). É importante lembrar que o conceito de cidadania continua em evolução e assume faces diversificadas no decorrer do tempo. O direito ao acesso à educação, para todo o cidadão brasileiro, é indiscutível para o exercício da cidadania. O Ensino Religioso, como disciplina garantida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, também é responsável, para, através do seu fazer pedagógico, responder às necessidades do novo cidadão brasileiro. Educar para a cidadania significa prover os indivíduos de instrumentos para a plena realização desta participação, motivada e competente, desta simbiose entre interesses pessoais e sociais, desta disposição para sentir em si as dores do mundo (MACHADO, 2001, p. 21). Para que o Ensino Religioso cumpra seu papel, colaborando na educação para o exercício da cidadania, é preciso que os alunos sejam orientados que o Ensino Religioso na escola é um direito de todo o educando. Ainda, é preciso que os professores, em sua missão, sejam competentes, eficientes, eficazes, atualizados, aceitos, afetivos, efetivos, alegres e prazerosos. Para Delors (1999, p. 90-9) aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver; aprender a ser, quatro pilares da educação, bases para um professor cidadão, no verdadeiro sentido da palavra. 18

Notas 1 Cf. CNBB. Campanha da fraternidade - 1998. Brasília: CNBB, 1998, p. 45 6. 2 A Resolução nº 02/98 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, apresenta no seu art. 3º, inciso IV, a Educação Religiosa como área de conhecimento (na forma da nova redação do art. 33 da LDBEN). Referências CARON, Lurdes. Ensino Religioso na escola pública. Boletim Notícias da CNBB, Brasília, 1996. (Encarte) FILHO, Tarcizo Gonçalves. Ensino Religioso e formação do ser político: uma proposta para a consciência de cidadania. Rio de Janeiro:Vozes, 1998. FONAPER. Ensino Religioso: referencial curricular para a proposta pedagógica da escola. Caderno Temático, n.1, 2000. FONAPER. Ensino Religioso Capacitação para um novo milênio: ensino religioso é disciplina integrante da formação do cidadão, [S. l.: s. n.], 2000. Formação para a cidadania e o ensino religioso GUARESCHI, Pedrinho. A educação e a exclusão. Cadernos da AEC do Brasil, n. 55, 1995. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. Ensino Religioso e sua relação Pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2002.. O processo da escolarização do Ensino Religioso no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002. MACHADO, José Nilson. Cidadania e educação. 3. ed. São Paulo: Escrituras, 2001. PARÂMETROS Curriculares Nacionais do Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave Maria, 1998. (Constituição Pastoral Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II). FRENANDES, Maria Estrela Araújo. A construção da cidadania e o papel do professor. In Diálogo: Revista de Ensino Religioso, São Paulo: Paulinas, n. 1, 1996. Recebido em 9/12/2002 Aprovado em 20/2/2003 19