CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA DE ÁGUA RESIDUÁRIA DE GALINHAS POEDEIRAS

Documentos relacionados
Relatório Preliminar Experimento 6.2 Reologia

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 Fenômenos de Transporte I A Profª Fátima Lopes

1ª) Lista de Exercícios de Laboratório de Física Experimental A Prof. Paulo César de Souza

REGRESSÃO LINEAR ENTRE TEMPERATURA E DENSIDADE DA GASOLINA RESUMO

PLANILHA ELETRÔNICA PARA PREDIÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE UM CONJUNTO TRATOR-ENLEIRADOR NO RECOLHIMENTO DO PALHIÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR

TIJOLOS DE ADOBE ESCOLA DE MINAS / 2015 / PROF. RICARDO FIOROTTO / MARTHA HOPPE / PAULA MATIAS

Inteligência Artificial

IV Seminário de Iniciação Científica

AULA 4 DELINEAMENTO EM QUADRADO LATINO (DQL)

AVALIAÇÃO DE UM TANQUE DE DECANTAÇÃO DE SÓLIDOS UTILIZANDO FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

0.1 Introdução Conceitos básicos

1 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMANDO 1.1 INTRODUÇÃO

Fundamentos de Teste de Software

3 - Bacias Hidrográficas

USO DO BIOSSÓLIDO COMO SUBSTRATO NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE AROEIRA (Schinus terenbinthifolius Raddi)

DISTRIBUIÇÕES ESPECIAIS DE PROBABILIDADE DISCRETAS

Aula 5. Uma partícula evolui na reta. A trajetória é uma função que dá a sua posição em função do tempo:

Corrente elétrica, potência, resistores e leis de Ohm

Pressuposições à ANOVA

Unidade 3 Função Afim

ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS METEOROLÓGICOS NAS ESTAÇÕES AUTOMÁTICAS E CONVENCIONAIS DO INMET EM BRASÍLIA DF.

Normas Didáticas - EMA091 - Mecânica dos Fluidos.

CARTOGRAFIA DE RISCO

Resistência dos Materiais

PESQUISA OPERACIONAL -PROGRAMAÇÃO LINEAR. Prof. Angelo Augusto Frozza, M.Sc.

QUESTÕES PARA A 3ª SÉRIE ENSINO MÉDIO MATEMÁTICA 2º BIMESTE SUGESTÕES DE RESOLUÇÕES

Realizando a sua avaliação utilizando-se materiais de referência certificados

GEOMETRIA. sólidos geométricos, regiões planas e contornos PRISMAS SÓLIDOS GEOMÉTRICOS REGIÕES PLANAS CONTORNOS

Resolução Comentada Unesp

Relatório do Experimento 1 Sistema Massa - Mola. Fernando Henrique Ferraz Pereira da Rosa

22 al 27 de agosto de 2004 Hotel Caribe Hilton - San Juan, Puerto Rico

NOTA SOBRE A TEORIA DA ESTABILIDADE DO EQUILÍBRIO EM MERCADOS MÚLTIPLOS: JOHN HICKS

IT-045.R-2 - INSTRUÇÃO TÉCNICA PARA ELABORAÇÃO DE MÉTODOS FEEMA (MF)

F.17 Cobertura de redes de abastecimento de água

Figura 4.1: Diagrama de representação de uma função de 2 variáveis

Probabilidade. Luiz Carlos Terra

PERMUTADOR DE PLACAS TP3

Física Experimental III

REUTILIZAÇÃO DE BORRACHA DE PNEUS INSERVÍVEIS EM OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

No contexto das ações de Pesquisa e Desenvolvimento

FUNGOS: UMA ANÁLISE EXPERIMENTAL SOBRE OS AGENTES CAUSADORES DE PROBLEMAS AOS PRODUTOS TÊXTEIS

VALIDAÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSIONAMENTO DE WETLANDS DE MACRÓFITAS AÉREAS PARA SEPARAÇÃO ÁGUA-ÓLEO

LINEARIZAÇÃO DE GRÁFICOS

Fundamentos de Bancos de Dados 3 a Prova Caderno de Questões

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

Análise Qualitativa no Gerenciamento de Riscos de Projetos

Cap. II EVENTOS MUTUAMENTE EXCLUSIVOS E EVENTOS NÃO- EXCLUSIVOS

Modelo Comportamental

UNESP - Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá 1

Gestão Documental. Gestão Documental

MF-0427.R-2 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DE FÓSFORO TOTAL (DIGESTÃO COM HNO 3 + HClO 4 E REAÇÃO COM MOLIBDATO DE AMÔNIO E ÁCIDO ASCÓRBICO)

MOQ-14 Projeto e Análise de Experimentos

QUÍMICA (2ºBimestre 1ºano)

Se inicialmente, o tanque estava com 100 litros, pode-se afirmar que ao final do dia o mesmo conterá.

Bombons a Granel. Série Matemática na Escola. Objetivos 1. Introduzir e mostrar aplicações do produto de matrizes.

Uso de escalas logaritmicas e linearização

Instituto Federal Fluminense Campus Campos Centro Programa Tecnologia Comunicação Educação (PTCE)

EFEITOS DO REUSO DE ÁGUA RESIDUÁRIA NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE EUCALIPTO

UTILIZAÇÃO DE SENSORES CAPACITIVOS PARA MEDIR UMIDADE DO SOLO.

Prospeto a publicar nas ofertas públicas de valores mobiliários

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Editora Atlas,

Graphing Basic no Excel 2007

Procedimento é realizado no Hospital do Olho da Redentora, em Rio Preto Enxergar

REOLOGIA DE POLPA DE MANGA E AJUSTE DOS PARÂMETROS REOLÓGICOS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA

Utilizando as soluções de controle e automação apresentadas pela National Instruments, como o LabView e a interface USB 6009, foi possível tornar

Código interno de identificação: LG-140 MP-41 MC-41 MP-42 MC-42 MP-43 MC-43 MP-61 MC-61 MP-62 MC-62 MP-63 MC-63

Materiais / Materiais I. Guia para Trabalho Laboratorial

Matrizes de Transferência de Forças e Deslocamentos para Seções Intermediárias de Elementos de Barra

Aula 3 Função do 1º Grau

Teoria dos erros em medições

Questão 1. Questão 2. Resposta

2 Conceitos Básicos. onde essa matriz expressa a aproximação linear local do campo. Definição 2.2 O campo vetorial v gera um fluxo φ : U R 2 R

RELATÓRIO GERENCIAL AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOCENTE, CURSO E COORDENADOR DE CURSO GRADUAÇÃO PRESENCIAL

Universidade Federal de Goiás Campus Catalão Departamento de Matemática

Camila Bolognes Couto Pahl Bióloga e Laboratorista UFMS Disciplina Transporte de Sedimentos Prof. Dr. Teodorico Alves Sobrinho

- PROPRIEDADES COLIGATIVAS 01 Folha 01 João Roberto Mazzei

Capítulo1 Tensão Normal

Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva

Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Professor Aloísio Teixeira Coordenação de Pesquisa e Coordenação de Extensão

Instituições de Ensino Superior Docentes Pertencentes a Unidades FCT. Indicadores Bibliométricos Física e Astronomia

Conteúdo programático por disciplina Matemática 6 o ano

Aula Prática 1 - Gerador Van de Graaff e interação entre corpos carregados

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA PLANO DE ENSINO PERÍODO LETIVO: 2008/2

CAPÍTULO 4 4. ELEMENTOS ESTRUTURAIS. 4.1 Classificação Geométrica dos Elementos Estruturais

Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Civil Departamento de Estruturas. Elementos estruturais. Prof. MSc. Luiz Carlos de Almeida

Apresentação dos Requisitos Do Edital Inmetro nº 01/2011

EFEITO DO PRODUTO DIFLY S3 NO CONTROLE DO CARRAPATO BOOPHILUS MICROPLUS EM BOVINOS DA RAÇA GIR, MESTIÇA E HOLANDESA

Análise espacial do prêmio médio do seguro de automóvel em Minas Gerais

Medidores Coriolis Multiváriaveis

AJUDA PREENCHIMENTO DA FICHA DE REGISTO DE FERTILIZAÇÃO

Unidade 1: O Computador

ATIVIDADE DE FÍSICA PARA AS FÉRIAS 8. o A/B PROF. A GRAZIELA

Geografia. Aula 02. Projeções Cartográficas A arte na construção de mapas. 2. Projeções cartográficas

Gráfico da tensão em função da intensidade da corrente elétrica.

GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA EM GESTÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL GERENCIAMENTO ESTATÍSTICO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS (tópicos da aula 3)

CONCEITOS DE CARTOGRAFIA ENG. CARTÓGRAFA ANNA CAROLINA CAVALHEIRO

Distribuição Normal de Probabilidade

Gerenciador de Ambiente Laboratorial - GAL Manual do Usuário Módulo Controle de Qualidade Analítico

Figuras 3 e 4-Chuva Média e observada para o mês de fevereiro, respectivamente

M =C J, fórmula do montante

Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA DE ÁGUA RESIDUÁRIA DE GALINHAS POEDEIRAS Cristiano Egnaldo Zinato 1 ; Wilson Denículi 2 ; José Antonio Rodrigues de Souza 3 ; Rafael Oliveira Batista 3 ; Antonio Teixeira de Matos 4 ;Rubens Alves de Oliveira 4 ; Daniel Coelho Ferreira 5 ; Eduardo Caldas Soares 6 RESUMO Neste trabalho, objetivou-se analisar as características reológicas da água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P), com distintas concentrações de sólidos totais (,26,,46,,73,,94, 1,63 e 2,89 dag L -1 ). A ARA - P foi obtida, mediante adição e mistura de esterco de galinhas poedeiras em um reservatório de 1 m 3 contendo água. As características reológicas da ARA - P foram obtidas por meio de um reômetro. De acordo com os resultados obtidos a ARA - P nas concentrações de,26,,46,,73,,94 e 1,63 dag L -1 foi classificada, reologicamente, como plástico de Bingham, apresentou tensão mínima de escoamento não nula e relação linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação. Palavras-chave: viscosidade, efluente, sólidos totais. ABSTRACT Rheological Characterization of the Laying Hen Wastewater This study was done to analyze the rheological characteristics of the laying hens wastewater (ARA - P) at the total solid concentrations of.26,.46,.73,.94, 1.63 and 2.89 dag L -1. The ARA - P was obtained, by mixing the hens droppings in a 1m 3 reservoir containing water, and the rheological characteristics were obtained, by using a rehometer. According to the results, ARA - P at the concentrations.26,.46,.73,.94 and 1.63 dag L -1 was rehologically classified as Bingham plastic, since it showed minimum no-null flowing tension and linear relationship between shear stress and the shear rate. Keywords: viscosity, effluent, total solids. 1 Eng. Agrícola, Mestre em Eng. Agrícola, Depto de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV 2 Prof. Associado, Doutor, Depto de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV 3 Eng. Agrícola, Doutorando em Eng. Agrícola, Depto de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV 4 Prof. Adjunto, Doutor, Depto de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV 5 Agrônomo, Mestrando em Eng. Agrícola, Depto de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV 6 Est. Eng. Agrícola e Ambiental, Depto de Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27 179

INTRODUÇÃO A equação geral da viscosidade, que descreve o comportamento reológico da grande maioria dos fluidos, é: n τ = k γ + τ (1) em que, τ = tensão de cisalhamento, ML -1 T -2 ; k = índice de consistência (constante reológica), ML -1 T -1 ; γ - taxa de deformação, T -1 ; n = índice de comportamento (constante reológica), adimensional; e τ = tensão mínima que promove o escoamento (constante reológica), ML -1 T -2. Os líquidos podem ser classificados, quanto à sua resistência ao escoamento, em: os fluidos newtonianos e os nãonewtonianos. Nos fluidos newtonianos, a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação constitui-se em uma linha reta, passando pela origem (Figura 1). Desse modo, os parâmetros da Equação 1 assumem os seguintes valores: k = constante de proporcionalidade, representando a viscosidade dinâmica do fluido (µ - ML -1 T -1 ); n = 1; e τ =. Nesta classe, destacam-se os óleos, gasolina, leite, água e bebidas aquosas, como chá, café e cerveja (Herum et al., 1966; Hughes e Brighton, 1974; Bourne, 1982; Fox e McDonald, 1995). Os fluidos não-newtonianos, em que a relação da tensão de cisalhamento não é linear, dividem-se em: Pseudoplásticos - a curva do fluido é côncava para o eixo da taxa de deformação; para isso τ = e n < 1. Segundo Fox e McDonald (1995), a maioria dos fluidos nãonewtonianos enquadra-se nesta categoria, tais como os polímeros, as suspensões coloidais e quase todas as polpas e sucos de frutas (Bourne, 1982), bem como as águas residuárias da bovinocultura (ARB), suinocultura (ARS) e avicultura (ARA) (Chen e Hashimoto, 1976a,b). Dilatantes - a curva do fluido é convexa para o eixo da taxa de deformação; para isso, τ = e n > 1. São fluidos cujo volume aumenta quando ocorre escoamento, sendo uma característica de líquidos que contêm alta concentração de partículas sólidas e insolúveis em suspensão, da ordem de 4 a 7%, como no caso de areia e amido. Plástico - a curva do fluido pode ser côncava, convexa e retilínea (plástico de Bigham); no entanto, não passa pela origem. Neste tipo de fluido, τ. Na prática, isto significa que o fluido não escoa logo que a força é aplicada, sendo necessária uma força de certa magnitude para que o fluido comece a escoar. Exemplos clássicos são o creme dental, a maionese, as suspensões de argila e a mistura de óleo com água (Arney et al., 1993). A equação do plástico de Bingham é a seguinte: τ = τ + ηγ (2) em que, η é a viscosidade aparente ou plástica, ML -1 T -1. 18 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27

Fonte: Matos (24). Figura 1. Diagrama reológico para fluídos newtonianos e não-newtonianos. Segundo Schramm (2), muitos fluidos cujo comportamento é pseudoplástico, sob certas condições de tensão e taxa de deformação angular, apresentam diminuições drásticas de viscosidade quando a taxa de deformação angular é aumentada. As propriedades reológicas das águas residuárias de bovinocultura (ARB), suinocultura (ARS) e avicultura (ARA) demonstram que esses fluidos também são do tipo pseudoplástico, conforme trabalhos desenvolvidos por Kumar et al. (1972), Chen e Hashimoto (1976a, 1976b), Hashimoto e Chen (1976) e Bashford et al. (1977). Diante do que foi exposto o presente trabalho teve por objetivo analisar as propriedades reológicas da água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P), com distintas concentrações de sólidos totais. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Área Experimental de Hidráulica, Irrigação e Drenagem do Departamento de Engenharia Agrícola (DEA), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa - MG. Analisou-se a água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P) em seis diferentes concentrações de sólidos totais (,26;,46;,73;,94; 1,63 e 2,89 dag L -1 ), obtidas mediante adição e mistura de esterco de galinhas poedeiras em reservatório de 1 m 3 contendo água. Primeiramente, o esterco foi moído e passado em peneira com abertura de 6 mm para a retirada de penas e outros materiais indesejáveis, sendo, posteriormente, adicionado ao reservatório com o fluido em circulação, para evitar sedimentação e facilitar a homogeneização. Após a adição de esterco correspondente a cada concentração, o efluente circulou durante cinco horas, pelo menos, depois de ficar 12 horas, pelo menos, em repouso para absorção de água. A ração das galinhas poedeiras do galpão, onde foi obtido o esterco, continha cerca de 6% de milho, 25% de farelo de soja, 7% de calcário e 2% de fosfato bicálcico, além de suplementos minerais, óleos e aditivos, totalizando 6%. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27 181

O peso específico médio do fluido (γ ) foi determinado por meio da pesagem de 1. ml da amostra contida numa proveta, fazendo-se três repetições. A concentração de sólidos totais (ST) e sólidos sedimentáveis (SD) também foi determinada com três repetições. Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Qualidade da Água do DEA/UFV. Para determinar as propriedades reológicas da ARA - P e definir o tipo de fluido em questão, utilizou-se um reômetro, modelo RheoStress RS 15, de fabricação da Haake. Para as determinações, utilizouse um sensor DG41 Ti (doble gap 41 titânio), com fatores geométricos A igual a 371. Pa/Nm e M igual a 72.67 (s - 1 )/(rad s -1 ) e fenda de 5.1 mm. O volume da amostra de ARA - P foi de 4,5 cm 3. Com o auxílio do software Rheowin versão 2.94, foram obtidos dados de tensão de cisalhamento (τ ), taxa de cisalhamento ( γ ) e viscosidade aparente (η ) a cada segundo, durante três minutos, totalizando 18 dados para cada concentração de ARA - P, com temperatura de ensaio de 25 ºC ±,5. Utilizou-se o método de teste CS (deformação constante). A amplitude das medidas de viscosidades foi de,5 a 1 4 mpas, com uma faixa de taxa de deformação de,5 a 4. s -1, com incerteza de ± 6%. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Quadro 1, são apresentados os resultados da análise física e os valores de ph da água residuária de galinhas poedeiras. Neste quadro, observa-se que os valores de sólidos sedimentáveis e de peso específico aumentaram com a concentração de sólidos totais. Quadro 1. Valores das características física e química da água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P) - sólidos totais (ST), sólidos sedimentáveis (SD), e potencial hidrogeniônico (ph) ARA - P ST (dag L -1 ),26,46,73,94 1,63 2,89 SD (ml L -1 ) 14 27 52 81 173 297 γ (kgf m -3 ) 1.3 1.4 1.6 1.4 1.9 1.15 ph 7,47 7,19 7,28 7,33 7,12 7,17 ST = sólidos totais; SD = sólidos sedimentáveis; γ = peso específico; e ph = potencial hidrogeniônico. Quadro 2. Caracterização reológica da água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P) à temperatura de 25 ºC ±,5 para distintas concentrações de sólidos totais (ST), de acordo com a Equação 2. ARA P ST (dag L -1 ),26,46,73,94 1,63 2,89 η (Pa s),836,7822,8554,2796,7191,276 τ (Pa),1555,196,1925,5283,2741,5517 r 2,997,993,985,97,985,23 η = viscosidade aparente; τ = tensão de escoamento; e r 2 = coeficiente de determinação. 182 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27

No Quadro 2, são apresentadas as características reológicas da água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P), cujas determinações foram decisivas para a classificação do fluido quanto a seu comportamento reológico. Observase que os valores da viscosidade aparente (η ), da ARA - P na temperatura de 25 ºC ±,5 foram,836,,7822,,8554,,2796,,7191 e,276 Pa s nas concentrações de,26,,46,,73,,94, 1,63 e 2,89 dag L -1, respectivamente. Estudos realizados por El - Mashad et al. (25) com água residuária de bovinocultura (ARB), entretanto, comprovaram que a viscosidade aparente do efluente pode aumentar com a concentração de sólidos totais. Nas figuras 2, 3 e 4, são apresentadas as curvas da taxa de deformação angular versus tensão de cisalhamento (curva de fluxo) e da taxa de deformação angular versus viscosidade (curva de viscosidade), construídas ao longo do teste, para caracterização reológica da ARA - P nas diversas concentrações de sólidos totais avaliadas. Nestas figuras, nota-se que as equações de regressão foram retilíneas (n = 1) com τ, caracterizando o fluido como plástico de Bingham. Com exceção da concentração de sólidos totais de 2,89 dag L -1, conforme se observa no Quadro 2, o coeficiente de determinação foi alto para o modelo ajustado. Possivelmente, durante a determinação, ocorreu sedimentação de parte dos sólidos no cilindro do reômetro e as características levantadas podem representar apenas a solução sobrenadante, explicando os valores mais baixos para as viscosidades aparentes das concentrações de sólidos totais de,94 e 2,89 dag L -1. Para esta última concentração não houve ajuste de modelo. Segundo Hughes e Brighton (1974), os plásticos de Bingham exibem uma tensão de escoamento com taxa de deformação nula, seguida por uma relação linear entre tensão e taxa de deformação. Forças de ligação moleculares ou interpartículas possibilitam às partículas sólidas dispersas e em suspensão a formação de estrutura em forma de flocos. Quando submetidas a um esforço externo, estas forças internas conferem, ao fluido, uma resistência ao escoamento relativamente alta, dificultando, num primeiro instante, o fluxo do fluido. A partir de certa magnitude, a força externa supera as forças internas, rompendo a estrutura inicial, sendo que o fluido comporta-se como um líquido. Baseado neste comportamento, o fluido é caracterizado como plástico de Bingham, modelo reológico descrito pela Equação 2, que melhor se ajustou entre todos os modelos reológicos contidos no software Rheowin para a ARA - P. O limite a partir do qual o líquido começa a fluir após a resistência inicial é chamado ponto de escoamento. A tensão de cisalhamento, correspondente a este limite, é representada graficamente pelo ponto do eixo das ordenadas, interceptado pela reta da Equação 2, que descreve o fluxo. É chamada de tensão de escoamento que, na Figura 2A, corresponde a,1555 Pa. Até então, a taxa de deformação é nula. A partir daí, à medida que aumenta, a tensão de cisalhamento cresce proporcionalmente à taxa de deformação angular. Esta relação de proporcionalidade é definida pelo coeficiente angular da reta e corresponde à viscosidade aparente do fluido, neste caso,,836 Pa s. Referências indicam a ARA como fluido pseudoplástico. Duas possibilidades podem justificar o resultado diferente, encontrado neste trabalho. A primeira é que a ARA - P em questão foi produzida com a adição de esterco curtido à água, depois de seco, moído e peneirado, enquanto, nos trabalhos de Chen e Hashimoto (1976a,b), a ARA de esterco fresco foi reutilizada para lavar o galpão das poedeiras. As características químicas, físicas e biológicas podem ser diferentes para cada processo de geração da ARA, podendo variar de acordo com a dieta dos animais, forma de coleta, armazenamento, manejo e utilização, podendo ainda apresentar características diferentes nas diferentes fases do tratamento, ao qual a ARA é submetida. Outro fato é que os reômetros e viscosímetros, nos quais foram testados os fluidos há décadas, eram experimentais e não havia equipamentos automatizados, que garantissem a repetitibilidade e as condições de controle para realização dessas determinações, como nos equipamentos atuais, dificultando qualquer comparação conclusiva. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27 183

A 2 τ=,1555 +,836 γ r =,997,3 25,2,1 2 15 1 5, 33 67 1 134 167 21 234 268 B 2,196,7822 r,993 τ= + γ =,3 25,2,1 2 15 1 5, 33 67 1 134 167 21 234 268 Taxa de deformação versus tensão de cisalhamento _ Taxa de deformação versus viscosidade aparente Equação linear ajustada da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento Figura 2. Curva de taxa de deformação versus tensão de cisalhamento e curva de taxa de deformação versus viscosidade aparente para ARA - P com (A),26 dag L -1 e (B),46 dag L -1. 184 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27

A τ =,1925 +,8554 γ r 2 =,985,3,2,1, 33 67 1 134 167 21 234 268 45 4 35 3 25 2 15 1 5 B τ =,5283 +,2796 γ r 2 =,97,2,1 4 35 3 25 2 15 1 5, 33 67 1 134 167 21 234 268 Taxa de deformação versus tensão de cisalhamento _ Taxa de deformação versus viscosidade aparente Equação linear ajustada da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento Figura 3. Curva de taxa de deformação versus tensão de cisalhamento e curva de taxa de deformação versus viscosidade aparente para ARA - P com (A),73 dag L -1 e (B),94 dag L -1. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27 185

A 2,2741,7191 r,985 τ= + γ =,3,2,1, 33 67 1 134 167 21 234 268 5 45 4 35 3 25 2 15 1 5 B 2,5517,276 r,23 τ= + γ = 2, 1,8 1,6 1,4 1,2 1,,8,6,4,2, 33 66 1 134 167 21 235 268 4 35 3 25 2 15 1 5 Taxa de deformação versus tensão de cisalhamento _ Taxa de deformação versus viscosidade aparente Equação linear ajustada da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento Figura 4. Curva de taxa de deformação versus tensão de cisalhamento e curva de taxa de deformação versus viscosidade aparente para ARA - P com (A) 1,64 dag L -1 e (B) 2,89 dag L -1. 186 Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27

CONCLUSÕES De acordo com os resultados, e as condições específicas do experimento, conclui-se que a água residuária de galinhas poedeiras (ARA - P) nas concentrações de,26,,46,,73,,94 e 1,63 dag L -1 foi classificada, reologicamente, como plástico de Bingham, pois, apresentou tensão mínima de escoamento não nula e relação linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNEY, M. S.; BAI, R.; GUEVARA, E.; JOSEPH, D. D.; LIV, K. Friction factor and holdup studies for lubricated pipelining experiments and correlations. Journal Multiphase Flow, Great Britain, v. 19, n. 6, p. 161-176, 1993. BASHFORD, L. L.; GILBERTSON, C. B.; NIENABER, J. A.; TIETZ, D. Effects of rations roughage content on viscosity and theoretical head losses in pipe flow for bef cattle slurry. Transaction of ASAE, St. Joseph, v. 2, n. 6, p. 116-119, 1977. BOURNE, M. C. Food texture and viscosity (Concept and management). New York: Academic Press, 1982. 325 p. CHEN, Y. R.; HASHIMOTO, A. G. Rheological properties of aerated laying hens waste slurries. Transaction of ASAE, St. Joseph, v. 19, n. 5, p. 128-133, 1976a. CHEN, Y. R.; HASHIMOTO, A. G. Pipeline transport of livestock waste slurries. Transaction of ASAE, St. Joseph, v. 19, n. 5, p. 898-96, 1976b. EL MASHAD, H. M.; van loon, W. K. P.; ZEEMAN, G.; BOT, G. P. A. Rheological properties of dairy cattle manure. Bioresource Technology, Oxford, v. 96, n. 5, p. 531-535, 25. FOX, R. W.; McDONALD, A. T. Introdução à mecânica dos fluidos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1995. 43 p. HASHIMOTO, A. G.; CHEN, Y. R. Rheology of livestock waste slurries. Transaction of ASAE, St. Joseph, v. 19, n. 5, p. 93-934, 1976. HERUM, F. L.; ISAACS, G. W.; PEART, R. M. Flow properties of highly viscous organic pastes and slurries. Transaction of ASAE, St. Joseph, v. 3, n. 2, p. 45-51, 1966. HUGHES, W. F.; BRIGHTON, J. A. Dinâmica dos fluidos. São Paulo: Mc Graw Hill, 1974. 358 p. KUMAR, M.; BARTLETT, H. D.; MOHSENIN, N. N. Flow properties of animal waste slurries. Transactions of the ASAE, St. Joseph, v. 15, n. 4, p. 718-722, 1972. MATOS, A. T. Manejo e tratamento de resíduos agroindustriais. Viçosa: DEA/UFV, 24. 12 p. (Caderno didático n. 31). SCHRAMM, G. A practical approach to rheology and rheometry. 2ª ed. Karlsruhe: Gebrueder HAAKE CmbH, 2, 291 p. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.15, n.2, 179-187, Abr./Jun., 27 187