Crazes Project: uma proposta de utilização de fanpages nas aulas de Língua Inglesa Daniela Bernardino Évelyn Nagildo Souza O presente artigo é um relato conciso do Estágio de Docência em Língua Inglesa I, disciplina do sétimo semestre do curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O estágio foi realizado no colégio Estadual de Ensino Médio República Argentina em um grupo constituído de vinte e sete alunos entre doze e vinte anos de idade do sétimo ano do ensino fundamental. No primeiro encontro apliquei um questionário composto por dezenove questões elaborado por minha orientadora, a Professora Doutora Simone Sarmento, a fim de identificar os interesses pessoais dos estudantes, bem como a sua relação com a língua inglesa. Os alunos responderam discursiva e anonimamente às perguntas que versavam sobre que conteúdos gostariam de estudar na disciplina de língua inglesa, assim como sobre as atividades que costumavam realizar e o que normalmente liam, assistiam e escutavam fora de sala de aula. Com as respostas obtidas em mãos, constatei, primeiramente, o interesse do grupo por redes sociais, sobretudo pelo Facebook, e a sua dificuldade em relacionar a aprendizagem da língua inglesa com o seu cotidiano, já que o grupo majoritariamente respondeu que não gostaria de aprender nada na disciplina de língua inglesa, pois não enxergavam onde iriam utilizar o conteúdo aprendido. A ideia de trabalhar com o Facebook, entretanto, partiu não somente do interesse do grupo, mas também da possibilidade de ensinar algo novo a partir do conhecimento prévio dos alunos. Com base nessas constatações e em uma proposta de ensino de língua adicional significativo cujo objetivo é o envolvimento e comprometimento dos alunos com as tarefas propostas, bem como o estudo da língua de modo contextualizado, oportunizando o trabalho com gêneros discursivos presentes no cotidiano dos estudantes, desenvolvi o projeto a que denominei Crazes Project. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº 2 2014 38
O projeto cujo produto final consistiu na criação de uma página em inglês perdurou seis encontros com duração de duas horas e teve como objetivo promover o uso da língua inglesa entre os estudantes por meio de um contexto de uso da língua existente e, principalmente, um contexto em que os alunos estivessem inseridos e que lhes despertasse interesse, o Facebook. Para isso, foi elaborado um conjunto de tarefas que buscavam, em um primeiro momento, suscitar o debate a respeito do uso de redes sociais e dos interesses pessoais dos estudantese, posteriormente, a respeito de páginas do Facebook, verificando questões como os propósitos, os produtores, os interlocutores e a estrutura, permitindo a familiarização com o gênero e desse modo, os capacitando a criar sua própria fanpage. Nos primeiros encontros, portanto, discutimos sobre as redes sociais utilizadas pelo grupo, com ênfase no Facebook, averiguando os objetivos, a estruturação, os interlocutores a fim de verificar sua familiaridade com o gênero. Em seguida, indaguei e discuti os interesses dos estudantes para que pudéssemos conjuntamente com a classe estabelecer categorias de interesse, que foram: moda, esportes, televisão, música e literatura. Prontamente, os alunos se dividiram em pequenos grupos de três a cinco componentes conforme o seu interesse e a partir disso trabalhamos com vocabulário que posteriormente utilizariam para a criação de sua página. Para isso solicitei que cada grupo elaborasse uma lista com as palavras conhecidas e, com base nessa lista, elaboramos um jogo da memória em inglês com as expressões mais utilizadas e que não foram citadas em cada categoria, a fim de que o conhecimento prévio dos estudantes fosse ampliado. O grupo cujo interesse era literatura, por exemplo, trabalhou com expressões como narrative e character. Em seguida, trabalhamos com a análise de páginas em língua inglesa. Utilizei exemplos baseados nas categorias de interesse anteriormente discutidas a fim de que observassem questões como a estrutura da página, o formato e extensão do texto, as imagens utilizadas, assim como os elementos que em sua opinião eram necessários para que uma página fosse considerada boa. A partir disso, construímos uma lista do que era imprescindível para a elaboração de uma fanpage em que destacamos o uso paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº 2 2014 39
de imagens e de textos majoritariamente curtos e escritos no presente, o que nos levou a revisar rapidamente o conteúdo de simple present, anteriormente trabalhado com a professora titular. Posteriormente, realizamos as tarefas de pré-produção e de produção do produto final, atividades que creio terem sido bem sucedidas visto que houve grande envolvimento do grupo durante sua realização. Para o desenvolvimento dessas atividades, a turma se organizou em grupos novamente e cada grupo recebeu um modelo de página do Facebook em branco. O grupo deveria, então, completar a página levando em consideração as informações que havíamos trabalhado anteriormente sobre a estrutura e linguagem utilizadas no gênero. Para isso, realizamos uma breve revisão sobre as questões previamente discutidas, retomando lista do que era imprescindível para a elaboração de uma fanpage, no quadro. Em seguida, fomos à sala de informática para que os grupos criassem a sua página de acordo com os seus interesses e com a tabela que construímos anteriormente e, depois, publicassem na página da escola. Creio que o êxito dessas tarefas se justifique pelo fato de que os estudantes tiveram a oportunidade de participar ativamente do processo de aprendizagem, utilizando a língua inglesa com um propósito concreto e não somente para a avaliação, pois sabiam que o que estavam produzindo seria visto e lido por inúmeras pessoas e, também, porque puderam trabalhar com algo que gostavam;assim, perceberam que há espaço em sala de aula para mais do que apenas conteúdo gramatical. Optei por alicerçar as tarefas aplicadas no debate que se deu em um primeiro momento em pequenos grupos de três a cinco integrantes e depois com a turma, pois creio em duas proposições: primeiro, que a interação com o outro, proporcionada pela troca de experiências e ideias com os colegas, permite a construção coletiva do conhecimento, bem como o exercício de habilidades necessárias para o convívio social, como ouvir e respeitar diferentes opiniões e a capacidade de argumentação;segundo, que o diálogo permite que os estudantes se constituam como sujeitos participativos e paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº 2 2014 40
críticos, já que assumem o papel ativo no processo de aprendizagem, ao passo que a sua participação efetiva é fundamental para a construção do conhecimento. Embora tenha enfrentado resistência por parte do grupo, que indagou inúmeras vezes quando começaríamos efetivamente a ter aulas, pois não compreendia as discussões promovidas, tampouco as tarefas aplicadas como tal, houve grande êxito ao fim do estágio, pois os objetivos almejados foram conquistados: não somente houve a atuação por meio da língua com a produção do trabalho final, como também houve a interação, a troca de experiências, bem como a construção conjunta de conhecimento entre a turma por meio da realização de trabalhos em grupo. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº 2 2014 41
Daniela Bernardino Aluna do quarto ano de graduação de Letras (Português/Inglês) da UFRGS. Atua como professora de língua inglesa em curso livre desde 2011. Évelyn Nagildo Souza Aluna do quarto ano de graduação da UFRGS, bolsista PET e professora de redação no Projeto Alternativa Cidadã. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 4 nº 2 2014 42