O PAPEL DO CUIDADOR NA MANUTENÇÃO DA ROTINA DIÁRIA DE HIGIENIZAÇÃO BUCAL EM IDOSOS: MANUAL DE ORIENTAÇÕES Vale MS¹, Nicolau RA², Cunha JR AP³. Universidade do Vale do Paraíba, Faculdade Ciências da Saúde, Av. Shishima Hifume, 2911, Urbanova, São José dos Campos SP. marianevale91@gmail.com, rani@univap.br, jralcunha@gmail.com. Resumo: Com o aumento de expectativa de vida e elevação exponencial do número de pessoas idosas em relação à população total, este trabalho tem como objetivo promover uma estratégia preventiva em Odontogeriatria. Para tal um manual de procedimentos preventivos foi elaborado, com base na literatura atual acerca de aspectos referentes à odontogeriatria. Com o envelhecimento, ocorrem muitas mudanças fisiológicas, doenças associadas, deficiências físicas e mentais e o aumento do uso medicações. Os idosos, muitas vezes acamados e/ou institucionalizados, necessitam de um cuidador para que sua higiene bucal seja realizada. Assim, foi elaborado um material didático para orientar o cuidador na higienização bucal do idoso. A conclusão do estudo gerou um material informativo e para a conscientização do cuidador, o qual evidencia a importância da atenção à manutenção da saúde bucal do idoso. Palavras chave: cuidadores; idoso; saúde bucal; odontogeriatria. Área do Conhecimento: Odontologia Introdução Nas últimas décadas, tem sido constatado um declínio nas taxas de natalidade e um aumento na expectativa de vida, com consequente crescimento da população idosa, graças ao desenvolvimento da ciência e de novas tecnologias. Muitas destas conquistas, em grande maioria aplicada à medicina e à odontologia, têm como objetivo a melhora da qualidade de vida (SOUZA et al., 2001). Com o avançar da idade, surgem sensíveis alterações no estilo de vida da população idosa, seja por problemas de saúde, ou mesmo pelo processo fisiológico do envelhecimento, que se configura como um processo múltiplo e desigual de comprometimento e decadência das funções que caracterizam o organismo vivo em função do tempo de vida (CALDAS, 1998). Com essas mudanças o idoso, muitas vezes, não consegue realizar as atividades de vida diárias (AVD) como, por exemplo, manter sua higiene bucal. Assim, a assistência do cuidador de idosos é imprescindível, mas em muitos casos há falta de conhecimento adequado sobre saúde bucal, condições de desgaste físico e emocional do idoso assistido, impossibilitam a realização adequada desta tarefa SALIBA et al., 2007). Os cuidadores de idosos são pessoas que se dedicam à tarefa de cuidar de um idoso, podendo ser algum familiar (filho, sobrinho, neto, amigo) o chamado cuidador informal ou pessoas que, embora não tenham vinculo com o idoso são contratadas para esse trabalho, sendo denominado cuidador formal (GONÇALVES, 2002). Os cuidadores têm assumido um perfil próprio, com tarefas específicas e complexas as quais precisam ser desenvolvidas ou acompanhadas por pessoas habilitadas, para o desempenho adequado da assistência que o idoso necessita para manter o seu bem-estar. Pouco se conhece sobre o perfil de cuidadores de idosos, suas necessidades e sua formação. A urgência de se estruturar uma equipe multidisciplinar qualificada com amplo conhecimento geriátrico e gerontológico é iminente, na busca da melhoria da qualidade de vida dos idosos, principalmente os institucionalizados (SALIBA et al., 2007). Seria esperado que todos os cuidadores tivessem a consciência da importância da saúde do idoso num todo, sem deixar a higienização bucal de lado, pois a saúde sistêmica do paciente pode ser influenciada, e dependendo do estado que se encontra pode ser agravada. Pode-se ter como exemplo os casos de pneumonia por aspiração, que ocorre 1
quando micro-organismos oportunistas que estão presentes no biofilme bucal são conduzidos para vias aéreas. Com o controle do biofilme a partir da higienização bucal adequada este quadro clínico pode ser evitado, assim como as infecções orais, como gengivite, periodontite, cárie e estomatite por dentadura, quando o paciente faz o uso de próteses (MARCHINI et. al, 2013). Diante do exposto, a proposta deste trabalho foi elaborar um material para conscientização do cuidador formal ou informal sobre a importância da prevenção da saúde bucal e sua inter-relação com a saúde geral e qualidade de vida do paciente. Metodologia Para a realização do presente estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico em base de dados de artigos onde foi definido o perfil do cuidador do idoso institucionalizado. O manual foi elaborado para ilustrar, os métodos preconizados para a higienização bucal do paciente dentado, usuário de prótese total. Adaptações da escova dental e um adaptador de fio dental também são demonstrados, para a utilização por paciente com reumatismo ou outra distrofia neuromuscular em membro superior dominante, viabilizando a auto-higienização. Para o paciente dependente, que necessita do cuidador para que sua higienização bucal seja feita, as fotos ilustram as áreas importantes a serem higienizadas e a maneira correta para isto ser realizado. Conforme as figuras 1 e 2. Figura 1 Higienização do paciente dependente. Figura 2 Higiene de prótese total e adaptação de escova para pacientes com reumatismo. Resultados Foram elaborados dois manuais, um manual de caráter informativo sobre a importância do cuidado com a saúde bucal do paciente idoso e outro a partir de fotos ilustrativas, demonstrando a higienização bucal em um boneco simulador de paciente que permite orientar e incentivar tanto o idoso quanto os cuidadores responsáveis à higienização bucal deste grupo etário. Conforme apresentado nas figuras 3 e 4. 2
Figura 3 Manual ilustrativo (em formato de folheto). Figura 4 Manual informativo (em formato de folheto). Discussão 3
Faz-se importante informar o paciente e o cuidador da importância da higienização bucal e próteses para saúde bucal e também à saúde geral, em um contexto interdisciplinar, principalmente para idosos dependentes institucionalizados ou em domicílio. De acordo com Saliba et al. (2007), quando se trata da formação escolar, 5,55% dos cuidadores não terminaram o primeiro grau, 60% terminaram o segundo grau, 83,3% são técnicos de auxiliar de enfermagem e 16,7% não tem nenhum tipo de formação técnica. E quando questionados se existia uma rotina de higienização bucal dos idosos, todos os cuidadores questionados disseram que os idosos faziam sua higiene, porém nem todos tinham habilidades para realizá-las sozinhos. E a população que se beneficiará com o trabalho do cuidador, neste caso, será o idoso institucionalizado, onde suas condições físicas, mentais e sociais estarão debilitadas e em alguns casos incluindo um quadro de abandono social e afetivo. Ao profissional que escolhe trabalhar com esses cidadãos é necessário a sensibilidade social e um perfil voltado para as questões éticas e humanas, e incluindo a formação técnico-científica (ALMEIDA et al., 2004). Mesmo que a saúde bucal seja considerada importante pelos idosos e cuidadores, ainda existe uma falha entre a teoria e prática, deixando assim o cuidado bucal geralmente inadequado. (MARCHINI et al., 2006). Segundo Reis et al. (2011) em seu estudo as barreiras mais citadas foi a falta de cuidado diário que entra em conflito com a de higiene oral, a falta de cooperação dos idosos e a falta de conhecimento dos cuidadores sobre os cuidados bucais. E de acordo com Saliba et al. (2007), em seu estudo parte significativa dos cuidadores entrevistados (55,56%) achavam que a perda dos dentes era um processo natural do envelhecimento. A saúde bucal sofre total influência da saúde sistêmica do paciente, assim como a saúde sistêmica influência a saúde bucal diretamente, em uma relação de mão dupla (MARCHINI et al., 2013). Talvez o exemplo mais claro e importante da influência da saúde bucal sobre a saúde sistêmica em idosos dependentes aconteça nos casos de pneumonia por aspiração, na qual microorganismos oportunistas presentes no biofilme oral são aspirados e causam a pneumonia, principal causa de morte entre idosos institucionalizados. A rotina de higiene bucal é de extrema importância para reduzir a infecção por patógenos oportunistas, diminuindo assim o risco de pneumonia por aspiração. Além de prevenção de doenças sistêmicas e alterações das já instaladas, a inclusão de uma rotina de higiene bucal funcionará também como uma ação preventiva, ajudando a evitar o aparecimento de infecções orais, assim como a cárie, gengivite, a periodontite e, em caso de uso de prótese total, a estomatite. Com esta medida busca-se obter a diminuição do surgimento de dores e desconforto na região bucal. Com esse trabalho, de inclusão de uma rotina de higiene bucal, buscase a redução da necessidade de tratamentos odontológicos mais invasivos e da manutenção da utilização de próteses, que proporcionam um convívio social e um conforto emocional para os pacientes, aumentando a qualidade de vida (MARCHINI et al., 2013). Conclusão Tendo em vista todas as dificuldades dos cuidadores e a carência de informações, o manual proposto foi elaborado, de forma ilustrativa, para conscientização e orientação do cuidador sobre a importância de uma rotina de higienização bucal na saúde e qualidade vida do idoso. Referências ALMEIDA, M.E.L.; MOIMAZ, S.A.S.; GARBIN, C.A.S.; SALIBA, N.A. Um olhar sobre o idoso: estamos preparados? Rev. Fac. Odontol., v.45, n.1, p.64-68, 2004. BRUNETTI, R.; BRUNETTI, F.L. Odontogeriatria: noções de interesse clínico. São Paulo: Artes Médicas, 2002. 4
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