O CINEMA COMO DISPOSITIVO FORMATIVO: CONTRIBUIÇÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA DOCENTE Vanessa Alves da Silveira de Vasconcellos Caroline Ferreira Brezolin Valeska Fortes de Oliveira Universidade Federal de Santa Maria Resumo Apresentamos uma experiência desenvolvida com os professores do município da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, decorrente da pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Imaginário Social GEPEIS da Universidade Federal de Santa Maria, com o projeto: Em tempos de formação o cinema, a vida e o cuidado de si. Exercícios autobiográficos e coletivos na atividade docente. O objetivo orientador de nossa ação foi a construção de relações e vivências de professores/as de escolas públicas com o cinema, no que se refere às suas histórias pessoais e profissionais e às formas pelas quais o cinema nelas se faz presente, buscando compreender as visões e concepções, os saberes e fazeres docentes acerca desta arte em suas vidas e em seu trabalho no cotidiano da escola, os significados e sentimentos que se inscrevem em seus encontros com o cinema, suas práticas cinematográficas na escola e fora dela. Para isso nosso caminho metodológico desenvolve inicialmente através de questionários, a fim de levantar um perfil geral dos professores do município e suas relações com o cinema. Em uma etapa posterior, utilizamos as narrativas de formação como método investigativo, campo vem se fortalecendo no contexto educacional brasileiro. Na nossa análise o cinema e a educação possuem uma estreita relação pedagógica no que se refere a desenvolver uma sensibilidade estética e oportunizar aos indivíduos os mais diversos repertórios culturais através da arte cinematográfica. O que se pretende ao pensar essa arte como dispositivo de formação é a possibilidade ir além da mera instrumentalização do uso do cinema. Palavras-chave: Formação de professores; Dispositivo de formação; Cinema. INTRODUÇÃO É perceptível a potência formativa e as contribuições para a experiência estética docente que o cinema provoca nos tempos e espaços acadêmicos, seja na formação inicial ou continuada dos professores. Assim como Fischer (2009) também acreditamos que seria importante pensar dentro da formação docente, a educação do olhar, da sensibilidade, da ética, em que o professor imergindo-se em outras formas de linguagens, dialogando com os filmes, interagindo com os movimentos, sons, imagens, através do cinema, por exemplo, poderia possibilitar uma prática consigo mesmo. 04388
2 Uma experiência consigo na perspectiva de cuidado de si e de um tempo para si é uma formação assumida com uma escolha da própria existência, como busca de um estilo de vida, de um cuidado consigo, que de maneira alguma poderia ser identificado com o culto narcísico de nosso tempo (FISCHER, 2009, p. 95). Partindo dessas concepções e conceitos balizadores que apresentamos uma experiência desenvolvida com os professores do município da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, decorrente da pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Imaginário Social GEPEIS da Universidade Federal de Santa Maria, com o projeto: Em tempos de formação o cinema, a vida e o cuidado de si. Exercícios autobiográficos e coletivos na atividade docente. O objetivo orientador de nossa ação foi a construção de relações e vivências de professores/as de escolas públicas com o cinema, no que se refere às suas histórias pessoais e profissionais e às formas pelas quais o cinema nelas se faz presente, buscando compreender as visões e concepções, os saberes e fazeres docentes acerca desta arte em suas vidas e em seu trabalho no cotidiano da escola, os significados e sentimentos que se inscrevem em seus encontros com o cinema, suas práticas cinematográficas na escola e fora dela. METODOLOGIA Para isso nosso caminho metodológico desenvolve as narrativas de formação como método investigativo, campo vem se fortalecendo no contexto educacional brasileiro. Podemos comprovar sua ressonância pelos estudos de Cunha (1997. p.188) que apontam as narrativas como alternativa pedagógica para o ensino e pesquisa, e ainda afirma que produzem mudanças na forma como as pessoas compreendem a si próprias e aos outros.o que nos parece importante ressaltar no que se refere às narrativas é a possibilidade de nos aproximarmos de questões que não podem ser consideradas linearmente, ainda mais quando se realiza um estudo pautado no imaginário do sujeito, ser, profissional, que não pode ser compreendido separadamente. A ação formativa proposta pela experiência aqui relatada, estruturou-se em três eixos, sendo que o trabalho com o primeiro e o segundo eixo começou no ano de 2012, com encontros de formação continuada para os professores da rede de ensino municipal e estadual de Santa Maria.Este trabalho pretende apresentar o primeiro eixo da pesquisa, intitulado O cinema de cada um: viveres e memórias cinematográficas que problematizou como o cinema está colocado nas histórias e vidas pessoais do grupo de 04389
3 professores. Dessa forma, criou-se um espaço em que os professores pudessem compartilhar suas experiências, os significados, as concepções e as relações que estabelecem com o cinema em suas vidas, tendo em vista a construção de um perfil deste professor, afim de saber como o cinema está posto na vida e nas práticas docentes. DESENVOLVIMENTO Foram distribuídos 1500 questionários. Essa distribuição foi feita pelos tutores da Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria, a cada uma das regiões em que as escolas estão organizadas. Assim, o primeiro dado foi obtido a partir dos questionários que voltaram, que foram apenas 651questionários.O questionário possuía duas partes. A primeira como objetiva de traçar o perfil dos professores quem são esses sujeitos - e a segunda em conhecer as aproximações e relações dos mesmos com o cinema.no que se refere a segunda parte, dos questionários, pudemos conhecer um pouco da relação do professor com o cinema, a partir de questões como: O que você faz no seu tempo livre? Costuma assistir filmes? Com que frequência? Onde costuma assistir filmes? Acha importante o uso do cinema em sala de aula? Porque? Constatamos que 85% dos professores costumam assistir filmes, a maioria dos professores assistem 2 vezes por semana o que representa 36%, 28% assistem 1 vez por semana o restante assiste com frequências variadas, percebemos assim que os professores em meio a uma jornada de trabalho muitas vezes exaustiva encontra tempo para o lazer, inclusive para a arte cinematográfica. Com um amplo repertório de escolhas os professores diversificam os lugares em que assistem filmes, o que não precisa ser em uma sala comercial de cinema já que essa representou 1% da primeira opção, vários devem ser os motivos pelos quais os professores preferem assistir em casa, representando 94% dos docentes. O que se problematiza é porque espaços como cineclubes, que são vários na cidade de Santa Maria, não possuem representatividade? Será que os professores desconhecem a prática cineclubista? Ou os cineclubes estão distantes da população de professores? Dando maior ênfase nas questões do cinema e educação, a maioria (94%) dos professores acha importante fazer essa relação, pois para eles os filmes podem ser usados como um recurso didático (57%), pois auxiliam a demonstrar, explicar alguns conteúdos, dessa forma identificamos esse uso de forma funcional, para transmitir algo. Outros professores reconhecem que a sétima arte pode representar lazer e cultura (15%), o restante dos professores não manifestou porque acha importante o uso do cinema. 04390
4 Dessa forma, com dados iniciais pensamos uma segunda etapa para discutir e aprofundar essas e outras questões, trabalhando com o cinema na vida do professor e o cinema na sala de aula, embora, muitas vezes, esses sejam pontos que não se distinguem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da contextualização da nossa proposta é relevante mostrar que buscamos compreender como o professor dá sentido a sua formação e como os sentidos e significados da experiência estética do cinema atravessaram suas histórias de vida. Neste sentido, é possível pensar o cinema como algo maior do que a simples projeção, como provocador de questionamentos, dispositivo para pensar a nossa vida, inserida em uma cultura, como nos aponta Almeida (2001): Momento estético em que um objeto artística e tecnicamente produzido vai ao encontro do imaginário do espectador, relacionar-se intimamente com seus desejos, ressentimentos, vontades, ilusões, raivas, prazeres, traumas, vivências, e sobre o qual só teremos nossa objetividade restituída após o término da projeção. Só então discutimos e falamos sobre ele, como memória, inextricavelmente ligado à nossa história, à história do mundo em que vivemos, à história do cinema. (ALMEIDA, 2001, p.41) É por essa via que entendemos o cinema, como objeto estético para pensarmos o mundo da cultura, como também nos permite refletir, falar, escrever sobre nossa vida, nossa história, associada ao contexto em que estamos. Consideramos que a experiência estética na formação do docente possibilita outro olhar aossentidos que perpassam os sujeitos e que necessitam ser (re)visitados. Pesquisar esses processos de significação se configura num caminho cheio de possibilidades, que conferem à formação um lugar propositivo, não apenas estático. Possibilita olhar o professor como um Si sensível, que percebe sua subjetividade. Diante disso, ao mencionar a subjetividade humana, destacamos as singularidades do vivido, entendemos que a pesquisa com as autobiografias evidencia a diversidade de experiências dos indivíduos, cada pessoa, sente, compreende e vive o seu cinema, o cinema de cada um nas palavras de Duarte (2012, s/p) afeta cada um de nós de forma diferente e altera nossa sensibilidade tanto quanto nossa racionalidade.é nesse sentido que visualizamos estreitas relações dessa percepção do cinema com a formação, já que está última também é entendida como algo singular e que diz respeito a diferentes trajetórias e processos formativos distintos, baseando-se também em um 04391
5 repertório de vivências pessoais, que de certa forma, mobilizam conhecimentos saberes diversos na atuação profissional docente. Duarte (2002) defende que cada um tem sua forma de relacionar-se com o cinema, pois essa relação implica em escolhas, gostos, avaliações e aprendizagens. Cada um desenvolve sua própria intuição na configuração do seu cinema pessoal, sendo que essa sensibilidade amplia ao seu próprio modo e tempo, numa esfera intuitiva, pessoal, subjetiva e intransferível. Na nossa análise o cinema e a educação possuem uma estreita relação pedagógica no que se refere a desenvolver uma sensibilidade estética e oportunizar aos indivíduos os mais diversos reportórios culturais através da arte cinematográfica. O que se pretende ao pensar essa arte como dispositivo de formação é a possibilidade ir além da mera instrumentalização do uso do cinema, é compreender que o cinema como alteridade que interroga o já visto, remove o instituído, desloca olhares, inventa ideias, possibilidades. Outros enredos. Novas linguagens. Luminosidades tantas. (Ramos e Teixeira, 2010, p.8). REFERÊNCIAS: ALMEIDA, Milton José. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 2001. CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora!: as narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Rev. Fac. Educ. [online]. 1997, vol.23, n.1-2 ISSN 0102-2555. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/s0102-25551997000100010. Acesso em: 15 de Maio de 2013. DUARTE, Rosália. Cinema & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. DUARTE, Rosália, Aula inaugural do Projeto Cineclube nas escolas, da SME/RJ, 2012 (texto digitado). FISCHER, R. M. B. Docência, cinema e televisão: questões sobre formação ética e estética. Revista Brasileira de Educação. nº. 40, jan./abr. 2009. RAMOS, A. L. A.; TEIXEIRA, I. A. de C. Os professores e o cinema na companhia de Bergala. Revista Contemporânea de Educação, vol 5, n10, jul/dez 2010. Disponível em:http://www.revistacontemporanea.fe.ufrj.br/index.php/contemporanea/article/view/1 14/105. Acesso em: 15 de maio 2013. 04392