antropologia carlos joão correia artes & humanidades estudos artísticos estudos africanos estudos gerais filosofia 2017/2ºsemestre
Cultura é o termo sociológico para o comportamento aprendido [learned behaviour]; comportamento que, no homem, não lhe é dado à nascença; que não é determinado pelas suas células germinais como é, por exemplo, o comportamento das vespas ou das formigas sociais, mas que deve ser sempre aprendido novamente por cada nova geração. Race and Racism. London: Scientific Book Club. 1943, 9 in Theories of Race and Racism. A Reader. Ed. Les Back/John Solomos. London: Routledge. 2000, 115. Há sociedades em que a Natureza perpetua o mais ténue modo de comportamento por meio de mecanismos biológicos, mas tais sociedades não são de homens, são de insectos. [...] Os insectos sociais representam a Natureza não disposta a correr quaisquer riscos. O padrão de toda a estrutura social confia-o ao comportamento instintivo da formiga. [...] Feliz ou infelizmente, a solução do homem ocupa o pólo oposto. Nada da sua organização social tribal, da sua linguagem, da sua religião local é transportado na sua célula germinal. Patterns of Culture. Boston/N.York: Houghton Mifflin. 1934 [1946 2 ], 12 [trad.port.. Lisboa: Livros do Brasil. 24-25]. Patterns of Culture [1934] The Chrysanthemum and the Sword: Patterns of Japanese Culture (1946) Ruth Benedict [1887-1948] gestalt [configuração]: culture and personality school cultura diz-se no plural: culturas relativismo cultural
A cultura, tal como um indivíduo, é um modelo [pattern] mais ou menos consistente de pensamento e acção. Patterns of Culture. Boston/N.York: Houghton Mifflin. 1934 [1946 2 ], 46 [trad.port.. Lisboa: Livros do Brasil. 59]. Toda a sociedade humana, onde quer que seja, realizou [uma] escolha nas suas instituições culturais. Cada uma delas, do ponto de vista de qualquer outra, ignora o que é essencial e explora o que é irrelevante. Uma cultura quase não reconhece valores monetários; outra tornouos fundamentais em todos os campos de comportamento. Numa sociedade, a técnica é inacreditavelmente desdenhada, mesmo naqueles aspectos da vida que parecem necessários para garantir a sobrevivência; noutra sociedade, tão simples como ela, os aperfeiçoamentos técnicos são extraordinariamente complexos e admiravelmente adequados a cada situação. Uma erige uma enorme superestrutura cultural sobre a adolescência, outra, sobre a morte, outra ainda, sobre a vida futura. Patterns of Culture. Boston/N.York: Houghton Mifflin. 1934 [1946 2 ], 24 [trad.port.. Lisboa: Livros do Brasil. 36]. Passa-se na vida cultural o que se passa na linguagem [speech]. O número de sons que as nossas cordas vocais e as nossas cavidades bucais e nasais é praticamente ilimitado. [...] Mas cada língua tem de escolher os seus [sons] e de os aceitar, sob pena de perder toda a inteligibilidade. Patterns of Culture. Boston/N.York: Houghton Mifflin. 1934 [1946 2 ], 23 [trad.port.. Lisboa: Livros do Brasil. 35].
Nietzsche (1844-1900) O Nascimento da Tragédia (1872) Apolíneo e Dionisíaco Apolo/Dionísio Pueblo/Zuñi restrição e moderação Kwakiutl abandono e excesso
RELATIVISMO CULTURAL O relativismo cultural (RC) defende que o bem e o mal são relativos a cada cultura. O bem coincide com o que é socialmente aprovado numa dada cultura. Os princípios morais descrevem convenções sociais e devem ser baseados nas normas da nossa sociedade. Começaremos por ouvir uma figura ficcional, a que chamarei Ana Relativista, e que nos explicará a sua crença no relativismo cultural. ( ) Fui educada para acreditar que a moral se refere a factos objectivos. Tal como a neve é branca, também o infanticídio é um mal. Mas as atitudes variam em função do espaço e do tempo. As normas que aprendi são as normas da minha própria sociedade; outras sociedades possuem diferentes normas. A moral é uma construção social. Tal como as sociedades criam diversos estilos culinários e de vestuário, também criam códigos morais distintos. Aprendi-o ao estudar antropologia e vivi-o no México quando estive lá a estudar. Considere a minha crença de que o infanticídio é um mal. Ensinaram-me isto como se se tratasse de um padrão objectivo. Mas não é; é apenas aquilo que defende a sociedade a que pertenço. Quando afirmo O infanticídio é um mal quero dizer que a minha sociedade desaprova essa prática e nada mais. Para os antigos romanos, por exemplo, o infanticídio era um bem. Não tem sentido perguntar qual das perspectivas é correcta. Cada um dos pontos de vista é relativo à sua cultura, e o nosso é relativo à nossa. Não existem verdades objectivas acerca do bem ou do mal. Quando dizemos o contrário, limitamo-nos a impor a nossas atitudes culturalmente adquiridas como se se tratassem de verdades objectivas. ( ) Se o relativismo cultural fosse verdadeiro, não poderíamos consistentemente discordar dos valores da nossa sociedade. Mas este resultado é absurdo. Claro que é possível consistentemente discordar dos valores da nossa sociedade. Podemos afirmar consistentemente que algo é socialmente aprovado e negar que seja um bem. Isto não é possível se o RC for verdadeiro. Ana poderia aceitar esta consequência implausível e dizer que é contraditório discordar moralmente da maioria. Mas esta seria uma consequência especialmente difícil de ser aceite. Ana teria de aceitar que os defensores dos direitos civis estariam a contradizer-se ao discordarem da perspectiva aceite pelos segregacionistas. E teria de aceitar a perspectiva da maioria em todas as questões morais mesmo que perceba que a maioria é ignorante. Suponha que Ana tinha aprendido que a maioria das pessoas da sua cultura aprovam a intolerância e também a ideia de ridicularizar pessoas de outras culturas. Teria ainda assim de concluir que a intolerância é um bem (apesar de esta atitude contrariar as suas próprias intuições). Harry Gensler. Ethics: A contemporary introduction. London/New York: Routledge, 1998. Tradução de Paulo Ruas. Crítica na Rede