OS LUCROS E PREJUÍZOS NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INSERIDAS NO SISTEMA COOPERATIVISTA



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Transcrição:

OS LUCROS E PREJUÍZOS NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INSERIDAS NO SISTEMA COOPERATIVISTA Por: Vera Cristiane Costa Prezoto Introdução Diante do atual cenário de competitividade, as organizações buscam instrumentos de gestão cada vez mais qualificados, onde o movimento cooperativista se mostra uma opção interessante para atender a demanda de melhores condições de organização, fortalecendo o processo produtivo e de prestação de serviços. O desenvolvimento deste trabalho se justifica pela necessidade de identificação da melhor alternativa para o público usuário de serviços bancários, considerando a relação custo-benefício. O objetivo principal do presente trabalho é identificar a melhor opção por parte do público consumidor dos serviços bancários, demonstrando as principais diferenças entre as instituições financeiras comerciais e as instituições cooperativistas, expondo inclusive o direcionamento dos resultados obtidos nestas instituições. Metodologia A metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica através de consultas a livros, revistas, artigos científicos e demais materiais bibliográficos. Discussão A 1ª cooperativa nasceu na Inglaterra em 27/12/1844, fundada por 27 tecelões e 1 tecelã movidos pelas dificuldades trazidas pelo Capitalismo após a Revolução Industrial. Conforme Vasconcelos (2001, p. 21), a palavra cooperativa deriva do latim cooperativus de cooperari (cooperar, colaborar, trabalho com outros), e destaca ainda que cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades, conforme a Lei nº 5.764/71 em seu art. 4º. De acordo com Padilha (1996, p. 09), uma sociedade cooperativa apresenta as seguintes características: Variabilidade do capital social;

Não limitação do número de associados, que não pode, porém, ser inferior a 7; Limitação do valor das quotas-partes individuais do capital social; Inacessibilidade delas a terceiros; Quorum baseado no número de associados presentes à assembléia; Distribuição de resultados proporcionalmente ao movimento do associado; Indivisibilidade dos fundos de reserva; Singularidade de voto nas deliberações da assembléia, e; Limitação da área de ação social. Atualmente o sistema conta com 12 segmentos a saber: Agrícola, Consumo, Crédito, Educacional, Especial, Habitacional, Mineração, Produção, Saúde, Serviço, Trabalho e Outro, que, tem por finalidade operar garantindo a melhor eficiência econômica possível, considerando sempre, o bem-estar dos associados. COOPERATIVAS DE CRÉDITO São instituições de crédito sem fins lucrativos organizadas sob forma de cooperativas, mantidas pelos próprios cooperados, que exercem ao mesmo tempo o papel de donos e usuários. São eficientes para o fortalecimento da economia, a democratização do crédito e a desconcentração de renda. São equiparadas às instituições financeiras e são regidas pela Lei nº 5.764/71 e pela Resolução nº 3.321/05 do CMN e seu funcionamento deve ser autorizado e regulado pelo Banco Central do Brasil. Diferenciam-se dos bancos comerciais no seu principal objetivo, pois enquanto os bancos são empresas de capital que visam lucro, as cooperativas de crédito são empresas sem fins lucrativos, prestadoras de serviços a seus associados e que buscam um equilíbrio entre o econômico e o social. Os bancos comerciais cobram altos spreads e tarifas, visando tanto a sua sustentabilidade como também o lucro, ao passo que nas cooperativas as sobras são levadas à Assembléia Geral, onde será definido se elas serão reinvestidas na própria cooperativa ou rateadas entre os sócios cooperados, proporcionalmente à movimentação financeira de cada um. Notase que, no caso dos bancos comerciais, os lucros são totalmente dirigidos aos proprietários.

A captação de recursos nas cooperativas de crédito é semelhante ao processo de captação dos bancos comerciais, podendo ser realizada através de seus associados, de outras entidades na forma de doações, de empréstimos ou repasses. RESULTADOS NAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO Os recursos captados junto aos associados oferecem remuneração equiparada ou até mais atrativa que o mercado em geral. Kretski (2010) destaca que uma cooperativa de crédito pode captar recursos junto aos seus associados e emprestá-los a outros sendo que este tipo de movimentação reduz da dependência da cooperativa de recursos externos, não possui nenhum acréscimo patrimonial e nem a titularidade da disponibilidade das rendas ou proventos que possam advir desta relação, porquanto os atos cooperativos não estão enquadrados como atos mercantis. Uma diferença importante em relação aos bancos comerciais é que quando o dinheiro captado fica sem algum destino específico, estes recursos são aplicados em outras instituições financeiras e nas centrais, que fazem o papel de centralização financeira dos recursos das cooperativas que assim conseguem uma remuneração melhor, ressaltando que todos os benefícios são repassados aos cooperados. As cooperativas de crédito, além de servirem de veículo de agregação de renda aos seus cooperados, desempenham importante papel no mercado financeiro, pois podem constituir instrumentos de regulação das taxas de juros. Ainda evidenciando as vantagens oferecidas pelas cooperativas de crédito, os juros e taxas praticados pelas cooperativas são até 4 vezes menores do que as aplicadas pelas financeiras e praticamente a metade das praticadas pelos bancos. No cheque especial, os juros cobrados pelas cooperativas é 36% menor do que nos bancos comerciais. Com relação ao cartão de crédito, que atualmente é um dos produtos mais utilizados pelos brasileiros, a taxa cobrada pela cooperativa está em torno da metade da praticada pelos bancos (RODRIGUES, 2005). Um estudo comparativo realizado em 2008 pela OCB demonstrou que o diferencial médio das taxas de juros chegou a 2,61% ao mês em relação aos bancos comerciais tradicionais. Com isso, as cooperativas pouparam R$ 589 milhões mensais de seus clientes em 2008, segundo a estimativa. Sobre os cartões de crédito, as taxas médias mensais de juros dos bancos cooperativos foi, em 2008, de 6%, já nos outros bancos foi de 10,56% (OCB, 2010).

Ainda de acordo com a OCB (2010), estas taxas tão inferiores das cooperativas de crédito podem ser praticadas principalmente pelo baixo custo de captação dos recursos e pelas cooperativas de crédito serem: Protegidas pelo ato cooperativo, que desonera as operações de pagar PIS-Cofins, IOF, CSLL e IR, Terem o quadro enxuto, baixos custos administrativos, spreads reduzidos e, Por não terem o lucro como seu principal motor. Na doutrina cooperativista lucros são "sobras e são obrigatoriamente, distribuídas aos associados ou reinvestidas no negócio. Assim sendo, nas cooperativas de crédito os resultados, tanto sobras como prejuízos, são rateados entre todos os associados na proporção do volume de operações que foram realizadas durante o exercício, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral. Conforme art. 3º da Lei 5764/71, as sobras de atos praticados com associados não são tributadas, enquanto os resultados de atos não cooperativos são tributados integralmente, como as aplicações financeiras em outras instituições, ganhos de capital, aluguéis recebidos e outros resultados não operacionais. A forma de apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) obrigatoriamente exigida às cooperativas de crédito que estão sob controle do Banco Central do Brasil, é pelo Lucro Real, conforme determinado no art. 14 da Lei 9718/98. O governo já percebeu que as cooperativas são uma alternativa interessante ao sistema financeiro nacional, e tem promovido ações de reforço como a liberação em 2007 de R$ 300 milhões para financiar a capitalização dessas entidades. Em 2008, o segmento fechou com R$ 9,2 bilhões de patrimônio líquido, um crescimento de 19,5% na comparação com 2007. Destaca-se ainda que o ano foi marcado por um recorde de R$ 45,5 bilhões em ativos totais nessas sociedades, uma relevante expansão de 19,4% (ZANATTA, 2009). Percebe-se então que o cooperativismo aplicado às instituições financeiras possibilita agregação de renda e redução dos custos do crédito, demonstrando ainda relevância no mercado financeiro por forçar os bancos comerciais a reduzirem suas taxas e tarifas a fim de garantir a competitividade no setor.

Considerações Finais Por meio deste trabalho foi possível constatar que diante de um mercado extremamente competitivo em que o usuário do sistema financeiro tem que se submeter aos altíssimos custos de serviços financeiros como taxas e tarifas de manutenção, as cooperativas de crédito configuram importante alternativa, pois além de servirem de veículo de agregação de renda aos seus usuários, constituem importantes instrumentos de regulação das taxas de juros no mercado financeiro. Destaca-se ainda que nessas entidades os cooperados se associam visando benefícios socioeconômicos, como a contratação de crédito a custos mais atrativos e a apropriação de sobras ao final do exercício, fatores que se diferenciam da ótica de transação com os bancos comerciais. Conclui-se que as cooperativas de crédito, pela sua alta rentabilidade direcionada diretamente aos seus cooperados, através do rateio das sobras, como também pela excelente relação custo-benefício na venda de seus serviços, são a melhor opção para o usuário do sistema financeiro. Referências KRETSKI, Daniele. Cooperativismo de crédito. Disponível em: < http://www.soleis.adv.br/artigocooperativismodecredito.htm>. ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Cooperativas de créditos e seus impactos sociais. Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/pre/microfinancas/arquivos/horario_arquivos/trab_50.pdf >. PADILHA, D. L. Sociedades cooperativas: organização, contabilidade e legislação. São Paulo: Atlas, 1966. RODRIGUES, Jessé Aquino. Desmistificando o cooperativismo de crédito (2005). Disponível em: < http://www.fae.edu/intelligentia/publicador/conteudo/foto/1972005jess%c3%a9 %20Rodrigues.PDF>. VASCONCELOS, F. C. Cooperativas: Coletânea de Doutrina, Legislação, Jurisprudência e Prática. São Paulo: Iglu, 2001. ZANATTA, Mauro. Jornal Valor Econômico. Disponível em: <http://www.meujornal.com.br/ocb/jornal/materias/integra.aspx?id=973097