MORTE E VIDA SEVERINA NUMA PROPOSTA HISTÓRICO-LITERÁRIA DE ABORDAGEM DE LEITURA Danniele Silva do Nascimento Daniel Torquato Fonseca de Lima OBJETIVOS GERAL Propor um plano de ação para professores do 3º ano do Ensino Médio que proporcione um trabalho com o poema Morte e Vida Severina para desenvolvimento de leituras que abordem aspectos sóciohistóricos e linguístico-literários. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar e analisar o contexto histórico da obra; Investigar, identificar e analisar os problemas e os espaços sociais e acontecimentos históricos incluídos no poema; Praticar a leitura dos textos nas modalidades escrita e audiovisual; Desenvolver a escrita de textos com os temas presentes no texto. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este trabalho foi desenvolvido pelos caminhos da pesquisa bibliográfica fazendo apropriação conceitual das áreas de Linguísticas e Literárias, da História cultural, e da Educação; esta, oferecendo fontes de publicações oficiais normativas para o Ensino Médio (Parâmetros Curriculares Nacional, Referencias Curriculares do Ensino Médio). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 398
A partir dessas fontes estabelecemos diálogos com a obra textual de João Cabral, Morte e vida Severina, assim como a adaptação audiovisual realizada pelo cartunista Miguel Falcão e o filme de Walther Avancini. Trabalharemos com as competências voltadas as ciências humanas e suas tecnologias, dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que são: Compreender os elementos culturais que constituem as identidades, compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. Somado a isso, visamos que o aluno possa compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais, e utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade. Ademais, se estabelece também como modelo de leitura empregado o Letramento, pois com este modelo o aluno será capaz de relacionar suas vivências com a obra, lendo-a criticamente. AÇÕES ETAPA 1 MOTIVAÇÃO E LEITURA DA OBRA (8 aulas) Num tempo de avanço tecnológico, literatura de fantasia, ação e imediatismo, Morte e Vida Severina pode parecer, para os jovens, uma obra ultrapassada, chata e monótona. Normalmente, os adolescentes do nosso tempo consomem outro tipo de literatura (como os best-sellers). Esse fato, somado ao fato de que a Literatura ainda é apresentada em sala de aula com uma abordagem engessada muitas vezes desmotivam os estudantes e os afastam da leitura de clássicos como a obra proposta. Partindo dessa compreensão, o primeiro passo é motivar o aluno, inquietá-lo para a necessidade de conhecer a obra de João Cabral. Uma possibilidade de incitar o interesse é correlacionar problemas sociais de hoje ao contexto da obra: quais problemas da década de 40 permanecem até hoje? Quais estão perto de nós? Tais paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 399
questionamentos são possíveis, visto que a atividade é dirigida ao 3º ano do Ensino Médio, série em que se subentende que exista determinada maturidade leitora. O poema, dividido em 16 partes, pode ser lido e analisado em blocos de 2 partes, em 8 aulas. A leitura é essencial para o estudo; no entanto, além do texto escrito, servirão de apoio dois recursos: a adaptação musical de Walther Avancini e Chico Buarque e a adaptação em quadrinhos de Miguel Falcão, respectivamente abaixo: O conhecimento de outras linguagens além do texto escrito é primordial não somente para conhecer os diversos níveis de linguagem e os recursos estilísticos que elas utilizam, mas para poder apreender visualmente o contexto histórico da obra. A leitura pode ser feita a partir dos blocos sugeridos (cada bloco possui 4 das 16 subdivisões do texto de João Cabral, em anexo), com o auxílio da videografia. ETAPA 2 APREENSÃO DAS INFORMAÇÕES DA OBRA (2 aulas) Com a leitura dos textos escrito e visual, é possível que professor e alunos possam juntos construir um estudo através de um resumo topicalizado a partir dos acontecimentos importantes de cada parte. São sugestões de assuntos (que estão na obra) a serem abordados nessa primeira produção textual conjunta: a emigração de paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 400
Severino, a sua busca por água, a sua busca por emprego, a alta taxa de mortalidade sertaneja, o domínio de latifundiários sobre os mais pobres, a pobreza no sertão e na cidade, a possibilidade do suicídio e as implicações de nascer num local com poucas condições de vida. Esta primeira produção textual, em caráter de resumo, deverá ser feita de maneira conjunta, segundo o que preconiza Bakhtin (2014, 2011) acerca da construção de sentidos a partir da inserção e compreensão de várias vozes no processo de comunicativo. Entretanto, deve-se ressaltar que aqui também aplicar-se-á a figura vigotskyana do professor como mediador e guia dos apontamentos dos alunos. Essa escrita deverá abarcar não somente os aspectos temáticos da obra, mas também os recursos estilísticos utilizados na obra e nas duas adaptações. ETAPA 3 ESTABALECENDO RELAÇÕES ENTRE REALIDADE E FICÇÃO AVALIAÇÃO (2 aulas) Num terceiro momento do estudo, os alunos, de posse de suas anotações, podem partir para um momento de reflexão mais profunda. Como esta atividade se propõe a ser multidisciplinar, é hora de relacionar o que foi lido e apreendido à realidade, ou seja, é hora de estabelecer elos entre o assunto e os fatos do cotidiano, pessoais ou comunitários. Com base nisso, os alunos deverão refletir sobre os acontecimentos de Morte e Vida Severina, fatos históricos do passado e do presente como a Revolução de 30, o Cangaço, a Seca Nordestina - e, a partir disso: - Escrever textos de natureza narrativo-descritiva, em forma de conto. Para que a escrita não fique solta ou sem propósitos definidos e para guiar e inspirar os alunos, sugerimos o seguinte tema para o texto: QUÃO SEVERINA PODE SER A VIDA?. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 401
REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Marxismo de filosofia da linguagem. 16ed. São Paulo: Hucitec, 2014, 203p.. Estética da criação verbal. Tradução de M. E. G. Gomes Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 2011, 476p. BRASIL.MEC, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCNs+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002. DACUNTE, P.U; LIRA, B. Morte e Vida Severina: incentivo à leitura a partir de textos literários e atividades de retextualização. Acesso em: http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais16/sem05pdf/sm05ss12_09.pdf Acesso em: 18/08/2015 MELO NETO, João Cabral de.morte e vida Severina. Edição em quadrinhos realizada por Miguel Falcão. Recife, PE: Fundaj, Editora Massangana, 2009. Morte e Vida Severina e outros poemas. Novas seletas. 34 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. Morte e Vida Severina. Filme.Direção de Walter Avancini. TV Globo, 1981. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 402
Danniele Silva do Nascimento Mestranda do Programa de Pós-graduação em Formação de Professores, pertencendo à linha "Linguagem, Culturas e Formação docente". Possui Graduação em Letras (UFPB) e Especialização em Literatura e Ensino (IFRN). Além disso, integra o grupo de pesquisa Linguagem, Interação, Gêneros Textuais e ou Discursivos - LITERGE. Atua como professora de Língua Portuguesa (Ensino Médio) na rede escolar privada de João Pessoa (PB). Daniel Torquato Fonseca de LIMA Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Formação de Professores da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB (2015), especialista em História Cultural (2012), graduado em Licenciatura em História (2008), ambas pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB. Atualmente é aluno na Universidade Federal da Paraíba - UFPB - no curso de Licenciatura em Ciências da Computação. Atua como professor do curso técnico em Programador de Jogos Digitais e Informática para a Internet no Colégio da Polícia Militar da Paraíba (desde 2012), além de Colaborador do Instituto de Referencia Étnica (IRE). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 403