MÉTODOS DE RACIOCÍNIO 3 1. SILOGISMO E FALÁCIA 3 2. DIALÉTICA E RETÓRICA 7 3. DILEMA 10 EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO 12 EXERCÍCIOS DE COMBATE 19 GABARITO

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Transcrição:

SUMÁRIO MÉTODOS DE RACIOCÍNIO 3 1. SILOGISMO E FALÁCIA 3 2. DIALÉTICA E RETÓRICA 7 3. DILEMA 10 EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO 12 EXERCÍCIOS DE COMBATE 19 GABARITO 22 2

MÉTODOS DE RACIOCÍNIO 1. SILOGISMO E FALÁCIA Para compor uma boa dissertação argumentativa, você precisa dominar alguns métodos de persuasão. Um método muito eficaz foi criado por Aristóteles: o silogismo. O silogismo é, por essência, um raciocínio dedutivo, ou seja, uma argumentação que leva o interlocutor a uma inferência por meio de dois termos antecedentes que se unem a um terceiro. Parte-se, então, da generalização para o particular, da causa para o efeito. Esse raciocínio, a inferência, consiste em levar alguém a uma conclusão, baseado em proposições, ditas premissas. Ex.: Todo homem é mortal. Ora, Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. Há, aqui, três proposições ditas premissas e uma conclusão; há também três termos, homem, Sócrates e mortal. Homem é o termo médio - aparece apenas na primeira e na segunda premissa; Sócrates é o termo menor - aparece na premissa menor e na conclusão - e mortal é o termo maior - aparece na premissa maior e na conclusão. Essa é a estrutura formal de um silogismo. Quando a estrutura está correta, dizemos haver validade dos argumentos. Aquilo que se diz nas premissas também se avalia pela veracidade. Essa é a matéria ou conteúdo do raciocínio que se julga pela verdade ou falsidade do que se diz. Então: 3

Forma validade de raciocínio Matéria verdade de informação Quando há troca de termos na forma ou quando o conteúdo é falso, induz-se a um erro de raciocínio chamado falácia ou sofisma. Veja uma falácia pelo erro de forma: Quem espera sempre alcança. Ora, Pedrinho alcançou o pódio. Logo, Pedrinho esperou. Neste caso, o termo médio foi trocado pelo termo maior na segunda premissa. Isso ocasionou um erro de raciocínio. O certo seria: Quem espera sempre alcança. Ora, Pedrinho esperou. Logo, Pedrinho alcançou o pódio. Agora, veja uma falácia pelo erro de conteúdo. Todo animal de patas articuladas é um artrópode. Ora, o sapo tem patas articuladas. Logo, o sapo é um artrópode. O erro do raciocínio foi induzido pela falsa premissa maior, porque os artrópodes são invertebrados. Essa informação anularia o resultado da conclusão sobre o sapo, pois este é vertebrado. Veja que a falta de uma informação precisa ocasionou uma confusão na inferência. 4

As falácias podem ser potentes armas para persuadir interlocutores. Por isso, a mídia, o marketing, a política e outros tantos setores de comunicação fazem uso desse tipo de raciocínio quando pretendem convencer o interlocutor. Enquanto a falácia é uma estratégia argumentativa, o sofisma é uma verdadeira armadilha. A falácia pode induzir a um raciocínio conveniente para o enunciador, sem necessariamente causar dano ao destinatário. No entanto, o sofisma é uma construção cuja intenção é provocar o erro, enganando deliberadamente o destinatário. Há diversos tipos de falácias. A escolha de um ou outro no ato da persuasão é determinada pelo propósito comunicativo do enunciador. Conheça alguns tipos. 1. Petição de princípio ou círculo vicioso Argumento que apresenta a própria declaração como prova dela. Ex.: (1) Tostines é mais fresquinho porque vende mais e vende mais porque é mais fresquinho. (2) O seu time só ganha o jogo quando o outro time perde. 2. Falsa causa ou ignorância da causa Argumento que justifica uma ação baseado em uma observação não-científica, curiosa, incidindo em erro e provocando, assim, um raciocínio equivocado sobre o que seria a causa. Ex.: (1) O preso se dizia inocente por não saber a marca da arma usada no crime. (2) O candidato garantia sua plataforma municipal anunciando que após a eleição mudaria para a cidade vizinha. 5

3. Ofensa ao interlocutor Quando o argumentador não domina o assunto, ele ofende o interlocutor na tentativa de desequilibrar a opinião alheia. Ex.: (1) Num debate entre políticos, um deles, por não saber como derrubar seu adversário com argumentos ponderáveis e de acordo com o assunto discutido, ofende-o com um argumento que denigre seu passado, sem que isso tenha ligação com sua plataforma política do momento. (2) O candidato a Prefeito não se envergonha de ter sido reprovado na 6ª. série, quando estudamos juntos! 4. Erro de acidente Raciocínio que interpreta um fato acidental como um atributo essencial, constante e que resulta numa generalização falaciosa. Ex.: Muitos políticos são corruptos e se envolvem em falcatruas. Por isso não confio em políticos. 5. Falsa analogia Raciocínio por analogia que leva ao erro por concluir do particular para o particular. Ex.: (1) Meu irmão teve uma dor na coluna, tomou o remédio X e ficou bom. Eu estou com a mesma dor na coluna, então vou tomar o mesmo remédio que vou ficar bom. (2) Assim como a Diretora da escola foi eleita pela maioria dos funcionários, o Prefeito será reeleito com o voto do funcionalismo municipal. 6

6. Pergunta complexa Pergunta que limita o interlocutor a apresentar apenas duas respostas possíveis: sim ou não, sendo que qualquer uma das duas o induz ao erro. Ex.: Você está arrependido do crime que cometeu? Se a resposta for sim, o interlocutor assume o crime se dizendo arrependido. Se a resposta for não, o interlocutor assume o crime e não se mostra arrependido. Ou seja, qualquer uma das duas respostas o incrimina, pois na pergunta complexa há duas perguntas simples: 1- você cometeu um crime?; 2- Você está arrependido? 2. DIALÉTICA E RETÓRICA Todo ato de comunicação começa com a necessidade humana de compartilhar experiências e conhecimento. Os atores desse ato comunicativo. É importante observar que sempre que se fala com alguém está subjacente o desejo de persuadir o outro a concordar com o que se está expondo. Se a comunicação se dá por meio de um diálogo, a troca de ideias, entredois interlocutores, se dá por meio de uma ação dialética; no entanto, se a comunicação ocorre em um auditório, por exemplo, o enunciador pretende persuadir a plateia a pensar como ele, por força de suas ideias e ponto de vista, o que consiste numa ação retórica. 2.1. A dialética pode ser descrita como a arte do diálogo. Os interlocutores contrapõem suas ideias numa discussão, em que uma tese é defendida e contradita logo em seguida. A prática da dialética surgiu na Grécia antiga, no entanto, há controvérsias a respeito do seu fundador. Aristóteles considerava a Zenon como tal, já outros defendem que Sócrates foi o verdadeiro fundador da dialética por usar de um método discursivo para propagar suas ideias. Muitos filósofos, desde então, se dedicaram ao estudo da dialética como método de raciocínio que leva à busca da verdade. Para Platão, a dialética era o único caminho que levava o homem ao verdadeiro conhecimento e sabedoria. Para ele, a partir do método dialético de perguntas e respostas seria possível iniciar o processo de busca da verdade. Também falava da existência de dois mundos: o mundo sensível (aquilo que vemos, ouvimos ou sentimos) e o mundo das ideias (alcançado apenas através da dialética, da investigação de conceitos). Só seria possível, pois, descobrir a verdade pela investigação e observação dos opostos. 7

Ilustrando: De acordo com essas ideias, pode-se dizer que um cego não sabe o que é escuridão porque não conhece a luz, e um surdo não sabe o que é o silêncio porque não conhece o barulho. Nessa linha de raciocínio, Lulu Santos compôs a letra da canção que vamos ler. Não existiria som se não houvesse o silêncio Não haveria luz se não fosse a escuridão A vida é mesmo assim, dia e noite, não e sim Eu te amo calado, como se fosse uma sinfonia De silêncio e de luz Nós somos medo e desejo Somos feitos de silêncio e som [...] Lulu Santos Para Hegel, a dialética se movimentaria da seguinte forma: primeiro apresenta-se a TESE, que é a ideia, contrapõe-se a ela uma ANTÍTESE, fazendo surgir, posteriormente, a SÍNTESE, que é a superação das anteriores. Hegel aplicava esse raciocínio à realidade e aos diferentes momentos da história humana. Ou seja, a história estaria dividida em três etapas, correspondendo exatamente à TESE, ANTÍTESE e SÍNTESE. A SÍNTESE representa a superação da contradição. Ilustrando: O estilo Barroco seria um exemplo perfeito da dialética de Hegel. A partir da religiosidade medieval (TESE) e do humanismo renascentista (ANTÍTESE), emerge a contradição na arte barroca. À mesma Dona Ângela Gregório de Mattos Guerra Anjo no nome, Angélica na cara Isto é ser anjo, e flor juntamente Ser Angélica flor, e anjo florente Em quem, senão em vós, se uniformara. Quem vira uma tal flor, que não a cortara, De verde pé, da rama florescente; E quem um Anjo vira tão luzente; Que por seu Deus o não idolatrara? 8

Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo que por bela e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. COMENTÁRIO: O Anjo representa o plano metafísico, a religiosidade Medieval, a ideia do perdão (tese); A Angélica (flor) representa o plano físico, a possibilidade do pecado (antítese); a Ângela (mulher) representa a uniformização dos dois planos. Assim, a mulher amada simboliza a síntese dos sentimentos do eu-lírico: a contradição entre a ânsia do perdão divino e o pecado da carne. Essa contradição é evidenciada na conjunção adversativa mas que inicia o segundo terceto, quando o eu-lírico constata que mulher é um anjo de tentação (mistura de salvação com pecado). Karl Marx reformulou o conceito de dialética em Hegel, voltando-o para a sociedade, para as lutas de classes vinculadas a uma determinada organização social, surgindo, assim, a chamada realidade dialética materialista ou materialismo dialético. Marx fala da dialética sempre em um contexto de luta de classes e seus diferentes interesses, o que gera a contradição. 2.2. A retórica é a arte de convencer o interlocutor pela oratória. Classicamente, o discurso retórico é verbal de um enunciador a vários interlocutores ouvintes. Um sermão numa igreja, por exemplo, é um discurso retórico em que o pároco fala aos fiéis para persuadi-los com as ideias expostas por ele. O modelo tradicional da retórica aristotélica é triangular: o orador, a mensagem e o auditório. No mundo moderno, no entanto, a mídia imprimiu uma nova concepção à retórica ao acrescentar-lhe um quarto elemento: o meio de comunicação. E não se trata de um mero elemento adicional, mas de um elemento que intervém e refaz as relações entre os outros elementos entre si. A relação de um orador com seu ouvinte se modifica quando midiatizada, tal como a mensagem se altera conforme o meio em que é veiculada. A mudança mais profunda é seguramente a substituição do auditório pela audiência ou por um público. A unidade de espaço e tempo que caracteriza o auditório fragmenta-se em múltiplos lugares e em tempos diferentes. A retórica clássica é uma retórica de presença, a midiatizada é uma retórica de ausência. Os meios também alteram a própria figura de orador. Com a imprensa e a industrialização do jornalismo, por exemplo, o orador individual foi substituído pela redação do jornal. Mais importante do que a credibilidade de um jornalista é a credibilidade do jornal onde escreve. 9

Mesmo em situações retóricas presenciais, o orador recorre, hoje em dia, a apresentações por meio dos recursos da programação visual, por exemplo, para objetivar a exposição da mensagem e melhor persuadir o auditório. A especificidade de cada meio, imprensa, rádio, televisão, internet, apresenta exigências retóricas específicas. Por exemplo, a televisão privilegia as imagens, motivo pelo qual dificilmente constituirá um meio propício a argumentações densas. Num debate televisivo, tão ou mais importante do que as palavras de um mediador, serão as imagens captadas e selecionadas, o que não depende do orador, mas dos operadores de câmara e do editor da emissão. Em suma, a midiatização da comunicação requer uma nova análise dos processos persuasivos. Hoje a persuasão numa sociedade midiatizada, de múltiplos públicos, opera com estratégias ininterruptas de persuasão, incluindo imagens, gestos, sons, fala, etc. Isso distingue a prática retórica hodierna, dos atos pontuais, como os configurados pelos discursos retóricos tradicionais. A persuasão deixa de ser um processo situado num determinado contexto (a missa, debates políticos em arena e senado) para se disseminar por toda a vida da sociedade de informação (o cinema, o programa de auditório, os programas de entrevista). 3. DILEMA Um dos dilemas mais conhecidos da literatura universal é o de Hamlet (Shakespeare): Ser ou não ser, eis a questão! O dilema ocorre quando se utiliza um argumento que coloca o adversário entre duas proposições para escolha. Pode ser uma situação embaraçosa com duas saídas difíceis, pois não há outra possibilidade além das duas colocadas em discussão. De qualquer forma, não há racionalidade na previsão. Para ilustrar o dilema, apresentamos um problema clássico: O dilema do prisioneiro a teoria do jogo. Você e seu cúmplice foram arrastados até a delegacia de polícia e colocados em celas separadas. O promotor diz a você que a polícia possui evidências suficientes para incriminá-los e pedir um ano de reclusão. Mas não há provas o bastante para uma condenação maior. Então, ele propõe que você confesse e deponha contra seu cúmplice. Você ficará livre por ter colaborado, enquanto aquele irá para a cadeia por três anos. No entanto, se ambos confessarem o crime, os policiais não precisarão de sua cooperação e cada um sofrerá pena de dois anos de reclusão. Você é levado a acreditar que a mesma proposta está sendo feita ao seu parceiro. O que você faz? 10

Ora, você está diante de um dilema. Para resolvê-lo, propomos uma análise dos fatos em uma tabela: DILEMA Você confessa Você cala cala Parceiro cala Parceiro confessa Parceiro cala Parceiro confessa Você = 0 Parceiro=3 Você = 2 Parceiro=2 Você = 1 Parceiro=1 Você = 3 Parceiro=0 COMENTÁRIO: Diante desse dilema, a melhor escolha que você tem a fazer é confessar. Observe as consequências de cada ato: (1) Confessando, você pode ficar livre ou ser condenado a dois anos de reclusão; (2) Calando-se, você será condenado a um ou três anos de reclusão. É claro que, não sabendo o que o seu parceiro vai escolher, o melhor é não arriscar e tentar sair livre ou investir na probabilidade da menor pena: dois anos na cadeia. 11

Texto para a questão 01 Herói na contemporaneidade Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis. Recorro ao historiador de mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras públicas: o herói (figura pública antiga) e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, líder pacifista indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman. Toda história em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis populares, era o Homero dos quadrinhos. Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena expatriado. São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana. Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capitão América. Hulk e Homem-Aranha são seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-Homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano e super-herói, como Gandhi. Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis eu lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio. Adaptado de http://fernandochui.blogspot.com 12

1. O método dedutivo organiza-se a partir de premissas gerais que são confirmadas por premissas particulares para se chegar a uma conclusão. A frase do texto que evidencia uma premissa geral é: a) Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis. (l. 1-2) b) Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. (l. 9) c) São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana. (l. 29-30) d) Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. (l. 47-48) Texto para questão 02 Há cerca de dez anos, estimava-se que 11,2% da população brasileira poderiam ser considerados dependentes de álcool. Esse índice, dividido por gênero, apontava que 17,1% da população masculina e 5,7% da população feminina eram consumidores da bebida. Quando analisada a distribuição etária desse consumo, outro choque: a pesquisa evidenciou que 41,2% de estudantes da educação básica da rede pública brasileira já haviam feito uso de álcool. Dados atuais apontam que a porcentagem de dependentes de álcool subiu para 15%. Estima-se que o país gaste 7,3% do PIB por ano para tratar de problemas relacionados ao alcoolismo, desde o tratamento de pacientes até a perda da produtividade no trabalho. A indústria do álcool no Brasil, que produz do açúcar ao álcool combustível, movimenta 3,5% do PIB. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 28, nº- 4, dez./2006 e Internet: <www.alcoolismo.com.br> (com adaptações). 2. A partir dos dados acima, conclui-se que: a) o país, para tratar pessoas com problemas provocados pelo alcoolismo, gasta o dobro do que movimenta para produzir bebida alcoólica. b) o aumento do número de brasileiros dependentes de álcool acarreta decréscimo no percentual do PIB gasto no tratamento dessas pessoas. c) o elevado percentual de estudantes que já consumiram bebida alcoólica é indicativo de que o consumo do álcool é problema que deve ser enfrentado pela sociedade. d) as mulheres representam metade da população brasileira dependente de álcool. e) o aumento na porcentagem de brasileiros dependentes de álcool deveu-se, basicamente, ao crescimento da indústria do álcool. Texto para a questão 03 Maquiavélico Um réu estava sendo julgado por assassinato na Inglaterra. Havia fortes evidências sobre a sua culpa, mas o cadáver não aparecera. Quase no final da sua sustentação oral, o advogado, temeroso de que o seu cliente fosse condenado, recorreu a um truque: - Senhoras e senhores do júri, eu tenho uma surpresa para todos vocês! Disse o advogado, olhando para o seu relógio. Dentro de um minuto, a pessoa presumivelmente assassinada, vai entrar neste tribunal. 13

E olhou para a porta. Os jurados, surpresos, também ansiosos, ficaram olhando para a porta. Um minuto passou. Nada aconteceu. O advogado, então, completou: - Realmente, eu falei e todos vocês olharam com expectativa. Portanto, ficou claro que vocês têm dúvida, neste caso, se alguém realmente foi morto, por isso insisto para eu vocês considerem o meu cliente inocente! Os jurados, visivelmente surpresos retiraram-se para a decisão final. Alguns minutos depois, o júri voltou e pronunciou o veredicto: - Culpado! - Mas como? Perguntou o advogado. Vocês estavam em dúvida, eu vi todos vocês olharem fixamente para a porta! E o juiz esclareceu: - Sim, os jurados realmente olharam para a porta, mas o seu cliente não... 3. O Advogado de defesa e os jurados, na voz do juiz estruturaram seus discursos a partir de raciocínios que podem ser caracterizados, respectivamente, como: a) falacioso e dedutivo b) sofismático e indutivo c) dialético e indutivo d) silogístico e dedutivo Texto para a questão 04 SILOGISMO Um salário-mínimo maior do que o que vão dar desarrumaria as contas públicas, comprometeria o programa de estabilização do Governo, quebraria a Previdência, inviabilizaria o país e provavelmente desmancharia o penteado do Malan. Quem prega um salário-mínimo maior o faz por demagogia, oportunismo político ou desinformação. Sérios, sensatos, adultos e responsáveis são os que defendem o reajuste possível, nas circunstâncias, mesmo reconhecendo que é pouco. Como boa parte da população brasileira vive de um mínimo que não dá para viver e as circunstâncias que o impedem de ser maior não vão mudar tão cedo, eis-nos num silogismo bárbaro: se o país só sobrevive com mais da metade da sua população condenada a uma subvida perpétua, estamos todos condenados a uma lógica do absurdo. Aqui o sério é temerário, o sensato é insensato, o adulto é irreal e o responsável é criminoso. A nossa estabilidade e o nosso prestígio com a comunidade financeira internacional se devem à tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos emocionais, mantêm uma política econômica solidamente fundeada na miséria alheia e uma admirável coerência baseada na fome dos outros. O país só é viável se metade da sua população não for. (...) (VERÍSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000.) 14

4. silogismo. S. m. Lóg. Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão. (FERREIRA, A. B. de Holanda. Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.) Considerando essa definição, pode-se concluir que o silogismo a que se refere o título do texto é encontrado em: a) Boa parte da população sobrevive com apenas um salário-mínimo e o salário-mínimo não dá para viver; então, há circunstâncias que impedem o salário de ser maior. b) Precisamos manter nosso prestígio com a comunidade financeira internacional; temos homens honrados e capazes; então, é preciso resistir a apelos emocionais da sociedade. c) Um salário-mínimo maior prejudicaria o país; o salário-mínimo impõe miséria a grande parte da população; então, o país necessita da miséria de grande parte da sua população. d) O salário mínimo não garante vida digna para a maioria da população; o salário não aumenta mais por exigência do mercado internacional; então, é preciso alterar esse modelo econômico. 5. Digamos que um político em campanha eleitoral afirme: Se um partido é mais organizado, devemos votar nele; ora, o meu partido é mais organizado; logo, vocês devem votar nos candidatos do meu partido; como um destes candidatos sou eu mesmo, não lhes parece bastante razoável que vocês votem em mim? Para apoiar sua tese, ele recorre a um professor de Lógica que, consultado, concorda que o argumento é válido. Entretanto, o argumento do candidato pode ser questionado. Este questionamento, segundo os mesmos princípios de Lógica, deve defender que: a) quando se admite a validade de um argumento, não se admite ao mesmo tempo a sua verdade. b) uma vez que o professor de Lógica é humano, ele pode estar tão errado quanto o candidato. c) já que o exercício da democracia exige compromisso político, não se pode pautar o voto apenas pela lógica. d) como o argumento do candidato beneficia todos os candidatos do seu partido, tanto faz votar nele como nos outros. 15

Texto para a questão 06 FÓRUM DE DISCUSSÃO MENSAGEM 1: A ciência, para muitos, tem um lado maligno. Para alguns, estamos passando por uma nova Idade Média, onde a técnica alienante faz as vezes da religião católica. Até agora, minha conclusão é pessimista: por mais que violentemos nosso pensamento, nossa razão ainda estará subordinada ao desejo. E assim, não há certo ou errado. A ciência nos dá (ou melhor, vende) armas contra a natureza, que usamos contra nós mesmos, apenas isso. Não existe nada mais irracional que o trabalho científico dos dias atuais. MENSAGEM 2: Caro M., o que você entende exatamente por ciência? Um oráculo todo-poderoso e prepotente que diz aos pobres e tolos homens o que está certo e o que é errado? Como pode dizer que ela nos dá armas contra a natureza? Não me vem à cabeça neste momento característica mais própria da natureza humana do que o modo científico de pensar. Você não consegue encontrar nada de científico no método de caça de um aborígene australiano? Ou então no modo de um crenacarore* do Amazonas tratar a terra para o cultivo? Você está claramente confundindo aplicação da tecnologia com ciência. Muitos filósofos têm tido problemas para separar uma coisa da outra (e muitos cientistas também). Se você acha que construir uma bomba atômica, por exemplo, é um trabalho científico, está enganado. É pura e simplesmente um trabalho tecnológico. É claro que ele depende do conhecimento científico, mas é impossível construir conhecimento científico visando sua aplicação imediata. Aqueles que, como você, confundem Igreja Católica da Idade Média com ciência, esquecem-se (ou não sabem) que esta última tem embutida em si um mecanismo de correção de erros, que é o motor que a move. Nenhuma questão é tratada pela ciência como fechada, nenhum conhecimento está imune de questionamento e dúvida. Com certeza eu não concordo com muito do que a humanidade vem construindo através da aplicação do conhecimento científico; no entanto, a própria ciência é a arma mais poderosa que temos para enfrentar estas questões, e por isso criticá-la é um tiro pela culatra. Você pode fazer como muitos histéricos e criticar a ciência porque a Monsanto patenteou uma soja que tolera um único pesticida, cinco vezes mais forte que os tradicionais, além do fato de o pesticida ser da própria Monsanto. Mas você estará também sendo contra a salvação de milhares de vidas na África, onde o único modo de obter-se vacinas é cultivando bananas transgênicas que contêm antígenos. Para mim, isto é que é ser irracional. Fórum Cético Brasileiro janeiro de 2002 http://www.nitnet.com.br 16

6. O autor da mensagem 2, na sua resposta, emprega um sofisma: desvia-se da questão em debate e sugere uma desqualificação do oponente. Esse sofisma está contido na seguinte alternativa: a) Caro M., o que você entende exatamente por 'ciência? b) Você está claramente confundindo aplicação da tecnologia com ciência. c) Se você acha que construir uma bomba atômica, por exemplo, é um trabalho científico, está enganado. d) Você pode fazer como muitos histéricos e criticar a ciência Texto para a questão 07 PRECONCEITO E EXCLUSÃO Os preconceitos linguísticos no discurso de quem vê nos estrangeirismos uma ameaça têm aspectos comuns a todo tipo de posição purista, mas têm também matizes próprios. Tomando a escrita como essência da linguagem, e tendo diante de si o português, língua de cultura que dispõe hoje de uma norma escrita desenvolvida ao longo de vários séculos, [o purista] quer acreditar que os empréstimos de hoje são mais volumosos ou mais poderosos do que em outros tempos, em que a língua teria sido mais pura. (...) Ao tomar-se a norma escrita, é fácil esquecer que quase tudo que hoje ali está foi inicialmente estrangeiro. Por outro lado, é fácil ver nos empréstimos novos, com escrita ainda não padronizada, algo que ainda não é nosso. Com um pouco menos de preconceito, é só esperar para que esses elementos se sedimentem na língua, caso permaneçam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza! Na visão alarmista de que os estrangeirismos representam um ataque à língua, está pressuposta a noção de que existiria uma língua pura, nossa, isenta de contaminação estrangeira. Não há. Pressuposta também está a crença de que os empréstimos poderiam manter intacto o seu caráter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a língua original poderia compreendê-los. Conforme esse raciocínio, o estrangeirismo ameaça a unidade nacional porque emperra a compreensão de quem não conhece a língua estrangeira. (...) O raciocínio é o de que o cidadão que usa estrangeirismos ao convidar para uma happy hour, por exemplo estaria excluindo quem não entende inglês, sendo que aqueles que não tiveram a oportunidade de aprender inglês, como a vastíssima maioria da população brasileira, estariam assim excluídos do convite. Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situações de maior consequência, o uso de estrangeirismos seria um meio linguístico de exclusão social. A instituição financeira banco que oferece home banking estaria excluindo quem não sabe inglês, e a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria fazendo o mesmo. O equívoco desse raciocínio linguisticamente preconceituoso não está em dizer que esse pode ser um processo de exclusão. O equívoco está em não ver que usamos a linguagem, com ou sem estrangeirismos, o tempo todo, para demarcarmos quem é de dentro ou de fora do nosso círculo de interlocução, de dentro ou de fora dos grupos sociais aos quais queremos nos associar ou dos quais queremos nos diferenciar. (...) (GARCEZ, Pedro M. e ZILLES, Ana Maria S. In: FARACO, Carlos Alberto (org.). Estrangeirismos - guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.) 17

7. O equívoco desse raciocínio linguisticamente preconceituoso não está em dizer que esse pode ser um processo de exclusão. O fragmento acima inicia, no último parágrafo, uma estratégia que busca demonstrar uma falha no raciocínio criticado pelos autores. Essa falha pode ser definida como: a) observação incompleta dos fatos b) apresentação de falso testemunho c) construção inadequada de silogismo d) ausência de exemplificação suficiente 8. A televisão não transmite regularmente cenas de violência, nos telejornais, nos filmes e até nos desenhos animados? Pois então: a nossa sociedade é muito violenta! Como fica demonstrado, a causa da violência é a televisão. Logo, deve-se simplesmente censurar as cenas de violência de todos os programas de televisão. O argumento apresentado no trecho acima é um sofisma. Podemos caracterizar este sofisma como: a) círculo vicioso b) desvio de assunto c) silogismo não-válido d) confusão entre causas e efeitos 18

1. A apresentação do significado de paradoxo poderia ser desmembrada da seguinte forma: I. para significa proximidade, ao lado de ; II. doxa pode ser explicado como a opinião de toda a gente; III. Logo, um paradoxo é a expressão de um raciocínio que está à margem do senso comum. Quanto à forma, essa construção com duas afirmações seguidas de uma conclusão poderia ser associada ao silogismo, meio de expressão do raciocínio dedutivo. Porém, sabendo-se que a dedução é um método que parte do geral para o particular, a construção acima não pode ser vista como silogismo, porque: a) a conclusão carece de sustentação ou comprovação suficiente b) a conclusão não é decorrente da associação entre as duas outras afirmações c) a primeira afirmativa não representa uma proposição maior em relação à segunda d) a segunda afirmativa expressa uma consideração específica e a primeira, abrangente Texto para a questão 02 Lóri, pela primeira vez na sua vida, sentiu uma força que mais parecia uma ameaça contra o que ela fora até então. Ela então falou sua alma para Ulisses: Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só. Olhou para Ulisses com a humildade que de repente sentia e viu com surpresa a surpresa dele. Só então ela se surpreendeu consigo própria. Os dois se olharam em silêncio. Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: Repita o que você disse, Lóri. Não sei mais. Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só. Sim. 19

Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. (LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.) 2. Um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa mas seremos um só. (L. 5-7) Nessa declaração, o discurso da personagem se estrutura a partir de um raciocínio que pode ser caracterizado como: a) silogístico b) dedutivo c) dialético d) indutivo Texto para as questões 03, 04 e 05. Juventude e participação LUÍS DE LA MORA Inicialmente, gostaria de destacar que toda avaliação é feita a partir de uma comparação. Neste caso, essa comparação poderia ser feita em duas direções. Uma delas em relação a outras faixas etárias e a outra em relação à juventude de épocas passadas. Em relação à primeira dimensão, me parece que o comportamento político da juventude não seja diferente do de outras faixas etárias. Os que avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas. Existem parcelas da população passivas (e entre elas há jovens e também adultos), assim como existem parcelas da população com alta taxa de participação política, e entre elas podemos igualmente identificar jovens e adultos. Logo, uma comparação entre faixas etárias não nos leva a concluir que seja baixa a participação política da juventude. Agora, em relação à outra dimensão, a comparação entre juventudes de épocas diferentes, podemos constatar diferenças que aparentemente levem algumas pessoas a afirmações do tipo a juventude atual não está com nada, antigamente os jovens tinham maior consciência e atuação política. E aqui, novamente, devemos analisar a questão por partes. Jovens alienados e passivos sempre existiram ao lado de jovens conscientizados e ativos politicamente. Deve-se reconhecer que a proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. Mas esse aumento ou diminuição é uma expressão da sociedade como um todo e não de uma determinada faixa etária. Se numa época a 20

parcela de jovens cresce e se torna mais intensa, é porque esse mesmo fenômeno se manifesta na sociedade como um todo. O comportamento juvenil expressa as tendências gerais da sociedade como um todo. A grande diferença está nos meios de que dispõem os jovens para desenvolver sua consciência crítica ou para manifestar sua postura política. Aí, sim, registramos mudanças radicais em relação a outras épocas. Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comunicação que permitem ampliar a velocidade e a abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes disponíveis para a expressão política da juventude. A minha resposta pode parecer otimista e tenho plena consciência de que ela é. Os jovens da atualidade não são diferentes dos jovens de outras épocas, aceitam ou rechaçam valores, assumem ou não atitudes políticas com a mesma postura dos jovens do passado, a diferença não está no grau e sim na forma. Não muda o caminho, muda a forma de caminhar. Adaptado de www.cipo.org.br 3. A argumentação do autor se pauta pela cautela, combatendo principalmente os discursos que fazem generalizações apressadas. A frase do texto que melhor comprova essa afirmativa está indicada em: a) Os que avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas. (l. 8-11) b) O comportamento juvenil expressa as tendências gerais da sociedade como um todo. (l. 37-38) c) A grande diferença está nos meios de que dispõem os jovens para desenvolver sua consciência crítica ou para manifestar sua postura política. (l. 39-41) d) Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comunicação que permitem ampliar a velocidade e a abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes disponíveis para a expressão política da juventude. (l. 43-47) 4. O início do primeiro parágrafo (l. 1-2) expõe um eixo em que se apoiará a construção do texto. Esse eixo pode ser definido como: a) uma evidência da tese b) uma opinião polêmica c) um método de raciocínio d) um testemunho autorizado 5. Os textos que defendem uma opinião possuem diversos mecanismos para garantir sua eficácia ou poder de convencimento. Pode-se dizer que a estrutura geral do texto contribui para sua eficácia argumentativa porque: a) detalha e comenta certos aspectos encontrados em outros textos b) analisa e critica a opinião apresentada ao final pelo próprio autor c) descreve e exemplifica um fenômeno definido como objeto de análise d) pressupõe e desconstrói algumas opiniões cristalizadas na sociedade. 21

EXERCÍCIOS DE TREINAMENTO 1. RESPOSTA: B 2. RESPOSTA: A 3. RESPOSTA: B 4. RESPOSTA: C 5. RESPOSTA: A 6. RESPOSTA: A 7. RESPOSTA: A 8. RESPOSTA: D EXERCÍCIOS DE COMBATE 1. RESPOSTA: C 2. RESPOSTA: C 22

3. RESPOSTA: D 4. RESPOSTA: C 5. RESPOSTA: C 23