MONITORAMENTO DA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DO ESFORÇO EM JOVENS ATLETAS DURANTE A APLICAÇÃO DE UM PRO- GRAMA DE TREINAMENTO PERIODIZADO



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Transcrição:

Recebido em: /11/2014 Parecer emitido em: 16/01/2015 Artigo original SANTA CRUZ, R.A.R.; CAMPOS, F.A.D.; GALIASSO, C.A.F.; ARRUDA, J.R.L.; ABDALA, O.S.; GOMES, Í.C.B.; PELLEGRINOTTI, Í.L.; Monitoramento da percepção subjetiva do esforço em jovens atletas durante a aplicação de um programa de treinamento periodizado. Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 14, n. 1, p. 89-96, 2015. ISSN: 1981-4313. MONITORAMENTO DA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DO ESFORÇO EM JOVENS ATLETAS DURANTE A APLICAÇÃO DE UM PRO- GRAMA DE TREINAMENTO PERIODIZADO RESUMO Ricardo Alexandre Rodrigues SantaCruz 1,2,3 Fabio Angioluci Diniz Campos 2,3 Carlos Antonio Feu Galiasso 1 Jorge Raphael Lopes Arruda 4 Otávio Santos Abdala 4 Ítalo Castelo Branco Gomes 1 Ídico Luiz Pellegrinotti 2,3 1 Universidade Estadual de Roraima UERR 2 Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP 3 Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano - UNIMEP 4 Secretaria de Educação e Desportos RR Observa-se a necessidade de estudos sobre o controle da intensidade dos esforços nos treinamentos de jovens atletas no ambiente escolar. Assim, o objetivo do presente estudo foi monitorar a percepção subjetiva do esforço de jovens atletas durante a aplicação de um programa de treinamento periodizado no futsal. A amostra foi composta por 13 sujeitos (16,5±2 anos, 168±7 cm, 61,1± 9,5 kg), do sexo masculino, da categoria sub-17, pertencentes a uma escola de ensino médio da cidade de Boa Vista/RR, que participaram de um programa de treinamento de 28 semanas, utilizando o modelo em blocos proposto por Verkhoshansky (1990). Para quantificar a distribuição da intensidade dos treinamento foi utilizado o método PSE da sessão (FOSTER, 1998). Foram encontrados valores médios de 3,4 ± 1,79 no Bloco A; 6,9 ± 0,75 no Bloco B e 7,7 ± 2,8 no Bloco C. As cargas de treinamento apresentaram características crescentes, com maiores valores sendo encontrados no período competitivo. Os resultados do presente estudo indicam que a PSE da sessão é um método totalmente aplicável em um programa de treinamento com jovens atletas. Palavras-chave: Percepção Subjetiva do Esforço. Periodização. Jovens Atletas. MONITORING OF SUBJECTIVE PERCEPTION OF EFFORT IN YOUNG ATHLETES DURING THE IMPLEMENTATION OF A TRAINING PROGRAM PERIODIZED ABSTRACT Note the need for studies on the control of the intensity of the efforts in training young athletes in the school environment. The objective of this study was to monitor the perceived effort of young athletes during the application of a periodized training program in futsal. The sample consisted of 13 students (16.5 ± 2 years, 168 ± 7 cm, 61.1 ± 9.5 kg), male, sub-category 17, belonging to a high school in the city of Boa Vista /RR, who participated in a program of 28 weeks of training, using the model proposed by Verkhoshansky (1990) blocks. To quantify the distribution of the intensity of the training session of the PSE method (FOSTER, 1998) was used. Average values of 3.4 ± 1.79 were found in Block A; 6.9 ± 0.75 in Block B and 7.7 ± 2.8 in Block C. The training loads presented increasing characteristics, with higher values being found in the competitive period. The results of this study indicate that the PSE session is fully applicable method in a training program with young athletes. Keywords: Subjective Perception of Effort. Periodization. Young Athletes. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313 89

INTRODUÇÃO Estudos têm demonstrando que no ambiente escolar os alunos dedicam pouco tempo à realização de esforços físicos nas aulas de Educação Física, seja pelo reduzido volume despendido de forma ativa, seja pela baixa intensidade dos esforços realizados, dificultando a obtenção de ganhos motores e do aprimoramento da aptidão física importante para a vida esportiva e diária dos adolescentes (CARNIEL e TOIGO, 2003; SILVA et al., 2009; TOIGO, 2007). Na escola, outra forma de aumentar os níveis de esforço físico e consequentemente melhorar a aptidão física dos alunos é a participação sistemática em programas esportivos voltados para o treinamento de uma determinada modalidade. Dessa forma, ao elaborar um programa esportivo para jovens, os componentes essenciais da prescrição incluem a seleção da modalidade, a intensidade do esforço, a duração da atividade e a frequência semanal em que a mesma é conduzida. A organização e estruturação do programa são fundamentais no processo de formação do jovem atleta (BORIN, GOMES e LEITE, 2007). Nesse sentido, os programas esportivos oferecidos na escola como forma de participação dos atletas em competições, deve contemplar um adequado planejamento, sistematização, estruturação, execução, regulação e controle científico das diferentes habilidades e capacidades que constituem a modalidade em questão. Monitorar a intensidade dos treinamentos durante uma temporada é uma estratégia importante para aumentar o desempenho físico e reduzir possíveis riscos de overtraining (MILANEZ et al., 2011). Diversos indicadores fisiológicos podem ser usados para quantificar a intensidade do esforço. Entre eles pode-se citar a frequência cardíaca, o consumo de oxigênio, os limiares ventilatório e de lactato e a percepção subjetiva do esforço (GRAEF e KRUEL, 2006). As escalas de percepção subjetiva do esforço foram criadas com o objetivo de estabelecer um meio indireto de quantificar, via percepção do executante quanto à sensação de esforço e/ou fadiga, a carga externa ou o estresse fisiológico por ele enfrentado (NAKAMURA et al., 2005). A utilização da Percepção Subjetiva do Esforço (PSE) da sessão tem se mostrado uma forma eficaz para quantificar a carga interna de treinamento, apresentando maior praticidade e menor custo. Este método vem apresentando correlação significativa com outros métodos baseados na frequência cardíaca e lactato (MILOSKI, FREITAS e FILHO, 2012). A validade do método da PSE para a quantificação da carga interna de treinamento tem sido comprovada na literatura, através de diferentes delineamentos experimentais conduzidos em modalidades esportivas distintas, principalmente com atletas profissionais (NAKAMURA, MOREIRA e AOKI, 2010). Contudo, ainda é pouco utilizado em periodização de treinamento em jovens atletas. No campo da Educação Física e do desporto escolar, constata-se escassos estudos que mostram a utilização dessa metodologia, para analisar os esforços durante as aulas ou treinamentos (SANTOS, TRIBESS e FERRAZ, 2013). Assim, o objetivo deste estudo foi monitorar a intensidade por meio da PSE de jovens atletas durante a aplicação de um programa de treinamento periodizado na modalidade de futsal. METODOLOGIA 1996). Nesse estudo foi realizada uma pesquisa de caráter descritivo longitudinal (THOMAS e NELSON, Amostra Participaram do estudo 13 alunos/atletas jogadores de futsal (16,5±2 anos, 168±7 cm, 61,1± 9,5 kg), do sexo masculino, da categoria sub-17, pertencentes a uma escola de ensino médio da cidade de Boa Vista/RR. Foram esclarecidos os objetivos do estudo e os responsáveis pelos atletas assinaram termo de consentimento para participação voluntária dos atletas na pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo CEP/ UNIMEP sob o protocolo 070/13. 90 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313

Delineamento do Estudo Foram analisadas 28 semanas que compreendiam o macrociclo periodizado de treinamentos de uma equipe de futsal escolar, cujo principal objetivo era a disputa da fase estadual dos Jogos Escolares da Juventude. A periodização adotada foi baseada na metodologia de treinamento em blocos proposto por Verkhoshansky (1990). A periodização foi dividida em três blocos: A, B e C. O bloco A teve duração de 12 semanas (bloco de cargas concentradas de força e exercícios técnicos/táticos de caráter geral), o bloco B teve duração de 14 semanas (bloco de cargas concentradas de velocidade e treinamentos técnicos/táticos específicos) e o bloco C com duração de duas semanas (competição principal). Durante o bloco B, a equipe também participou de uma competição de menor relevância e de jogos amistosos. Os atletas treinavam em média três vezes por semana, com a duração da sessão variando entre 60 e 90 minutos. Os treinamentos ocorriam na sala de musculação e na quadra poliesportiva da escola, sempre no período noturno. Conteúdo e volume total dos treinamentos BLOCO A (Etapa Básica) - 12 semanas (1080 minutos) Microetapa A1 (4 semanas/351 minutos) Exercícios em circuito para adaptação e fortalecimento muscular geral e específico; exercícios de musculação para hipertrofia e resistência de força; exercícios isométricos; exercícios técnicos do futsal. Microetapa A2 (4 semanas/364 minutos) Exercícios de musculação para hipertrofia e resistência de força; exercícios de corrida tracionada; exercícios de pliometria + fundamentos do futsal; exercícios isométricos; exercícios técnico e coletivos com baixa intensidade. Microetapa A3 (4 semanas/365 minutos) Exercícios pliométricos; exercícios tracionados + fundamentos do futsal; exercícios técnico-tático e coletivos. BLOCO B (Etapa Especial) - 14 semanas (924 minutos) Microetapa B1 (4 semanas/299 minutos) Exercícios de resistência especial; exercícios na musculação; exercícios de velocidade e agilidade; treinamento técnico-tático + coletivos. Microetapa B2 (5 semanas/336 minutos) Exercícios de resistência especial; exercícios pliometricos com fundamentos do futsal; exercícios tracionados com fundamentos do futsal; exercícios de velocidade, coordenação e agilidade; treinamento técnico-tático + coletivos. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313 91

Microetapa B3 (5 semanas/289 minutos) Exercícios de velocidade com e sem bola; exercícios de resistência de velocidade; exercícios de coordenação e agilidade; treinamento técnico-tático + coletivos. BLOCO C (Etapa Competitiva) - 2 semanas (107 minutos) Microetapa C1 (1 semanas/52 minutos) Quatro Jogos oficiais (fase classificatória). Microetapa C2 (1 semanas/55 minutos) Três Jogos oficiais (fase final). Intensidade dos Treinamentos e Jogos Para identificar a intensidade dos treinamento e dos jogos foi utilizado o método PSE da sessão (FOSTER, 1998), controlado através da escala de PSE de 10 pontos. Foster et al., (2001) propuseram uma classificação de intensidade para sessões de treinamento: FÁCIL = PSE < 3; MODERADA = PSE entre 3-5; DIFÍCIL = PSE > 5. Volume total dos treinamentos e jogos Para quantificar e controlar o volume total dos treinamentos da equipe, diariamente, após cada sessão foi anotado o tempo total da sessão em minutos. Para o controle do volume total dos jogos oficiais, foi anotado o tempo estabelecido na súmula após o final de cada partida. Procedimento para a coleta da PSE O método da PSE foi explicado aos voluntários, que tiveram duas semanas para a adaptação ao protocolo, objetivando o ajuste da sensação de cansaço. Para a finalidade da pesquisa, os dados começaram a ser recolhidos a partir da terceira semana de treinamentos. Após 30 minutos do término de cada sessão de treinamento, os atletas foram solicitados a responder a pergunta: Como foi o seu treino?, apontando na escala sua resposta para a percepção global do esforço. Todos os cuidados foram observados durante o procedimento de coleta da PSE, de modo que não existisse influência por parte dos colegas, com o procedimento sendo realizado de forma individualizada. A soma da intensidade de todas as sessões de treinamento de uma mesma semana correspondeu a intensidade acumulada da semana. Análise estatística Os dados da PSE coletados são apresentados como média e desvio-padrão das semanas de treinamento e de jogos. Para verificar a normalidade foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk. A diferença entre as médias dos Blocos (somatória das semanas de treinamentos e jogos) foi testada pelo teste t-student para amostras pareadas. Foi adotado um nível de significância p > 0,05. 92 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313

RESULTADOS Ao longo da periodização foram encontrados valores médios de 3,4 ± 1,79 no Bloco A; 6,9 ± 0,75 no Bloco B e 7,7 ± 2,8 no Bloco C, de acordo com a figura 1. Figura 1. Percepção Subjetiva do Esforço para os três blocos da periodização. * diferente do bloco A; # diferente do bloco B. A figura 2 apresenta os resultados das 28 semanas de monitoramento da PSE dos atletas nos blocos A, B e C. Figura 2. Valores da PSE durante as 28 semanas de treinamento da temporada. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313 93

DISCUSSÃO O monitoramento da intensidade dos esforços utilizando o método de Percepção Subjetiva do Esforço da sessão ao longo de uma periodização vem sendo alvo de muitos estudos, principalmente com atletas profissionais. Nesse sentido, o principal objetivo do presente estudo consistiu em monitorar a intensidade dos treinamentos de jovens atletas utilizando a PSE da sessão. Kelly e Coutts (2007) sugeriram a utilização do método da PSE da sessão para monitorar todas as sessões de treinamento, incluindo treinos de força, condicionamento, treinos técnicos e táticos, a fim de obter uma avaliação global das cargas, auxiliando diretamente na periodização. De acordo com a periodização utilizada pela equipe analisada, o bloco A (etapa básica) foi destinado a concentração de cargas de força, em que os atletas passaram pelo processo de adaptação e fortalecimento muscular geral. Estímulos para a resistência de força foram iniciados na microetapa A1, exercícios para ganhos de hipertrofia na microetapa A2, onde percebe-se uma maior intensidade nas semanas seis e nove, com um aumento exponencial na microetapa A3, provavelmente em virtude dos maiores estímulos de exercícios pliométricos e corridas tracionadas, associadas aos treinamentos técnicos e táticos com bola. Os resultados desse bloco refletem valores médios de 3,4 ± 1,79 para a PSE. Miloski, Freitas e Filho (2012), monitoraram a carga interna de treinamento em atletas profissionais de futsal e relataram maiores valores encontrados no período preparatório, com aplicação de altas cargas diárias principalmente nos três microciclos iniciais, cujo conteúdo se baseava no desenvolvimento da força máxima e resistência no microciclo I, força explosiva e velocidade no microciclo II e velocidade e treinamentos técnicos/táticos no microciclo II. Em um estudo com jovens atletas de voleibol e basquetebol, Moreira et al., (2010a) investigaram o efeito da distribuição das cargas de treinamento durante um período de seis semanas, utilizando o método da PSE relacionado aos sintomas de estresse. Os resultados apontaram aumento no estresse e uma maior PSE nas duas primeiras semanas de treinamentos, confirmando a hipótese de que a carga interna de treinamento afeta a tolerância ao estresse. No bloco B, denominado de etapa especial de treinamentos verificou-se valores de 6,9 ± 0,75 para a PSE, estatisticamente superiores aos encontrados no bloco A. A dinâmica do bloco B, distribuída nas microetapas B1, B2 e B3 priorizou o desenvolvimento dos treinamentos de resistência especial, velocidade/ agilidade, força rápida/explosiva e exercícios específicos para a modalidade. Percebeu-se nesse bloco uma redução no volume total das sessões, quando comparado com o volume em minutos apresentado no bloco A. Percebeu-se uma oscilação da intensidade e dos conteúdos dos treinamentos, caracterizando semanas muito intensas seguidas por semas de recuperação, apontando para uma variabilidade dos esforços nesse bloco. Essa alternância de intensidades e conteúdos do treinamento, relacionada com o comportamento da PSE, foi constatado em outro estudo de Moreira et al., (2010b), com atletas de ambos os sexos da seleção brasileira de basquete sub-16, em que buscaram intensificar os treinamentos durante um período de 12 dias, objetivando a participação dos selecionados em uma competição internacional. Os autores dividiram o período de treinamentos em dois momentos. No primeiro, havia uma predominância de exercícios sincronizados (combinação de fundamentos nos exercícios técnicos), testes físicos, menor contato corporal nos treinamentos e introdução dos conceitos dos sistemas a serem utilizados em cada seleção; no segundo prevaleceu a importância dos exercícios táticos e o contato corporal. Os resultados da PSE apontaram não haver diferenças na 1a e 2ª etapas para o masculino. No feminino, a primeira etapa foi mais intensiva do que a segunda. A competição principal do programa de treinamento, foi concentrada no bloco C, realizada em duas semanas. Na primeira semana foi disputada a etapa classificatória, seguida da etapa final na segunda semana. Outros estudos, mostram períodos competitivos mais longos ((MILOSKI, FREITAS e FILHO, 2012) 27 semanas para o futsal adulto, (ARRUDA et al., 2013) 14 semanas para o basquete adulto. Em competições escolares geralmente os jogos são concentrados em períodos mais curtos, como os apresentados no presente estudo. O bloco competitivo apresentou a maior média de PSE do estudo (7,7 ± 2,8), podendo estar diretamente relacionado as particularidades desse período como o estresse competitivo, nível do adversário, dias entre as partidas e o local da disputa (KELLY e COUTTS, 2007). Nunes et al., (2011), quantificaram a carga interna em atletas de basquetebol feminino da categoria adulto, correlacionando a PSE com os indicadores de desempenho do jogo, encontrando intensidade de 3,9, classificada como moderada. 94 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313

No presente estudo, a média da PSE monitorada e reportada pelos atletas escolares foi de 3,4 no bloco A; 6,9 no bloco B e: 7,7 no bloco C. Portanto, segundo Foster et al., (2001), a intensidade relacionada aos blocos de treinamentos seria classificada como moderada na etapa básica e difícil na etapa especial e competitiva, demonstrando dessa forma, cargas crescentes para a intensidade percebida pelos jovens atletas ao longo da periodização. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados encontrados no presente estudo indicam que a PSE da sessão é um método totalmente aplicável em um programa de treinamento com jovens atletas. Nesse sentido, monitorar as etapas de treinamento torna-se necessários também em programas esportivos na escola. Percebeu-se que o bloco de cargas concentradas de força apresentou intensidades moderadas, seguido pelo aumento considerável da intensidade dos esforços percebidos durante a etapa especial com seu pico sendo verificado no período competitivo. Essa constatação indica que a periodização em blocos aplicada, caracterizou-se pela elevação crescente das cargas. Vale salientar que esse estudo é um dos primeiros a monitorar a intensidade dos treinamentos ao longo de uma periodização aplicada em jovens atletas escolares, podendo servir de referência para futuras estruturações de treinamento voltadas para o desporto escolar. REFERÊNCIAS ARRUDA, A.F.S.; AOKI, M.S., FREITAS, C.G.; COUTTS, C.; MOREIRA, A. Planejamento e monitoramento da carga de treinamento durante o período competitivo no basquetebol. Rev Andal Med Deporte. v. 6, n. 2, p. 85-89, 2013. BORIN, J.P.; GOMES, A.C.; LEITE, G. Preparação desportiva: aspectos do controle da carga de treinamento nos jogos coletivos. Rev Edu Fís/UEM, Maringá, v.18, n. 1, p.97-105, 2007. CARNIEL, M.Z., TOIGO, A.M. O tempo de aprendizagem ativo nas aulas de educação física em cinco escolas particulares de Porto Alegre, RS. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v.3, n. 3, p. 23-33, 2003. FOSTER, C. Monitoring training in athletes with reference to overtraining syndrome. Med Sci Sports Exerc, v. 30, n. 7, p.64-68,1998. FOSTER, C., HEIMANN, K.M., ESTEN, P.L., BRICE, G., PORCARI, J.P. Differences in perceptions of training by coaches and athletes. South African J Sports Med: v.8, n.1, p. 3-7, 2001. GRAEF, F.I.; KRUEL, L.F.M. Frequência cardíaca e percepção subjetiva do esforço no meio aquático: diferenças em relação ao meio terrestre e aplicações na prescrição do exercício uma revisão. Rev Bras Med Esporte, v. 12, n. 4, p. 221-229, 2006. KELLY, V.G.; COUTTS, A.J. Planning and monitoring training loads during the competition phase in team sports. National Strength and Conditioning Association, v. 29, n. 4, p. 32-37, 2007. MILANEZ, V.F., LIMA, M.C.S., GOBATTO, C.A., PERANDINI, L.A., NAKAMURA, F.Y., RIBEIRO, L.F.P. Correlates of session-rate of perceived exertion (RPE) in a karate training session. Sci Sports, v. 26, n. 2, p. 38-43, 2011. MILOSKI, B.; FREITAS, V.H.; FILHO, M.G.B. Monitoramento da carga interna de treinamento em jogadores de futsal ao longo de uma temporada. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. v.14, n.6, p.671-679, 2012 MOREIRA, A., FREITAS, C.G., NAKAMURA, F.Y.; AOKI, M.S. Percepção de esforço da sessão e a tolerância ao estresse em jovens atletas de voleibol e basquetebol. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum, v.12, n.5, p. 345-351, 2010a. MOREIRA, A.; NAKAMURA, F.Y.; CAVAZZONI, P.B.; GOMES, J.H.; MARTIGNAGO, P. O efeito da intensificação do treinamento na percepção de esforço da sessão e nas fontes e sintomas de estresse em jogadores jovens de basquetebol. Rev Edu Fís/UEM, v. 21, n. 2, p. 287-296, 2. trim. 2010b. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 14, n. 1, 2015 - ISSN: 1981-4313 95

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