O Problema do Mal Agostinho de Hipona

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Faculdade de Letras da Universidade do Porto 2013/2014 O Problema do Mal Agostinho de Hipona Licenciatura: Filosofia Unidade Curricular: Filosofia Medieval II Docentes: Gonçalo Figueiredo e José Meirinhos Aluna: Ana Catarina Moreira Azevedo

Índice Índice... 2 Introdução... 2 Capítulo I Diálogo sobre o livre arbítrio... 3 Capítulo II A origem do mal... 4 Capítulo III Dimensões do mal... 6 Conclusão... 7 Bibliografia... 8 Webgrafia... 8 Introdução Agostinho de Hipona de nacionalidade norte africana, nasceu no ano 354 a.c. e morreu no ano 430 a.c. em Hipona quando os vândalos rodeavam a cidade, o Bispo de Hipona foi um homem do seu tempo. Agostinho foi um retórico exímio, bispo, escritor, teólogo, filósofo e Doutor da Igreja Católica, e uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente, foi influenciado pelo neoplatonismo, mas depois de se tornar cristão criou a sua própria abordagem filosófica. Neste trabalho pretendo abordar o ponto de vista de Santo Agostinho acerca do mal, tendo como base o seu livro Diálogo sobre o livre arbítrio. O autor defendia que o mal não existia, e o criador de todas as coisas não tinha criado o mal, isto é, pôs imediatamente de lado a hipótese de que Deus é o criador do mal, pois isso seria impensável dado que Deus é perfeição, é o Sumo Bom, mas então qual é a origem do mal? Se não acreditardes, não compreendereis 1 1 Bíblia Sagrada, Isaías 7:9 2

Capítulo I Diálogo sobre o livre arbítrio O Diálogo sobre o livre arbítrio é uma obra de Agostinho de Hipona que demorou cerca de sete anos até estar completamente pronta, durante esses anos, o autor meditou sobre a liberdade humana e a sua relação com a origem do mal de maneira a conseguir explicar o que pensava ao mundo. Agostinho pertenceu aos Maniqueus que defendiam que existia um Deus bom e um Deus mau, o Diabo; porém mais tarde Agostinho pensava o contrário, para o autor o universo é UNO e bom, não há mal, e, Deus não pode ser o criador do mal, pois é imutável e incorruptível. 2 Esta obra está dividida em 3 partes, o Livro I, o II e o III e em cada uma dessas partes são discutidos assuntos diferentes. Esta obra é um diálogo entre Santo Agostinho e Evódio, na qual Agostinho apresenta e defende as suas ideias e Evódio as questiona argumentando contra. O compatibilista concilia o necessário com o contingente pois pode haver uma entidade que sabe o futuro que já pode até estar determinado, Agostinho de Hipona é considerado um compatibilista. No Livro I da sua obra, Agostinho examina com Evódio uma série de questões que têm como objetivo verificar que o mal não está na inteligência, aprendizagem e na autoridade da lei. A obra inicia-se com a pergunta Diz-me por favor, não é Deus o autor do mal? 3 o que centra o diálogo no ser humano, este Livro I acaba com uma investigação acerca da vontade humana. No Livro II, Agostinho argumenta a favor da existência de Deus, e que tudo o que provém vem de Deus, porém isenta-o da autoria do mal 4,referindo que a origem do mal é a tendência ao nada 5, ou seja o nada é o mal, e como Deus não é nada, Deus não é o mal. 2 Esta obra é também dirigida aos maniqueus com o objetivo primordial de provar a não existência do mal. 3 Diálogo sobre o livre arbítrio, Livro I, pág. 81, l: 1-2 4 Por conseguinte aquele movimento de aversão, que reconhecemos ser o pecado, na medida em que é um movimento de defeção e que toda a decadência provém do nada, repara bem naquilo a que ele se refere, e não duvides que não pertence a Deus. Diálogo sobre o livre arbítrio, Livro II, pág. 243, l: 27-30 5 Diálogo sobre o livre arbítrio, Introdução, pág. 40, l: 23-24 3

No Livro III, são apresentadas algumas questões devido ao facto da resposta de Agostinho para a origem do mal ser tao radical, neste livro discute-se também a a harmonização entre a presciência divina e o livre arbítrio do homem, a causa do pecado original e quais os seus efeitos sobre a natureza humana. Capítulo II A origem do mal A partir do momento em que Evódio começa o diálogo questionando se Deus é o autor do mal, Agostinho distingue imediatamente o mal metafísico ontológico o mal que se pratica/faz e o mal que se sofre/suporta/aguenta 6, defendendo que Deus nada tem a ver com o primeiro o mal que se pratica mas que é a causa do segundo. A partir do ponto de vista metafísico ontológico, não há o mal, o mal é um não ser, devido à falta do bem, e claramente que Deus não iria criar o mal, já que é sumamente bom. Na sua obra a primeira questão que é discutida é se a existência do mal é válida e quem é o autor do mal, será Deus o responsável por nos ter dado o livre arbítrio? Para Agostinho não, porque nada do que Deus fez é mau, isto é, se não nos tivesse dado o livre arbítrio éramos como uma pedra, não éramos seres racionais e agentes nem sentíamos a felicidade das nossas escolhas. O livre arbítrio é de facto a causa da felicidade do homem, o conhecimento que Deus tem não limita o homem, apenas garante 7 que o homem é livre. O livre arbítrio, é a possibilidade de escolha entre alternativas e foi criado para escolher o bem supremo, mas os homens nem sempre escolhem o bem. Ninguém prefere o mal, mas escolhem antes um bem para si mesmo sem pensar nos efeitos que trará para os outros. 8 6 Com efeito, costumamos designar o mal de duas maneiras: quando dizemos que alguém agiu mal, e quando alguém sofreu algum mal Diálogo sobre o livre arbítrio, Livro I, pág. 81, l: 4-6 7 Argumento do Garante Deus não interfere nas nossas escolhas, apenas garante que somos dotados de livre arbítrio. 8 Por outro lado, existem também pessoas que de facto não sabem distinguir entre o bem e o mal, são inimputáveis, não têm conhecimentos dos seus atos logo não podem ser responsabilizadas por eles, não agem racionalmente. 4

O homem sendo o único animal racional e dotado de livre arbítrio, e se apenas é livre quando escolhe, as próprias escolhas estão dependentes do conhecimento que determinado homem tem, pois o apetite resulta do conhecimento e toda a ação é causada pelo desejo de um bem. Para Agostinho é inconcebível que Deus seja o criador do mal, pois Deus é um ser bom Tudo o que acontece durante a ação humana depende da nossa própria escolha, Deus dá o livre arbítrio aos homens, mas sabe que escolhas faremos mesmo antes de sabermos que as iremos fazer, e quais as consequências que tais escolhas trarão. Apesar da presciência divina ter um conhecimento prévio da nossa escolha, a responsabilidade é de cada um 9, pois somos nós que fazemos as nossas próprias escolhas. O livre arbítrio é exclusivo dos seres humanos racionais, é um bem que nunca se perde, porque esse poder é um bem em si mesmo. O homem só é livre quando escolhe o que deve escolher, quando escolhe a retidão da ação. E mesmo aquele que não a escolhe mantém o poder do livre arbítrio, mas é punido. A liberdade do homem não é determinada por nada, se Deus é justo e bom tem de punir o homem, por exemplo quando Adão cai em tentação e comete o pecado de comer o fruto proibido, Deus expulsa-o do Jardim do Éden, pois se o homem é livre faz sentido que haja punição, é imposto um limite à sua liberdade que prova que ela própria existe. Mas de onde vem o pecado? A palavra pecado provém do latim e significa aquilo que é errado. O pecado só pode provir do livre arbítrio, o homem tem múltiplas vontades, vive em constante dúvida do que é bom ou menos bom, e por vezes acaba por fazer escolhas menos boas que resultam no pecado. A vontade, que é o que origina a tomada de decisão das nossas escolhas, é a capacidade de querer, o querer algo não é necessariamente fazê-lo, o próprio querer já é vontade. Para agostinho a vontade é melhor que a inteligência para os homens, pois é o 9 Com efeito o mal não se pode fazer sem que haja algum autor. Mas se indagares quem ele é, não podemos dizer. Na verdade, não existe um autor determinado, mas cada um é autor das suas más ações. E se duvidas disto, presta atenção ao que disse anteriormente: as más ações são castigadas pela justiça de Deus. De facto, elas não seriam justamente castigadas, a não ser que fossem praticadas voluntariamente. Diálogo sobre o livre arbítrio, Livro I, pág. 81-83, l: 19-26 5

bem mais próprio do homem, cada um tem a sua, é inalienável, e basta querê-la para a ter. A livre escolha da vontade humana é portanto um bem intermédio, pois tanto pode tender para o bom como para o péssimo, já a boa vontade está à partida relacionada com a sabedoria, a boa vontade é pela qual desejamos viver reta e honestamente e alcançar a sabedoria suprema 10 Boa vontade Sabedoria Para Agostinho, para praticar a boa vontade são necessárias as quatro virtudes cardeais: Prudência - Virtude-mãe porque conduz a outras virtudes; Justiça - Vontade de conceder aos outros o que lhes é merecido; Força - Certifica a persistência nas complexidades da busca do bem; Temperança - Acalma a atração dos prazeres. Capítulo III Dimensões do mal Agostinho concluí que o mal é um não ser, isto é se todo o bem fosse separado das coisas, não restaria nada, porque o mal não é uma substância/matéria. Logo não é viável que o mal se tenha iniciado em Deus, porque é Deus quem dá ao ser as coisas Sendo assim as dimensões do mal são divisíveis em três tipos distintos que são: Mal metafísico - A sua particularidade primordial é a imperfeição. Afirma-se que vivem seres, que são mais ou menos perfeitos em relação à perfeição Deus porém mesmo sendo seres imperfeitos com determinadas carências que são vistas como um mal 11, conseguimos aceitar as fronteiras que o nosso ser determina. Mal físico - O mal físico é o que nos faz sofrer/suportar, é uma recusa de um bem natural, de uma perfeição indispensável a um ser. O mal físico pressupõe uma realidade positiva e uma negação da ausência de um bem indispensável ao ser. 10 Diálogo sobre o livre arbítrio, Livro I, pág. 121, l: 9-10 11 Este mal é a privação de um bem possível 6

Mal moral - O mal moral é também ele a falta de algo, é também um não ser. É uma desorganização da escolha de bens, é quando se dá a ausência da retidão face à livre vontade do homem. O mal moral habita na própria vontade do homem, que por ter uma livre escolha entre alternativas escolhe uma erradamente. Para Agostinho, o mal é consentido por Deus para que se possa tirar um bem maior, contudo se a maldade não existisse a santidade seria fácil de alcançar, o bem não venceria mas seria incomensurável, iríamos viver numa utopia, mas bastava um pequeno desacordo para desencadear uma luta contra o mal. Conclusão Após a leitura do Diálogo sobre o livre arbítrio e a realização deste trabalho, consegui perceber o porquê de Agostinho acreditar que existe uma inteligência divina que tudo sabe, é bom acreditar que existe alguma coisa para além de nós, para além da terra, é bom acreditar na vida espiritual e ser crente, e quem não é crente não acredita na argumentação de Santo Agostinho, que diz inúmeras vezes Se não acreditardes, não compreendereis 12. Agostinho de Hipona, na sua obra defende que o mal não existe, é um não ser, é a privação do bem, e que o Bem Supremo superior a tudo, a perfeição é Deus. O nosso criador é a perfeição última e o Sumo Bem, porem não é ele o criador do mal, Deus dotou-nos de livre arbítrio que é a faculdade de poder escolher entre diferentes alternativas, com o objetivo de escolhermos sempre o bem, porém por vezes não optamos pelo bom, mas pelo menos bom, mas a responsabilidade disso é nossa pois somos nos próprios que tomamos as nossas decisões. Apesar da presciência divina saber com antecedência qual será a nossa escolha, isso não interfere em nada com a nossa opinião, apenas garante que estamos a ser livres a escolher, a isso dá-se o nome de Argumento do Garante, que foi um dos argumentos utilizado por Agostinho de Hipona para provar que é possível a harmonização da presciência divina com o livre arbítrio dos homens. 12 Biblia Sagrada, Isaias, 7:9 7

Bibliografia HIPONA, Agostinho de, (2001), Diálogo sobre o livre arbítrio. [Introdução e Tradução: Paula Oliveira e Silva]. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda ISBN: 972-27-1102-4 KENNY, Anthony. (2010: Nova História da Filosofia Ocidental Volume II). Filosofia Medieval. [Tradução: António Infante]. Lisboa: Gradiva Publicações. ISBN: 978-989-616-370-9 MATTHEWS, G., (2008), Santo Agostinho. Lisboa: Edições 70. ISBN: 853-780-022-8 COELHO, Cleber Duarte A nulidade ontológica do mal em Agostinho. Pelotas: Seara Filosófica, 2013 LUCENA, Elisa O problema do mal em Agostinho. Pelotas: 2006. [Tése de mestrado] Webgrafia Stanford Encyclopedia of Philosophy [em linha]. [Consulta em: 17 de Abril de 2014]. Disponível em: < http://plato.stanford.edu/entries/augustine/> Crítica na Rede [em linha]. [Consulta em: 1 de Maio de 2014]. Disponível em: <http://criticanarede.com/hist_cepticismo.html> 8