EAD E EJA: UM DESAFIO POSSÍVEL ATRAVÉS DAS TIC Sérgio Luiz Freire Costa UERN Mário Cesar Sousa de Oliveira UERN Vera Lucia Lopes de Oliveira - UERN INTRODUÇÃO O crescente aumento da incorporação e utilização das tecnologias de informação e comunicação nos processos de ensino-aprendizagem em quase todos os níveis da educação, tem levado as instituições a investirem na qualidade de sua proposta pedagógica e do mesmo modo, a um movimento de digitalização e virtualização de sua oferta educacional, seja na modalidade presencial, semi presencial ou a distância (EaD). Esta tendência reforça-se com o desenvolvimento, evolução, integração e uso intenso das mídias e tecnologias digitais dos ambientes virtuais de aprendizagem fundamentada em conceitos advindos dos espaços abertos pelas redes eletrônicas de comunicação, socialização e mediação humana. A apropriação e universalização do acesso a estas tecnologias de comunicação e informação fazem-se condição indispensável para todos os segmentos sociais, por meio de um aprendizado dinâmico, coletivo e participativo, que priorize a alfabetização, o letramento e inclusão digital, e a inserção dos indivíduos nas atuais formas de construção do saber, transformação e sistematização do conhecimento. Neste universo, a educação de jovens e adultos (EJA), entendida conforme estabelece o artigo 37 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) quando determina que a educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria, além de exercer função reparadora também pode ofertar suporte e possibilitar que os indivíduos sejam inseridos eqüitativamente, com melhor qualificação e capacitação para o mundo do trabalho contemporâneo. As características e metodologias da educação a distância (EaD) e sua integração com as tecnologias dos ambientes virtuais de aprendizagem, também podem exercer papel socializador de alfabetização e inclusão digital; apropriação tecnológica; construção, transformação e aquisição de novos conhecimentos e de aprendizagens. A metodologia utilizada na educação a distancia é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos
sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (DECRETO 2.494, 1998). Contudo, entendendo que a sociedade e a educação contemporânea permeia-se por tecnologias digitais e por ambientes virtuais de aprendizagem, compreende-se que há uma necessidade eminente e urgente em proporcionar escolarização e formação adequada àqueles que não concluíram a educação em idade própria, fornecendo-lhes as habilidades e os conhecimentos para que adquiram competências para a vida pessoal, formação cultural e atuação profissional. DESENVOLVIMENTO A Educação a Distância (EAD) é uma realidade mundial, que aparece como solução para problemas educacionais sociais e econômicos, tornando a educação superior de fácil acesso e mais eficiente do ponto de vista geográfico, atendendo principalmente as regiões com carências de estruturas físicas e profissionais capacitados. A EAD é uma forma de aprendizagem que proporciona ao aluno sem condições de comparecer diariamente à universidade, a oportunidade de adquirir os conteúdos repassados aos estudantes da educação presencial. Uma modalidade de ensino que possibilita a eliminação das distâncias geográficas, econômicas, sociais, culturais e até mesmo psicológicas. Ao final, proporciona ao próprio aluno a organização de seu tempo de estudo, sem limitações físicas. (Nogueira, 1996, P. 36). Observando historicamente a EAD no ensino aberto, só foi possível sua concretização depois do surgimento de meios extremamente rápidos e interativos (Marchessou, 1997). A introdução das tecnologias de multimídia trouxe não somente a integração multi-sensorial, mas também uma mudança do paradigma educativo: da transmissão de informações por aquele que ensina para a construção do saber pelo usuário (Guadamuz, 1997, P. 30). Para Vigneron (1986, P. 158-159), pensar em universidade aberta, além de uma proposta ao trabalhador que estuda, é acreditar em novas possibilidades, em novos conteúdos, novos procedimentos e novos recursos. A educação a distância, em toda sua concepção já é conhecida a nível mundial desde o século XIX, mas somente nas últimas décadas passou a ser observada com sentidos e intenções pedagógicas e educacionais. No tocante a registros históricos, a educação a distância teve seus primeiros registros na Grécia antiga e em Roma, onde
existia uma rede de comunicação que permitia o desenvolvimento significativo da correspondência, facilitando o intercâmbio sócio-cultural e econômico das regiões. Já no século XVII, com o advento da Revolução Científica, as cartas comunicando informações científicas inauguraram uma nova era na arte de ensinar e transmitir conhecimentos. Segundo Lobo Neto (1995), um primeiro marco da educação a distância foi o anúncio publicado na Gazeta de Boston, no dia 20 de março de 1728, pelo professor de taquigrafia Caleb Phillips, onde o mesmo diz que "Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston". A partir do século XIX, a educação a distância iniciou seu período de maior difusão de sua utilização em todo o mundo, considerando as particularidades locais e evolução das tecnologias existentes, com fatos marcantes em todo o mundo. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, surgiram novas iniciativas de ensino a distância em virtude de um considerável aumento da demanda social por educação, sendo corroborado tal fato com as palavras de William Harper, escritas em 1886, que relata que "Chegará o dia em que o volume da instrução recebida por correspondência será maior do que o transmitido nas aulas de nossas academias e escolas; em que o número dos estudantes por correspondência ultrapassará o dos presenciais. Com o advento dos correios e meios de transporte, a educação a distância chegou a quase todos os pontos do globo a partir do século XX, motivado pela pujança na busca do saber e da difusão indiscriminada de conhecimento, sendo difundida maciçamente em toda a Europa e, a partir da década de 50, nos países emergentes, como os que compõem a América Latina. A educação a distância foi utilizada inicialmente como recurso para superação de deficiências educacionais, para a qualificação profissional e aperfeiçoamento ou atualização de conhecimentos. Hoje, cada vez mais vem sendo usada em programas que complementam outras formas tradicionais, face a face, de interação, e é vista por muitos como uma modalidade de ensino alternativo que pode complementar parte do sistema regular de ensino presencial. Podemos destacar, no tocante ao desenvolvimento da educação a distância, basicamente três fases, que se apresentam ligadas intimamente a realidade tecnológica da época:
Primeira geração: Ensino por correspondência, caracterizada pelo material impresso iniciado no século XIX. Nesta modalidade, por exemplo, destaca-se no Brasil o Instituto Universal Brasileiro atuando há mais de dezenas de anos nesta modalidade educativa, no país; Segunda geração: Teleducação/Telecursos, com o recurso aos programas radiofônicos e televisivos, aulas expositivas, fitas de vídeo e material impresso. A comunicação síncrona predominou neste período. Nesta fase, por exemplo, destacaram-se a Telescola, em Portugal, e o Projeto Minerva, no Brasil; Terceira geração: Ambientes interativos, com a eliminação do tempo fixo para o acesso à educação, a comunicação é assíncrona em tempos diferentes e as informações são armazenadas e acessadas em tempos diferentes sem perder a interatividade. As inovações da World Wide Web possibilitaram avanços na educação a distância nesta geração do século XXI. Hoje os meios disponíveis são: teleconferência, chat, fóruns de discussão, correio eletrônico, weblogs, espaços wiki, plataformas de ambientes virtuais. Segundo Ronaldo Mota, Secretário de educação à distância do MEC, a modalidade de educação a distância foi potencializada, culminando em uma educação cada vez mais perto e mais personalizada, na qual os sujeitos envolvidos têm o relativo privilégio de escolher a melhor forma de ensinar (ou de aprender), além de privilegiar a permuta de comunidades de aprendizagem. A opção pela educação a distância possui inúmeras vantagens. Ela permite uma eficaz combinação de estudo e trabalho, garantindo a permanência do aluno em seu próprio ambiente, seja ele profissional cultural ou familiar. Conforme Piaget, o aluno passa a ser sujeito ativo em sua formação (construção do conhecimento) e faz com que o processo de aprendizagem se desenvolva no mesmo ambiente de seu cotidiano. No Brasil, a educação a distância apresentou um desenvolvimento tardio, com sinais muito tímidos em meados do século XX. Somente a partir dos anos 30, foi possível observar um crescimento e aplicabilidade maior da educação a distância, com o envolvimento de instituições estrangeiras e do poder público nacional, com investimentos bastante significativos. Mota afirma que a educação a distância é uma maneira de melhorar os índices do Brasil, que figura como uma das nações mais excludentes do mundo, onde apenas
em torno de 11% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos têm acesso à educação superior. A situação piora quando se fala do Nordeste Brasileiro. Conforme dados do IBGE, dos 34 milhões dos chamados jovens urbanos do país, 7,4 milhões tiveram de um a sete anos de estudo - período insuficiente para concluir o ensino fundamental. Entre os jovens excluídos, há ainda um montante de 813,2 mil analfabetos. No topo dessa lista de exclusão urbana, que leva em conta tanto os que não completaram o ensino fundamental como os analfabetos, estão cincos Estados do Nordeste, a exemplo de Alagoas que é líder da exclusão, com 46% dos jovens em uma dessas duas situações. Lá, de 432,2 mil jovens, 28,6 mil são analfabetos e 171,6 mil não tiveram sete anos de estudo. No país, a região Nordeste é a que possui o maior índice de jovens urbanos excluídos, 35%. Na seqüência, vêm Norte (31%), Centro-Oeste (25%), Sul (19%) e Sudeste (18%). No Brasil, com o advento das tecnologias da informação e comunicação a partir dos anos 90 e com a regulamentação da educação a distância, a alocação de recursos por parte das instituições, seja pública ou privada, para a ser direcionadas de forma mais fácil, pois além de ampliar horizontes educacionais, era possível reduzir custos de forma muito sensível e relevante, melhorando a autonomia financeira das instituições. De acordo com a ABRAEAD (Anuário Brasileiro de Educação Aberta e à Distância), muito se avançou nos últimos anos no que se refere a educação a distância. Atualmente vista como uma tendência mundial, a educação a distância vem conquistando cada vez mais espaço e abre inúmeras oportunidades de oferta de ensino superior em regiões carentes de todo Nordeste ou mesmo o Brasil. Somente 33% das cidades brasileiras possuem universidades e não há interesse da iniciativa privada em implantá-las nas cidades menores, com isso a Educação à Distância desponta como grande alternativa para aqueles que moram longe das cidades que possuem faculdades. A evasão escolar sofreu um decréscimo de 32%, graças a Educação a Distância, em virtude de alguns aspectos como a mediação tecnológica que possibilitou tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, lúdico e mais interessante para o estudante. Áreas remotas do Brasil, agora possuem acesso ao conhecimento, bem como possuem a oportunidade do aprendizado, devido à tecnologia. Fonte: ABRAEAD/2007. Destarte, a educação a distância tem apresentado um papel fundamental na disseminação do conhecimento em várias esferas, seja no ensino fundamental, médio, EJA ou superior, diminuindo sobremaneira as desigualdades educacionais no Brasil,
mas ainda de forma muito tímida, haja vista tal modalidade de ensino exigir um grau de maturidade para que a mesma possa atuar de forma efetiva e satisfatória, como já acontece em países desenvolvidos e com os programas de educação corporativa atuantes no Brasil. Assim, se faz necessário uma gestão apurada dos cursos baseados em EAD, bem como uma preparação de todos os entes envolvidos neste sistema: instituição, professor e aluno. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUADAMUZ, L. 1997. Tecnologias Interativas no Ensino à Distância. Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, ABT, 25(139):27-31, nov./dez. 1997. MARCHESSOU, F. 1997. Estratégias, Contextos, Instrumentos, Fórmulas: A Contribuição da Tecnologia Educativa ao Ensino Aberto e à Distância. Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, ABT, 25(139):6-15, nov./dez. 1997. NOGUEIRA, L. L. 1996. Educação a Distância. Comunicação & Educação. São Paulo, Moderna, Ano II, (5):34-9, jan./abr., 1996. VIGNERON, J. 1986. A Universidade Aberta e o Trabalhador Estudante. In: M. M. K., KUNSCH (org.), Comunicação e Educação Caminhos Cruzados. São Paulo, Loyola, p. 355-359. VIGNERON, J.; PERROTTI, E. M. B. (orgs.). 2003. Novas Tecnologias no contexto educacional: reflexões e relatos de experiências. São Bernardo do Campo, UMESP. INCONTRI, D. 1996. Multimídia na Educação. Comunicação & Educação. São Paulo, Moderna, Ano III, (7):16-20, set./dez. 1996. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. www.ibge.org.br ABRAEAD Anuário Brasileiro de Educação Aberta e a Distância. www.abraead.com.br MEC Ministério da Educação e Cultura. www.mec.gov.br