03569 PROJETOS INTERDISCIPLINARES E AVALIAÇÕES EXTERNAS: BUSCANDO RESULTADOS. Gilmar A. Montanari de Oliveira (Mestrando em Ecologia Aplicada PPGI - USP/ESALQ/CENA. gilmarmontanari@yahoo.com.br) Taitiâny Kárita Bonzanini (Dep. de Economia, Adm e Sociologia LES/ESALQ/USP; Programa de Pós Graduação em Ecologia Aplicada - Interunidades USP/ESALQ/CENA, área: Educação. taitiany@usp.br) Resumo Esse trabalho apresenta parte dos resultados de uma pesquisa mais ampla que vem investigando como projetos e trabalhos interdisciplinares que envolvem, principalmente, temáticas ambientais, refletem nos resultados obtidos nas avaliações oficiais tais como o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP). A investigação se desenvolve em escolas públicas estaduais em um município do interior do Estado de São Paulo. Palavras-chave: interdisciplinaridade, avaliação, educação ambiental. INTRODUÇÃO No atual Currículo do Estado de São Paulo (SÃO PAULO/SEE, 2011), a interdisciplinaridade deve estar presente no decorrer do trabalho do professor, pois ao se analisar o material distribuído pela Secretaria de Estado da Educação, tanto para o professor como para os alunos, observa-se que as habilidades exigidas para leitura e interpretação de textos e imagens, escrita, gráficos e raciocínio estão presentes em todas as disciplinas, por exemplo. Além disso, as escolas, independente do trabalho com o conteúdo especificado no material didático, também desenvolvem projetos interdisciplinares, abrangendo diversas temáticas, com o objetivo de desenvolver a consciência crítica, habilidades de análise e exposição de ideias, visando sempre priorizar, no processo de ensino e aprendizagem, o sentimento de pertencimento do aluno perante à escola, a sociedade e ao seu mundo, e de desenvolvimento de suas habilidades interpessoais. Nesses projetos, as temáticas ambientais acabam sempre se fazendo presentes, até porque essas temáticas favorecem o trabalho com questões relacionadas a valores, cidadania, preservação do meio e dos recursos naturais, reflexão sobre responsabilidades e desafios a serem enfrentados,
03570 temas cada vez mais presentes nas discussões sobre o rumo do próprio planeta que vivemos. Além disso, projetos interdisciplinares favorecem o uso de metodologias e recursos de ensino diferenciados dos comumente utilizados em sala de aula trazendo, tanto para professores como para alunos, novos desafios em busca do conhecimento. Também podem, através do trabalho com várias áreas do saber, levar o estudante a desenvolver o seu senso crítico e a capacidade de raciocínio e resolução de problemas práticos. Por exemplo, numa ação pontuada, a escola pode resolver construir uma horta suspensa utilizando materiais como bambu e garrafas plásticas (PET). Os alunos poderiam trabalhar o cálculo da área construída, o grau de declividade do artefato, volume de terra utilizado, acompanhar o crescimento das plantas e montar planilhas e gráficos com esses dados, refletir sobre a problemática dos resíduos urbanos, a importância da reutilização e reciclagem, composição do solo, nutrição e crescimento das plantas, fotossíntese, vitaminas e nutrientes, ciclo da água e do carbono. Trabalhos interdisciplinares, portanto, contribuem para o desenvolvimento de competências e habilidades presentes no currículo oficial e podem favorecer, principalmente, atividades de leitura, escrita e cálculo, muito indicados como problemáticos no ensino de uma forma geral e muito valorizados nas avaliações oficiais. Considerando que o Currículo do Estado de São Paulo prevê o desenvolvimento da consciência crítica, do estímulo a pesquisa, da escrita e da interpretação de textos, e como meio para isso propostas de trabalhos e projetos interdisciplinares, seria necessário avaliar como trabalhos desse tipo contribuem para os resultados apontados nas Avaliações Oficiais, tais como: SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e na Prova Brasil. Dessa forma, vem se desenvolvendo um projeto de mestrado, que focaliza, dentre outras ações, os trabalhos dos projetos interdisciplinares e a relação direta ou indireta com os resultados obtidos nas avaliações acima apontadas. Esse artigo enfoca tal discussão, apresentando alguns resultados obtidos até o momento nessa investigação. REFERENCIAIS TEÓRICOS O desenvolvimento do trabalho vem considerando projetos que envolvem a temática ambiental, para tanto adota-se a nomenclatura Educação Ambiental, indicada como tema transversal pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs, (BRASIL, 1998).
03571 Para analisar os projetos utiliza-se referenciais como Sorrentino (2007, p.20) que descreve: Para que a educação ambiental posa ser apropriada pelas escolas não deve se dar como imitação da sala de aula, mas na superação do já tradicional pensar globalmente e agir localmente para um pensamento integrador de pensar e agir local e globalmente. Para analisar se um projeto, ou atividade, contempla a interdisciplinaridade, considera-se as indicações de Thiesen (2008, p.551): As múltiplas relações entre professores, alunos e objetos de estudo constroem o contexto de trabalho dentro do qual as relações de sentido são construídas. Nesse complexo trabalho, o enfoque interdisciplinar aproxima o sujeito de sua realidade mais ampla, auxilia os aprendizes na compreensão das complexas redes conceituais, possibilita maior significado e sentido aos conteúdos da aprendizagem, permitindo uma formação mais consistente e responsável. O trabalho se propõe, ainda, a verificar a relação dos projetos com os resultados obtidos nas avaliações oficiais, assim discute-se o que pode ser considerada uma aprendizagem significativa, conforme Ausubel (1982, p.58): trabalho. Aprendizagem significativa é o processo através do qual uma nova informação (um novo conhecimento) se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva (não literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. A aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e informações representadas em qualquer campo do conhecimento Pretende-se que esses, e outros referenciais, orientem o desenvolvimento do METODOLOGIA A pesquisa é de natureza qualitativa e configura-se como um estudo de caso, pois enfoca uma única unidade escolar (LÜDKE e ANDRÉ, 2004). Para investigação e coleta de dados, primeiramente, houve uma apresentação a equipe gestora da Unidade de Ensino, para que conhecessem a proposta do trabalho. Durante o planejamento anual, antes do início do ano letivo, o projeto foi apresentado aos professores. Foram estabelecidos horários para acompanhamento das atividades, envolvendo o ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo), horário em que todos os professores da unidade se reúnem e discutem o trabalho realizado. Futuramente, pretende-se também utilizar esse espaço para fornecer material de formação para os professores, com relação ao trabalho de forma interdisciplinar ou outras necessidades identificadas. Tudo vem sendo registrado em um diário de campo, para posterior análise. Ocorre também a observação participante, uma vez que o investigador está inserido ou imerso dentro do processo na unidade escolar investigada, participando de todos os momentos junto aos alunos e professores.
03572 Utiliza-se, ainda a análise documental, envolvendo estudos das avaliações realizadas em anos anteriores, identificando as habilidades ainda não alcançadas pelos alunos, e como o trabalho pode favorecer o alcance de melhores resultados. Serão analisados, ainda, demais documentos como provas, trabalhos, seminários, produção textual e tudo que possa evidenciar o desempenho escolar. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como esse trabalho encontra-se em desenvolvimento, serão apresentados e discutidos parte dos resultados obtidos até o momento. Acompanhou-se um trabalho junto a turma do 6 Ano do Ensino Fundamental com relação a uma campanha, chamada Xixi no Banho, do SOS Mata Atlântica, que divulga a preservação dos mananciais pela economia de água, recomendando uma diminuição do gasto de água nas descargas dos banheiros, estimulando as pessoas a urinarem durante o banho, o que acarretaria uma considerável economia de água. Junto aos alunos dessa série foi solicitado a elaboração de cartazes, com apresentação dos resultados de cálculos da economia de água a partir da prática de Xixi no Banho. Durante a explicação da campanha e proposta dessa atividade ocorreram discussões e debates interessantes, que apareceram, inclusive, nas explicações dos cartazes produzidos que foram expostos no mural da escola, com o objetivo de levar o assunto ao conhecimento de demais alunos. Analisa-se, pela observação das aulas, que o tema despertou o interesse dos alunos, e ao debaterem sentiram-se motivados a realizar a atividade, que incluiu, além de conhecimentos relacionados a disciplina Ciências, conhecimentos da disciplina Matemática, Língua Portuguesa e Arte, para uma adequada apresentação dos trabalhos. Porém, a construção de cartazes, não seria uma prática muito adequada dentro de um projeto que visa discutir práticas ambientais de preservação do meio. Outra atividade que está sendo desenvolvida junto a essa mesma turma de alunos é a confecção de uma horta utilizando garrafas PET como vasos para o plantio. Primeiramente os alunos foram estimulados a preparar as garrafas para o plantio, isso envolveu discussões sobre reaproveitamento de materiais, em seguida deveriam selecionar o que germinar, verdura, plantas com flores, mas para tanto deveriam estudar a característica do vegetal. Foi proposta a fixação desse material em paredes da escola, como uma horta vertical, ou em formato de floreiras, ideia bem aceita pelos alunos e um incentivo para um trabalho bem feito. Essa atividade tem contribuído para um pensar sobre o reaproveitamento de materiais, pois em aulas seguintes os alunos apresentaram
03573 ideias de utilizar demais materiais para a produção de vasos para escola, como caixas de leite, latas ou embalagens de produtos de limpeza. Até o momento não foi acompanhado um projeto como um todo, mas vem se analisando algumas propostas já presentes na unidade escolar. Também encontra-se em fase de análise produções dos alunos, como provas bimestrais e demais trabalhos, além dos resultados obtidos nas avaliações externas realizadas nos anos de 2012 e 2013 para buscar responder o reflexo desses trabalhos no desempenho dos alunos. CONSIDERAÇÕES Conforme indicado anteriormente a investigação a que se refere esse trabalho encontra-se em início de desenvolvimento. Até o momento foi possível identificar que a Educação Ambiental ainda é trabalhada de forma bastante pontual e apenas envolvendo discussões relacionadas a ambiente, sendo necessário ampliar o trabalho e até mesmo a concepção que os professores possuem a respeito do tema. BIBLIOGRAFIA AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998. LUDKE, M, ANDRÉ, M. E. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2004. SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Educação. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências da Natureza e suas tecnologias / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini. 1. ed. atual. São Paulo: SEE, 2011.152 p. SORRENTINO, M. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007. THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, v.13 n.39. Rio de Janeiro set./dez. 2008. Disponível em www.scielo.com (Acesso em 28/08/2013)