Fundamentos Econômicos do Novo Guia de Análise de Atos de Concentração Horizontal Guia H Condições de Concorrência

Documentos relacionados
18.º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA 08, 09 e 10 de novembro de 2012

CADE publica novo Guia de Análise de Atos de Concentração Horizontal

Abertura de capital estrangeiro das empresas aéreas brasileiras: Uma análise antitruste

AMBIENTE COMPETITIVO

Mercados e concorrência

Prof.º Marcelo Mora

Aula 8. Plano da aula. Bibliografia:

18º Seminário Internacional de Defesa da Concorrência - IBRAC. Novembro de 2012

Disciplina: Direito Empresarial. Professor Vinícius Marques de Carvalho

VANTAGEM COMPETITIVA

ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS MICHAEL PORTER. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E EMPRESARIAL AULA 10 Prof. João Maurício G. Boaventura

Especialização em Logística Integrada de Produção

Fundamentos de Economia

P, pode-se verificar que a elasticidade será igual a ε. b. Escreva uma equação para a função de demanda

Unidade II FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VENDA. Prof. Me. Livaldo Dos Santos

Concorrência Bancária: uma visão de análise de atos de concentração

Economia Industrial. Prof. Marcelo Matos. Aula 4

A empresa, a organização do mercado e o desempenho

VANTAGEM AUFERIDA: LIMITAÇÕES PARA SUA ADOÇÃO NA DOSIMETRIA DE MULTAS

ESTRUTURAS DE MERCADO. Fundamentos de Economia e Mercado

Economia Industrial. Prof. Marcelo Matos. Aula 12

Análise alternativa de fusões: indicadores de preços x definição de mercado relevante.

de Empresas e Projetos

Ação de cartéis após a supressão da rivalidade interna. Márcio de Oliveira Júnior

Gestão da Inovação. Inovação na cadeia produtiva. Prof. Me. Diego Fernandes Emiliano Silva diegofernandes.weebly.

Economia ESTRUTURAS DE MERCADO. Prof. Me. Diego Fernandes

UNI 2 UNI N ESTRATÉGIAS DE NEGÓCIOS FUNDAMENTOS. Análise das questões críticas. Alternativas de estratégias gerais. Análise das forças competitivas

FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER

Exercício 39 solução de monopólio

Desafios tributários para o crescimento sustentável. Page 1

São Paulo, 17 de abril de 2014.

Análise do Ambiente Externo: Macroambiente e Modelo de Porter Ampliado. Prof. Moacir Miranda

Estruturas de Mercado Fundamentos de Economia VASCONCELLOS E GARCIA, Franciane Alves Cardoso Mestranda em Economia PPGECO/UFRN.

ESTRUTURAS DE MERCADO

Estratégia Empresarial Análise Estratégica

Curva de Oferta (Cap. 9) 1º SEMESTRE 2014

ADMINISTRAÇÃO GERAL. Gestão Estratégica. Estratégias Competitivas de Porter Parte 1. Prof.ª Karen Estefan Dutra

Unidade III ECONOMIA E NEGÓCIOS. Prof. Maurício Felippe Manzalli

NOÇÕES SOBRE ESTRUTURAS DE MERCADO: UM RESUMO SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA ECONÔMICA BÁSICA

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO. Prof. Me. Lucas S. Macoris

22.º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA

Gestão de Micro e Pequenas Empresas

MERCADOS PARA HORTIFRUTI. Análise das Forças de Mercado O QUE É UM MERCADO?

CURRÍCULO COMPLETO. João Paulo Garcia Leal EDAP

FEA USP Faculdade de Economia Administração e Contabilidade Departamento de Administração. EAD376 - Economia da Estratégia. Prof. Dr.

Avaliação de Empresas EAC0570

*Um país não herda sua capacidade de competir. Ela não é resultado de suas riquezas naturais ou do tamanho da população - embora estes sejam fatores

O Papel do Macroambiente

Estratégias de coordenação da cadeia produtiva para superar os desafios da ovinocultura e da caprinocultura no Brasil

CURSO DE DIREITO ECONÔMICO REGULATÓRIO

Nova Lei do CADE: um balanço dos primeiros meses

O Projeto Gemini (GásLocal) sob a ótica da Defesa da Concorrência: Contestação de Monopólio ou Ampliação do Poder de Mercado?

Proposta de Guia de Análise de ACs de concentração Horizontal (2016)

Proposta de Guia de Análise de ACs de concentração Horizontal (2016)

Mais e melhor por menos: A concorrência na contratação pública. António Ferreira Gomes

Economia Industrial. Prof. Marcelo Matos. Aula 7

Encontros IBRAC Novo Guia de Análise de Concentração Horizontal (Guia H): principais mudanças e metodologias de análise

Conteúdo Único Por: Marcopolo Marinho

Especialização em Logística Integrada de Produção

Defesa da Concorrência:

Aquisição do Controle da Advance e da Rextur (Duotur) Dezembro de 2014

Programa de trabalho 2008 do Grupo de Economia do Saneamento

Nova Lei do CADE: um balanço dos primeiros 120 dias. Vinicius Marques de Carvalho Presidente do CADE

MONOPÓLIO COMPETIÇÃO MONOPOLÍSTICA OLIGOPÓLIO

Com inadimplência e provisões sob controle, Santander Brasil alcança lucro líquido de R$ 1,7 bilhão NOTA DE IMPRENSA

A nova Lei da Concorrência e o Controlo de Concentrações António Ferreira Gomes

A economia é o estudo da organização social através do qual os homens satisfazem suas necessidades de bens e serviços escassos.

FEA USP. EAD376 - Economia da Estratégia. Análise de Ambiente Interno e Posicionamento para a Vantagem Competitiva

COMENTÁRIOS DO IBRAC À CONSULTA PÚBLICA 01/2014 DO CADE

1 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DA POLÍTICA DE PREÇOS... 15

Resumo Aula-tema 08: O Panorama Econômico e Social e Indicadores Quantitativos e Qualitativos

BOLETIM: fevereiro/2016. Produtividade e comportamento do setor industrial PESQUISA DE PRODUTIVIDADE

Teoria dos Mercados Contestáveis. LES 590 Organização Industrial

Capacitação em Gestão da Inovação para o Setor de Petróleo e Gás. Polo: Piracicaba/Limeira. Programa do Módulo II

o que é Associativismo? Aprofunde seus conhecimentos sobre a estratégia e saiba quais são as expectativas do mercado.

PNADEMPE - POLÍTICA NACIONAL DE APOIO E DESENVOLVIMENTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

Introdução ao Estudo da Economia. Contextualização. Aula 3. Instrumentalização. Estruturas de Mercado. Prof. Me. Ciro Burgos

Unidade II ECONOMIA E MERCADO. Prof. Rodrigo Marchesin

Conquistando Vantagem Competitiva com os Sistemas de Informação

Administração e Economia para Engenharia

Eficiência e Mercados. Kolstad Capítulo 4

2º WORKSHOP DE ANÁLISE DE IMPACTO REGULATÓRIO: O CONTROLE DOS REAJUSTES

Compensação por incentivos B R I C K L E Y, S M I T H E Z I M M E R M A N

Cap. 2 Empresa, Indústria e Mercados

CONTROLADORIA II MBA Estácio 25/07/2017

TÉCNICO EM AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL. Gestão da Qualidade Aula 03 Prof. Ms. Claudemir Claudino Alves

Gestão Estratégica A BATALHA DE KURSK. Aula 6 Estratégia Competitiva. Prof. Dr. Marco Antonio Pereira

Aumentando suas vendas valorizando sua marca. O papel do marketing na geração de lucros

Avaliação da Política de Controle de Preços de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) Prof. João Pondé

RESOLUÇÃO Nº 2, DE 29 DE MAIO DE Seção I. Do pedido de Aprovação de Atos de Concentração

MICROECONOMIA II. Competição Perfeita CAP. 9 Nicholson CAP. 8 e 9 Pindyck CAP. 22, 23 Varian

Microeconomia II. Competição Imperfeita Oligopólio. Pindyck Cap: 12

Palestra 4 - O Dinheiro no Agronegócio. Luiz Roberto Sodré - Perfarm 16:00-17:30

ADM. Professor Douglas Pereira da Silva. DPS Gestão Negócios ADM

Análise econômica e suporte para as decisões empresariais

Sistema de preços. Prof. Regis Augusto Ely. Agosto de Revisão Novembro de Oferta e demanda. 1.1 Curva de demanda

CARACTERÍSTICAS E ESTRATÉGIAS POR SETOR ECONÔMICO

Transcrição:

Fundamentos Econômicos do Novo Guia de Análise de Atos de Concentração Horizontal Guia H Condições de Concorrência Eduardo Pontual Ribeiro GDEC/IE/UFRJ e Pesquisador CNPq http://www.gdec-ie.com/ eribeiro@ie.ufrj.br

Exercício de Poder de Mercado fatores relevantes Após conclusão de que uma operação apresenta possibilidade de exercício de poder de mercado, análise busca avaliar a probabilidade do exercício deste poder de mercado criado ou aprofundado pela operação.

I. Entrada Objetivo: identificar um mercado contestável (histórico ou provável). Mercados contestáveis apresentam baixas barreiras à entrada. Preocupação concorrencial se forem significativas estruturalmente ou se agravados com a operação: economias de escala ou escopo; custos irrecuperáveis; fidelidade à marca;

I. Entrada Mercados contestáveis apresentam baixas barreiras à entrada. Preocupação concorrencial se forem significativas estruturalmente ou se agravados com a operação: economias de escala ou escopo; custos irrecuperáveis; fidelidade à marca; exigências legais ou regulatórias; vantagens exclusivas no acesso a recursos e insumos; integração na cadeia produtiva; baixo histórico de entradas nos últimos cinco anos;

I. Entrada Outra visão da força competitiva dos entrantes: verificar se entrada provável (crescimento do mercado maior que capacidade ociosa e EMV) tempestiva (operacional em 2 anos) suficiente (entrantes disciplinam mercado)

II. Rivalidade Mercado em que rivalidade se mantém após operação exclui probabilidade de exercício poder de mercado. Análise paralela: (i) efeitos sobre preços; (ii) características de mercados

II. Rivalidade No efeito sobre preços, em mercados com produtos homogêneos, aumentos preços pós-operação dependem da variação do HHI. No efeito sobre preços, em mercados de produtos diferenciados, aumentos de preços pós-operação dependem da proximidade, para consumidores, dos produtos envolvidos (1º e 2º opções): GUPPI = (p 2 -c 2 ) D 12 ou GUPPI = (p 2 -c 2 )/p 1 D 12 onde (p 2 c 2 ) = margem operacional; D 12 = taxa de desvio do consumo do bem 1 para o bem 2.

II. Rivalidade Cálculo simplificado da taxa de desvio D 12 = REC 1 s 2 /(1-s 1 ) onde REC 1 é a retenção das vendas da empresa 1 devido a aumento de preços que não vão para as outras empresas do setor (parte se perde entre empresas 1 e 2). Benchmark de GUPPI: 10% ou fazer em relação a variações de custos (eficiências que reduzem o custo incremental c 1 em E): UPP = (p 2 -c 2 )/p 1 D 12 Ec 1,

II. Rivalidade (ii) Rivalidade características dos mercados Mercados com as seguintes características apresentam menor rivalidade estabilidade das parcelas de mercado nos últimos anos; grande dispersão de preços; baixa elasticidade preço cruzada da demanda; baixo crescimento ou estagnação da demanda**; extensa e desigual integração vertical, perfil dos portfólios ou serviços pós/pré vendas ou distribuidores/logística ou financiamento da produção (crédito);

II. Rivalidade (ii) Rivalidade características dos mercados Mercados com as seguintes características apresentam menor rivalidade clientes muito comprometidos (ou com alto custo de troca); alta transparência nas transações para concorrentes; margem de lucro**; economias de escala**; baixa capacidade ociosa**.

III. Efeitos Coordenados A análise acima lidou com os efeitos do AC sobre o mercado a partir da pressão competitiva das partes do AC. Análise acima lidou com efeitos unilateriais. III. Efeitos Coordenados são uma forma de dano à concorrência, com nexo em redução de rivalidade pós-ac. Análise com mudanças ao longo do tempo, sendo a análise mais usual baseada no princípios de consenso-detecção-punição.

III. Efeitos Coordenados Características de mercados mais sujeitos a coordenação tácita (acomodação competitiva): poucas empresas; transparência entre concorrentes das transações repetidas; capacidade ociosa, custos similares e alta sensibilidade clientes a preços; maturidade do mercado e estabilidade tecnológica (ausência mavericks); histórico coordenação ou relações societárias ou comerciais ou empresariais; Reduzido poder de compra dos clientes*; baixa elasticidade-preço do produto*; interação vários mercados*; baixo custo capital*.

IV. Efeitos na compra de insumos IV. Poder compensatório. O ato de concentração pode gerar maior força competitiva frente aos vendedores de insumos. Se estes já concentrados e detendo poder de mercado, AC gera poder compensatório. Mas, em última instância, deve-se avaliar o repasse desta compensação aos consumidores.

IV. Efeitos na compra de insumos IV. Poder compensatório. Se fornecedores de insumos não são concentrados, AC pode gerar poder de monopsônio, que pode ser ineficiente ou eficiente (disputa de margens menos relevante). De qualquer forma a questão dos efeitos sobre consumidores a jusante mantêm-se central.

V. Itens adicionais Extensão: Efeitos econômicos de participações minoritárias sem aquisição de controle. Em que pesem os as formas de controle e influência entre acionistas (participação acionária e regras de votação e acordos de acionistas), a análise econômica se concentra na ideia chave: se o investidor minoritário decidir aumentar preços, percebe parte dos lucros perdidos via desvio da demanda para a firma investida, na proporção de seu investimento.

V. Itens adicionais Salop e O Brien (2000) apresentam um indicador desta pressão sobre preços (similar a UPP): PPI= b D 12 (p 2 c 2 )/c 1, usando a notação acima e onde b é a participação da empresa 1 na empresa 2. Este é o incentivo para aumentos de preço da investidora.

V. Itens adicionais No caso de produtos homogêneos, os autores sugerem utilizar um HHI modificado para avaliar o efeito da redução da concorrência de investimento de 1 sobre 2, sem controle ou influencia: MHHI= b s 1 s 2 / ε onde ε representa a elasticidade preço da demanda (em valor absoluto) de mercado, s i a participação de mercado em quantidades. (compare com HHI=2s 1 s 2 ).

Informações adicionais: V. Itens adicionais Informações qualitativas ou quantitativas de episódios de rivalidade Desvios de demanda quando de eventos fortuitos na produção Método de diferenças-em-diferenças para efeito de entrada. Análise contrafactual. Simulação matemática.

Referências Besanko, D. et al. A Economia da Estratégia, 5ª Ed. Porto Alegre:Bookman. 2015 DeSouza, S. A.. Pressão por Elevação de Preços: Um Guia para Profissionais de Defesa da Concorrência. In TIM, IBRAC Idéias em Concorrência. Ed. Singular, 2016. Motta, M. Salgado, L.H. Política de Concorrência: Teoria e Prática e sua Aplicação no Brasil. São Paulo:Campus 2015.

Atos de Concentração selecionados Sadia Perdigão 08012.004423/2009-18 Cadernos do CADE: Educação HSBC-Bradesco: 8700.010944/2015-02 Capsugel Genix: 08700.009711/2014-78 Braken-Solvay: 08700.000436/2014-27