A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DE CLASSES DE PALAVRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA UTILIZANDO LIVROS DIDÁTICOS DO PNLD: UM ESTUDO DE CASO COMPARATIVO ENTRE O IFC E UMA ESCOLA ESTADUAL Cláudio Luiz Melo da LUZ, Cíntia Luzana da ROSA, Daise da Silveira MANENTI IFC Campus Santa Rosa do Sul; IFC Campus Santa Rosa do Sul; IFSC Campus Araranguá Introdução O tema deste estudo refere-se à verificação e análise de conteúdos que fazem parte de livros didáticos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), relacionando-os com as práticas docentes e o uso pelos estudantes da educação básica, delimitando-se ao ensino de classes de palavras por professores de Língua Portuguesa de escolas de nível médio estadual e federal. Estudiosos do assunto, como Damaceno-Reis (2006), entendem ser fundamental compreender como o livro didático é materializado na prática docente, assim como os professores o avaliam, identificando serem raros no Brasil estudos que versam sobre o uso do livro didático, mas sim sobre a análise do conteúdo, e não com a finalidade de se analisar as relações entre conteúdos. Desta forma, este estudo poderá contribuir para um melhor entendimento do uso do livro didático como um importante instrumento didático para professores de Língua Portuguesa na sua prática docente. O livro didático tem um interesse comercial e cultural que se contrapõem no contexto educacional. Chartier (1998) considera o livro como um bem oriundo de comércio e também como um signo cultural, com suas características específicas sobre as mais diversas áreas do conhecimento. De acordo com Zanini (1999), os livros didáticos, na década de 1970 passaram a ser aliados dos professores com seus variados exercícios, entretanto não incentivavam questionamentos e a prática da redação. Assim, observa-se que os livros didáticos não ofereciam um cunho mais prático. Porém, em 2003, Carvalho Filho apontou a importância do livro didático como sendo um instrumento de ordem social e institucional, assim percebendo a mudança para a importância da sociedade em considerar o livro didático como um instrumento digno de ser usado para o ensino. Entretanto, o livro didático por si só não é suficiente, cabendo ao professor o papel de identificador dessa necessidade. Fonseca (2010) aponta para importância de que o professor, na sua aplicabilidade da prática, tudo o que ensina ou não ensina e o que o aluno
aprende e não aprende está além do que estabelecem os livros didáticos e demais instrumentos. Não resta dúvida que os livros didáticos são importantes instrumentos utilizados por professores juntos aos seus alunos. Em 1995 o Ministério da Educação tomou providências no sentido de que passasse a existir uma avaliação sistemática e contínua do livro didático no Brasil. Assim, promoveu debates nos diferentes setores de produção e consumo desses livros, discutindo-se suas características, funções e qualidade (Batista, 2001). Este foi um momento inicial, cujo processo foi sendo aperfeiçoado até os dias atuais. De acordo com o Ministério da Educação (Brasil, 2014), o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como objetivo subsidiar o trabalho pedagógico dos professores por meio da distribuição de coleções de livros didáticos aos alunos da educação básica. Assim, este estudo tem como objetivo geral analisar o planejamento e o uso do livro didático do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Governo Federal, para o ensino de classes de palavras, por professores de Língua Portuguesa de instituições públicas de ensino médio estadual e federal em Santa Catarina. Material e Métodos Trata-se de um estudo exploratório, cuja coleta dos dados registrados em planilha eletrônica aconteceu por meio de leituras do livro didático utilizado em duas instituições que ofertam o ensino médio, Português: literatura, gramática e produção de texto (SARMENTO; TUFANO, 2010), sendo uma estadual e outra federal, respectivamente Escola de Educação Básica João dos Santos Areão (EEBJSA) e Instituto Federal Catarinense (IFC). Observou-se vinte horas-aula in loco, foram entrevistados quatro professores da disciplina Língua Portuguesa, sendo dois de cada instituição, cujas entrevistas foram adaptações do roteiro sugerido por Damaceno-Reis (2006), assim como foram realizadas mesas redondas com alunos de quatro turmas do ensino médio. Com a perspectiva do referencial teórico, visando atingir os objetivos propostos, esta pesquisa se classifica do ponto de vista da abordagem do problema e do tratamento dos dados, como qualitativa. Sua abrangência e profundidade são de um estudo de caso simples. Para Yin (2001), o estudo de caso é uma investigação, cujo pesquisador não pode manipular variáveis relevantes. Optou-se pela utilização da análise de conteúdo temática, que, de acordo com
Bardin (2002, p. 38), consiste em um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Resultados e discussão A análise dos dados coletados serviu para atingir o objetivo estabelecido. Foi investigado se os livros didáticos de Língua Portuguesa atendem às expectativas dos professores da área. Nas entrevistas realizadas com os quatro professores, constatou-se que os livros didáticos não atendem às expectativas de três e atende parcialmente às de um. Apesar de todos utilizarem os livros didáticos, precisam usar outros recursos para atingir os objetivos propostos, pois a realidade de vida dos alunos e suas habilidades para chegarem ao conhecimento vão além dos conteúdos apresentados nos livros didáticos. Assim, confirmou-se Fonseca (2010). Nas entrevistas constatou-se que os professores se reúnem para escolher os livros didáticos, porém, nem sempre o livro que chega à escola é o escolhido pelo grupo de professores. Apesar disso, os professores entrevistados percebem que o livro didático, apesar das suas limitações, possui, conforme Carvalho Filho (2003), importância como instrumento de ordem social e institucional. Identificaram-se as formas de planejamento e uso dos livros didáticos de Língua Portuguesa pelos professores da área para o ensino de classes de palavras. Dos quatro professores entrevistados, dois usam o manual do professor e dois não o usam. Somente um segue a sequência proposta pelo autor do livro didático. Dois utilizam o livro para atividades gramaticais, em especial para o ensino de classe de palavras, e os outros dois o utilizam pouco para tal finalidade, fazendo-se valer de outros instrumentos. O que foi falado pelos professores foi constatado nas observações das aulas assistidas. Mais uma vez se confirmando Fonseca (2010). Quanto à participação dos alunos na utilização do livro didático de Língua Portuguesa em sala de aula, observou-se que são críticos quanto ao conteúdo dos livros didáticos. Os alunos percebem o livro didático como algo pesado e cansativo, sem exemplos que exprimem suas realidades locais. Os professores usam vários recursos, como: reserva técnica de livros para aguçar a curiosidade dos alunos; vídeos; e associação dos exemplos do livro à realidade social dos alunos, assim mais uma vez se confirmando Fonseca (2010).
Registraram-se diferenças e semelhanças no planejamento e uso do livro didático para o ensino de classes de palavras, pelos professores de Língua Portuguesa de instituições de ensino estadual e federal. Observou-se que o uso do livro didático independe do ambiente laboral, mas depende da aplicação por professor. Foram identificadas diferenças marcantes: o planejamento é realizado semanalmente pelos professores do IFC e semanalmente por um professor e anualmente por outro professor da EEBJSA. Objetivos são estabelecidos para cada aula pelos professores do IFC. E os objetivos são estabelecidos por conteúdo pelos professores da EEBJSA. Os professores do IFC não usam manual do professor e os professores da EEBJSA o usam. Já em relação a semelhanças, uma delas chama atenção para o fato de que um professor de cada instituição usa o livro didático para atividades gramaticais, em especial classe de palavras, e outro não, ou seja, 50% de cada instituição. Outra semelhança é que todos os professores consideram, de forma geral, que o livro didático traz exemplos que ajudam, porém são insuficientes e exploram o conteúdo de forma superficial, ou seja, precisam usar outros meios, assim reafirmando Fonseca (2010). Conclusão Este estudo teve como objetivo geral analisar o planejamento e uso do livro didático do PNLD do Governo Federal, para o ensino de classes de palavras, por professores de Língua Portuguesa de instituições públicas de ensino médio estadual e federal em Santa Catarina. As análises confirmaram a constatação de Fonseca (2010), que aponta para importância de que o professor, na sua aplicabilidade da prática, tudo o que ensina ou não ensina e o que o aluno aprende e não aprende está além do que estabelecem os livros didáticos. Apesar disso, os professores entrevistados percebem que o livro didático, apesar das suas limitações, possui, conforme Carvalho Filho (2003), importância como instrumento de ordem social e institucional. Constatou-se que o uso dos livros didáticos do PNLD para o ensino de classes de palavras não atende às expectativas de professores da área. Nem todos os professores utilizam o manual do professor e somente um professor segue a sequência proposta pelo autor do livro didático. Verificou-se que os alunos são críticos quanto ao conteúdo e percebem o livro didático como algo pesado e cansativo, sem exemplos que exprimem suas realidades locais. Não houve dificuldade para a realização da pesquisa nas
duas instituições de ensino, ao contrário, as recepções e apoio foram excelentes. Entretanto, ressalta-se a limitação deste estudo que foi a entrevista com somente dois professores de cada instituição, constituindo-se em uma pequena amostra. Assim, outros estudos poderão ampliar o leque de entrevistados, contribuindo para se confirmar as constatações deste estudo. Referências BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. BATISTA, Antonio Augusto Gomes. Recomendações para uma política pública de livros didáticos. Brasília: MEC/SEF, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional do Livro Didático. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?itemid=668id=12391option=com_contentview=article>. Acesso em: 8 jun. 2014. CARVALHO FILHO, Roper Pires de. A avaliação dos livros didáticos: para entender o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). In: ROJO, Roxane; BATISTA, Antônio A. G. Livro didático de língua portuguesa, letramento e cultura escrita. Campina: Letramento das Letras, p. 25-67, 2003. CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Tradução Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel, 1988. DAMACENO-REIS, Angela Maria. O uso do livro didático de Língua Portuguesa por professores do ensino fundamental. 2006. 195 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Pontifícia Universidade Católica de São Paul, São Paulo, 2006. FONSECA, Selva Guimarães. O trabalho do professor na sala de aula: relações entre sujeitos, saberes e prática. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos: Brasília, v. 91, n. 228, p. 390-407, maio/ago, 2010. GRUPO UNIASSELVI. Diretrizes e regulamento de estágio e trabalho de graduação: cursos de licenciatura 2012/2. Indaial: Editora Uniasselvi, 2014. SARMENTO, Leila. L.; TUFANO, Douglas. Português: Literatura, Gramática e Produção de Texto. São Paulo: Moderna, 2010. YIN, Robert K. Estudo de caso planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001. ZANINI, Marilurdes. Uma visão panorâmica da teoria e da prática do ensino de língua materna. Acta Scientiarum, v. 21, n. 1, p. 79-88, 1999.