O USO DO LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA POR PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL RESUMO

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1 O USO DO LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA POR PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Esmeralda Queiroz UFPE 1 Gilda Lisbôa Guimarães UFPE 2 RESUMO Este projeto de pesquisa investigará de que forma estão sendo utilizados os livros didáticos de matemática no cotidiano da sala de aula, considerando que vários aspectos interferem e/ou condicionam essa forma de utilização. A revisão de literatura demonstra que, apesar de já terem sido realizadas muitas pesquisas sobre o livro didático, a maioria centra-se na análise e não na sua utilização e, entre os que abordam a utilização, a maioria são referentes às séries finais do ensino fundamental e/ou outras áreas do conhecimento, o que indica a necessidade e relevância desta pesquisa. Serão realizadas: análise documental, entrevistas semi-estruturadas com 12 professores da 4a série do Ensino Fundamental e observação de aulas dos mesmos. Palavras chaves: Séries Iniciais. Livro Didático. Matemática. Este trabalho é parte de meu projeto de pesquisa de Mestrado, que pretende analisar, de que forma estão sendo utilizados os livros didáticos de matemática por professores da Rede Municipal de Ensino do Recife. Enquanto recurso didático utilizado por parte significativa de professores e alunos no trabalho cotidiano da sala de aula, o livro didático deve ser compreendido pelo professor em seus vários aspectos, especialmente, quanto aos conteúdos abordados e a conceituação dos mesmos, os pressupostos teórico-metodológicos e as orientações presentes no manual do professor. Nesse sentido, compreender as formas de utilização desse material pelo professor, implica também, conhecer esse material, sob esses vários 1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco 2 Doutora em Psicologia Cognitiva e professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.

2 2 aspectos, bem como, as políticas voltadas para sua escolha, aquisição e uso, pois as mesmas pretendem contribuir para que essa escolha e uso ocorram de forma adequada e conseqüentemente para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. OS PROGRAMAS VOLTADOS PARA O LIVRO DIDÁTICO A trajetória do livro didático no Brasil, tem início em 1929 com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL). Em 1938, é instituída a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD). Segundo Höfling (2000) o programa de distribuição de livros didáticos, passou por várias fases e sua execução por diferentes órgãos. Em 1945 a CNLD, tem suas funções redimensionadas; em outubro de 1967 é criada a Fundação Nacional de Material Escolar (Fename); em 1970 foi implantado o sistema de co-edição com as editoras nacionais; em 1971, foi extinta a Comissão Nacional do Livro Técnico e Didático (Colted), que havia sido criada em 1966; em 1983, foi criada a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), que absorveu os programas que eram da alçada da Fename. Com o fim do sistema de co-edição em 1985, o Programa recebeu a denominação de Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). No ano de 1997, é extinta a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), ficando a cargo do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a execução do PNLD. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 3 é um trabalho de parceria, desenvolvido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF), e tem como objetivos básicos a aquisição e distribuição gratuita de Livros Didáticos (LD) para todos os alunos do ensino fundamental das escolas públicas do país. 3 Embora as ações do Programa, tenha paulatinamente se estendido à outras séries da Educação Básica, e também a outros materiais, não faremos aqui, referências detalhadas aos mesmos, por não se constituir, foco do nosso objeto de pesquisa. Descreveremos mais especificamente as realizações e mudanças em relação às séries iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª séries).

3 3 Estudos e investigações vinham, desde a década de 60, denunciando a falta de qualidade dos LD, mas é só a partir do início dos anos 90, que o MEC passa a participar de forma mais sistemática e direta das discussões sobre a qualidade do LD. Em 1995, iniciou-se o processo de Avaliação Pedagógica das obras a serem adquiridas a partir de então, através da instituição, pelo Ministério, da análise e avaliação pedagógica dos livros a serem escolhidos pelas escolas e distribuídos pelo PNLD. Os primeiros livros analisados foram os direcionados as séries iniciais do ensino fundamental, inscritos no PNLD 97, gerando uma classificação nas categorias: excluídos, não-recomendados, recomendados com ressalvas, recomendados. A partir dessas análises e classificações dos livros, foi publicado um Guia de Livros Didáticos, com o objetivo de dar condições mais adequadas ao professor para fazer a escolha do livro que julgavam mais apropriado ao seu trabalho no cotidiano da sala de aula, as características tanto dos alunos como dos professores, bem como as do próprio livro e da escola. Passamos então a buscar na literatura produzida, como tem sido percebido o livro, e especialmente, como o mesmo tem sido utilizado na prática pedagógica dos professores. O LIVRO E O USO DO LIVRO DIDÁTICO Entre os vários materiais definidos para o trabalho no cotidiano da sala de aula os livros didáticos sempre estiveram presentes. Porém, nem sempre o seu uso, pelo professor, foi visto de forma positiva. Batista (1999), afirma que em alguns períodos, os livros didáticos foram vistos como um dos principais fatores responsáveis pela desqualificação profissional dos professores, afirmava-se inclusive, a necessidade de sua não utilização para que fossem suprimidas certas práticas pedagógicas. Em relação a esse aspecto, Belfort (2002), afirma que, em meio as idéias construtivistas dos anos 80, especificamente em relação ao processo ensino-aprendizagem de matemática, ler textos e aprender em

4 4 livros, deixaram de ser competências mencionadas nas diretrizes para o processo ensino-aprendizagem; os livros-texto deixaram de ser considerados como boas ferramentas e foram responsabilizados por não incentivar a criatividade e o raciocínio lógico dos alunos nas aulas de matemática. Também os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997), alertam para que o livro seja observado com atenção quanto à qualidade, à coerência e à restrições que apresente em relação aos objetivos educacionais propostos. Ainda assim, os livros didáticos se mantiveram presentes na educação escolar, contribuindo para isso, também, a ausência de outros materiais que orientassem os professores sobre o quê e como ensinar aliada a freqüente dificuldade de acesso do aluno a outras fontes de estudo e pesquisa. Baseada em pesquisas quantitativas de caráter comparativo desenvolvidas a nível internacional, Belfort (2004), afirma que o professorado de matemática, jamais deixou de adotar livros-texto. Quando não são usados diretamente, são por meio de exercícios retirados do mesmo. Outro ponto colocado pela autora, é que os livrostexto, não tiveram substitutos à altura, para o fazer da sala-de-aula de verdade da escola da vida real, o que corroborou para que os livros, mesmo sofrendo forte oposição de educadores, continuassem a ser usados em larga escala. Segundo Batista (1999), os livros didáticos parecem ser, para significativa parcela da população brasileira, a principal fonte de informação impressa utilizada. Assim, o livro didático se constitui em um importante recurso, se não, o mais importante recurso utilizado por alunos e professores. Verificamos em nossas pesquisas, que a maioria dos trabalhos sobre livro didático, se detêm na análise do mesmo, não na sua utilização, e os poucos que pesquisam tal enfoque, estão voltados para outras séries, níveis e/ou áreas do conhecimento. Quanto ao livro didático de

5 5 matemática destinado às séries iniciais do ensino fundamental, ainda não encontramos registros de pesquisas com esse enfoque. Tomamos como referência para tal afirmação, as pesquisas realizadas em teses e dissertações de algumas universidades públicas e privadas do país, bem como, em eventos educacionais nacionais, como é o caso da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), que nas últimas 6(seis) reuniões, não apresenta um único registro quanto à utilização dos livros didáticos de matemática destinados as séries iniciais do ensino fundamental. A constatação da falta de pesquisas com os livros didáticos na área e nível por nós propostos nos levam a considerarmos de suma relevância e necessidade a nossa proposta de pesquisa para a área educacional e para a Educação Matemática em particular, pois já não se duvida da presença e importância do livro no contexto escolar. Segundo Belfort (2002), as pesquisas de Ball, 1991; Ma, 1999, apontam para um possível despreparo profissional dos professores de matemática, e este despreparo parece se refletir em suas decisões sobre quando e como usar (ou não) livros didáticos (Ball & Feiman-Nemser, 1998, Apud Belfort, 2002). Outras pesquisas, indicam que os professores não se apropriam diretamente das prescrições contidas nos livros e que eles não são utilizados de forma seqüencial (Coutinho 2004; Santos 2004) ou, ainda, a constatação de que muitos professores que dizem utilizar o livro, na verdade não o utilizam (Santos, 2004). As pesquisas acima citadas referem-se a outras áreas, séries e/ou níveis de ensino. E quanto aos professores que ensinam matemática nas séries iniciais do ensino fundamental? Qual será sua forma de utilização? Nosso objetivo, é analisar o uso do livro didático de matemática por professores das séries iniciais do ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino do Recife. Para realizarmos essa análise, destacaremos como conteúdos a serem observados, o tratamento da informação e a resolução de problemas de estruturas aditivas, por serem esses conteúdos

6 6 considerados pelos professores como sendo difícil e fácil respectivamente; o primeiro por não fazer parte da vida da maioria dos professores nem enquanto alunos, nem em sua formação profissional; e o segundo, por ser considerado por eles como fácil, e como sabendo abordá-lo adequadamente em suas aulas. METODOLOGIA Serão entrevistados inicialmente 12 professores que ensinem matemática, no segundo ano do segundo ciclo e dentre esses, escolheremos 3 que afirmarem usar o livro didático e concordarem ser observados em suas aulas. Para o estudo da Coleção de livros didáticos utilizados: DANTE, Luiz Roberto. Matemática. Ática, São Paulo, (Coleção Vivência e Construção), em relação ao tratamento da informação, será utilizada a análise realizada por Gitirana e Guimarães (2005) 4. Em relação a resolução de problemas estrutura aditiva, realizaremos a análise, utilizando as categorias levantadas por Borba, Pessoa e Santos (1997). A opção por este percurso, se deveu a necessidade de uma análise mais específica e aprofundada sobre a forma de abordagem desses conteúdos em específico no livro, e as análises e avaliações realizadas pelo MEC, por serem muito gerais, não atendem as especificidades da nossa proposta. Será realizada entrevista semi-estruturada com os professores, buscando identificar suas concepções sobre a escolha e o uso do livro didático, os conteúdos de ensino, os pressupostos teórico-metodológicos e as orientações constantes no manual do professor, bem como o processo efetivo de sua utilização. Serão observadas 4 de aulas de cada professor escolhido, 2 abordando o tratamento da informação e 2 resolução de problemas de estrutura aditiva, combinadas previamente com os professores. 4 Pesquisa em andamento, na qual participam as alunas bolsistas do PIBIC, Mabel Melo e Milka Cavalcanti.

7 7 REFERÊNCIAS BATISTA, A. A. G. Recomendações para uma Política Pública de Livros Didáticos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, Um objeto variável e instável: textos, impressos e livros didáticos. In: ABREU, M. (org). Leitura, História e História da Leitura. Campinas, SP.: Mercado das Letras: Associação de Leitura do Brasil: Fspesp, (Coleção Histórias de Leitura). BELFORT, E. Reflexões sobre o papel do livro texto em Matemática: um carcereiro ou um bom companheiro? BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasil: COUTINHO, M. de L. Práticas de leitura e alfabetização de crianças: o que dizem os livros didáticos? O que fazem os professores? Dissertação de Mestrado UFPE, PE HÖFLING, E. de M. Notas para discussão quanto a implementação de programas de governo: Em foco o Programa Nacional do Livro Didático. Educação & Sociedade, ano XXI, nº 70, abril/2005. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (MEC). Assessoria de Comunicação Social (ACS). Notícias. Disponível em: 28/11/2004. Secretaria de Ensino Fundamental (SEF). Guia de Livros Didáticos, PNLD 2000/2002. SANTOS, A. A. de A. Usar ou não usar os novos livros didáticos de Alfabetização? Concepções e práticas dos professores ao ensinarem o sistema de escrita alfabética. Dissertação de Mestrado UFPE, PE