UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE SÃO LUÍS DE MONTES BELOS CURSO DE ZOOTECNIA IMPORTÂNCIA DA LIMPEZA E MANUTENÇÃO EM ORDENHADEIRAS MECÂNICAS EM RELAÇÃO AOS NÍVEIS DE CCS E CBT NO LEITE Acadêmico: Rafael Lennini Lemes de Queiroz Orientador: Prof. Msc. Rafael Alves da Costa Ferro São Luís de Montes Belos Junho de 2014
ii RAFAEL LENNINI LEMES DE QUEIROZ IMPORTÂNCIA DA LIMPEZA E MANUTENÇÃO EM ORDENHADEIRAS MECÂNICAS EM RELAÇÃO AOS NÍVEIS DE CCS E CBT NO LEITE Monografia apresentada ao Curso de Zootecnia da Unidade Universitária de São Luís de Montes Belos, Universidade Estadual de Goiás, para obtenção do grau de Bacharel em Zootecnia. São Luís de Montes Belos Junho de 2014
FOLHA DE APROVAÇÃO iii
iv DEDICATÓRIA À Deus pela vida, saúde e força de cada dia. Aos meus paisjosé Leão Lemes e Seila Regina de Queiroz Lemes, minha namorada Renata Vaz Ribeiro, e minha família que a mim dedicaram.
v AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, o Pai criador que me acompanha em todos os momentos de minha vida. Aos meu queridos e amados pais, José Leão Lemes e Seila Regina de Queiroz Lemes, que apoiaram desde o momento que fui aprovado no vestibular, mesmo com muita dificuldade. À minha companheira, namorada, amiga, conselheira, confidente, futura esposa e que será um diamãe dos meus filhos, Renata Vaz Ribeiro,muito obrigado, por que sem ela nada disso seria realidade, foi um anjo que caiu do céu para me guiar nos caminhos durante a faculdade. Ao meu irmão Rodrigo Raisson Lemes de Queiroz, que sempre me deu força e apoio. À todos meus amigos e companheiros da faculdade nessa jornada de cinco anos ao meu lado, nas horas boas e ruins durante todo esse tempo. Vocês são muito importantes nessa conquista. Ao meu amigo, que tive uma maior afinidade durante a faculdade que hoje é quase um irmão, Lucas Oliveira Silva. A todos da minha família que sempre esteve ao meu lado, durante a minha faculdade. A todos os meus professores, em especial Diogo Ferro, AracelePales, Klayto Santos, Fernanda Rocha, Danilo Tomazello e Natali Gomes, pelos ensinamentos repassados e pela força. Ao meu orientador Rafael Ferro, por ser mais que um orientador de monografia, e sim um grande amigo. A Universidade Estadual de Goiás, e todos seus servidores, por toda ajuda prestada sempre que necessário.
vi Ao meu supervisor de campo, o médico veterinário Eduardo Ferreira Borges, pelos conhecimentos e qualificação como profissional ao mercado de trabalho. A empresa Loja de rações Ltda, e todos os funcionários, principalmente ao Sr Divino Borges, Fábio Dias, Renato Antônio e Wlicio Oliveira, pela paciência para ensinar os conhecimentos a mim adquiridos, muito obrigado. À todos que conheço e me apoiaram nessa jornada. Meus sinceros agradecimentos.
vii SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS... ix LISTA DE FIGURAS... x LISTA DE QUADROS... xi LISTA DE TABELA... xii RESUMO... xiii ABSTRACT... xiv 1 INTRODUÇÃO... 1 2 REVISÃO DA LITERATURA... 3 2.1 Produção de leite no Brasil e em Goiás... 3 2.2 Preocupação Quanto à Qualidade do Leite... 4 2.3 Qualidade Higiênico-Sanitária do Leite Contagem de Células Somáticas (CCS) e Contagem Bacteriana Total (CBT)... 5 2.4 Tipos de Ordenhas... 9 2.4.1 Ordenha mecânica... 10 2.4.1.1 Sistema de vácuo... 12 2.4.1.2 Sistema de pulsação... 13 2.4.1.3 Sistema para extração do leite... 14 2.4.1.4 Sistema para transporte do leite... 14 2.5 Importância da Manutenção dos Equipamentos da Ordenha Mecânica... 15 2.6 Limpeza e Higienização da Ordenha Mecânica... 16 2.6.1 Enxágue com água... 17 2.6.2 Detergentes alcalinos... 18 2.6.3 Enxágue ácido... 18 2.6.4 Sanitização... 19 2.7 Linha de Ordenha... 19 3 RELATÓRIO DE ESTÁGIO... 20 3.1 Caracterização da Empresa... 20 3.2 Atividades Realizadas Durante o Estágio... 20
viii 3.2.1 Reconhecimento de peças, produtos e equipamentos... 21 3.2.2 Assistência técnica em ordenhadeiras mecânicas a campo... 22 3.2.3 Acompanhamento na montagem, manutenção e revisão de ordenhas mecânicas e resfriadores... 22 3.2.4 Conserto de pulsadores, bombas de vácuo, medidores e transferidores de leite na sede da empresa... 25 3.2.5 Acompanhamento da qualidade do leite antes e após a manutenção da ordenhadeira... 27 3.4 Outras Atividades Realizadas no Estágio... 29 3.4.1 Treinamento para os operadores das ordenhadeiras mecânicas... 29 3.4.2 Acompanhamento de vendas... 31 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 32 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 33
ix LISTA DE ABREVIATURAS CBT Contagem Bacteriana Total CCS Contagem de Células Somáticas IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IN Instrução Normativa MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento UFC Unidade Formadora de Colônias atm Atmosfera cm Centímetro g Gramas Kg Quilogramas KPa Quilopascal m Metro mmhg Milímetro de mercúrio ml Mililitros ph Potencial Hidrogeniônico ppm Partes por Milhão % Porcentagem C Grau Celsius Nº Número Na 2 O Óxido de Sódio NaOCl Hipoclorito de Sódio
x LISTA DE FIGURAS Figura 1. Sistema de ordenha mecânica com seus componentes básicos... 11 Figura 2. Componentes de uma unidade de ordenha... 14 Figura 3. Cano responsável pela distribuição do vácuo para o sistema apresentando resíduos de leite causado pela falta de higienização correta do sistema... 24 Figura 4. Pulsador apresentando sujidades e leite residual (A). Pulsador higienizado pelo colaborador da empresa (B)... 25 Figura 5. Junta da base de comando de um pulsador apresentando sujidades... 26 Figura 6. Selo mecânico com bastante sujidade e resíduos de leite, ocasionandoqueima do mesmo... 27
xi LISTA DE QUADROS Quadro 1. Quadro 2. Quadro 3. Quadro 4. Quadro5. Quadro 6. Quadro7. Estados com maior produção de leite no Brasil e suas respectivas participações no total produzido... 4 Teores mínimos quanto a gordura, proteína e extrato seco desengordurado para um leite de boa qualidade... 5 Contagem Bacteriana Total (CBT) máxima e Contagem de Células Somáticas (CCS) de acordo com a IN 51... 6 Contagem Bacteriana Total (CBT) máxima e Contagem de Células Somáticas (CCS) de acordo com a IN 62... 7 Interpretação da contagem bacteriana total do rebanho, de acordo com a qualidade microbiológica do leite... 8 Interpretação da CCS do rebanho, de acordo com a redução da produção de leite e o percentual de animais infectados no rebanho... 9 Recomendações do nível de vácuo em função do tipo de equipamento... 12
xii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Resultados obtidos das análises de leite realizadas antes e depois do processo de assistência em uma propriedade... 29
xiii RESUMO A produção de leite no Brasil proporciona uma geração de renda a milhares de produtores rurais, seja eles de pequeno, médio ou grande porte. O uso de máquinas ordenhadeiras é realidade no país, a fim de atender uma demanda de leite de qualidade, exigindo cada vez mais a diminuição dos gastos com a produção. Manutenções, revisões e correta limpeza desse equipamento é de extrema importância para garantir um correto uso e longevidade do aparelho de forma geral. Ainda nesse mercado de ordenhadeiras mecânicas há um déficit de profissionais capazes de levar uma assistência técnica de qualidade ao produtor rural diretamente no campo. Baixos índices de CCS e CBT encontrados no leite por meio de análises, determinam um leite provindo de um rebanho de vacas sadias e atos higiênicos no momento de se produzir esse alimento, garantindo a qualidade higiênico sanitária desse leite. Objetivou-se discorrer sobre a importância da limpeza e manutenção de ordenhadeiras mecânicas para se obter um leite com baixos índices de CCS e CBT. Além de relatar as atividades realizadas durante o estágio supervisionado em uma empresa especializada em ordenhadeiras mecânicas em Goiânia/GO. PALAVRAS-CHAVE: higienização, ordenhas, produção, qualidade do leite, revisão, vacas leiteiras
xiv ABSTRACT Milk production in Brazil provides income generation for thousands of farmers, be they small, medium or large. The use of milking machines is reality in the country in order to meet a demand for quality milk, increasingly demanding the reduction of spending on production. Maintenance, review and correct cleaning of the equipment is paramount to ensure correct use and longevity of the general appliance. Still in the market for mechanical milking a shortage of professionals able to lead a quality technical assistance to farmers directly in the field. Low rates of CCS and CBT found in milk through analysis, determine an milk coming from a herd of cows healthy and hygienic acts at the time of producing this food, ensuring sanitary hygienic quality of that milk. Aimed to discuss the importance of cleanliness and maintenance of mechanical milking machines to obtain a milk with low SCC and TBC. In addition to reporting the activities performed during the supervised internship in a company that specializes in mechanical milking in Goiânia / GO. KEYWORDS: cleaning, milking, production and quality of milk, proofreading, dairy cows
1 INTRODUÇÃO A produção de leite é uma cadeia produtiva de grande importância econômica e social no país, gerando empregos, renda e tributos. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de leite, sendo essa produção encontrada em todas as regiões do país. Goiás encontra-se como um dos estados em ascensão e representatividade nesse setor. De modo geral a atividade leiteira está sofrendo um processo de intensificação e evolução no ciclo de produção, com aumento de volume produzido por área, sendo visada também a qualidade do produto. A procura por mecanização no campo vem crescendo de forma significativa, pois sabe-se que um dos grandes problemas encontrados por produtores rurais é a falta de mão de obra rural, sendo na produção de leite esse problema bastante visível em diversas propriedades. Além da falta de prestadores de serviços rurais, a qualidade do produto final é um fator bastante agravante para que os produtores rurais procurem a ordenhadeira mecânica nas suas propriedades leiteiras, pois sabe-se que se utilizada de forma correta, a ordenhadeira mecanizada contribui para a manutenção da qualidade do leite. A qualidade higiênico-sanitária da produção de leite em uma propriedade pode ser analisada por meio dos índices de Contagem de Células Somáticas (CCS) e Contagem Bacteriana Total (CBT) encontrados no leite produzido. A CCS é um indicador da saúde do úbere de uma vaca (quando analisado o leite produzido individualmente) ou do rebanho (quando analisada o leite total produzido na fazenda). Já a CBT é um indicativo da higiene de todo o complexo sistema de produção do leite em uma propriedade. A manutenção e revisão das ordenhadeiras mecânicas são de suma importância para se garantir bom estado por um longo período, realizando uma economia para o produtor e garantindo a produção com qualidade. Portanto, obejtivou-se descrever a importância da revisão e manutenção de ordenhadeiras mecânicas em propriedades leiteiras a fim de garantir uma produção com boa qualidade higiênico-sanitária, visando a diminuição de níveis
2 de CCS e CBT no leite produzido. Além disso, descrever as atividades realizadas no estágio curricular em uma empresa especialista em ordenhadeiras mecânicas situada em Goiânia/GO.
3 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Produção de leite no Brasil e em Goiás O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com cerca de 190 milhões de cabeças, sendo que deste efetivo, cerca de 34 milhões são animais destinados à produção de leite. O país conta com 14,7 milhões de vacas em lactação e secas, que, por ano, produzem cerca de 19 bilhões de litros, com média de 4,9 kg/vaca/dia, supondo lactação de 270 dias de duração (SOUSA, 2013). Possuidor da maior área agricultável e do maior reservatório de água doce do mundo, o Brasil possui ainda topografia e condições climáticas variadas e excelente luminosidade, o que lhe confere condições favoráveis de produzir pasto e forragem conservada, permitindo o aumento do rebanho e de produção de leite de qualidade. Devido a essas riquezas naturais, que garantem alto potencial de crescimento da sua produção, cerca de 5% ao ano, o Brasil assume posição chave no cenário futuro da pecuária de leite mundial (SOUSA, 2013). A produção de leite no Brasil vem crescendo nos últimos anos, sendo que atualmente ocupa a quinta posição no ranking mundial, e possui um crescimento anual superior a todos os países maiores produtores, produzindo um total de 31.667.600 litros atuando com 5,3% do total de produção mundial (EMBRAPA, 2013). O estado de Goiás se destaca sendo o quarto maior produtor do Brasil, participando com 10,9% do total de todo o leite produzido no país, como demonstrado no Quadro 1 (IBGE, 2011).
4 Quadro 1. Estados com maior produção de leite no Brasil e suas respectivas participações no total produzido. Ranking Estado Litros de leite produzido 1º Minas Gerais 8.756.114 2º Rio Grande do Sul 3.879.455 3º Paraná 3.819.187 4º Goiás 3.482.041 5º Santa Catarina 2.531.159 Fonte: Adaptada de IBGE (2011). Participação nacional 27,3% 12,1% 11,9% 10,9% 7,9% 2.2 Preocupação Quanto á Qualidade do Leite Segundo a IN 51 descrito pelo BRASIL (2002), que posteriormente foi substituída pela IN 62, entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. A indústria leiteira mundial atravessa um período de transformação em sua estrutura, com aumento de exigências em relação à qualidade do leite. Para tanto, a diferenciação do pagamento ao produtor de acordo com a qualidade do leite e a maior preocupação do consumidor com o alimento seguro faz com que o produtor busque aprimoramento da produção leiteira para que possa se adequar às mudanças que tem ocorrido (GUERREIRO et al., 2005). Embora a produção tenha aumentado, a qualidade do leite ainda é um problema. Vários autores já comprovaram altas taxas de contaminação do leite pela sua obtenção de forma pouco higiênica, além de resíduos de antibióticos, adição de água, desnate ou qualquer outro tipo de fraude (NERO et al., 2007; FAGAN et al., 2008, MATTOS et al., 2010, BELOTI et al., 2011). O mercado está se tornando cada vez mais exigente, visto que os alimentos possuem um papel importante na saúde do consumidor. Com isso, o
5 leite de qualidade deve apresentar características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais satisfatórias para atender essa exigência (ZANELA et al., 2006). Desta forma, para se ter uma boa qualidade do leite, várias medidas devem ser tomadas durante o processo de ordenha mecânica com a finalidade de impedir a transmissão de agentes patogênicos para o homem e diminuir o número de microrganismos contaminantes, o que deprecia a qualidade microbiológica do leite (AMARAL, et al., 2004; NETTO et al., 2006). A obtenção em boas condições de higiene, e o resfriamento imediato a 4ºC, são medidas fundamentais e primárias para garantir a qualidade e o consumo seguro do leite e consequentemente dos seus derivados. O crescimento de bactérias no leite é reduzido por meio do resfriamento abaixo de 10 C, e temperaturas próximas de 3 C a 4 C, atingidas de uma forma rápida (até 2 horas), permitem que as atividades bacterianas sejam bem diminuídas (ARCURI, 2006). 2.3 Qualidade Higiênico-Sanitária do Leite - Contagem de Células Somáticas (CCS) e Contagem Bacteriana Total (CBT) A qualidade do leite pode ser avaliada pela composição nutricional (gordura, proteína, extrato seco desengordurado e sólidos totais), e também pela condição higiênico-sanitária (CBT, CCS e resíduos químicos contaminantes no leite). Os teores mínimos estabelecidos para um leite de boa qualidade podem ser observados no quadro 2. Quadro 2. Teores mínimos quanto a gordura, proteína e extrato seco desengordurado para um leite de boa qualidade. Nutrientes Valores mínimos (%) Gordura 3,0 Proteína 2,9 Extrato seco desengordurado 8,4 Fonte: Adaptado de SOUZA et al., 2011.
6 A Instrução Normativa Nº 51 do MAPA define que a Contagem Bacteriana Total e a Contagem de Células Somáticas no leite cru refrigerado devem passar por uma redução gradual ao longo dos anos, conforme mostra o Quadro 3 (BRASIL, 2002). Quadro 3. Contagem Bacteriana Total (CBT) máxima e Contagem de Células Somáticas (CCS) de acordo com a IN 51. Região Período CCS Sudoeste, Centro Oeste e Sul Norte e Nordeste De 01/07/2005 a 01/07/2008 De 01/07/2008 a 01/07/2011 A partir de 01/07/2011 De 01/07/2007 a 01/07/2010 De 01/07/2010 a 01/07/2012 A partir de 01/07/2012 Fonte: Adaptado de BRASIL (2002). (células/ml) CBT (UFC/mL) 1.000.000 1.000.000 750.000 750.000 400.000 1000.000 para tanques individuais 300.000 para tanques coletivos 1.000.000 1.000.000 750.000 750.000 400.000 1000.000 para tanques individuais 300.000 para tanques coletivos Em 29 de dezembro de 2011, devido ao não enquadramento dos produtores as regras da IN 51, foi criada a IN 62, que define que o produtor passa a ter mais tempo para se enquadrar nas reduções da Contagem Bacteriana Total
7 e a Contagem de Células Somáticas no leite cru refrigerado, Quadro 4, (BRASIL, 2011). Quadro 4. Contagem Bacteriana Total (CBT) máxima e Contagem de Células Somáticas (CCS) de acordo com a IN 62. De 01.1.2012 até 30.6.2014 A partir de 01.7.2014 até 30.6.2016 A partir de 01.7.2016 CCS (CCS/mL) 480.000 400.000 360.000 CBT (UFC/mL) Máximo 104.000 Máximo 104.000 Máximo 104.000 Fonte: Adaptado de BRASIL (2011). O número de bactérias contidas no leite é expresso em unidades formadoras de colônias por mililitro de leite (UFC/mL). A CBT indica as condições gerais de higiene e refrigeração do leite, desde sua obtenção até o envio para a indústria. Leite com alta CBT pode provocar um impacto negativo em toda a cadeia produtiva. Alta contagem bacteriana pode acarretar problemas como: alterações no sabor e odor do leite, desvalorização pelas empresas que realizam o pagamento por qualidade, alterações no tempo de validade do leite in natura e dos produtos lácteos, e até mesmo infecções intestinais e sistêmicas no consumidor. De forma geral, as principais fontes de contaminação direta de bactéria para o leite cru são os quartos mamários, úbere e pele do teto infectados com mastite, utensílios e/ou equipamentos sujos que entrem em contato com o leite (LANGONI et al., 2011). A reduzida CBT está associada à adoção de adequados hábitos e procedimentos de higiene no momento da ordenha, higiene dos utensílios e a refrigeração imediata do leite (SOUZA et al., 2011). O monitoramento dos resultados de CBT do rebanho é importante para avaliar a qualidade microbiológica do leite (Quadro 5).
8 Quadro 5. Interpretação da contagem bacteriana total do rebanho, de acordo com a qualidade microbiológica do leite CBT no leite do rebanho (UFC/mL) Qualidade microbiológica do leite <5.000 Excelente 5.000 a 10.000 Aceitável >10.000 Pobre Fonte: Adaptado de SOUZA et al., (2011). As células somáticas são células de defesa originadas do sangue que migram para o úbere (glândula mamária) no caso de inflamação e, também, as de descamação da glândula mamária, por se tratar de tecido epitelial. Compreendem o conjunto de células do sangue como linfócitos, neutrófilos e macrófagos. Essas células podem ser um indicativo de inflamação intramamária e ajuda na diferenciação de uma glândula mamária infectada para uma não infectada (SANTOS & FONSECA, 2007). As amostras de leite para realizar a CCS podem ser provenientes de animais ou de rebanhos (latões, tanque de refrigeração). Uma alta CCS no leite de uma vaca indica que, provavelmente, existe infecção em pelo menos um quarto mamário do úbere, causando o processo inflamatório chamado mastite. Considera-se que vacas com CCS maior que 200.000 células/ml estão, muito provavelmente, com mastite. Quando se considera o leite do rebanho, a CCS está associada à redução na produção de leite, Quadro 6, e ao percentual de animais infectados no rebanho (BRASIL et al., 2012).
9 Quadro 6. Interpretação da CCS do rebanho, de acordo com a redução da produção de leite e o percentual de animais infectados no rebanho. CCS no leite do rebanho (x 1.000 células/ml) Estimativa da gravidade da mastite <250 Pouca ou nenhuma Redução na produção de leite (%) Percentual (%) de animais infectados Irrelevante <6 250-500 Média 4 6 500-750 Acima da média 7 26 750-1.000 Ruim 15 ± 42 >1.000 Muito ruim 18 ± 54 Fonte: Adaptado de SOUZA et al., (2011). A presença de células epiteliais no leite é o resultado da descamação normal do epitélio secretor da glândula mamária. Cerca de 70% a 80% do total de células somáticas é de origem epitelial em vacas sadias. Já em animais com infecção intramamária ocorre inversão e a maioria das células somáticas é originada dos leucócitos (SANTOS & FONSECA, 2007). 2.4 Tipos de Ordenhas A ordenha das vacas é uma das atividades mais importantes em uma propriedade leiteira, pois é nessa hora que o leite é coletado das mesmas, gerando renda à propriedade (SANTOS & FONSECA, 2007). Esta pode ser manual ou mecanizada, dependendo do interesse do proprietário.
10 2.4.1 Ordenha mecânica Os requisitos básicos para a construção e desempenho dos equipamentos de ordenha para animais são determinados pela fisiologia do animal e a necessidade por um padrão de alta qualidade do leite e higiene. Além disso, o equipamento tem que ser eficaz, fácil e seguro de ser usado e testado. Uma vez que a maior parte dos equipamentos de ordenha depende de fornecimento de energia elétrica pública que, ocasionalmente, apresenta falhas, métodos alternativos para se operar a máquina nestas emergências devem ser instalados (BRASIL, 2002b). O equipamento de ordenha (ordenhadeiras) e a ligação das instalações de armazenamento do leite na fazenda devem ser projetados e mantidos de forma a minimizar a turbulência, formação de espuma, ou agitação, assim reduzindo o dano físico à gordura do leite e ao desenvolvimento de ácidos graxos livres (BRASIL, 2002b). De acordo com KNAPPSTEIN & REICHMUTH (2002), a ordenha mecânica quando comparada com a manual leva vantagem em relação à saúde do úbere, no que diz respeito à velocidade e diminuição do tempo de operação, porém, as falhas no controle das máquinas ordenhadeiras, no que diz respeito à pulsação e linha de vácuo, podem trazer sérios danos à glândula mamária, principalmente leite residual e lesões de tetas. Ressaltam ainda que não é necessariamente o tipo de ordenha o responsável pela infecção da glândula mamária e sim o nível de higiene e o manejo da propriedade, também estão diretamente relacionados com a CCS, cujos valores aumentam quando ocorrem estas irregularidades. NEIVA (2000) e EDMONDSON (2010) descreveram que o princípio básico do funcionamento da ordenha mecânica é a produção de vácuo parcial (1/2 atmosfera ou 380 mmhg) aplicado na ponta do teto, causando uma abertura do canal do teto, que causa a ejeção do leite, em um sistema que permite a entrada controlada de ar. De acordo com o sistema de condução de leite, as ordenhas mecânicas podem ser classificadas em balde ao pé (móvel ou fixo) ou circuito fechado (canalizada). No sistema balde ao pé (fixo ou móvel), o leite, ao ser extraído do
11 úbere, é imediatamente coletado no balde ou latão sob vácuo, no local da ordenha, sendo levado ao tanque de refrigeração após a ordenha, sendo recomendado a pequenos e médios produtores. Esse sistema apresenta como vantagem o investimento financeiro menor, se comparado ao da ordenha canalizada, e possui como desvantagem, o fato do leite ser transferido primeiro para o latão, para depois, ser transferido para o tanque de resfriamento, sendo que a demora nessa transferência pode acarretar perda de qualidade do leite, especialmente quanto a CBT e redução na produtividade leite/homem/dia. Já o circuito fechado, o leite após ser extraído, é conduzido sob vácuo por meio de uma tubulação em aço inoxidável até a unidade final da linha e bombeado até o tanque de refrigeração, sendo que esse sistema possibilita obter um leite de melhor qualidade, já que é refrigerado imediatamente após sua retirada (SOUZA et al., 2011). Todo sistema de ordenha, independentemente do tamanho ou sofisticação, têm os mesmos componentes básicos, sendo composta por um sistema de vácuo, sistema de pulsação, sistema de extração de leite e sistema para o transporte do leite (Figura 1) (PHILPOT & NICKERSON, 2002). Figura 1. Sistema de ordenha mecânica com seus componentes básicos. Fonte: Adaptado de BLOWEY & EDMONDSON, 2010.
12 2.4.1.1 Sistema de vácuo O sistema de vácuo é composto de bombas de vácuo, regulador de vácuo, linha principal de suprimento de vácuo, linhas de pulsação, linha de leite e vacuômetros (BLOWEY & EDMONDSON, 2010). A bomba de vácuo tem a função de criar vácuo parcial, removendo parte do ar da linha do sistema de ordenha. O nível de vácuo é monitorado por um medidor. Outro componente importante é o tanque de reserva de vácuo, que é colocado entre a bomba de vácuo e a linha de ordenha, e serve para fornecer uma reserva de vácuo para ajudar a neutralizar uma súbita admissão de ar no sistema (PHILPOT & NICKERSON, 2002; RADOSTITIS et al., 2007). O regulador de vácuo é fundamental em todo sistema de ordenha, pois regula constantemente o nível de vácuo, mantendo-o em um ponto de ajuste préestabelecido aumentando ou diminuindo a quantidade de ar admitida no sistema (PHILPOT & NICKERSON, 2002). De acordo com o Quadro 7, pode-se notar os diferentes níveis de vácuo recomendados para cada tipo de equipamento. Quadro 7. Recomendações do nível de vácuo em função do tipo de equipamento Tipo de equipamento Linha alta Linha com garrafão central Linha baixa Balde ao pé Fonte: PHILPOT & NICKERSON (2002). Nível de vácuo 44-50 KPa 44-50 KPa 42-46 KPa 44-50 KPa A linha principal de suprimento de vácuo estende-se da bomba de vácuo até o deposito de condensação, próximo a unidade final. A recomendação dos fabricantes é de que a diferença não ultrapasse dois KPa (0,6 polegadas) (PHILPOT & NICKERSON, 2002).
13 A linha de pulsação fornece o vácuo necessário para a fase de ordenha da teteira (RADOSTITS et al., 2007). A dimensão da linha de leite e o projeto do sistema de ordenha devem fornecer um fluxo estratificado durante a fase de ordenha, o que corresponde ao leite fluindo na parte inferior e o ar fluindo de forma continua acima do leite (PHILPOT & NICKERSON, 2002). Os vacuômetros servem para monitorar o sistema de vácuo, sendo indicada a instalação de dois medidores, sendo um próximo do regulador de vácuo e outro no final da linha de pulsação (RADOSTITS et al., 2007). 2.4.1.2 Sistema de pulsação Um sistema de pulsação possui como função, alternar o vácuo com a pressão atmosférica entre a teteira, fazendo com que ela abra e feche. Com isso, acontece uma fase de ordenha e uma massagem, que corresponde a um ciclo de pulsação (PHILPOT & NICKERSON, 2002). Quando o pulsador retira o ar que existe entre a teteira e o copo da teteira, ela se abre e a extremidade do teto é submetida a um vácuo parcial, fazendo o leite fluir devido a diferença de pressão entre o lado interno e externo da extremidade do teto. Quando o pulsador permite a entrada de ar entre a teteira e o copo da teteira, a mesma se colapsa, tendo uma ação de massagem no teto e cessando o fluxo de leite (PHILPOT & NICKERSON, 2002; RADOSTITS et al., 2007). Existem pulsadores mecânicos e eletrônicos, sendo que os eletrônicos são mais precisos e desregulam com menor frequência. Podem ser de ação simultânea (4x4) ou alternados (2x2), sendo que o simultâneo move as quatro teteiras ao mesmo tempo em harmonia, resultando num fluxo de leite mais lento, com maiores flutuações de vácuos, mas com menor nível de vácuo na ponta do teto durante a extração. Já o alternado permite que sejam ordenhados dois tetos, enquanto os outros dois são massageados, permitindo maior estabilidade de vácuo e ordenha mais eficiente (BLOWEY & EDMONDSON, 2010).
14 2.4.1.3 Sistema para extração do leite De acordo com PHILPOT & NICKERSON (2002), a unidade de ordenha consiste em basicamente quatro copos de teteiras (teteiras, copos de teteiras, mangueira curta do leite e mangueira curta de pulsação), um coletor, mangueira longa do leite e mangueira longa de pulsação. Figura 2. Componentes de uma unidade de ordenha. Fonte: PHILPOT & NICKERSON (2002). 2.4.1.4 Sistema para transporte do leite Os principais componentes do sistema para transporte do leite consistem em conjuntos de ordenha, linha de leite e unidade final (SANTOS & FONSECA, 2007).
15 Para um bom fluxo de leite durante a ordenha, a linha de leite deve ter uma inclinação de aproximadamente 3% em tubos de aço inoxidável. A adoção de linha baixa é a mais indicada, pois resultam em menor frequência de refluxo de leite quando comparadas a linhas altas, além de maior velocidade na ordenha (PHILPOT & NICKERSON, 2002). 2.5 Importância da Manutenção dos Equipamentos da Ordenha Mecânica O equipamento de ordenha desempenha um papel importante na eficiência da operação de produção de leite na propriedade. Eles devem funcionar de forma apropriada e eficiente de duas a três vezes ao dia. Se por um lado, os equipamentos ajudam na melhoria da produção, por outro lado tem sido falsamente acusados de problemas relativos à mastite e qualidade do leite (RADOSTITS et al., 2007). A manutenção correta da ordenha deve ser realizada a fim de garantir um correto funcionamento da mesma e garantir um leite de qualidade, sem contaminantes provindos do contato físico com os equipamentos da ordenha mecanizada (SANTOS & FONSECA, 2007). Ainda segundo SANTOS & FONSECA (2007), elevadas taxas de entrada de ar no sistema de ordenha, por si só, são responsáveis por infecções na glândula mamária. Um dos motivos pela entrada de ar no sistema seria a presença de fissuras nas borrachas das teteiras. Para COENTRÃO et al., (2008), o surgimento de fissuras nas partes de borracha do equipamento de ordenha facilita o acúmulo de leite e dificulta a aderência no teto, permitindo a entrada de ar no sistema. A relação ideal de pulsação é 60:40 ou 70:30 em um ritmo de pulsação de 60 ciclos por minuto (PHILPOT & NICKERSON, 2002; SANTOS & FONSECA, 2007; BLOWEY & EDMONDSON, 2010;). Frequências superiores aumentam o tempo de ordenha, levando a sobre-ordenha, que, de acordo com MULLER (2002), pode provocar lesões nos tetos, que por sua vez predispõem a mastite.
16 Para GONÇALVES (2008), deve-se trocar o óleo do reservatório e limpar a mecha de lubrificação da bomba de vácuo todo trimestre, e se necessário, trocar as mangueiras de lubrificação e luvas de borracha, verificar as peças e membranas do pulsador e trocá-las se for preciso e fazer uma lavagem na linha de vácuo, de acordo com as recomendações do fabricante, permitindo seu funcionamento correto. As recomendações de trocas de teteiras devem ser respeitadas, pois à medida que a teteira envelhece, perde a elasticidade, e, por consequência, perde sua capacidade de massagear o teto. Além disso, o uso constante de produtos químicos durante a limpeza do sistema provoca pequenas rachaduras na borracha. O ideal é que sejam trocadas ao atingir 2500 ordenhas, ou com seis meses de uso, o que ocorrer primeiro (SANTOS & FONSECA, 2007). 2.6 Limpeza e Higienização da Ordenha Mecânica A ordenhadeira, quando mal higienizada, pode se tornar um veículo para transmissão de microrganismos, estando diretamente relacionada à contaminação do produto e aumento das taxas de CBT no leite (TAFFAREL, et al., 2010). Convém lembrar que é de grande importância que os ordenhadores usem roupas limpas, de tecido claro, e tenham as mãos limpas, unhas aparadas, evitando hábitos como fumar, cuspir ou se alimentar durante a ordenha (NASCIMENTO, 2006). A limpeza do equipamento é tão importante quanto o manejo e higiene da ordenha, sendo fundamental para a qualidade do leite. As principais etapas da limpeza do equipamento são o enxágue com água morna, com temperatura entre 32 e 41 C, enxágue com detergente alcalino clorado, com temperatura entre 71 e 74 C, enxágue com ácido e sanitização pré ordenha (MULLER, 2002). O objetivo de se fazer a limpeza é remover resíduos orgânicos e minerais que podem estar aderidos às superfícies. Estes resíduos são compostos de gorduras, proteínas e sais minerais. Após a limpeza, realiza-se a sanitização das superfícies limpas visando eliminar totalmente os microrganismos patogênicos e
17 reduzir, até níveis seguros, os microrganismos alteradores/deterioradores (NEIVA & NEIVA, 2006). Os componentes das soluções de limpeza e sanitização promovem a ação de limpeza química. O aquecimento das soluções de limpeza ou sanitização antes da circulação propiciam a energia térmica e o fluxo turbulento das soluções dentro das tubulações promove a energia mecânica de limpeza (REINEMANN et al., 2008). Além das energias envolvidas no processo de limpeza, deve-se levar em consideração o tempo de contato entre as soluções de limpeza e sanitização com o equipamento. Este tempo é estabelecido de acordo com o programa de limpeza de cada fabricante de produtos de limpeza e sanitização (NEIVA & NEIVA, 2006). Os equipamentos de ordenha como baldes, latões, tubos, mangueiras, filtros, depósitos e agitadores constituem uma das principais fontes de contaminação do leite. O resto de leite que fica na superfície dos mesmos depois de uma limpeza pouco exaustiva proporciona inúmeros nutrientes para o crescimento de microrganismos, o que também é favorecido pela temperatura ambiental e a superfície molhada ou úmida dos utensílios (NEIVA & NEIVA, 2006). Após determinado tempo, as bactérias se multiplicam e se aderem às paredes dos equipamentos de ordenha, formando um biofilme, que constitui uma importante fonte de contaminação e é de difícil remoção pela limpeza normal (SANTOS & FONSECA, 2007). As partes do equipamento de ordenha que não entram em contato com o leite, e com isso não sofrem o processo de limpeza e sanitização, como a linha de vácuo, também podem ser fonte de contaminação bacteriana. Se os testes de qualidade de leite indicarem problemas de limpeza e sanitização no equipamento e a fonte não puder ser identificada na unidade de ordenha, mangueiras, tubulações, linha do leite e unidade final, é recomendado que se faça uma inspeção visual das linhas de ar e equipamento auxiliar (AMARAL et al., 2004). 2.6.1 Enxágue com água Um pré enxágue pode ser utilizado para remover o leite residual preso às superfícies e outros depósitos facilmente solúveis ou em suspensão. A água
18 utilizada nessa etapa não deve circular no sistema, sendo descartada após uma única passagem. De modo geral, a temperatura da água deve ficar entre 35 C e 55 C. Um dos benefícios do pré enxágue é aquecer o equipamento para reduzir a queda de temperatura nos ciclos seguintes (REINEMANN et al., 2008). 2.6.2 Detergentes alcalinos Os detergentes alcalinos são usados para remover resíduos orgânicos como gordura e proteína do leite. Os detergentes reduzem a tensão superficial da água de forma que a solução possa molhar com mais eficiência e penetrar nos resíduos que aderiram às superfícies. A maioria dos detergentes tem uma faixa de temperatura de trabalho entre 43ºC e 77 C (MÜLLER, 2002). O cloro é muitas vezes adicionado aos detergentes alcalinos para auxiliar na remoção de proteína e para melhorar a capacidade de enxágue do detergente. O teor de cloro varia entre 75 e 200 ppm de NaOCl (hipoclorito de sódio), já a alcalinidade recomendada é de 250 a 500 ppm (expressos em Na 2 O) (SANTOS & FONSECA, 2007). 2.6.3 Enxágue ácido Um ciclo de enxágue ácido deve ser realizado para remover os resíduos de minerais do leite (elementos inorgânicos). Pode ser um enxágue frio ou quente (35 a 43 C), dependendo da instrução de uso do fabricante. A frequência do enxágue ácido depende da qualidade da água usada para limpeza, sendo realizado pelo menos duas vezes por semana. As soluções para enxágue ácido geralmente tem um ph igual ou inferior a 3,5 (REINEMANN et al., 2008; SANTOS & FONSECA, 2007). Como alternativa a limpeza ácida, pode-se fazer o enxague ácido diário, que tem como vantagens: a neutralização dos resíduos do cloro, o que aumenta a
19 vida útil de borrachas e teteiras; prevenção dos depósitos de minerais; redução do ph do equipamento, inibindo o crescimento das bactérias e aumentando a ação do ciclo de sanitização na ordenha seguinte (PHILPOT & NICKERSON, 2002). 2.6.4 Sanitização A sanitização difere da esterilização, que implica na destruição de todas as formas de vida microbiana. Os sanitizantes são aplicados em superfícies que já foram limpas para matar os microrganismos que sobreviveram à limpeza e/ou ao processo de armazenagem do equipamento. Os produtos à base de cloro são os mais usados para sanitização de equipamento de ordenha e refrigeração do leite (REINEMANN et al., 2008). Para que sejam alcançados níveis satisfatórios de higienização é fundamental a escolha correta dos agentes de limpeza e sanitização. Para isso, devem ser avaliados os seguintes critérios: tipo e grau de adesão dos resíduos; qualidade da água de limpeza; natureza das superfícies escolhidas; métodos de higienização; e tipos e níveis de contaminação envolvidos (NEIVA & NEIVA, 2006). 2.7 Linha de Ordenha Segundo SILVA et al. (2002) e ROSA et al. (2009), para se evitar que vacas que apresentem ou já apresentaram mastite contaminem os animais sadios, através do uso de utensílios, do equipamento de ordenha e do próprio ordenhador, recomenda-se a implantação da linha de ordenha, que é uma sequência de ordenha da seguinte maneira: primeiro as vacas de primeira lactação ou primíparas que nunca tiveram mastite; seguidas das vacas mais velhas, que também nunca tiveram mastite; posteriormente, as vacas que tiveram mastite, mas já foram curadas; e, por fim, as vacas com mastite.
20 3 RELATÓRIO DE ESTÁGIO 3.1 Caracterização da Empresa O estágio curricular supervisionado foi realizado no município de Goiânia- Go, sob a supervisão do Médico Veterinário Eduardo Ferreira Borges, na empresa Loja de Rações Ltda, no período de janeiro a março de 2014, perfazendo a uma carga horária de 318 horas. A Loja de Rações Ltda é uma empresa privada do Médico Veterinário Eduardo Ferreira Borges e seu sócio Divino Oliveira Borges, que atua em diversos segmentos na área da bovinocultura leiteira, destacando-se para a venda e assistência técnica em ordenhas mecânicas e resfriadores de leite, venda de produtos, equipamentos e peças voltados para ordenha mecânica e resfriadores, venda de sêmen e material para inseminação. A empresa conta com dois vendedores e três técnicos, sendo que um desses se encontra na loja e dois oferecem a parte de assistência técnica em ordenhas mecânicas e resfriadores nas propriedades rurais, nos estados de Goiás, Tocantins, Bahia e Mato Grosso. Os proprietários auxiliam na parte de vendas, além de orientações no funcionamento e utilizações dos mesmos. A Loja de Rações Ltda já atua há vários anos na área da bovinocultura leiteira, e presam pela qualidade da assistência técnica, produtos e equipamentos atribuídos aos produtores rurais, para o aumento da produção de leite com baixa quantidade de CCS e CBT. 3.2 Atividades Realizadas Durante o Estágio O estágio foi subdividido em três etapas: reconhecimento de peças, produtos e equipamentos, além da teoria sobre o funcionamento de todos; acompanhamento no momento da assistência técnica especializada, além do
21 acompanhamento de montagem, manutenção e revisão de ordenhas mecânicas e resfriadores, em propriedades no estado de Goiás; também foi realizado o conserto de pulsadores, bombas de vácuo, medidores e transferidores de leite, na sede da empresa. Houve a oportunidade de realizar o acompanhamento da qualidade do leite, antes e após a manutenção da ordenhadeira mecânica, de uma propriedade na cidade de Bela Vista de Goiás/GO. No estágio foi possível obter o conhecimento teórico e prático sobre ordenhadeiras mecânicas, cada parte que as compõem e suas funções, como a capacidade máxima e mínima de conjuntos, que cada unidade de vácuo pode ser administrada, quais marcas que estão no mercado e suas diferenças, as de preferência do produtor rural, quais as mais utilizadas, as de qualidade superior e inferior. Foi possível ainda, conhecer toda a linha de ordenhadeiras e produtos em que a Loja de Rações representa em Goiás. 3.2.1 Reconhecimento de peças, produtos e equipamentos A primeira etapa do estágio foi realizada na própria sede da empresa, primeiramente entendendo-se como se funciona uma ordenhadeira mecânica e suas peças. Também foi possível obter conhecimento mais profundo sobre toda a linha dos produtos que eram utilizados para pré e pós-ordenha, como por exemplo, detergentes para limpeza da ordenha, soluções para pré e pós dipping, utilizados na desinfecção dos tetos; quais os procedimentos a serem utilizados com cada um deles; os mais recomendados para cada tipo de propriedade leiteira; linha de produtos destinados à limpeza e higienização de ordenhadeiras e todos os equipamentos que eram necessários na ordenha mecânica e resfriadores.
22 3.2.2 Assistência técnica em ordenhadeiras mecânicas a campo Assistência técnica é um requisito de qualidade que a empresa tem a oferecer aos produtores rurais, realizada geralmente por dois funcionários, além do supervisor da loja, que possuíam um conhecimento amplo em ordenhas mecânicas e resfriadores, e estavam sempre em treinamento, cursos de reciclagem, para cada dia mais aprimorarem seus conhecimentos. A empresa se destaca no mercado leiteiro, pois garante a seus clientes, uma assistência técnica especializada, sendo os funcionários dessa área, aptos a ofertar seus serviços em odenhadeiras e resfriadores de diferentes marcas e modelos. Durante o estágio, foi possível acompanhar o supervisor de estágio em diferentes propriedades a fim de entender como deve ser realizada uma assistência técnica de qualidade. Foi possível percorrer em torno de 20 fazendas leiteiras no estado de Goiás. 3.2.3 Acompanhamento na montagem, manutenção e revisão de ordenhas mecânicas e resfriadores Os funcionários que realizavam a montagem das ordenhas novas eram responsáveis por fazer toda a parte de contenção, ligação da parte elétrica e hidráulica, montagem dos canos de vácuo e todo o restante da ordenha, sempre deixando-a em perfeito estado de funcionamento. Após a ordenha instalada, era realizado um treinamento com o operador da ordenha, a fim de ensiná-lo o funcionamento correto da máquina e a realização do manejo ideal das vacas no momento de coloca-las na ordenha. As visitas para manutenção e concertos de ordenhas mecânicas e resfriadores de leite, eram realizadas a clientes da loja ou produtores que precisavam dos serviços, mesmo não possuindo cadastro na loja (novos clientes).
23 Esse serviço era contratado no momento em que o produtor ligava para a loja informando qual problema estava enfrentando quanto a ordenhadeira e/ou resfriadores. O funcionário da empresa responsável pela assistência era orientado a resolver o problema ao telefone, passando informações pertinentes ao produtor, mas caso esse problema não fosse resolvido, o funcionário se deslocaria no dia seguinte à propriedade para resolver o assunto, sendo que o deslocamento só seria realizado no mesmo dia em casos de extrema urgência. Em casos de visitas para manutenção ou reparação, o produtor rural era o responsável em custear essas visitas. O funcionário responsável pela assistência, antes sair para a propriedade, sempre entrava em contato com o produtor ou responsável pela oredenhadeira, com o intuito de realizar perguntas sobre o problema encontrado e se havia surgido outros, qual marca da máquina de ordenha e suas características, e se o produtor necessitava de algum produto em específico. Contudo o responsável sempre levava peças e produtos a mais, além do que foi previsto pelo proprietário, pois chegando nessa fazenda poderiam ser encontrados outros tipos de problemas a serem solucionados. Durante as visitas foi possível verificar que, em mais de 80% das propriedades visitadas para o serviço de manutenção, os operadores da ordenha não eram os proprietários do local, ou seja, havia mão-de-obra contratada. Por isso a importância do técnico em saber diferentes formas de ensinar o manejo correto, já que a maioria desses funcionários contratados não possuíam escolaridade alta. Nos serviços de urgência, os maiores problemas encontrados foram em bombas de vácuo, sendo geralmente as palhetas quebradas, pois sabe-se que, quando há uma interrupção brusca de energia durante o funcionamento da ordenhadeira, as palhetas acabam girando para o lado oposto por conta da força da pressão, e isso geralmente faz com que estas quebrem. Essa brusca interrupção da energia pode gerar ainda uma queima do motor da ordenha, sendo este problema muitas vezes confundido pelo produtor com um problema na bomba de vácuo. Como geralmente os produtores rurais ou seus funcionários não eram qualificados para detectar um problema em suas máquinas, acabavam repassando uma informação errada ao funcionário que fazia a manutenção ou
24 conserto da máquina, por isso era tão importante que este funcionário estivesse totalmente qualificado em sua função e sempre procurasse se reciclar e aprender mais. Outros transtornos encontrados a campo, eram relacionados a ordenhadeiras que possuíam transferidores, sendo principalmente queima do selo mecânico, além de problemas na caixa de comando. Por meio do acompanhamento das manutenções e revisões em fazendas leiteiras, foi possível entender que a maioria dos transtornos encontrados a campo, eram gerados por falta de cuidados e falta de higiene com a máquina (Figura 3), além da falta de revisão com as mesmas. Figura 3. Cano responsável pela distribuição do vácuo para o sistema apresentando resíduos de leite causado pela falta de higienização correta do sistema. Fonte: Arquivo pessoal, 2014.
25 3.2.4 Conserto de pulsadores, bombas de vácuo, medidores e transferidores de leite na sede da empresa Durante o tempo de permanência na sede da empresa, era acompanhado os serviços de conserto de pulsadores, bombas de vácuo, medidores e transferidores de leite. Geralmente em pulsadores, verificava-se o acúmulo de sujidades e leite residual (Figura 4). A Figura 4. Pulsador apresentando sujidades e leite residual (A). Pulsador higienizado pelo colaborador da empresa (B). Fonte: Arquivo pessoal, 2014. B
26 A falta de manutenção e higiene dos pulsadores também gerava bastante problemas relacionados a junta da base de comando (Figura 5), além de problemas nos diafragmas grande e pequeno. Figura 5. Junta da base de comando de um pulsador apresentando sujidades. Fonte: Arquivo pessoal, 2014. Em relação as bombas de vácuos, os principais problemas que foram encontrados e resolvidos, eram provindos de entrada de água ou leite no mesmo, o que causava a quebra das palhetas, ou empenamento do rotor. Além de problemas relacionados a o uso de óleos lubrificantes de procedência ruim ou qualidade inferior, o que causava a parada do funcionamento da bomba. Quanto aos medidores de leite, os principais problemas encontrados para conserto eram também relacionados a falta de higiene, que causava ressecamento dos materiais de composição de borracha, o que gerava perda de vácuo, além de ser um vetor de contaminação.
27 Para os transferidores de leite, verificou-se bastante, durante o estágio, a queima do selo mecânico (Figura 6) e queima do motor. Figura 6: Selo mecânico com bastante sujidade e resíduos de leite, ocasionando queima do mesmo. Fonte: Arquivo pessoal, 2014. Foi constatado que a falta de higiene e manutenção na ordenha era responsável por quase todos os casos encontrados no momento de conserto e reparos, sendo que estes poderiam ser evitados caso os produtores e seus funcionários se atentassem a essa parte crucial da produção. 3.2.5 Acompanhamento da qualidade do leite antes e após a manutenção da ordenhadeira Durante o estágio foi possível ainda realizar o acompanhamento da qualidade do leite produzido em uma propriedade localizada na cidade de Bela
28 Vista de Goiás/GO, em que o produtor realizou análise do leite antes e após os serviços de manutenção e limpeza da ordenhadeira mecânica. A fazenda trabalhava com a produção de leite como sendo sua principal atividade. Contava com quarenta vacas mestiças com ¾ Holandês, ordenhadas duas vezes ao dia, com uma produção total de 400 litros de leite por dia, sendo uma média de dez litros vaca/dia. Nessa fazenda era o próprio produtor que realizava os trabalhos diários no campo, inclusive a ordenha. O produtor realizava o manejo de ordenha de forma incorreta, sem os devidos cuidados na realização do pré e pós dipping; utilizava os produtos de limpeza da ordenha de forma errada, e não se atentava à importância da manutenção da ordenhadeira. Foi realizada uma análise das teteiras da ordenhadeira em questão e constatou-se rachaduras e bastante presença de resíduos de leite nestas, além da capacidade de massagear o teto estar diminuída, o que gera desconforto para o animal, ocasionando mais leite residual no úbere. O produtor realizou uma análise do leite antes de solicitar o serviço de manutenção da ordenhadeira (mês de abril de 2014) e como resultado dessa análise obteve-se o nível de CCS de 6515 (x1000 células/ml) e CBT de 1620 (x1000 UFC/mL). Esses valores indicam um leite pobre quanto à qualidade microbiológica e fora dos padrões exigidos pela IN 62. O produtor requisitou os serviços de manutenção e limpeza da ordenha, sendo realizado a troca das teteiras, mangueiras e dos produtos para limpeza (recomendada a troca pois os produtos que eram utilizados eram de qualidade inferior). Foram realizadas a regulagem dos pulsadores, da bomba de vácuo, além de uma limpeza geral em todo o sistema. Também foi ministrado ao produtor um ensinamento e treinamento para se realizar uma ordenha de forma correta, demonstrando como se utilizar os produtos de forma correta e na quantidade certa. Uma orientação repassada ao produtor para melhorar a higiene geral da ordenha, foi a utilização de um sanitizante 30 minutos antes da ordenha durante uma semana, para garantir uma sanitização eficiente de todo o sistema.