Orçamento Público e Financiamento da Saúde. Sérgio Francisco Piola Ipea

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Transcrição:

Orçamento Público e Financiamento da Saúde Sérgio Francisco Piola Ipea São Paulo, 7 de junho de 2010

Cinco pontos importantes 1. Insuficiência de recursos para a saúde pública não é recente; 2. Gastos do SUS cresceram após a EC 29/2000 - esforço de Estados e Municípios maior; 3. Gastos federais com o SUS cresceram menos que as receitas correntes federais; 4. Por que, apesar do crescimento, os recursos atuais ainda não são suficientes? 5. A regulamentação da EC 29 pode ser a solução?

O SUS nasceu com problemas de financiamento Desde sua criação, o SUS sofre de insuficiência de recursos: o ADCT nunca foi cumprido; Em 1993 deixou de contar com os recursos da Contribuição sobre Folha de Salário; Em 1997 a CPMF é criada, mas há substituição de fontes; Em 2000 é aprovada a EC 29 aumentam os recursos do SUS, porém são muitas as perdas de recursos em função da não regulamentação da Emenda; Ao mesmo tempo, as responsabilidades do sistema aumentaram (maior cobertura, maior elenco de serviços).

Os recursos do SUS cresceram com a Emenda Constitucional 29/2000 Passaram de 2,89% do PIB em 2000 para 3,65% do PIB em 2008 (+0,76 p.p.); A participação de Estados e Municípios cresceu de 40,2% para 54,1% do gasto do SUS entre 2000 e 2008; No entanto, o valor total (3,65% do PIB, em 2008) ainda é insuficiente para atender responsabilidades do SUS.

Gasto do SUS como % do PIB, 2000-2008 Participação do gasto total das três esferas em ASPS no PIB 4,00% % 3,50% 3,00% 2,89% 3,07% 3,26% 3,17% 3,34% 3,51% 3,58% 3,54% 3,65% 2,50% 2,00% 1,50% 1,00% 0,50% 0,00% 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: SPO/MS e SIOPS/MS Gasto ASPS / PIB

Evolução real do gasto per capita do SUS (três esferas) - 2000 a 2008 Deflacionado pela média anual do IPCA de 2009 700,00 R$ 600,00 500,00 400,00 360,13 390,71 427,35 410,88 458,63 491,50 525,73 556,98 606,74 300,00 200,00 100,00-2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: SPO/MS e SIOPS/MS Gasto ASPS / pop

Gastos federais com o SUS versus Receitas Correntes Brutas - RCB Os gastos federais com ações e serviços públicos de saúde (SUS) diminuíram em relação às receitas correntes brutas da União: Representaram, em média, 8,37% da RCB no período 1995 a 2001; Reduziram, no período de 2002 a 2009, para 7,1% da RCB, na média.

Os gastos federais em ASPS: crescimento inferior à RCB Gasto federal em ASPS (incluindo FCEP), como percentual da RCB 1995 a 2010 10,00% 9,64% 9,50% 9,00% 8,82% 8,50% 8,42% 8,00% 7,91% 8,06% 8,17% 7,50% 7,61% 7,41% 7,33% 7,51% 7,00% 7,07% 7,06% 6,98% 6,95% 6,66% 6,82% 6,50% 6,00% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: SPO/MS e STN Nota: Os valores de 2010 referem-se à previsão atualizada de receita e despesa. % Despesa ASPS (com FCEP) / RCB

Por que os recursos do SUS ainda são insuficientes? Os gastos públicos em países que possuem sistemas de saúde com cobertura universal correspondem, em média, a 6,5% do PIB ou 70% do gasto total; No Brasil, gasto do SUS é inferior a 3,7% do PIB, corresponde a menos de 45% do gasto total (8,4% do PIB IBGE, 2009 e OMS, 2010);.

Gasto Total e Gasto Público como proporção do PIB (WHO, 2010) Países selecionados Brasil Austrália Reino Unido 3,5 8,4 EUA Canadá Noruega 15,7 Gasto Público Gasto Total Alemanha França 8,7 0,0 4,0 8,0 12,0 16,0 20,0

Por que o SUS precisa de mais recursos? Reduzir as desigualdades de acesso a serviços; Manter o atendimento integral (regulado); Ademais, os gastos inevitavelmente tendem a aumentar por fatores: - demográficos, - epidemiológicos, - tecnológicos, e - comportamentais.

Regulamentação da EC 29 seria a solução? A não regulamentação da EC 29, pendente desde 2003, provoca perdas para o financiamento do SUS; Se todos os Estados cumprissem ter-se-ia, no mínimo, mais R$ 2 bilhões ao ano para o SUS (Siops/MS). No governo federal também existem questões que precisam ser reguladas para evitar perdas ;

Regulamentação da EC 29 seria a solução? Projeto iniciais PLP 01/03 e PLS 121/07 aumentavam a participação da federal (8,5% a 10% da RCB); Em 2009 (8,5%) dariam R$ 65,8 bi R$ 7,5 bi a mais do aplicado (R$ 58,3 bi); Substitutivo PLP 306-B cria CSS, mas faz concessões: novo prazo para Estados; retira contribuição estadual ao Fundeb da base de cálculo; A regulamentação que só corrija os vazamentos ajuda, mas é insuficiente.

Obrigado! sergio.piola@ipea.gov.br

% do PIB Gasto Público na Política Social Proporção do PIB 25 21,9 20 19,0 19,2 15 13,9 13,3 10 5 0 1980 1985 1990 1995 2005 Fontes: Para 1980,1985 e 1990: Médici e Maciel (1996); Para 1995: Fernandes et alli (1998); 2005: IPEA

Gasto Público na Política Social, por Áreas de atuação Proporção do PIB 12,0 11,3 10,0 8,0 6,0 5,9 4,0 2,0 0,0 Previdência Social (RGPS+RPPS) 2,7 4,1 Educação e Cultura 2,3 Saúde 3,3 1,9 0,8 Habitação e Urbanismo 0,2 1,0 Assistência Social 0,0 0,6 Emprego e Defesa Trabalhador 0,7 0,3 0,4 0,1 Saneamento Outros Fontes: 1980: Médici e Maciel (1996); 2005: IPEA 1980 2005

Evolução real do gasto em ASPS das três esferas 2000 a 2008 Deflacionado pela média anual do IPCA de 2009 R$ bilhões Evolução real do gasto em ASPS das 3 esferas - 2000 a 2008 (deflacionado pema média anual de 2009 do IPCA) 120,00 115,05 100,00 97,56 104,51 90,13 80,00 75,34 73,44 83,06 67,91 60,00 61,68 40,00 20,00 36,88 13,36 11,44 38,12 38,69 37,06 15,76 19,88 19,71 14,03 16,77 16,67 44,46 41,83 25,04 20,97 20,26 20,63 46,81 28,00 22,74 49,11 30,39 25,01 51,05 34,70 29,29-2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte: SPO/MS e SIOPS/MS Federal Estadual Municipal Total