A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INDUSTRIAL



Documentos relacionados
FALTA DE TRABALHADOR QUALIFICADO NA INDÚSTRIA. Falta de trabalhador qualificado reduz a competitividade da indústria

PLANO DE ENSINO DO ANO LETIVO DE 2011

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

CAPÍTULO 10 CONCORRÊNCIA IMPERFEITA. Introdução

Ponto de partida para o estudo da organização industrial. CT determinante das tomadas de decisões das empresas.

Como melhorar a gestão da sua empresa?

CIÊNCIAS CONTÁBEIS. A importância da profissão contábil para o mundo dos negócios

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

CURSO DE DIREITO DA CONCORRÊNCIA E REGULAÇÃO

inclinada, o inverso da elasticidade se aproxima de zero e o poder de monopólio da empresa diminui. Logo, desde que a curva de demanda da empresa não

Escolha os melhores caminhos para sua empresa

SIMULAÇÃO DE GESTÃO EMPRESARIAL

INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 1.1

Prof. Marcopolo Marinho

Em meu entendimento, ela foi abaixo das expectativas. Prova fácil, cobrando conceitos básicos de Microeconomia, sem muita sofisticação.

EMENTA / PROGRAMA DE DISCIPLINA. ANO / SEMESTRE LETIVO Administração Economia I ADM h 2º

Princípios de Finanças

Legislação aplicada às comunicações

MANUTENÇÃO: VANTAGENS E DESVANTAGENS

Quais estratégias de crédito e cobranças são necessárias para controlar e reduzir a inadimplência dos clientes, na Agroveterinária Santa Fé?

Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação Departamento de Ciência da

Prof. Gustavo Boudoux

Capítulo 3. Avaliação das capacidades internas de uma empresa

A Análise IS-LM: Uma visão Geral

Unidade III GESTÃO EMPRESARIAL. Prof. Roberto Almeida

Análise do Ambiente estudo aprofundado

Desenvolvimento Territorial a partir de sistemas produtivos locais como modalidade de Política Industrial no Brasil

A NATUREZA DA FIRMA (1937)

Aula 2 Contextualização

Estratégias em Tecnologia da Informação. Estratégias e Mudanças

OS EFEITOS DOS CUSTOS NA INDÚSTRIA

COMO TORNAR-SE UM FRANQUEADOR

A HISTÓRIA DO PENSAMENTO MICROECONÔMICO. BIELSCHOWSKY, Pablo 1. CUSTÓDIO, Marcos da Cunha 2

Mercados Eficientes e Circuitos de Financiamento

UWU CONSULTING - SABE QUAL A MARGEM DE LUCRO DA SUA EMPRESA? 2

Risco na medida certa

Aspectos Sociais de Informática. Simulação Industrial - SIND

Planejamento Estratégico

Unidade IV. A necessidade de capital de giro é a chave para a administração financeira de uma empresa (Matarazzo, 2008).

Princípios de Finanças

Como organizar um processo de planejamento estratégico

"Gestão Contábil para micro e. pequenas empresas: tomada

CAPÍTULO 2. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS, IMPOSTOS, e FLUXO DE CAIXA. CONCEITOS PARA REVISÃO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA PROGRAMA DE ENSINO

Gestão do Fluxo de Caixa em Épocas de Crise

Contabilidade financeira e orçamentária I

CAPÍTULO 1 - CONTABILIDADE E GESTÃO EMPRESARIAL A CONTROLADORIA

GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS EM SAÚDE. Os custos das instituições

Como Investir em Ações Eduardo Alves da Costa

What Are the Questions?

Universidade de Brasília Faculdade de Ciência da Informação Profa. Lillian Alvares

Cód. Disciplina Período Créditos Carga Horária

INDICADORES FINANCEIROS NA TOMADA DE DECISÕES GERENCIAIS

Modelo para elaboração do Plano de Negócios

CUSTOS DA QUALIDADE EM METALURGICAS DO SEGMENTOS DE ELEVADORES PARA OBRAS CÍVIS - ESTUDO DE CASO

CMg Q P RT P = RMg CT CF = 100. CMg

POLÍTICA DE SEGURANÇA POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM-ESTAR NO TRABALHO

ANEXO 1: Formato Recomendado de Planos de Negócios - Deve ter entre 30 e 50 páginas

1. Introdução. 1.1 Apresentação

Estratégia de Operações - Modelos de Formulação - Jonas Lucio Maia

1 O Problema 1.1. Introdução

Principais Modelos de Negócios entre Startups e Grandes Empresas

Capítulo 1 -Ambiente em Mutação dos Negócios

ESTRATÉGIAS DE NÍVEL EMPRESARIAL. Administração Estratégica Conceitos. Autores Peter Wright Mark J. Kroll John Parnell

Marketing. Aula 04. Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho

POLÍTICA DA QUALIDADE POLÍTICA AMBIENTAL POLÍTICA DE SEGURANÇA, SAÚDE E BEM ESTAR NO TRABALHO

Prof: Carlos Alberto

Pindyck & Rubinfeld, Capítulo 11, Determinação de Preços :: REVISÃO 1. Suponha que uma empresa possa praticar uma perfeita discriminação de preços de

CUMPRIMENTO DOS PRINCIPIOS DE BOM GOVERNO DAS EMPRESAS DO SEE

Conteúdo. 1. Origens e Surgimento. Origens e Surgimento

Curso Superior de Tecnologia em Gestão Financeira. Conteúdo Programático. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DE CURTO PRAZO / 100h

GERENCIAMENTO DE PORTFÓLIO

TRABALHOS TÉCNICOS Coordenação de Documentação e Informação INOVAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: UMA ANÁLISE BASEADA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO

Negócios Internacionais

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

Uma análise econômica do seguro-saúde Francisco Galiza Outubro/2005

CUSTOS NA PEQUENA INDÚSTRIA

Market Access e a nova modelagem de Negócios da Indústria Farmacêutica no Brasil.

Estratégia Empresarial. Capítulo 6 Integração Vertical. João Pedro Couto

FUNDAMENTOS DA ECONOMIA

6 Conclusão Conclusão Resultados finais Resultados diretos

DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS E PLANOS DE MARKETING. Prof. Esp. Lucas Cruz

Exercícios sobre Competindo com a Tecnologia da Informação

6. Planejamento do Negócio

GESTÃO DE PROJETOS. Profa. Me. Giuliana Elisa dos Santos INTRODUÇÃO. CAPÍTULO 1 PLT 692 A natureza de um Projeto (Keeling, Ralph) Parte I

Crescimento em longo prazo

MARKETING INTERNACIONAL

MASTER IN PROJECT MANAGEMENT

Economia Geral e Regional. Professora: Julianna Carvalho

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE CASE 31º TOP DE MARKETING ADVB/RS

A Organização orientada pela demanda. Preparando o ambiente para o Drummer APS

Vamos usar a seguinte definição: Aumento da taxa de cambio = Desvalorização. Taxa de cambio real : é o preço relativo dos bens em dois paises.

Abraçando as diretrizes do Plano Nacional de Extensão Universitária, a Faculdade Luciano Feijão comunga as três funções primordiais e estratégicas

Superando desafios em Centros de Distribuição com Voice Picking. Rodrigo Bacelar ID Logistics Paula Saldanha Vocollect

Também chamada Teoria de Preços, estuda o comportamento dos consumidores, produtores e o mercado onde estes interagem.

Teoria da Decisão MÉTODOS QUANTITATIVOS DE GESTÃO

Gestão da Qualidade em Projetos

Poder de Mercado e Eficiência em Fusões & Aquisições nos Setores de Saúde Suplementar. Arthur Barrionuevo arthur.barrionuevo@fgv.

Estratégia de negócio, segmentação e posicionamento Prof. Dr. Raul Amaral

Gerenciamento de Vendas em Ambientes de Alta Competitividade. Prof. Dr. Emerson Wagner Mainardes

Transcrição:

A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA INDUSTRIAL Pablo Bielschowsky 1 RESUMO O presente artigo resgata a evolução da teoria industrial desde Marshall, passando pelas teorias de formação de preços em oligopólio e pela teoria da firma, até a formulação da teoria neoschumpeteriana. Evidencia-se como a determinação dos preços de equilíbrio de Marshall será alvo de críticas que resultarão nos modelos de Estrutura-Conduta-Desempenho (ECD). Paralelamente, as críticas ao principio da maximização do lucro de Marshall resultam na formulação da teoria da firma. A corrente neoschumpeteriana se desenvolve a partir da crítica aos modelos de ECD, evidenciando a interdependência entre a estrutura e a conduta, e por meio da crítica às teorias gerenciais, evidenciando o papel das rotinas na tomada de decisões. Deste modo, os autores neoschumpeterianos substituem o conceito de equilíbrio estático pela noção de trajetória da Indústria. Palavras-chave: Inovação, Economia Industrial, Microeconomia. 1 Economista pela UFRJ, Mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ e professor no curso de administração na Universidade Castelo Branco. 1

1 INTRODUÇÃO Durante a década de 1990, a indústria brasileira foi exposta a concorrência internacional. A abertura econômica resultou em um intenso debate sobre a competitividade da indústria brasileira. Os adeptos da abertura, a partir dos modelos neoclássicos de Produtividade dos Fatores, defendem que a abertura resultaria na alocação mais eficiente dos fatores de produção, promovendo o crescimento econômico. Por outro lado, os críticos da abertura afirmavam que esta resultaria no sucateamento da indústria brasileira. Os autores neoschumpeterianos se inserem neste debate através da análise da competitividade da indústria brasileira fundamentada teoricamente em uma concepção própria da evolução da economia industrial. Para dar sustentação teórica ao debate, estes autores desenvolvem uma análise da história da Economia Industrial, tendo como ponto de chegada a teoria neoschumpeteriana. O presente artigo busca responder ao seguinte problema: como os autores neoschumpeterianos brasileiros concebem a evolução da economia industrial desde Marshall até a escola neocshumpeteriana? O equilíbrio parcial de Marshall é o ponto de partida da Economia Industrial. A teoria do mercado busca explicar o equilíbrio de preços em oligopólio. As teorias da firma criticam a suposição de maximização do lucro. Os modelos neoschumpeterianos substituem o conceito de equilíbrio pelo conceito de trajetória. O objetivo geral do presente artigo é descrever a concepção da evolução da Economia Industrial defendida pelos neoschumpeterianos brasileiros. O modelo de pesquisa, quanto aos objetivos de pesquisa, foi o de pesquisa exploratória. Quanto aos procedimentos técnicos, a pesquisa adota o modelo de pesquisa bibliográfica entre os autores neoschumpeterianos brasileiros. 2 O EQUILÍBRIO PARCIAL EM CONCORRÊNCIA PERFEITA A teoria do equilíbrio parcial de Marshall é o ponto de partida da moderna teoria econômica do mercado e da firma. A partir de suposições quanto às preferências destes proprietários- 2

consumidores e da suposição de mercado competitivo, Marshall conclui que, embora a curva de demanda da indústria seja negativamente inclinada, a curva de demanda da firma é horizontal. Por outro lado, a partir da suposição de que firmas maximizam o lucro, Marshall analisa a curva de oferta da indústria, contrapondo-a à curva de demanda da indústria para determinar o ponto de equilíbrio da indústria. A partir da suposição de que as firmas enfrentam custos marginais crescentes no curto prazo, em virtude das limitações à substituição dos fatores, Marshall conclui que a indústria possui uma curva de oferta crescente, de modo que o equilíbrio no curto prazo é atingido quando esta curva de oferta crescente se cruza com a curva de demanda descrente da indústria. No longo prazo, a partir da suposição de que a curva de custo médio das firmas tem forma de U, em virtude do predomínio das economias de escala abaixo do ponto ótimo e do predomínio das deseconomias de escala (internas e externas) além do ponto ótimo, Marshall afirma que o crescimento da oferta da indústria se realiza pela entrada de novas firmas até que cada firma possua o tamanho ótimo e obtenha apenas o lucro normal. Portanto, a curva de oferta da indústria é horizontal no longo prazo, e o equilíbrio de longo prazo da indústria se estabelece quando esta curva de oferta se cruza com a curva de demanda decrescente da indústria (Tigre, 1998; Possas, 1985). 3 A FORMAÇÃO DOS PREÇOS EM OLIGOPÓLIO A crítica ao modelo de Marshall realizada por Sraffa (1926) foi uma etapa crucial no desenvolvimento da economia industrial. Para Sraffa, as firmas podem apresentar retornos crescentes de escala no curto prazo mesmo com limitações a substituição de fatores, e apresentam retornos crescentes de escala no longo prazo em todos os níveis relevantes de produção. Os retornos crescentes de escala resultam em curvas de oferta decrescente de curto e longo prazos, inviabilizando a determinação do equilíbrio. De outro lado, Sraffa acentua as novas características da concorrência entre as firmas geradas pela concentração da produção e pelo advento do Marketing, ao mostrar que as firmas precisam reduzir os preços ou assumir custos comerciais para aumentar as vendas, e por isso enfrentam curvas de demanda negativamente inclinadas. (POSSAS, 1985). Chamberlin e Robinson explicam a determinação do equilíbrio de longo prazo com retornos crescentes de escala e curva de demanda da firma negativamente inclinada, incorporando as 3

críticas de Sraffa ao arcabouço Marshalliano. Chamberlin supõe que as firmas produzem produtos diferenciados, o que resulta em uma curva de demanda negativamente inclinada. No entanto, o Chamberlin mantém as suposições de Marshall quanto ao grande número de firmas, livre entrada e uniformidade da demanda e dos custos entre as empresas, que refletem uma estrutura de mercado concorrencial. No curto prazo, as firmas maximizam lucro quando igualam o Custo Marginal crescente à receita marginal, o que permite a obtenção de lucro econômico. No longo prazo, o lucro econômico provoca entrada de novas empresas na indústria, deslocando a curva de demanda de cada empresa até o nível de equilíbrio, quando o Custo Médio é tangente à curva de demanda. Portanto, no longo prazo, as empresas não obtém lucro econômico, e possuem retornos crescentes de escala as firmas operam na parte decrescente da curva de custo médio, logo, o custo médio é maior que o Custo Médio Mínimo devido a economias de escala não realizadas (produção em escala subótima) (LOSEKAN, 2002; POSSAS, 1985). Os modelos de concorrência imperfeita de Robinson e Chamberlin foram alvo de diversas críticas que destacavam a interdependência entre as empresas na determinação dos preços. Estas críticas resultaram na formulação dos modelos de Hall e Hitch. Opondo-se à suposição de grande número de firmas uniformes e independentes na indústria, Hall e Hitch mostram como interdependência entre as firmas resulta na determinação dos preços pelo Mark-up sobre os custos totais. Os autores afirmam que a rivalidade pode resultar na ruína das empresas se elas iniciarem uma guerra de preços. Por isso, as firmas em oligopólio adotam métodos convencionais de determinação de preços, como forma de realizar a coordenação, evitando a perda de rentabilidade. O principal método de determinação de preços é a liderança em preços pela empresa líder, que fixa seus preços a partir dos custos diretos, acrescidos de uma margem (Mark-up) para cobrir os custos indiretos e os lucros. As demais empresas do mercado seguem o preço fixado pela empresa líder, evitando a guerra de preços. O princípio do custo total se opõe a suposições básicas da teoria Marshalliana, o custo marginal e a receita marginal não têm papel relevante na determinação dos preços e o objetivo das empresas no curto prazo não é a maximização do lucro (POSSAS, 1985). O princípio do custo total serve de ponto de partida para a teoria do preço-limite de Bain (1956) e Sylos. O princípio do custo total afirma que em mercados concentrados as empresas praticam conluio por liderança de preços, determinando os preços pelo Mark-up sobre os custos totais. Bain (1956) irá se questionar porque em mercados concentrados as empresas podem praticar 4

preços superiores aos preços competitivos. Para Bain as circunstâncias que caracterizam as vantagens das firmas estabelecidas ante as entrantes definem as barreiras a entrada. As estruturas de mercado caracterizadas pela existência de barreiras à entrada permitem um maior grau de coordenação da conduta dos agentes (por acordos tácitos, liderança de preços, cartelização...) e menor exposição à concorrência potencial, resultando no desempenho dos preços (margem de lucro ou mark-up sobre os custos) superior a média. Bain destaca três fontes de barreiras à entrada, as vantagens absolutas de custo decorrentes do controle de fatores e as vantagens de diferenciação de produtos, que resultam em custos maiores para as entrantes, e as economias de escala. Para o autor, a fonte mais importante de barreiras à entrada são as economias de escala, pois decorrem de características estruturais do mercado. Supondo Escala Mínima Eficiente (EME) grande ante o tamanho do mercado, o grande aumento da oferta com a entrada em EME obriga as empresas estabelecidas a reduzir sua produção acomodando o entrante ou manter sua produção dando início a uma guerra de preços. Se as entrantes enfrentam aumento dos custos em escala inferior a EME e acreditam que a entrada com EME irá provocar uma guerra de preços, não ocorrerão entradas (Kupfer, 2002; Possas, 1985). 4 TEORIAS DA FIRMA O desenvolvimento da teoria da firma ocorre paralelamente ao desenvolvimento da teoria do mercado descrita acima. As teorias da firma podem ser divididas em teorias gerenciais e comportamentais (Feijó e Valente, 2004; Possas, 1985). Afirmam que as teorias gerenciais analisam as conseqüências da separação entre propriedade e controle sobre os objetivos da empresa. No modelo de Baumol, os gerentes maximizam o crescimento da empresa, aceitando uma queda dos lucros em virtude da redução dos preços e aumento dos gastos com vendas, sujeitos a restrições de lucro mínimo que permitam o autofinanciamento e condições favoráveis para o financiamento externo. No modelo de Williamson, os gerentes maximizam seus salários, segurança, o prestígio e despesas discricionárias se afastando da maximização do lucro, mas estão sujeitos a restrições de lucro mínimo para permanecerem no cargo. No modelo de Marris, os gerentes maximizam a taxa de crescimento da 5

empresa (das vendas e dos ativos), aceitando uma queda da taxa de lucro em virtude de custos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e publicidade e aumento dos custos gerenciais por dificuldades de coordenação e inexperiência, mas estão sujeitos a restrições de lucro mínimo que permitam manter o preço das ações em um nível que evite uma tomada hostil da empresa (takeover) e manter a segurança financeira da empresa garantindo o acesso a financiamento externo com baixo custo. Por outro lado, os modelos comportamentais enfatizam o processo de decisão. Segundo Simon, em condições de incerteza, as firmas não sabem se estão efetivamente maximizando lucros, mas alcançam um nível satisfatório de aspirações quanto ao seu desempenho. Cyerth e Marth ressaltam a complexidade na determinação dos objetivos da firma, definidos por meio da solução de conflitos entre os diversos grupos de interesses na firma: gerentes, trabalhadores, acionistas, consumidores etc. 5 A TEORIA NEOSCHUMPETERIANA A teoria neoschumpeteriana decorre da crítica de Dosi aos modelos de Estrutura-Conduta- Desempenho (ECD) e da crítica de Nelson e Winter a teoria da Firma, que resultou na substituição do conceito de equilíbrio pelo conceito de trajetória (Tigre, 1998; Possas, 2002; Kupfer, 1996). Dosi parte da crítica aos modelos de ECD, evidenciando a interdependência entre estrutura e conduta na medida em que a estrutura de mercado preexistente afeta a conduta (estratégia) das empresas, mas esta conduta (quanto à inovação, investimentos, preços) também afeta a estrutura dos mercados criando e destruindo monopólios temporários. A interação entre conduta e estrutura determina a dinâmica da indústria. Deste modo, Dosi evidencia que a mudança da estrutura do mercado é endógena ao processo concorrencial. Uma vez que o esforço de diferenciação (em produtos, processos...) orienta as estratégias de inovação que modificam continuamente a estrutura dos mercados, a determinação estática do equilíbrio de mercado tornase impossível. Por outro lado, a difusão das inovações também não elimina as assimetrias entre as empresas. Deste modo, a dinâmica da estrutura do mercado é potencialmente caótica, o que 6

inviabilizaria a tomada de decisões (conduta) pelas empresas. No entanto, para Dosi a trajetória tecnológica é orientada por um paradigma tecnológico, um método de solução de problemas que orienta as estratégias de inovação das empresas. Este paradigma tecnológico confere certa regularidade à trajetória do progresso técnico implementada pelas empresas, e assim certa regularidade à dinâmica da estrutura do mercado. Nelson e Winter partem do modelo Comportamental de Simon e buscam mostrar como a adoção de rotinas permite a superação da indefinição na tomada de decisões. Para os autores, as empresas definem estratégias de inovações (estratégias, rotinas, produtos, tecnologias) para se diferenciar das demais. Cabe ao mercado selecionar quais estratégias de diferenciação serão bem sucedidas. A incerteza quanto à seleção pelo mercado poderia inviabilizar a tomada de decisões, para a definição de uma estratégia. No entanto, os interesses econômicos dos inovadores, as capacitações e as variáveis institucionais resultam em um conjunto de rotinas, que orientam a tomada de decisões (definição das estratégias), e assim determinam a trajetória tecnológica. 6 CONCLUSÃO O equilíbrio parcial Marshalliano é o ponto de partida da teoria do mercado e da teoria da firma na Economia Industrial. As críticas de Sraffa ao modelo de Marshall resultam no modelo de Chamberlin, e as críticas ao modelo de Chaberlin resultaram no desenvolvimento do modelo de Custo Total. Os modelos de ECD buscam explicar a capacidade das empresas de fixar preços acima do preço concorrencial pela existência de barreiras à entrada. Por outro lado, as teorias gerenciais da firma mostram como as empresas deixam de maximizar lucro e passam a buscar o crescimento da empresa e os objetivos dos gerentes, sujeitas a restrições de lucro mínimo. Enquanto os modelos comportamentais analisam a tomada de decisões em condições de incerteza e como soluções de conflitos entre os Steakholders da firma. Os modelos neoschumpeterianos são o resultado da crítica de Dosi aos modelos de ECD e da crítica de Nelson e Winter aos modelos gerenciais, que substituem o conceito de equilíbrio pelo conceito de trajetória. 7

REFERÊNCIAS FEIJÓ, C.A. & VALENTE, E. A firma na teoria econômica e como unidade de investigação estatística evolução nas conceituações. Revista de Economia contemporânea. Rio de Janeiro, 8(2): 351-376, jul./dez. 2004 KUPFER, D. Uma abordagem neo-schumpeteriana da competitividade industrial. Ensaios FEE. Ano 17. no. 1. 1996. pp.355-72.. Barreiras estruturais à entrada. In: KUPFER, D. & HASENCLEVER, L. Economia industrial. Rio de Janeiro: Campus, 2002..; FERRAZ, J.C.; HAGUENAUER, L. Made in Brazil. Rio de Janeiro: Campus, 1997. KUPFER, D.; FERRAZ, J.C.; e IOOTTY, Mariana. Competitividad industrial em Brasil: 10 años después de la liberalización. Revista de la Cepal. no. 82, abril de 2004, pp. 91-119. LOSEKAN, L. & GUTIERREZ, M. Diferenciação de produtos. In: KUPFER, D. & HASENCLEVER, L. Economia industrial. Rio de Janeiro: Campus, 2002. POSSAS, M.L. Estruturas de Mercado em oligopólio. São Paulo: Hucitec, 1985.. Competitividade: fatores sistêmicos e política industrial- implicações para o Brasil. In: CASTRO, A.B.; POSSAS, M.L.; PROENÇA. A. Estratégias empresariais na industria brasileira. Rio de Janeiro: editora Forense Universitária, 1996.. Concorrência schumpeteriana. In: KUPFER, D. & HASENCLEVER, L. Economia industrial. Rio de Janeiro: Campus, 2002. TIGRE, P.B. Inovação e teorias da firma em três paradigmas. Revista de economia contemporânea. No. 3, Jan.-Jun. 1998. 8