A PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA A PARTIR DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS 1 SCARABEL, Juceléia (PIBID/ CAPES - LÍNGUA PORTUGUESA- jmikelyscarabel@bol.com.br LOPES, Karla de Oliveira (PIBID/CAPES - LÍNGUA PORTUGUESA - karla.olivlopes@gmail.com LIMA, Letícia Muniz (PIBID/CAPES - LÍNGUA PORTUGUESA - lm.lima1994@gmail.com. 1 POLATO, Adriana Delmira Mendes (UNESPAR/FECILCAM) ampolato@gmail.com 2 FRANCO DE OLIVEIRA, Neil Armstrong (PIBID/CAPES - LÍNGUA PORTUGUESA - nafoliv@gmail.com 1 INTRODUÇÃO Muito vem se discutindo e estudando sobre a importância de se fazer reformulações no ensino de Língua Portuguesa, considerando as diversas carências dos alunos no uso da linguagem, conforme revelam exames de avaliação nacional, como o SAEB e o ENEM, por exemplo. Sabemos, também, que o ensino da língua materna, na maioria dos casos, ainda tem como objeto a gramática tradicionalista, que valoriza apenas o domínio de uma metalinguagem técnica e não o uso real da língua nas diversas situações sociais nas quais os alunos estão inseridos. Dessa forma, partindo do quadro teórico sociointeracional da linguagem, o qual é uma baliza aos objetivos do ensino de Língua Portuguesa preconizados nas propostas pedagógico-curriculares nacionais, como os PCN e DCE, este trabalho procura demonstrar a possibilidade de se efetivar uma práxis que toma os gêneros discursivos do campo 1 Professora colaboradora do subprojeto PIBID de Língua Portuguesa da UNESPAR/FECILCAM. 2 Professor coordenador do subprojeto PIBID de Língua Portuguesa da UNESPAR/FECILCAM.
jornalístico como objetos ensináveis para o desenvolvimento das capacidades linguísticas e discursivas dos alunos nos diversos contextos de interação social. Os gêneros jornalísticos configuram-se como uma importante e fundamental ferramenta de auxílio para os professores, visto que ocupam posição de grande destaque na sociedade globalizada atual que supervaloriza a informação. Reconhecendo os diversos gêneros textuais que estão presentes nas mídias e desenvolvendo uma leitura crítica sobre eles, os alunos enfim entenderão a língua como o principal meio de agir em sociedade. Conforme afirmou Bakhtin a língua passa a integrar a vida através de enunciados concretos (que a realizam); é igualmente através de enunciados concretos que a vida entra na língua.. Para Marcuschi, quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares. Assim sendo, o objetivo de tomar os gêneros jornalísticos como objeto de ensino e aprendizagem de língua na sala de aula não se restringe a fazer análises de suas particularidades linguísticas, tampouco de sua forma estrutural, mas de fornecer subsídios para os alunos desenvolverem o pensamento crítico e aprenderem como atuar responsivamente na sociedade por meio da linguagem, seja na modalidade oral ou escrita. 2 OS GÊNEROS TEXTUAS JORNALÍTICOS NA SALA DE AULA Segundo Bakhtin (1997), a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que se diferencia e se amplia à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. Assim sendo, no dia-a-dia, entramos em contato com diversos gêneros, específicos do ambiente em que estamos inseridos, o que torna necessário ter domínio, no mínimo, daqueles que tem maior circulação e relevância, como é o caso dos gêneros jornalísticos. Os gêneros jornalísticos são encontrados em diversos suportes, como jornais, revistas, sites da internet, por exemplo, buscando não só informar, mas também opinar. Estudar os
gêneros provenientes da esfera jornalística é uma grande possibilidade de mostrar aos alunos a língua em uso, para que percebam como é possível agir por meio da linguagem. No projeto de Iniciação à docência intitulado O ensino de Língua Portuguesa na escola básica a partir dos gêneros jornalísticos, efetivamente, alguns gêneros foram tomados como objeto para que se refletisse sobre sua função discursivo-social: O primeiro deles foi a notícia, gênero da categoria informativa, que tem a função de relatar fatos do cotidiano com imparcialidade e precisão, mas que em virtude da influência dos suportes de circulação pode apresentar conteúdo tendencioso. O trabalho com esse gênero favorece a reflexão sobre os limites entre a informação e a opinião, o que pode se dar quando o aluno é convidado a olhar para as condições de produção do texto e para suas implicações sociais. A notícia, também, se constitui como a base do diálogo para os outros textos do jornal, que, de certa forma, tem seus conteúdos relacionados a ela. O trabalho com a reportagem permite refletir sobre função social do gênero ao levar para o leitor informações aprofundadas sobre um determinado assunto, valendo-se de recursos imagéticos. Sendo a reportagem um gênero que se caracteriza pelo relato interpretativo, sua abordagem pode propiciar o desvelar da não neutralidade de seu conteúdo. Por sua vez, o trabalho com a entrevista, gênero que revela a opinião de alguma personalidade importante a respeito de um tema que está tendo destaque na mídia, permite a discussão sobre suas condições de produção do texto e favorece a reflexão sobre a possibilidade de haver influência dos suportes no momento da edição das falas do entrevistado. Em termos de escrita, o trabalho com a entrevista suscita discussões sobre as relações entre fala e escrita, oportunizado atividades de retextualização. O trabalho com a crítica, que é um gênero opinativo, leva a reflexão sobre a expressão de opiniões de um autor e sobre como elas podem influenciar na visão de mundo do leitor, em seus posicionamentos e vontades. Dessa forma, o gênero cumpre uma função importante dentro da esfera escolar, estimulando os alunos a se tornarem críticos, autônomos e pensantes diante dos conteúdos apreciativos. O trabalho com a crônica, gênero que cumpre a função social opinativa e de crítica a fatos sociais a partir de conteúdo veiculado na notícia, permite analisá-la como uma representação de experiências vividas, situadas no tempo, envolvendo a documentação e a
memorização de acontecimentos humanos, de maneira despretensiosa, poética, filosófica, divertida, mas sempre crítica. Com o artigo de opinião, que se constitui como um gênero discursivo opinativo, em que um articulista apresenta e defende sua opinião frente a um determinado tema real e geralmente polêmico, favorece-se a reflexão sobre como o autor busca, por meio da sustentação ou da refutação de outras opiniões, convencer e influenciar o leitor a aderir à posição defendida por ele. O trabalho com o editorial, gênero marcado pelo caráter argumentativo, opinativo e crítico permite analisar qual a opinião da empresa jornalística e como ela pode influenciar no conteúdo de outros textos do jornal. 3 METODOLOGIA No Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, no subprojeto de Língua Portuguesa, primeiramente os acadêmicos fizeram discussões teóricas a respeito das teorias de ensino e aprendizagem subjacentes à concepção interacionista de linguagem. À luz da teoria bakhtiniana e dos pressupostos da Linguística Aplicada, discutiu-se o ensino na perspectiva dos gêneros e a tomada dos gêneros jornalísticos como objetos ensináveis. Depois das discussões teóricas mais gerais, cada participante do projeto ficou responsável por organizar uma pesquisa mais aprofundada sobre um gênero específico para posteriormente socializá-la ao grupo a fim de receber contribuições. O próximo passo foi a elaboração de planos de aula e materiais didáticos, onde foram propostas atividades de leitura, escrita e análise linguística para cada gênero. Os materiais foram apresentados, rediscutidos coletivamente e posteriormente (re)configurados.
4 CONCLUSÃO Ao refletir sobre o trabalho com os gêneros jornalísticos, percebemos a grande possibilidade de levá-los às salas de aula como uma ferramenta ao ensino de Língua Portuguesa, oportunizando também o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos, de modo que eles aprendam não somente usar a língua, mas agir por meio dela. Do campo jornalístico provêm os gêneros que mais têm destaque na sociedade atual, e por meio deles é possível refletir o uso da língua em diversas situações, de acordo com um contexto específico de produção. Nesse contexto, pode ser feito o estudo das particularidades estruturais e linguísticas destes textos, mas de modo que a abordagem de aspectos gramaticais e estruturais sirva à produção de sentidos na leitura e na escrita, não sendo apenas esse o objetivo final do ensino de língua. 6 REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1997. BALTAR, M. Competência Discursiva e Gêneros Textuais: uma experiência com o jornal de sala de aula. 2. Ed. Caxias do Sul, RS: Educs, 2006. NASCIMENTO. Elvira Lopes. (org.). Gêneros Textuais: da didática das línguas aos objetos de ensino. São Carlos: Editora Claraluz, 2009. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs). Gêneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, p. 19-36, 2003.