A IMPORTÂNCIA DO GÊNERO RESENHA PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO
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- Victorio Fagundes Ribas
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1 A IMPORTÂNCIA DO GÊNERO RESENHA PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO Luiz Antonio Xavier Dias (GP Leitura e Ensino - CLCA UENP/CJ) 1 Introdução Este trabalho, que tem caráter bibliográfico, tem como objetivo analisar a recepção do gênero discursivo resenha, na esfera acadêmica, a guisa teórica é a concepção de gêneros discursivos de Bakhtin que são tipos relativamente estáveis de enunciados, ou seja, formas de textos criados pela sociedade, funcionando como mediadores entre o enunciador e o destinatário, que fundam a possibilidade de comunicação, além desses pressupostos traremos algumas contribuições do materialismo dialético que resgatam a importância do leitor crítico. Assim, através dessas concepções teóricas pretendemos expor a relevância desse gênero para a formação do leitor autônomo. 2 Os gêneros discursivos Para Bakhtin (2003), ao caracterizar os gêneros, diz que estes são tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN, 2003, p. 262) isto é, são formas de textos criados pela sociedade, que funcionam como mediadores entre o enunciador e o destinatário. Assim, cada esfera de utilização da língua, bem como cada campo de atividade elabora determinados tipos de textos que são relativamente estáveis. Isso quer dizer que novos gêneros podem surgir a qualquer momento, bem como alguns outros podem deixar de ser usados, ou podem sofrer modificações. Bakhtin (2003) já fazia menção à transmutação dos gêneros e à assimilação de um gênero por outro dando origem a novos gêneros. Além disso, é importante lembrar a concepção bakhtiniana de gêneros primários e secundários, observando suas especificações e particularidades. 51
2 a diferença essencial existente entre o gênero de discurso primário (simples) e o gênero de discurso secundário (complexo). Os gêneros secundários do discurso o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico, etc. - aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica. Durante o processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea.(bakhtin, 2003, p. 281) Além dos gêneros primários e secundários, Bakhtin define a caracterização do gênero discursivo, através de seu conteúdo temático, estilo e construção composicional. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação (BAKHTIN, 2003, p. 281) Nesse contexto, ainda define o que é gênero discursivo sendo qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso. Para Bakhtin (2003), o gênero discursivo possui três elementos que o definem: conteúdo temático, estilo linguístico e organização composicional, sendo que os dois primeiros são definidos pela enunciação e, por isso, podem ser variáveis, e o terceiro elemento, a estrutura composicional, é invariável, sendo o que caracteriza determinado gênero enquanto tal. Vale ressaltar, ainda, que esses três componentes do gênero discursivo estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado, isto é, um precisa do outro para acontecer e um sempre recorre ao outro. Assim sendo, seguindo a concepção de Perfeito (2005, 2010, p. 55,56) e Rojo (2005, p ) podemos afirmar que o gênero discursivo possui: contexto de produção - autor/enunciador, destinatário/interlocutor, finalidade, época e local de publicação e de circulação; Conteúdo temático: o que é que pode ser dizível nos textos pertencentes a um gênero. (BRASIL, 1998, p. 21) Construção composicional e linguística: a estrutura (o arranjo interno) de textos, pertencentes a um gênero. Marcas linguístico-enunciativas: recursos linguístico-expressivos do gênero e suas marcas enunciativas do produtor do texto. 52
3 Além disso, Rojo (2005, p ) assevera que os pesquisadores que adotam a perpectiva de gêneros do discurso partirão sempre de uma análise em detalhe dos aspectos sócio-históricos da situação enunciativa, privilegiando, a vontade enunciativa do locutor isto é, a finalidade, mas também e principalmente e, a partir desta análise, buscarão as marcas lingüísticas do texto, composição (gramática) estilo. Em Marxismo e Filosofia da Linguagem, de Bakhtin/Volochinov (1992) a discussão dos gêneros pode ser identificada nas três partes de que a obra é composta: na discussão da importância dos problemas da filosofia da linguagem para o marxismo em seu conjunto; na discussão do problema da natureza real dos fenômenos linguísticos; e no estudo do discurso citado como lugar para se observar o processo de apreensão ativa do discurso do outro. Em Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão, Marcuschi (2009) e em Gêneros Textuais e Ensino (2010) elabora uma abordagem diacrônica do surgimento dos gêneros do discurso e também sua funcionalidade para o mundo moderno, além disso assume a posição de interlocutor, faz uma importante subdivisão para as linhas de pesquisa teóricoprática sobre gênero e também sobre suas funcionalidades. Pela visão sóciointeracionista da linguagem, o texto produzido pelos alunos torna-se um ponto de mediação, a partir da visão de Vygotsky (1988), possibilita o estabelecimento de um processo de interação, sendo que esse elemento intermediário faz com que a relação do docente com o aluno deixe de ser direta e passe a ser mediada por esse elemento, iniciando-se a noção de escrita como trabalho, na concepção teórica eleita. Desse modo, professor e alunos passam a dialogar sobre o texto produzido, não mais como na concepção tradicional em que se dialogava com e sobre o aluno, deixando o texto como um produto apenas para atribuição de uma nota. 3 Gênero resenha Pertencente ao agrupamento da ordem do argumentar (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 61), o gênero resenha crítica, constitui-se um gênero discursivo da ordem do argumentar privilegiado para o aprendizado em nível Superior. É um gênero, da esfera acadêmica, que envolve a capacidade crítica de cada estudante envolvido, além de capacidade de discussão de problemas sociais controversos, marca pela sustentação, refutação e negociação na tomada de posição. 53
4 O gênero resenha crítica é um texto opinativo cuja finalidade é comentar criticamente algum objeto da indústria cultural. Pode ser um filme, um livro, um disco, um programa de TV etc. Acerca da importância da resenha acadêmica Machado (2004, p. 14) argumenta que esse gênero exige que outros textos que a ele pertençam tragam as informações centrais sobre seu contexto de produção e recepção, sua organização global, suas relações com outros textos etc. e que, além disso, tragam comentários do resenhista não apenas sobre os conteúdos, mas também sobre todos esses aspectos. Além disso, constatamos existem em meio acadêmico uma crença de que há uma capacidade geral parra a escrita, que, se bem desenvolvida, nos permitiria produzir de forma adequada texto de qualquer espécie. Outras vezes, acredita-se que o mero ensino da organização global mais comum do gênero seja suficiente para que o aluno chegue a um bom texto. Nessa perspectiva Machado (2004, p. 13) afirma que: Muitas pesquisas afirmam que o melhor dos escritores de ficção pode ficar paralisado diante da necessidade de ter que escrever um artigo científico para uma revista especializada em determinada área das ciências humanas, correndo até o risco de ver seu texto rejeitado, por não atender as normas que vigoram nessa comunidade científica. Além disso, a escolha gênero consiste em realizar uma elaboração específica de estudo teórico-prático, justifica-se pelo fato de que há estudiosos que afirmam que, Considerando a contribuição de Souza, Fialho e Otani (2007) a resenha é um texto acadêmico que examina e apresenta o conteúdo de obras prontas, podendo ser caracterizado como uma pesquisa exploratória sobre uma determinada obra literária, filosófica ou científica bem como deve ser visto como instrumento que ajuda a pensar e, também, por possuir marcas linguísticoenunciativas que corroboram na construção do sentido do texto e na própria caracterização do gênero, uma vez que a seleção de elementos (aspectos lexicais, gramaticais e textuais) são significativos na produção de sentidos no processo de leitura. Ao se trabalhar com esse gênero em sala de aula é importante que o professor informar aos alunos que esse gênero discursivo é produzido por alguém especializado no assunto. Normalmente, é um jornalista especializado em cultura. Com essa informação, o aluno deve perceber que não se trata de uma mera opinião; trata-se do ponto de vista de alguém que é autoridade no assunto. Para Faraco e Mandryk (2008), a resenha crítica tem duas características básicas: 54
5 Apresenta informações ao leitor, partindo do princípio de que o leitor não conhece o objeto analisado. Se for sobre um livro, indica o título, o autor, a editora, eventualmente o tradutor e até o seu preço. Se for um filme, o nome do diretor, os atores principais e outros dados relevantes. Uma resenha sobre um disco deve dar o nome das músicas (ou das principais), o acompanhamento, etc. Se o comentário é sobre um programa de televisão, deve informar o leitor do canal e do horário. Nesse sentido, a resenha é também um serviço ao leitor, uma informação. Ela apresenta uma opinião sobre o objeto analisado. É bom, é ruim, é mais ou menos? E uma boa resenha sempre apresenta argumentos: por que é bom, ruim ou mais ou menos? (FARACO & MANDRYK, 2008, p. 57) Para Costa (2008, p. 179) uma resenha crítica deve ser feita levando-se em consideração os conhecimentos prévios do assunto, se há alguma característica especial, como a obra foi escrita, se tem alguma utilidade para o leitor, se há similaridade com outra (s) obra (s) do autor ou atividades de outro (s) autor (es). Nesse sentido, a produção da resenha implica atividades de leitura, interpretação e resumo prévios e um posicionamento em face de uma questão potencialmente controversa que exigirá uma boa sustentação argumentativa em favor do ponto de vista defendido, já que haverá leitores que não comungam com a mesma tese. No início, devem-se citar as referências completas, incluindo número total de páginas e preço da obra. A extensão vai depender do espaço, (jornal, periódico, etc) onde vai ser publicada. No jornalismo é considerado um tipo de resumo Assim, percebemos que o ensino adequado desse gênero, que faz parte da esfera acadêmica, pode transformar pessoas sem muita autonomia em discentes que passarão a te-la, além de se tornarem pessoas mais críticas. 5 Considerações Finais Diante das considerações expostas até aqui e, por concordarmos com a opinião dos autores citados na fundamentação teórica, consideramos a importância do gênero resenha na sala de aula essencial para a formação do leitor autônomo visto que, além de contribuir para a formação de cidadãos conscientes, atua como um mediador no trabalho com a linguagem (PERFEITO; OHUSCHI; BORGES, 2010, p. 2). 55
6 6 Referências Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica SóLetras CLCA UENP/CJ - ISSN BAKHTIN, M. (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, DOLZ, Joaquim et al. Gêneros orais e escritos na escola/ tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro, Campinas, SP: Mercado de Letras, MACHADO, Ana Raquel et al. Leitura e produção de textos técnicos acadêmicos: resenha. São Paulo: Parábola Editorial, MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos Arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. 2. ed. São Paulo: Abril, MARCUCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3. ed. São Paulo: Parábola Editorial, MANDRYK, David & FARACO, C. Alberto. Prática de redação para estudantes universitários. Petrópolis, RJ: Vozes, PERFEITO, A. M. Concepções de linguagem, teorias subjacentes e ensino de língua portuguesa. In: Concepções de linguagem e ensino de língua portuguesa (Formação de professores EAD 18). V. 1. Ed. 1. Maringá: EDUEM, p ; OHUSCHI, M.C.G; BORGES, C.A.G. Bula de remédio: da teoria à prática em sala de aula. In: Mikhail Bakhtin: cultura e vida. E. M. R. Osório (org.). São Carlos: Pedro e João Editores, p Para citar este artigo: DIAS, Luiz Antonio Xavier. A importância do gênero resenha para a formação do leitor crítico. In: VIII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários Anais... UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN p
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