VARIAÇÃO REGIONAL NA LIBRAS: UM COMPARATIVO ENTRE A CIDADE DO RIO JANEIRO COM A CIDADE DE MACAÉ

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Transcrição:

Nº 1, volume 1, artigo nº 48, Outubro 2016 ISSN: 2526-2777 VARIAÇÃO REGIONAL NA LIBRAS: UM COMPARATIVO ENTRE A CIDADE DO RIO JANEIRO COM A CIDADE DE MACAÉ Cristiane Regina Silva Dantas¹ Eliana Crispim França Luquetti² ¹Graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Especialista em LIBRAS pela Faculdade de Letras da UFRJ e mestranda em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, UENF, crisdopc@yahoo.com.br. ²Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Professora e Pesquisadora na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, UENF, elinafff@gmail.com. Resumo: Este estudo busca fazer uma análise crítica e investigativa, advindo das percepções da primeira autora, ao longo de seis anos de vivência trabalhando como Tradutora e intérprete de LIBRAS/ Língua portuguesa na Cidade de Macaé, quanto às formas diferenciadas de serem sinalizados alguns sinais da LIBRAS nesta localidade, tendo como base de comparação as vivências na Comunidade Surda do Rio de Janeiro, cidade em que a mesma aprendeu a língua brasileira de sinais, e, que desde de seu aprendizado vem interagindo com esta Comunidade em diferentes momentos formais e informais. Vários são os sinais que são realizados de forma diferenciada pela Comunidade Surda de Macaé, o que vem despertado grande curiosidade em saber que elementos seriam influenciadores para que esse fenômeno de variação ocorresse nesta cidade localizada no Norte do Estado do Rio de Janeiro e que faz com que os sinais pareçam tão peculiares à região. Busca-se então com este trabalho registrar quais são os sinais realizados em LIBRAS na cidade de Macaé que possuem o mesmo significado com os que são realizados na cidade do Rio de Janeiro, mas que são sinalizados de forma diferenciada, como também investigar que possíveis influências receberam os sinais usados pela Comunidade Surda de Macaé. Palavras-chave: Variação linguística, Comunidade Surda, LIBRAS. Introdução ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 669

O presente trabalho está em desenvolvimento e busca fazer uma reflexão sobre os aspectos linguísticos, históricos e socioculturais das sinalizações das Comunidades Surdas da Cidade do Rio de Janeiro e do grande centro da cidade de Macaé e tem como questão-problema o papel da variação linguística no desenvolvimento e caracterização da utilização dos sinais de uma região em relação a outra. Na cidade do Rio de Janeiro, cidade onde a autora Dantas aprendeu LIBRAS e mantém contato com diversos usuários da LIBRAS da Comunidade Surda, o registro que se tem da origem da língua de sinais na região, advém do trabalho que foi iniciado pelo atual Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, localizado atualmente no bairro de Laranjeiras, através de um professor surdo francês conhecido como E. Huet na época que o Brasil era um império. Na ocasião, por volta de 1855, Huet procurou o imperador D. Pedro II apresentando-lhe um relatório escrito em língua francesa na intenção de criar um Estabelecimento de Ensino para pessoas surdas no Brasil. No relatório entregue ao imperador, Huet apresentou duas propostas para que o governo ajudasse na criação do colégio, já que, segundo ele, a maioria dos surdos pertencia a famílias pobres e, portanto, sem condições de arcar com as despesas relativas à educação. Em uma, o colégio seria de propriedade livre (particular), com uma concessão de bolsas e alguma subvenção por parte do Império; em outra, as despesas totais seriam assumidas pelo Império (pública). Caberia ao imperador a decisão (Rocha, 2008:28) A princípio o trabalho com Surdos deu-se no início de 1856 no modelo privado de Educação, porém recebeu ajuda financeira para se manter. Já em setembro de 1857, com a criação da Lei Nº 939, que definia a despesa e receita do Império para custeios, o Instituto passa a receber legalmente apoio financeiro do Império. A data da Lei, 26 de setembro de 1857, é a data de Comemoração de aniversário do Instituto até os dias de hoje. Huet, em seu trabalho com educandos surdos escolarizou meninos e meninas surdas, através de um programa de ensino de disciplinas. Ficou a frente do Instituto por alguns anos, sendo o fundador e precursor da Educação de pessoas surdas no Brasil. No início e por um bom tempo, o Instituto recebeu alunos de várias cidades do Rio de Janeiro e também de outros Estados do Brasil o que contribuiu para que a língua de sinais trabalhada no Instituto pudesse ser disseminada Brasil à fora quando estes alunos voltavam para suas respectivas cidades e estados. De início ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 670

eles tiveram contato com a Língua de Sinais Francesa, que era a língua usada pelo professor Huet, mas como já tinham sua forma de sinalizar, acabou havendo a influência de uma língua sobre a outra até vir a se estruturar e padronizar ao longo dos anos no que hoje chamamos de Língua Brasileira de Sinais LIBRAS. Muitos dos ex-alunos tornaram-se militantes na causa da pessoa surda ajudando a disseminar a Língua Brasileira de Sinais, alguns destes vindo a trabalhar como instrutores desta língua e tantos outros ajudando a fundar importantes Associações de Surdos em diversos estados. E na história de quase cento e sessenta anos de funcionamento desta Instituição, que recebeu a influência de várias Filosofias Educacionais, tais como Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo na instrução de pessoas surdas, que a mesma veio se consolidando como referência nacional nesta área, produzindo diversos materiais muitos destes no Ensino de LIBRAS e em LIBRAS, cursos e formações no campo da Educação de Surdos. Na época em que Dantas iniciou seu aprendizado na língua brasileira de sinais, o INES era visto como modelo a ser seguido do que era correto sinalizar e sinais que destoavam dos seus eram muitas vezes reprovados pela Comunidade Surda, tamanha referência que o mesmo tinha na época como produtor do saber no ensino e difusão da LIBRAS. Seu primeiro contato com esta língua deu-se com uma professora surda que na época era aluna e funcionária do INES que ensinava LIBRAS em um espaço informal de instrução igreja. Outros surdos membros desta igreja, visitavam sempre a sala em que ocorriam as aulas de LIBRAS o que proporcionou um entrosamento entre os cursistas com os falantes da língua de aprendizado. A partir de então, o convívio e interação com a Comunidade surda passam a ser constantes e pela necessidade de adentrar na área de Educação de Surdos, como também na área de tradução e interpretação de LIBRAS é que foi sendo traçado na formação acadêmica Cursos na área, tanto de Extensões quanto de Especializações, e como consequência a atuação como professora e tradutora intérprete para pessoas surdas. ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 671

Vários são os sinais que são realizados de forma diferenciada pela Comunidade Surda de Macaé, o que vem despertado grande curiosidade em saber que elementos seriam influenciadores para que esse fenômeno de variação ocorresse nesta cidade localizada no Norte do Estado do Rio de Janeiro e que faz com que os sinais pareçam tão peculiares à região. Busca-se então com este trabalho registrar quais são os sinais realizados em LIBRAS na cidade de Macaé que possuem o mesmo significado com os que são realizados na cidade do Rio de Janeiro, mas que são sinalizados de forma diferenciada, como também investigar que possíveis influências receberam os sinais usados pela Comunidade Surda de Macaé. Na cidade de Macaé, os espaços formais onde as pessoas surdas interagem com os demais membros da Comunidade Surda e ouvintes em geral são duas escolas Pólos de Surdez da Prefeitura, algumas escolas do Ensino Médio que tem alunos surdos matriculados, Associação Macaense de Deficientes Auditivos e SENAI. Nesses espaços acontecem momentos de comunicação/interação que propiciam manter em uso e viva a língua brasileira de sinais. Metodologia Pesquisas teóricas acerca dos temas Variação linguística, Fonologia e morfologia da língua brasileira de sinais; Pesquisa de campo de natureza qualitativa no qual estão sendo feitos levantamentos e registros através de fotos e/ou filmagens dos sinais que possuem o mesmo significado, mas que são feitos de formas diferenciadas; Análise, seguindo os Parâmetros fonológicos da LIBRAS, sobre o que tornou a sinalização de uma região diferente da outra. Resultados preliminares Nesse início de estudo foram encontrados alguns sinais característicos de variação regional, será mostrado neste trabalho apenas alguns exemplos destes, tais como: ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 672

a) Shopping: De acordo com os Parâmetros fonológicos da LIBRAS houve alteração nas configurações de mãos (CM) e no movimento, pois enquanto na cidade do Rio de Janeiro o mesmo é realizado com as configurações (CM) nos formatos das letras s e p em Macaé é feito com outra configuração e outro movimento, conforme podemos observar abaixo: Cidade do Rio de Janeiro (Movimento retilíneo, alternando as configurações de mãos de 69 para 55) Cidade de Macaé (Movimento de abrir e fechar os dedos polegares e indicadores de ambas as mãos) Conforme observações de sinalizantes de ambas as cidades estudadas, esses sinais são realizados para designar a palavra shopping de um modo generalista, ou seja, ao se referir a um shopping qualquer ou a todos os shoppings. b) Whattsapp: De acordo com os Parâmetros fonológicos da LIBRAS houve alteração nas configurações de mãos de ambas as mãos e também no movimento, embora ambos tivessem uma mão ativa que realiza o movimento enquanto a outra se mantém passiva. O sinal realizado atualmente na cidade de Macaé já foi realizado com uma maior frequência na cidade do Rio de Janeiro, mas houve uma alteração no sinal prevalecendo agora uma outra forma de sinalizar esta palavra. A seguir as configurações de mãos usadas em cada cidade estudada: ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 673

Cidade do Rio de Janeiro (CM 64 realiza um movimento indo para frente e para trás passando sobre a CM 11) Cidade de Macaé (CM 78 realiza um movimento passando pela palma da mão da CM 02 em um movimento contínuo para frente) Conforme pesquisa e observações de falantes de LIBRAS da Comunidade Surda de ambas cidades estudadas, observou-se que o sinal que é predominante na cidade de Macaé já teve um uso mais recorrente na cidade do Rio de Janeiro, até vir a outra sinalização que passou a ser mais falada em LIBRAS. Considerações Espera-se que este estudo possa contribuir como registro das variações linguísticas regionais existentes entre as Comunidades Surdas das cidades pesquisadas, como forma de diminuir o preconceito linguístico em relação às sinalizações características de uma ou outra determinada região estudadas nessa pesquisa. ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 674

Referências bibliográficas BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é como se faz. São Paulo: Loyola, 1999. BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1995. DINIZ, Heloíse Gripp. A história da Língua de Sinais dos Surdos brasileiros: Um estudo descritivo de mudanças fonológicas e lexicais da LIBRAS. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2011. FROMKIN, Victoria; RODMAN, Robert. Introdução à Linguagem. Coimbra: Almedina, 1993. GOLDFELD, Márcia. A criança surda: Linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. LANGACKER, Ronald W. A linguagem e sua estrutura.petrópolis: Plexus, 1992. QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: Estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2006. ROCHA, Solange. O INES e a Educação de Surdos no Brasil: Aspectos da trajetória do Instituto Nacional de Educação de Surdos em seu percurso de 150 anos. Rio de Janeiro: INES/2008. SKLIAR, Carlos (Org). A surdez: Um olhar sobre as diferenças. Ed. 3. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005. ISSN: 2526-2777 - Anais do XII Congresso Latinoamericanode Humanidades Página 675