Texto e discurso: complementares? Fábio Moreira Arcara Luane Gonçalves Amurin Viviane Santos Bezerra Resumo: Não é o objetivo nesse artigo aprofundar-se em inúmeras questões que acercam o assunto Texto e Discurso como conceitos de dialogismo, enunciado, questão de gêneros ou outros mais. Embora seja um tema muito amplo, que nos possibilita caminhar para diversas vertentes, o objetivo aqui é tomar o assunto com uma visão ampla e generalizada partindo das linhas de raciocínio de Mikhail Bakhtin e Michel Pêcheux visando um ponto em comum dos dois intelectuais, a questão da ideologia. E também discutir se texto e discurso são complementares ou não. Introdução Tomaremos como objeto de estudo para este artigo as definições de texto e discurso diante da definição de ideologia como formação do sujeito, tendo como base leituras de alguns teóricos da área partindo principalmente do raciocínio de Mikhail Bakhtin e Michel Pêcheux. Existem muitas questões acerca deste tema, podemos achar que o texto e discurso são completamente opostos ou completamente iguais, sem nunca nos questionarmos os verdadeiros significados e aspectos que os fazem serem definidos exatamente como texto e como discurso, por isso analisar as características de cada termo e tentar chegar a uma conclusão: texto e discurso são complementares? Desenvolvimento: 1. Texto como texto A definição de texto é muito ampla e ainda não há uma definição muito precisa, o que podemos ressaltar são de fato as características estruturais e interpretativas que acercam sobre essa questão.
Pode-se definir texto como uma ocorrência lingüística dotada de unidade sociocomunicativa semântica e formal, é uma unidade de linguagem em uso para fins comunicativos. Devem-se levar em conta as intenções do produtor, o jogo de imagens mentais e o espaço de perceptibilidade visual do produtor e do recebedor, também para ser texto é preciso ser percebido pelo leitor/ouvinte como um todo significativo, partindo da visão texto como unidade semântica. Um texto é bem compreendido quando avaliado sob três aspectos: o pragmático, o semântico-conceitual e o formal, que diz respeito a sua coesão. Para que um texto seja realmente um texto precisa-se de um conjunto de características, conjunto este conhecido como textualidade e há sete fatores responsáveis pela textualidade: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e a intertextualidade. A coerência é responsável pelo sentido do texto, envolve aspectos lógicos, semânticos e cognitivos, o sentido de um texto não é exclusivamente dele mesmo, o sentido se constrói pelo produtor no momento de produção de texto e pelo recebedor, pois cada individuo que se depara com um texto o interpretara de forma própria e única. Um texto nunca é lido da mesma maneira mais de uma vez. A coesão é a manifestação lingüística da coerência, é o modo como as expressões, as idéias são interligadas no texto, é responsável pela unidade formal, se constrói através de mecanismos gramaticais e lexicais. Coerência e coesão tem em comum a função de promover a inter-relação semântica entre os elementos do texto, ou seja, a conectividade textual. É através desses dois conceitos que as frases se fazem texto e não somente um amontoado de frases. A intencionalidade é o valor ilocutório do texto, é o empenho do produtor em fazer um texto coerente e coeso, respondendo às expectativas do recebedor, ou seja a aceitabilidade. A situacionalidade é a adequação do texto à situação sociocomunicativa, ou seja, a relevância do texto quanto ao contexto. Entende-se por informatividade o grau de interesse que o recebedor tem em relação ao texto que ira se deparar e por intertextualidade é a dependência de conhecimento de outros textos que o recebedor tem que ter para a leitura de um determinado texto.
Texto é uma ocorrência lingüística, de sentido completo com a finalidade de estabelecer a comunicação entre produtor e recebedor e tem gêneros variados como carta, biografia, receitas, noticia jornalística, romance, ficção, entre muitos outros que não serão discutidas neste artigo. 2. Análise do Discurso: O Discurso É a própria linguagem que liga o homem à sociedade e o estudo desse processo e suas vertentes se dão pela análise do discurso, esta que trata objetivamente do discurso. Para se considerar um discurso de forma significativa são feitas análises entre o histórico/social relacionando-os com a própria linguagem, em que é a partir daí que instalamos um processo ideológico. É a relação do sujeito com a sociedade e seu todo. O laço que a Lingüística cria com o conteúdo histórico, com a formação social e política a faz criar sua identidade que tem seu objeto próprio, ordem própria, uma composição da lingüística que só revela o laço com pensamento/mundo onde cada um tem sua especificidade. Considerando que a lingüística é de certo modo abstrata, ao se deparar com o materialismo, os valores históricos, encarna a história produzindo sentido, produzindo o então chamado lingüístico-histórica. Há a confusão entre forma e conteúdo, não há a separação em que com o envolvimento com o materialismo do marxismo e o inconsciente da psicanálise sua forma e seus parâmetros modificaram em relação á linguagem que sempre se formou. O discurso se choca com a adesão popular sobre a definição de mensagem, em que há todo um esquema (emissor, receptor, código, referente e mensagem), e que este esquema não condiz com a realidade em si, e o discurso, ou melhor, uma análise do discurso explicaria este fato. Não há certa sincronia entre os moldes falados, falar, receber e digerir a mensagem, o que ocorre é um pensar no discurso, é a relação entre sujeito e sentido em que pode ocorrer ou não uma comunicação, um diálogo ou um monólogo e assim define-se discurso como o efeito de sentidos entre os locutores. O discurso não se trata apenas de passar a informação, definição que pudemos atribuir ao texto. O discurso é o funcionamento da linguagem colocando em relação sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história, surtindo assim uma produção de sentidos e não somente a transmissão de informação.
O discurso tem sua regularidade, tem seu funcionamento que é possível apreender se não opomos o social e o histórico, o sistema e a realização, o subjetivo ao objetivo, o processo ao produto. ORLANDI, 1999, p22) Essa relação entre Discurso, sociedade, político e histórico e do outro lado a língua, a fala e escrita podem ser feitas na literatura, como exemplo o Padre Antônio Vieira que utilizava a espécie de Discurso Engenhoso e se opunha ao Discurso Clássico, atualmente o Discurso Engenhoso é utilizado em publicidade e propaganda, e há confusão entre significante e significado, sem a objetividade contrário do segundo discurso, portanto entre os dois discursos há uma grande disputa de ideologia teórica. Em suma, é valido realizar uma norma discursiva objetiva para não confundir com outros pontos (língua, fala), em que na própria definição de ideologia ou de discurso abre-se para a reflexão e encontramos ideologias opostas, mas para delimitarmos as condições da ideologia, estudaremos esta proposição. 3. Texto e Discurso: Complementares? Todo processo discursivo se insere numa relação ideológica de classes ( Pêcheux, 1995, p 92) Antes de discutir se texto e discurso são complementares é preciso fazer uma breve definição de Ideologia no discurso seguindo as linhas pêcheuniana e bakhtiniana. Tomar a ideologia como ponto principal neste artigo é questionar o papel do homem frente ao texto e frente ao discurso. Talvez seja essa uma das questões mais importantes que os distinguira, pois veremos que as palavras podem ser iguais, mas mudam seus significados dependendo do modo, do contexto em que são empregadas. Para Pêcheux o sentido é sempre uma palavra por outra palavra, é basicamente um relacionamento de superposição, assim a evidencia de um sentido é um efeito ideológico. Para que haja sentido é preciso que haja interpretação e o trabalho principal da ideologia é produzir evidencias, convicções, pois ideologia é a condição para a construção do sujeito e seus sentidos. O sujeito é chamado à existência pelo paradoxo da sua interpelação pela ideologia.
A ideologia é uma função da relação necessária entre linguagem e mundo. Não há discurso sem sujeito. E não há sujeito sem ideologia. Ideologia e inconsciente estão materialmente ligados (ORLANDI, Eni Puccineli. Análise do Discurso: princípios e procedimentos/ Eni P. Orlandi. Campinas, SP: Pontes, 1999).O conceito de ideologia em geral é tornar o homem como animal ideológico, pensá-lo como parte da natureza e da sociedade em que se insere, são os pontos que constitui o sujeito levando à necessidade de evidencia do sentido Para Pêcheux a ideologia dominante é propaganda nos discursos das igrejas e escolas, a fim de mascarar a realidade e dar continuidade à reprodução das condições de produção. É a ideologia que fornece as evidencias sobre quem é o sujeito, ou seja, aquele que dará o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados. Já em Bakhtin a ideologia se inicia no signo e é uma reflexão das estruturas sociais. O signo e a situação social estão indissoluvelmente ligados. A língua é determinada pela ideologia, a consciência e o pensamento são modelados pela mesma. Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia. Um corpo físico vale por si próprio: não significa nada e coincide inteiramente com sua própria natureza. Neste caso, não se trata de ideologia (BAKHTIN) A ideologia no ponto de vista de Bakhtin se materializa no texto, mas não somente em palavra por palavra e sim de signo por signo, mantendo uma relação ideológica entre eles. O individuo está sempre inserido em uma determinada ideologia, portanto, se a ideologia faz dos indivíduos sujeitos, o individuo é sempre sujeito dentro da formação social em que está inserido. (BOMBONATO, 2008, p 339) Ainda com diversos pontos de vista adotados, a semelhança que chegamos é de que para Bakhtin e Pêcheux a ideologia deve ser tratada na materialidade, nos atos concretos de linguagem e assim na interação social. Logo os sentidos sempre são determinados ideologicamente.
Abordamos que texto é uma unidade lingüística que tem a principal função de passar a informação e de que devemos levar em conta todos os conceitos que formam a textualidade para então entendermos o que é realmente um texto. Abordamos também que discurso é a afeição entre o sujeito, língua e a história para o sentidos e não apenas para informar e traduzir as palavras, ele apresenta uma liberdade, pois não é totalmente dependente de condicionantes lingüísticos ou determinações históricas. Assim vemos que o texto é um material que produz sentido, sem ele essa produção não é possível. Quando isolado, um texto apenas apresenta significações que somente com o discurso é capaz de produção de sentido, ou seja, a potencialidade de produção de sentido de um texto é apenas realizada na produção do discurso. Uma diferença mínima, mas não menos significante, é que um texto é produzido por um determinado sujeito, já o discurso é uma manifestação verbal de um sujeito inserido em um contexto trazendo suas próprias marcas no texto discursado. O texto é o próprio lugar da interação entre sujeito e produção de sentidos. Para Pêcheux, colocar sentido em uma palavra ou expressão é determinado pela posição ideológica as palavras, expressões, proposições, etc., mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, ou seja, as formações ideológicas (PÊCHEUX, 1995, p 160). Conclusão Podemos então dizer que o coração do texto é a coerência e a alma do discurso é a ideologia, uma pessoa incoerente faria então um discurso sem qualidade, não seria convincente, teria um discurso de pouco impacto ou no mínimo não muito esclarecedor, ou seja, sem a coerência em seu texto o sujeito fará um discurso que não produzira um efeito positivo de significados e sensações. É no discurso que se encontram as marcas do produtor, toda sua ideologia cercada por costumes, tradição e seus traços sociais. Entendemos então que o texto, através da linguagem, é o que solidifica o discurso, por isso chegar à conclusão de que texto e discurso são diferentes, cada um com seus aspectos e características importantes, mas são complementares, podemos até
mesmo dizer que o texto sobrevive sem o discurso, mas o discurso não sobrevive sem o texto. Um aprofundamento nesse assunto implicaria questionamentos cada vez mais complexas como o uso e função da linguagem, o não dito do discurso, além de conceitos menores citados no inicio desse artigo que não nos caberia analisá-los aqui para fins mais didáticos, nos bastante apenas a essas reflexões levantadas no decorrer deste artigo. Referências Bibliográficas: Arenas de Bakhtin- linguagem vida. São Carlos: Pedro & João Editores, 2008. COSTA VAL, MARIA da GRAÇA. Redação e textualidade. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1994. ORLANDI, ENI PUCCINELI. Análise do discurso: princípios e procedimentos/ Eni P. Orlandi. Campinas, SP: Pontes, 1999.) PÊCHEUX, MICHEL. O discurso: Estrutura ou acontecimento.campinas, SP: Pontes, 1990. PÊCHEUX, MICHEL. Semântica e Discurso: Uma Crítica à afirmação do óbvio. Campinas, SP Editora da UNICAMP. 1995. 2 Edição. http://www.pucrs.br/edipucrs/online/pesquisa/pesquisa/artigo12.html acessado em 24/11/2011 http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao02/02r_sfs.php acessado em 24/11/2011 http://revistas.pucsp.br/index.php/intercambio/article/viewfile/3570/2331 acessado em 24/11/2011 http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0901/090107.pdf acessado em 24/11/2011
Artigo Científico para a disciplina de Língua Portuguesa IV Discentes: Fábio Moreira Arcara Luane Gonçalves Amurin Viviane Santos Bezerra Docente: Odilon Helou Fleury Curado Letras - 3 ano (diurno) Assis, 2011