Avaliação do Plano Brasil Maior

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Transcrição:

1 Avaliação do Plano Brasil Maior Mansueto Almeida (02 de agosto de 2011) Qualquer medida econômica para aumentar a competitividade da indústria brasileira é positiva. Assim, a intenção do governo de desonerar setores da indústria, incentivar inovação, aumentar a exportação de empresas pequenas e médias, e desonerar o investimento produtivo vai na direção correta. No entanto, o pacote de medidas divulgadas hoje foi tímido frente aos problemas de competitividade pelo qual passa a indústria brasileira e não resolve um problema maior de falta de competitividade que está ligada a uma armadilha criada pelo próprio governo, o qual segue um modelo de crescimento baseado na expansão de gastos públicos e baixa poupança pública que termina por impactar no crescimento da inflação, dos juros e na valorização do cambial. Abaixo detalho as medidas divulgadas e minha avaliação de cada um delas. Medidas De Desoneração Da Folha De Salários: os setores de confecções, calçados, móveis, e tecnologia da informação terão a alíquota previdenciária de 20% zerada sobre a folha de pagamentos. O problema dessa medida é que a desoneração será apenas parcial, já que esses mesmos setores terão que compensar a desoneração da folha de pagamento com uma alíquota de 1,5% sobre o faturamento que, segundo o governo, não irá compensar plenamente a desoneração. No entanto, conforme divulgado em entrevista, a parte não compensada será de apenas R$ 1,3 bilhão (subsidio do Tesouro à Previdência). Assim, além da medida beneficiar poucos setores a desoneração de custo das empresas será restrito a R$ 1,3 bilhão. Há sim uma economia, mas acho que ela não passa de 10% e não de 40% com algumas lideranças do setor industrial chegaram a falar. Supondo que o peso dos salários sejam de 50% do custo total nesses setores, uma redução de 20% representa uma economia de custo de 10%. Mas a economia será menor porque tem a alíquota sobre do faturamento de 1,5% e de 2,5% para o setor de software. Prorrogação da Redução do IPI: A nova política industrial, chamada Plano Brasil Maior, prorroga por mais 12 meses a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bens de capital, materiais de construção, caminhões e veículos comerciais leves. Essa medida é novamente insuficiente para aumentar o investimento da indústria e a competitividade do setor industrial de forma permanente. O governo deu apenas um soluço de competitividade na desoneração do investimento produtivo. A agenda que a presidenta havia se comprometido com a indústria era de desoneração permanente do investimento produtivo. O que foi anunciado foi uma mera prorrogação da redução do IPI que deveria ser permanente. Adicionalmente, nada foi informado sobre o pleito da ABIMAQ da lista de 537 itens que não havia sido contemplados no governo Lula com a proposta de alíquota zero.

2 Redução do Prazo de devolução do PIS/Cofins: redução gradual do prazo para devolução dos créditos do PIS/Cofins sobre bens de capital. O prazo já havia sido reduzido de 48 meses para 24 meses, e posteriormente para 12 meses, e, agora com o novo plano, a devolução dos créditos será imediata. Essa medida é positiva pois permite o aumento do capital de giro para empresas que precisavam antes esperar meses para receber de volta dinheiro que lhes pertence. No entanto, essa medida já havia sido proposta em projeto aprovado no Senado Federal de autoria do Senador Francisco Dornelles (PP-RJ), PLS 411/2009 relatado pelo exsenador Tasso Jereissati (PSDB), que teve sua tramitação parada na Câmara dos Deputados a pedido do governo. Assim, o governo está atrasado em pelo menos um ano para adotar uma medida que já havia sido proposta desde 2009 pelo Senado Federal e que não andou por causa do próprio governo. Adicionalmente, a demanda do setor produtivo era que na redução do prazo de devolução entrasse também o ICMS, o que precisaria da aprovação de uma Lei Complementar. Assim, além da medida está atrasada ela é menos abrangente do que a demanda encaminhada pelas entidades empresariais. Redução de prazos em defesa comercial (antidumping, salvaguardas e medidas compensatórias): de 15 para 10 meses (investigação) e de 240 para 120 dias (aplicação de direito provisório). Essa medida é positiva, mas trata de algo sobre o controle direto do governo que poderia ter sido adotada há muito mais tempo. É muito mais uma medida de gestão no procedimento das práticas de defesa comercial do que uma medida com impacto na competitividade da indústria brasileira. É difícil entender por que o governo atual e o anterior levou tanto tempo para implementar uma medida de gestão. É uma medida positiva mas irrelevante para compensar a baixa competitividade da indústria brasileira devido ao elevado custo brasil e a um Real excessivamente valorizado devido ao excesso de gasto público. Regulamentação da Lei 12.349/2010 sobre compras governamentais, que institui margem de preferência de até 25% nos processos de licitação para produtos manufaturados e serviços nacionais. Foco nos setores: complexo de saúde, defesa, têxtil e confecção, calçados e tecnologia da informação e comunicação Essa medida trata da regulamentação de uma lei de conversão da Medida Provisória 495 de 19 de julho de 2010. Novamente, o governo levou mais de um ano para regulamentar uma medida que já poderia estar sendo aplicada há muito tempo. Embora o uso do poder de compra do governo seja a principio um mecanismo eficaz de promover inovação como mostra a experiência do Vale do Silício nos EUA, o programa brasileiro envolve setores (têxtil, confecção e calçados) cuja preocupação maior não é inovação, mas sim falta de competitividade devido à elevada carga tributária brasileira. Assim, pagar 25% a mais para um empresa de confecção brasileira é apenas adiar a solução de um problema cada vez mais claro: setores intensivos em mão-de-obra não conseguem mais concorrer com países asiáticos.

3 Ao invés de pagar mais caro por produtos dos setores de calçados, têxtil e confecção, que continuarão sendo mais caros nos próximos anos, a medida correta deveria ter sido uma desoneração permanente sem compensação para esses setores, para reduzir o custo relativo da produção de calçados, confecção e tecidos no Brasil. Extensão do PSI (Programa de Sustentação do Investimento) do BNDES até dezembro de 2012, com orçamento de R$ 75 bilhões, com foco em bens de capital, inovação, exportação, Pro-Caminhoneiro Este programa estava programado para terminar em 2011 e foi mais uma vez renovado. Originalmente, o PSI havia sido criado para combater os efeitos da crise em 2009 e foi sendo sucessivamente prorrogado para 2010, 2011 e 2012. Parte dessa prorrogação está ligada a um outro problema criado pelo próprio governo: o crescimento da inflação. Depois de 2009, o Banco Central passou a elevar a taxa de juros básica da economia (SELIC) que passou de 8,75% em 2009 para 12,50% este ano. Para o próximo ano, o mercado espera que essa taxa se mantenha em 12,50% ou suba para perto de 13% ao ano. A prorrogação do PSI é na verdade um atestado de que o governo falhou na sua política de redução da taxa de juros e de controle da inflação. Isso significa, inclusive, que será provável novos empréstimos do Tesouro Nacional para o BNDES. Apenas para lembrar, esses empréstimos que eram menos de R$ 10 bilhões em 2007 já passam de R$ 300 bilhões sem que o seu custo tenha sido discutido no Congresso Nacional. Políticas para pequenas e médias empresas: Ampliação de capital de giro para pequenas e médias empresas por meio do BNDES, com aumento do orçamento de R$ 3,4 bilhões para R$ 10,4 bilhões e criação de um fundo de financiamento à exportação para micro e pequenas empresas cujo faturamento anual não ultrapasse R$ 60 milhões As iniciativas para aumentar capital de giro para pequenas e médias empresas pelo BNDES e a criação de um fundo de financiamento à exportação de micro e pequenas empresas são medidas positivas, mas cujo efeito será muito pequeno no aumento das exportações e no saldo da balança comercial de manufaturados. Dados deste ano do MDIC mostram que 95% do valor das exportações do Brasil vem de grandes empresas. Assim, essas medidas embora positivas afetarão apenas 5% do valor das nossas exportações. Instituição do Reintegro: devolução de créditos de PIS/COFINS até 4% do valor exportado de manufaturados acumulados na cadeia produtiva, que hoje não dão direito a crédito. Essa medida é positiva é vem corrigir um grande problema que é a dificuldade de compensar os tributos que incidem ao longo da cadeia produtiva. Mas se é uma media corretiva, não está claro o porque do limite de 4% do valor exportado. De qualquer forma é uma medida importante para os produtores, mas não é uma medida de política industrial, já que esse tipo de medida incentiva qualquer manufaturado independentemente da agregação de valor.

4 Criação de regime especial para setor automotivo, com incentivo tributário como contrapartida ao investimento, agregação de valor, emprego, inovação e eficiência. Não foi divulgado mais detalhes sobre esse programa. Mas o setor automotivo é um dos setores que conta com algum tipo de regime especial mesmo depois do Plano Real. A ideia do governo agora parece ser condicionar incentivos à projetos de inovação e eficiência. Há no entanto, dois problemas com os incentivos a esse setor. Primeiro, o setor automotivo já é aquele que mais se beneficia dos instrumentos de incentivos à inovação da Lei do Bem (Lei 11.196/2005). Este setor abocanha quase 40% do total de incentivos à inovação. Não é claro se esses incentivos atraem pesquisa para o Brasil ou se as companhias fazem uso de subsídios para reduzir o uso de capital próprio para inovação. É difícil acreditar que empresas como a FIAT, FORD, GM e outras precisam de recursos de incentivos do governo brasileiro para inovar. Segundo, parte da suposta falta de inovação neste setor decorre de simples regulação que deixamos de fazer. Os motores de carros brasileiros são mais poluentes do que o seu correspondente europeu porque as exigências de regulamentação aqui são menos exigentes tanto na definição da eficiência dos motores (economia por km) quanto na definição de emissão de CO2. Por exemplo, pela nova legislação brasileira que entra em vigor em 2014, a emissão de monóxido de carbono (CO) foi fixada no Brasil em 1,3 g/km (no caso de veículos que pesam até 1.700 quilos) e 2 g/km (no caso de veículos de maior peso). Na União Européia desde 2005, o limite é 1 g/km (válido para veículos que pesam até 2.610 kg). AVALIAÇÃO GERAL O meu entendimento é que as medidas anunciadas foram tímidas frente à crescente perda de competitividade da indústria brasileira. E as medidas não são medidas de política industrial, já que envolve muito pouco de incentivos novos à P&D e inovação. As medidas anunciadas mais parecem uma espécie de tábua da salvação para uma indústria que está se afogando e o governo quer ganhar tempo até encontrar uma solução que seja definitiva. Esta solução definitiva envolveria uma redução permanente dos custos de produção da indústria no Brasil frente aos países Asiáticos. Essa redução de preço relativo só poderá ocorrer de quatro formas: (1) redução do custo Brasil; (2) aumento de produtividade da indústria; (3) desvalorização do real; e (4) desoneração seletiva e permanente da indústria. - Redução do Custo Brasil Em relação ao custo Brasil, o Brasil vem investindo muito aquém do necessário para aumentar a rentabilidade da indústria. Este ano inclusive parte maior do esforço de contenção do crescimento do gasto público tem recaído sobre o investimento público. Adicionalmente, dado que o governo gasta muito, não há espaço para redução da carga tributária e desonerações permanentes do setor produtivo. Assim, não há

5 expectativa de redução rápida do custo Brasil nos próximos anos. A tabela abaixo de um estudo da ABIMAQ de 2011 mostra que 73% do custo Brasil está ligado (i) ao impacto dos juros sobre capital de giro e (ii) custo dos insumos básicos. Não está claro de que forma o programa Brasil Maior vai reduzir esses custos. Diferença de Custo de Produção Nacional em Relação aos Concorrentes Internacionais - % da Receita Líquida Fonte: ABIMAQ, Impacto do Custo Brasil e do Câmbio na Indústria Brasileira (2004/2010) - Aumento de Produtividade Em relação à produtividade, as empresas brasileiras vêm investindo na renovação de máquinas e equipamentos e, sem dúvida, há setores da indústria bastante competitivos. No entanto, a melhora da qualidade da educação no Brasil tem sido lenta frente ao crescimento da demanda por mão-de-obra qualificada e ainda temos um ensino médio muito voltado para a universidade. Adicionalmente, dada a elevada rotatividade da mão-de-obra na indústria brasileira, as empresas ainda investem muito pouco em treinamento de mão-de-obra. Assim, a agenda de crescimento da produtividade deve estar ligada à expansão e melhoria do gasto com educação que deveria fazer parte da política industrial. Investimentos em educação é umas das medidas mais importante para elevar a produtividade, como bem mostra o segundo maior exportador do mundo, a Alemanha, que apesar dos elevados salários consegue ser um dos países mais competitivos do mundo por causa da elevada produtividade da sua mão-de-obra. Em 2010, a China exportou US$ 1,5 trilhões e a Alemanha US$ 1,3 trilhões. No entanto, além de ser um país muito menor, os salários mensais na Alemanha no setor de manufatura em 2004 eram quase vinte vezes superiores aos salários na China. No caso do Brasil, os nossos salários são muito inferiores ao da Alemanha mas muito superiores ao da China e que nos deixa literalmente espremidos entre economias com excesso de mão-de-obra (China e Vietnam) e economias de elevada produtividade (Alemanha).

6 China, Alemanha e Brasil Salário Mensal (US$) 2500 2.336 2.166 2000 US$ mensal 1500 1000 Manufatura Construção 500 134 122 318 225 - Desvalorização do Real 0 China (2004) Alemanha (2004) Brasil (2002) Fonte: http://www.worldsalaries.org/ A desvalorização do real para aumentar a competitividade da indústria e as exportações, só seria possível se o governo tivesse uma poupança elevada que, naturalmente, reduziria a demanda agregada (pressão inflacionária) e a taxa de juros. Com uma poupança doméstica mais elevada e taxa de juros menores, a taxa de câmbio seria mais desvalorizada e contribuiria para aumentar a competitividade da indústria. Essa não é a agenda do governo que parece se preocupar muito pouco com o financiamento do desenvolvimento e com o aumento da poupança doméstica. - Desoneração Seletiva e Permanente da Indústria de Transformação A indústria no Brasil sofre também com um problema de preço relativo interno. Mesmo com o real valorizado, o setor de commodities continua bastante competitivo frente ao forte crescimento de preços. Assim, a desoneração precisa ser seletiva e recair em especial no setor industrial que ainda paga muito imposto. O problema com essa medida é simples: de que forma essa desoneração será compensada? Com mais impostos no setor de commodities? Exatamente quais commodities? PONTO CHAVE O Plano Brasil Maior parece ser muito mais um conjunto de medidas pontuais que poderá dar uma sobrevida à indústria brasileira. É um conjunto de medidas micro para tentar solucionar inconsistências de um modelo macroeconômico de crescimento baseado em: (1) baixa poupança doméstica e dependência crescente da poupança externa, o que leva a valorização do Real; (2) juros elevados devido à baixa poupança que aumenta ainda mais a valorização do Real; e (3) baixo investimento público e elevada carga tributária que afeta a competitividade de todos os setores da economia brasileira.

7 Em resumo, a política industrial do Plano Brasil Maior tem muito pouco de política industrial incentivos à inovação e a descoberta de novas atividades- e parece ser muito mais uma tentativa desesperada para reduzir o custo de produção de alguns setores, sendo o tamanho da desoneração pequeno frente à valorização do Real e o baixo investimento público da economia brasileira. As palavras que mais se ouviu na divulgação do plano não foram inovação, produtividade ou incentivos à pesquisa, mas sim concorrência desleal, crise no mercado mundial, concorrência predatória, guerra cambial, e que o mercado brasileiro deve ser usufruído pela indústria brasileira e não pelos aventureiros que vêm de fora. Quem são esses aventureiros que vêm de fora? Em resumo, a preocupação foi muito mais com proteção do que com inovação.