RELATOR: RELATÓRIO O presente incidente de uniformização foi instaurado pelo Instituto Nacional do Seguro Social-INSS (fls. 57/67), com o objetivo de adequação do julgado da Turma Recursal de Santa Catarina à jurisprudência dita dominante no Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo a qual, para efeito de concessão do benefício de aposentadoria por idade de segurado urbano, não deve ser considerado, para efeito de carência, o tempo de serviço exercido como trabalhador rural (sem recolhimento de contribuições) antes da Lei 8213/91. O julgado da turma (fls. 52/55) reformou a sentença de fls. 39/45, que havia concedido o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, e julgou procedente o pedido alternativo de concessão de aposentadoria por idade de trabalhador urbano. Reconheceu a turma que a autora, tendo completado 55 anos em 1996, já residia na cidade (desde o início de 1995), razão pela qual não tinha direito ao benefício de aposentadoria por idade rural (art. 143 da Lei nº 8213/91). O tempo de contribuição da autora da ação é de 6 anos e 1 mês (de junho de 1996 a junho de 2002). O requerente cita como paradigmas os acórdãos proferidos nos seguintes julgados: RESP 538.618 (rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma); RESP 573.977 (rel. Min. Hamilton Carvalhido, Sexta Turma); RESP 627.471 (rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma), RESP 529.386 (idem); RESP 506.988 (rel. Min. Hamilton Carvalhido, Sexta Turma) e AgRg no RESP 460.852 (rel. Min. Paulo Medina, Sexta Turma).
O incidente foi admitido (fls. 91/92). É o sucinto relatório. Peço dia. Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 2004. Juiz Federal Relator 2
RELATOR: VOTO Do exposto, verifica-se que existe a divergência apontada pelo requerente. Em todos os julgados do Superior Tribunal de Justiça (STJ) mencionados na petição do incidente, firmou-se o entendimento pelo qual o tempo de serviço do segurado trabalhador rural (sem contribuição) pode ser considerado para a concessão de benefício previdenciário, exceto para efeito de carência, conforme a regra do art. 55, 2 o, da Lei nº 8213/91. A autora da ação teve reconhecido, pelo acórdão ora atacado, o tempo de trabalho rural entre os anos de 1961 e 1991, ou seja, antes do advento da Lei nº 8213/91 (fls. 42 e 53). Ocorre que esse tempo não deve ser considerado para efeito de carência, conforme a regra do art. 55, 2 o, da Lei 8213/91 e a jurisprudência dominante no STJ. O julgado da turma não entendeu assim, e como base no art. 6 o da Lei 9099/95 considerou o tempo rural anterior à 24/7/1991, somando-o ao tempo de contribuição como segurado urbano, conforme se entende do seguinte excerto (fls. 54):...embora em valor igual a um salário mínimo, restrição imposta devido à ausência do preenchimento integral do requisito da carência (em número de contribuições mensais), porém considerada o atendimento de tal requisito se somado o tempo de serviço rural. Ora, o tempo de serviço rural computado pelo acórdão foi de 1961 a 1991. No entanto, como visto, a regra do art. 55, 2 o não permite a contagem do tempo de serviço como trabalhador rural anterior ao advento da Lei nº 8213/91 para efeito de carência. Mesmo que se considerasse aplicável a regra de transição do art. 142 da Lei nº 8213/91, a autora teria que contribuir por 120 meses (60 anos no ano de 2001), o que não ocorreu quando da propositura da ação, eis que comprovadas setenta e duas contribuições. 3
A recorrente começou a contribuir para o RGPS em julho de 1995 (fls. 29), quando passou a exercer atividade urbana e na vigência da Lei 8213/91. Para o que interessa ao presente incidente de uniformização, nos estritos limites do julgado da Turma Recursal de Santa Catarina (fls. 52/55), há proibição legal expressa de se contar tempo de serviço como trabalhador rural, anterior ao advento da Lei nº 8213/91, para efeito de carência. Por todo o exposto, na esteira da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, voto pelo conhecimento do incidente e pelo seu provimento, para julgar improcedente o pedido de concessão do benefício de aposentadoria por idade (urbana) para cuja carência seja considerado o tempo de serviço exercido como trabalhador rural antes do advento da Lei nº 8213/91. É como voto. Brasília, 16 de dezembro de 2004. Juiz Federal - Relator 4
RELATOR: EMENTA PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE URBANA. CARÊNCIA. TEMPO DE SERVIÇO COMO TRABALHADOR RURAL ANTES DO ADVENTO DA LEI 8213/91. IMPOSSIBILIDADE. ART. 55, 2 o, DA LEI 8213/91. I O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou jurisprudência pela qual não se considera, para efeito de carência, o tempo de serviço exercido como segurado trabalhador rural antes do advento da Lei nº 8213/91. II Há proibição legal expressa à contagem do tempo de serviço rural, anterior à Lei 8213/91, para efeito de carência (art. 55, 2 o, da Lei 8213/91). III Incidente conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, por unanimidade, conhecer e dar provimento ao pedido de uniformização, nos termos do voto do Relator. Votaram os Juízes Federais RENATO TONIASSO, MÔNICA JAQUELINE SIFUENTES, HÉLIO SILVIO OUREM CAMPOS, MAURO LUÍS ROCHA LOPES, SÔNIA DINIZ VIANA, RICARDO CÉSAR MANDARINO BARRETO, JOEL ILAN PACIORNIK, TAIS SCHILLING e WILSON ZAUHY FILHO. Brasília, 16 de dezembro de 2004. Juiz Federal - Relator 5