A TECNOLOGIA NA AVICULTURA INDUSTRIAL BRASILEIRA

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Transcrição:

A TECNOLOGIA NA AVICULTURA INDUSTRIAL BRASILEIRA Prof. Ms. Luiz Antonio Rossi Freitas Departamento de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Santa Maria, Rua Marechal Floriano Peixoto, 1750, 6 o andar 97.015-372/Santa Maria - RS. E-mail: luizrf@terra.com.br Oscar Bertoglio Graduado em Ciências Econômicas, Universidade Federal de Santa Maria, Rua Marechal Floriano Peixoto, 1750, 6 o andar 97.015-372/Santa Maria RS.E-mail: Oscarufsm@vipmail.com.br Osmar Manoel Nunes Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Maria, Campus Universitário, CEP: 97015-900/Santa Maria RS.E-mail: Osmarmn@bol.com.br ABSTRACT: This paper approaches the impact of technology on the Brazilian industrial poultry sector. Its general objective is to identify how this productive segment has behaved throughout the last decades, mostly on what refers to the increment of technologies and their reflexes on competitiveness. Topics related to the characteristics of the industry, of the organizational structure, production costs, behavior of the internal market and its importance to the growth of the whole sector were studied. In conclusion it was found that the applied technologies, the re-organization of the sector and the approached techniques have through the years put the Brazilian industrial poultry sector on a leading position among world producers. Keywords: Technology, Poultry, Productivity. 1.Introdução O setor agro-industrial brasileiro passou por grandes transformações em sua estrutura produtiva, principalmente a partir dos anos 50 e 60. Unidades que até então produziam nos moldes tradicionais ou familiares, reestruturaram-se e incorporaram novas e modernas tecnologias, organizando a produção em moldes industriais, dando grande importância ao planejamento técnico, produzindo em escalas economicamente viáveis Surgem os Complexos Agro-industriais, onde várias etapas produtivas estão interligadas entre si, na busca de uniformidade e continuidade dos processos, geralmente comandada por uma unidade maior, sendo esta responsável pelo planejamento e controle das unidades menores. Neste contexto surgiu o Complexo Avícola Brasileiro, o qual está interligado a outros grandes setores como a indústria de rações, indústria química farmacêutica, indústria de máquinas e equipamentos e redes de supermercados. Surgiu a partir de uma reestruturação da avicultura tradicional, a qual adotou formas industriais nos seus processos produtivos, tendo como características a produção em grandes escalas, desenvolvimento de genéticas e novas técnicas de manejo, produção na forma integrada entre unidades produtoras, processadoras e comercializadoras. O processo aconteceu no final dos anos 50, adaptando-se e aprimorando-se em 60, atingindo melhor grau de desempenho a partir de 70. ENEGEP 2002 ABEPRO 1

2. Características da Avicultura Brasileira A produção avícola brasileira, apesar de ter alcançado altos níveis de produtividade, representando importante alternativa de investimento, é uma atividade que surgiu a poucas décadas. Para SORJ et al. (1982), a avicultura industrial no Brasil pode ter como marco inicial, em termos de datas, o final da década de 1950, quando substituiu a antiga avicultura comercial que começara nos anos 1920 e 1930. O primeiro programa avícola brasileiro, nos moldes de integração, foi desenvolvido pela Sadia em 1964, numa extensão da suinocultura, na cidade de Concórdia, SC. Em conjunto com a prefeitura local e a associação rural, o programa visava selecionar algumas propriedades rurais que servissem de modelo de modernização. A avicultura de corte brasileira, por sua vez, desenvolveu-se rapidamente, apresentando características próprias, diferentemente de outras atividades agropecuárias. As diferenças se verificam, pois esta atividade, em função do alto grau de controle do processo biológico, pode se desenvolver em condições adversas, não dependendo de solo e clima. Além desta facilidade de adaptação ao meio, comparativamente a produção de outras carnes, a carne de frango é considerada mais saudável em relação a suína e bovina, e com custos de produção mais baixos, o que lhe proporciona posição privilegiada. Outra característica da produção avícola de corte é a alta conversão de cereal em carne, proporcionando melhores índices de produtividade, e retornos mais rápidos. A empresa integradora transforma seu capital na forma de insúmos, em produtos finais, em curto espaço de tempo, eliminando grande parte dos riscos existentes no processo produtivo. A produção avícola de corte brasileira se diferencia das outras atividades agropecuárias no que se refere às relações existentes entre a unidade produtiva e a indústria. Existem duas formas de integração: Uma se verifica principalmente no sul do país (RS, SC, PR), onde a integração se dá através de contratos. O produtor recebe o pinto de um dia, participa com o manejo de engorda, e quando o frango atinge a fase adulta, entrega para a empresa integradora que abate, processa, e comercializa o produto. Este método favorece a empresa integradora, pois elimina grande parte do risco existente, sem perder o controle em todas as etapas produtivas. Outra forma de integração é aquela feita pela verticalização da empresa, ou seja, todas as atividades desenvolvem-se sob o comando da empresa integradora, com capital próprio e mão-de-obra assalariada. Nas duas formas de integração, porém, existe controle total por parte da empresa integradora. Geralmente atua desde a produção da ração, dos pintos, bem como no abate, processamento e comercialização. 2.1. Produção A avicultura brasileira não se limita a produção de carne de frango, mas sim num grande complexo que vai desde o planejamento, a produção de matrizes, ovos, produção de pintos, manejo e engorda do frango, até o processamento e comercialização dos produtos finais. Além disso, esta atividade tem dado suporte ao desenvolvimento de outros grandes setores produtivos, como por exemplo, a produção de rações e medicamentos, bem como máquinas e equipamentos para a produção e processamento da carne. Um segmento importante dentro da cadeia avícola é a produção de pintos para corte, que juntamente com a produção de matrizes, dão sustentação para que as etapas posteriores possam se desenvolver de forma segura. O crescimento neste segmento foi acelerado a partir dos anos 80, mantendo-se praticamente constante, atingindo um crescimento de cerca de 160% até o final da década de 90. O mesmo se verifica na produção de carne, o qual apresenta um crescimento em torno de 270% ao longo das décadas de 80 e 90, comprovando que o setor apresenta consistência, superando qualquer expectativa. Comparando o crescimento na produção de pintos, com a produção de carne, observa-se um crescimento mais acelerado para o ENEGEP 2002 ABEPRO 2

segundo item, deixando evidências que fatores tecnológicos foram inseridos no processo de produção no decorrer dos anos. 2.2. Custos de Produção Igualmente a todos os setores produtivos de uma economia, a avicultura de corte também é fortemente influenciada pela sua estrutura de custos. Seus custos fixos estão distribuídos entre a construção e manutenção dos galpões e na aquisição de equipamentos necessários a produção. Dentre os custos diretos, alguns grupos são mais expressivos, representando quase a totalidade. Entre os mais importantes estão as produções de rações, cerca de 64%, as produções de pintos, cerca de 24%, além da produção de medicamentos. O custo da ração está em função dos seus insumos, ou seja, milho, soja, medicamentos. O custo dos pintos é afetado desde a produção de matrizes, em etapa anterior, passando pelo custo da ração, manuseio, mão-de-obra, energia. O custo dos medicamentos varia de acordo com os preços das vitaminas, sais, entre outros componentes, além de serem, muitas vezes, afetados pelo fator taxa de câmbio, pois grande parte dos itens que os compõe são importados. Ao comparar custos de produção com outros países, o Brasil apresenta resultados satisfatórios. Em artigo publicado na revista Agroanalysis, observa-se que o Brasil apresenta o menor custo no item "custo da ave viva no abatedouro", sendo de U$0,522, contra U$0,588 nos Estados Unidos. A França, grande produtor mundial apresenta um custo de U$0,936 para o mesmo item. No custo industrial o Brasil apresenta melhor resultado, com U$0,854 por kg de carne limpa, enquanto os Estados Unidos apresenta U$1,05 para o mesmo item. Já a França apresenta um custo de U$1,586. A tabela 01 expressa os índices zootécnicos da avicultura de São Paulo e representa a características do setor. Estes índices definem a produtividade alcançada no setor e a amostra é de 1.000 aves. TABELA 01 - Índices Zootécnicos da avicultura de corte brasileira. Índices técnicos em períodos selecionados Discriminação Mar/89 Abr/93 Nov/93 Jan/94 Jul/94 Jan/95 Out/95 a - Mortalidade natural 5% 6% 5% 5% 5% 5% 4% b - Idade média de abate 52 48 49 49 49 49 47 (dias) c - Conversão alimentar 2,20 2,15 2,00 2,05 2,02 2,02 1,95 d - Peso médio no abate 1,920 2,099 2,163 2,110 2,142 2,142 2,134 e - Criadas no ano 4,5 4,5 5 5 5 5 5,5 TABELA 01 - Índices Zootécnicos da avicultura de corte brasileira. Índices técnicos em períodos selecionados Discriminação Ago/96 Mar/97 Set/97 Jan/98 Jul/98 Jan99 Abr/99 a - Mortalidade natural 4% 4% 5% 5% 5% 5% 5% b - Idade média de abate 47 47 47 47 47 47 47 (dias) c - Conversão alimentar 1,95 1,95 1,95 1,95 1,95 1,95 1,95 d - Peso médio no abate 2,166 2,166 2,155 2,155 2,155 2,155 2,155 e - Criadas no ano 5,5 5,5 5,5 5,5 5,5 6 6 FONTE: - março de 89 Avicultura e Suinocultura Industrial, edição de maio de 89. - Abril de 93 a abril de 99 Elaboração própria a partir da revista Aves &Ovos, várias edições. ENEGEP 2002 ABEPRO 3

Apartir dos índices da tabela 01, procura-se demonstrar a produtividade e eficiência. Os cálculos comparativos avaliam o comportamento do setor a partir de 1989 e estão expressos na tabela 02. A produtividade é considerada como um índice obtido entre a variação na produção de carne e a variação no consumo de ração. Índice menor que um significa que houve queda de produtividade, igual a um não há variação e maior que um tem-se melhora na produtividade. A eficiência é considerada como sendo a capacidade do setor obter maior produção utilizando o mesmo espaço físico e melhorando os índices zootécnicos. Outros fatores que podem alterar a produtividade, como por exemplo a densidade de aves por m 2 não são considerados, pois o cálculo é feito sobre um experimento de 1.000 aves. Desta forma temse a seguinte relação: Produção de carne = quantidade de aves X número de criadas por ano X peso médio. Consumo de ração = quantidade de carne produzida X conversão alimentaríndice de produtividade = Variação % na produção/variação % no consumo de ração TABELA 02 Produtividade da avicultura de corte brasileira. Período Produção de Carne (kg) Variação % A Consumo de ração (kg) Variação % B Produtividade A/B Março 89 8.640,00-19.008,00 - - Abril 93 9.445,50 9,32 20.307,82 6,84 1,36 Julho 94 10.710,00 13,39 21.634,20 6,53 2,05 Outubro 95 11.737,00 9,59 22.887,15 5,79 1,66 Março 97 11.913,00 1,50 23.230,35 1,50 1,00 Janeiro 98 11.852,50-0,51 23.112,38-0,51 1,00 Abril 99 12..930,00 9,06 25.213,50 9,09 1,00 FONTE: Elaboração própria a partir da tabela 01. O índice de 1,36 obtido entre março de 1989 e abril de 1993 mostra que houve ganho de produtividade no período, pois para um mesmo período a variação na quantidade de carne produzida foi maior que a variação no consumo de ração. Este aumento da produtividade está em função da eficiência do setor, pois diminuiu a idade de abate, aumentou o peso médio, além de melhorar a conversão alimentar. Comparando a variação de abril de 1993 a julho de 94, obteve-se um índice 2,05, representando que houve ganhos de produtividade para o período, pois o aumento na produção de carne foi bem mais significativo que o aumento no consumo de ração. Houve uma pequena queda no índice de conversão alimentar, mas que foi compensado pela menor mortalidade, bem como pelo aumento no número de criadas por ano De julho de 1994 a outubro de 1995 obtêm-se um índice de produtividade de 1,66. Tem-se para este período, um aumento na produção de carne bem maior que o consumo de ração. Outubro de 95 se mostrou mais eficiente, pois melhorou sua produtividade quando diminuiu a idade de abate. Isto valeu uma queda na mortalidade, se refletindo em um melhor peso médio. Além disso, esta diminuição na idade de abate proporcionou realizar 5,5 criadas por ano contra 5 do período anterior. Entre outubro de 1995 e março de 1997 observa-se algo diferente das situações anteriores, pois houve um aumento na produção de carne, mas que foi alcançada com aumento no consumo de ração nas mesmas proporções, significando dizer que não se tem melhora de produtividade neste período. Isto está expresso no índice de produtividade igual a 1. De março de 1997 a janeiro de 1998 não houve melhora de produtividade, porém com um agravante para este período, pois houve uma queda nas quantidades produzidas, dadas as mesmas condições do período anterior. Portanto, manteve-se a produtividade, mas ENEGEP 2002 ABEPRO 4

perdeu-se em eficiência. De janeiro de 1998 a abril de 1999 houve um acréscimo considerável nas quantidades de carne produzidas mas que foram obtidos aumentando o consumo de ração nas mesmas proporções, representando mesma produtividade, porém maior eficiência, passado de 5,5 criadas para 6 criadas ao ano. De forma geral, percebe-se que nos início do período as melhoras tanto de produtividade como de eficiência são bastante consideráveis. Com o passar dos períodos, a melhora no que se refere a produtividade fica cada vez mais difícil, ou seja, somente se alcança crescimento através da melhora na eficiência, principalmente desfrutando melhor do espaço físico. Isto leva a pensar que o crescimento futuro do setor está mais em função da eficiência do que da produtividade. Cabe salientar, que este comparativo efetuado com base na tabela 01 se refere tão somente a produção, ou seja, como se comportaram a produtividade e eficiência em função de alguns índices zootécnicos. É claro que podem ocorrer melhoras no setor baseadas em diminuição dos preços dos insumos, diminuição no preço dos pintos, mas que será uma melhora temporária, não significando crescimento real e estando o setor muito sensível a estes fatores. 2.3. O Mercado Interno Uma das formas de avaliar o desempenho do setor avícola ao longo dos anos é analisar como se comportou o consumo per capita. Consumo per capita representa a relação média entre consumo total dividido pela população do período.tal consumo apresentou desempenho favorável, mantendo evolução crescente ao longo das duas últimas décadas. Em 1980 o consumo per capita era de 8,9 kg subindo para 13,40 kg em 1990 e 29,91 em 2000, o que representa aumento de 236% em relação a 1980. Parte do incremento no consumo se deu em função da mudança de preferência do consumidor, o qual readequou seus hábitos alimentares, trocando parte da carne suína e bovina por carne de frango. O restante do incremento se deve a diminuição dos preços relativos quando comparado a seus substitutos mais próximos, como a carne de gado e porco. Em 1987 o preço pago ao produtor pelo kg de frango vivo era de U$S 0,548. Apresentou crescimento em quase todo o período, fechando em 2000 com um preço médio em torno de U$S 0,62, o que representa crescimento de 13,14%. Nos supermercados, o preço médio pago em 1987 pelo consumidor final era de U$S 0,989. Apresentou muitas variações ao longo dos anos, principalmente pelas alterações cambiais. Em 2000, apresentou um preço médio de U$S 0,978, idêntico ao praticado em 87. 2.4. Exportações As exportações brasileiras de carne de frango iniciaram no ano de 1975, quando a empresa Perdigão Agroindustrial e o grupo Sadia embarcaram 3.469 toneladas do produto para o exterior. As quantidades exportadas aumentaram no decorrer das décadas e atualmente este segmento de mercado representa grandes oportunidades de negócios para todo o setor avícola brasileiro. Em 1980.o Brasil exportou 168.713 toneladas de carne de frango, somente na forma de frango inteiro. Com o passar dos anos o Brasil modernizou os processos industriais, exportando também cortes elaborados, a partir de 1984, valorizando com isso o preço no mercado internacional. Segundo a ABEF (Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos), a partir de 1992 as exportações brasileiras de carne de frango passaram a sofrer problemas quanto a livre entrada em alguns países, principalmente da Europa. Segundo esta instituição, foram adotadas medidas protecionistas quanto a entrada dos produtos brasileiros, por parte da Comunidade Econômica Européia (CEE), criando uma sobretaxa sobre os produtos mais elaborados, como cortes de peito, na ordem de US$ 430 por tonelada importada. Desta forma, a competitividade da carne brasileira fica afetada, refletindo sensivelmente nas ENEGEP 2002 ABEPRO 5

quantidades exportadas, visto que até então as maiores quantidades de cortes de frango eram destinadas a CEE. Além do aspecto protecionista, ainda segundo a ABEF, os exportadores brasileiros de carne de frango enfrentaram em 1993 os fortes subsídios dados a produção avícola nos Estados Unidos e França. Desta forma, estes países ganham em competitividade e passam a disputar mercados do Oriente Médio, região que adquire grandes quantidades de carne de frango brasileira. Mesmo neste contexto difícil para o setor, em 2001, o Brasil exportou 1.265.887 toneladas de carne, somando in natura e industrializada, representando 650% de acréscimo em relação ao início da década de 80. Estas exportações renderam ao Brasil em 2001 um montante de 1,3 bilhões de dólares, que representam aumento de 490% em relação a 1980 e 60% somente em relação ao ano de 2000. 3. Mudanças organizacionais e tecnológicas no setor avícola industrial. A primeira grande mudança da avicultura tradicional para a avicultura industrial está na forma de organização, ou seja, os sistemas de integração. Neste sistema de organização, uma grande unidade industrial ou cooperativa comanda todo o processo desde o planejamento até a comercialização final. É ela que fornece toda a matéria prima ao produtor, associado, o qual tem a responsabilidade de manejo das aves e entrega à indústria em prazo pré-determinado. O produtor, geralmente, participa com o investimento inicial, referente a construção de galpões de alojamento e equipamentos de manejo. Este novo sistema de organização se consolida somente no final dos anos 70 e inicio da década de oitenta, e se faz presente com mais intensidade na região sul do país. Segundo dados da revista "Avicultura e Suinocultura Industrial", cerca de 70% da carne suína produzida no Brasil, além de 2 milhões de toneladas de carne de frango provém deste sistema de organização. Com isso, estimula-se também o desenvolvimento e valorização dos minifúndios, o que gera cerca de um milhão de empregos através deste sistema de parceria. Para a indústria os benefícios são ainda mais visíveis, pois garante continuidade no processo, dado que o planejamento é feito com bastante antecedência. Além disso, fazendo a transferência da parte de manejo, a indústria integradora repassa também os riscos de perdas e mortes ao produtor. Com este processo, segundo Heitor José Muller, presidente da União Brasileira de Avicultura, o Brasil possui uma das aviculturas mais competitivas do mundo. Outra técnica importante introduzida na avicultura brasileira foi a de sistemas de aclimatização. Isto possibilitou um melhor controle sanitário, aumentando a densidade de aves, melhorando a conversão alimentar, diminuindo a mortalidade e conseqüentemente aumentando a produtividade. Da fase de produção para a fase de processamento também houveram muitas mudanças no decorrer dos anos. Em meados da década de 70 foram introduzidas modernas tecnologias, substituindo os antigos abatedouros, dando maior rapidez e produtividade ao processo. Com isso, a produção de carne de frango que no início dos anos 70 era de cerca de 480 mil toneladas, e um consumo de cerca de 4,7 kg por habitante, deu um salto significativo, ingressando também no mercado internacional. Na década de oitenta, evoluíram significativamente os negócios com o exterior, principalmente com o Oriente Médio, que estimulou ainda mais a expansão da capacidade de produção por parte das empresas. Foram instaladas as primeiras linhas de eviceração automática e seus periféricos, conjunto compacto de máquinas que aliando alta velocidade de processamento, qualidade no trabalho e baixa exigência de mão-de-obra mostraram ser uma sustentação tecnológica adequada para a época. Novos programas de pesquisa que foram desenvolvidos, juntamente com elevados investimentos deram continuidade ao processo de modernização. Aliado ao novo perfil do consumidor, o mercado de cortes elaborados aparece como uma opção mais rentável ENEGEP 2002 ABEPRO 6

comparado ao de frangos inteiros. São processados diversos tipos de cortes em função das exigências de cada mercado consumidor específico. Outra técnica revolucionária, neste contexto, é a desossa da carne, motivado principalmente pela crescente demanda por parte dos consumidores japoneses. Inicialmente o processo era automatizado, ganhando espaço, porém, com o passar dos tempos, as tarefas manuais. Este processo, mais manual, diferenciava o produto brasileiro dos demais, principalmente no Japão. A consolidação da indústria avícola brasileira no mercado internacional fez com que surgissem novas exigências, como especificações físicas dos produtos, o controle das datas de produção e expiração do produto a constar de rótulos e caixas, o teor de hidratação, a checagem pré-embarque de temperatura, além das especificações da qualidade microbiológica. O crescente consumo interno de carne de frango, influenciado principalmente pela imagem de produto saudável, fez com que se intensifica-se os processos de industrialização afim de atender as demandas, dando origem além de cortes diversificados, a produtos industrializados. Os que mais se destacam são os chamados pratos prontos ou quase prontos, cortes temperados, filés empanados e hambúrgueres. As indústrias apostam cada vez mais nesses lançamentos de olho nas mudanças de hábitos e estilos de vida dos grandes centros urbanos. A rotina agitada exige refeições cada vez mais rápidas e de preparo simplificado. Só para exemplificar a dimensão das mudanças, a Perdigão Agroindustrial produz e exporta cerca de 28 cortes diferentes de carne, além das linhas de industrializados. Assim como outras grandes do setor, a empresa busca não somente a maximização de receitas, através de valores mais elevados, mas principalmente atender todas as necessidades dos atuais consumidores, de olho também em novos mercados com alto poder aquisitivo, como é o caso do Japão e Europa. A Sadia por sua vez, também investiu pesado na linha de cortes diferenciados e produtos industrializados, buscando agregar mais valor a seus produtos. Para exemplificar, segundo dados da revista Avicultura Industrial, cerca de 40% do faturamento da empresa provém dos industrializados. A grande vantagem desta linha, segundo os especialistas, é a possibilidade de direcionar os tipos de produtos conforme o gosto e poder aquisitivo dos consumidores. Outra inovação, buscando melhorar a qualidade dos produtos, foi a lançada pela Du Pont para fechamento de bandejas de partes de frango. Este processo vem substituir o antigo sistema de PVC esticável, proporcionando assim melhor vedação e reduzindo as distorções da impressão da embalagem. Segundo a empresa, o processo é de fácil instalação e adaptação, alcançando redução de custos de 10% a 25% na embalagem. Com todas estas inovações, o segmento avícola brasileiro se consolidou e transformou-se em importante alternativa de investimentos e de geração de empregos. Os índices de avaliação dentro do setor são os melhores se comparados com os maiores produtores mundiais. As empresas lutam entre elas na conquista de novos clientes tanto no mercado interno como no externo, deixando expectativas que as inovações tecnológicas continuarão em ritmo crescente conforme as novas exigências do mercado. 4. Considerações finais Constata-se que a partir da constituição dos Complexos Agro-industriais os setores buscam de forma contínua a introdução de novas e modernas tecnologias, além do aprimoramento de técnicas para a execução de tarefas referentes à atividade produtiva, buscando a padronização e continuidade nos processos. O setor avícola brasileiro mudou sua dinâmica produtiva a partir dos anos 50 e 60, vinculando-se a outros segmentos produtivos importantes como a indústria de rações, de máquinas e equipamentos e indústria química farmacêutica, criando uma sustentação para que a produção avícola pudesse se desenvolver de forma consistente, tendo os processos aprimorados ao longo das décadas. ENEGEP 2002 ABEPRO 7

A avicultura de corte brasileira, após sua consolidação em moldes industriais, assumiu características próprias diferentemente de outros setores agro-industriais, com um grande controle biológico proporcionando que a atividade se desenvolva mesmo em condições climáticas adversas. Os ciclos de produção dentro da atividade avícola de corte são mais curtos, comparativamente aos outros segmentos de carne, possibilitando a adaptação das escalas produtivas, proporcionando retornos mais rápidos aos investimentos, tornando a atividade atraente. Característica importante da atividade avícola brasileira são as relações existentes entre as unidades produtoras individuais e as unidades controladoras do processo. Geralmente esta relação se dá através de contratos, onde a empresa integradora participa com o planejamento, com a maior parte do capital bem como das tecnologias empregadas. Em contra partida, o produtor individual se compromete a cumprir a risca as determinações, produzindo conforme as regras estabelecidas, participando geralmente com pequeno capital em forma de instalações e mão-de-obra. Com isso a empresa integradora ganha, no sentido que elimina grande parte dos riscos e o produtor individual tem a certeza de que seus produtos têm destino certo no final do processo. As principais tecnologias empregadas no setor, desde as relações organizacionais, passando pelo processo de aclimatização, processamento e desossa de carne bem como a industrialização, buscando sempre satisfazer as necessidades dos clientes, além de buscar novos mercados, deixa evidente que o setor apresenta sinais de expansão e as novas e modernas tecnologias continuarão a ser incrementadas de acordo com as necessidades impostas pelo mercado. Bibliografia. ABEF, Associação Brasileira de Exportadores de Frango. http.//www.abef.com.br AVES & OVOS. Revista da Associação Paulista de Avicultura. Várias edições EMBRAPA. A cadeia produtiva do frango de corte no Brasil. Concórdia, SC, 1997. NUNES, Fábio G. Processamento avícola: dinamismo e sucesso. Revista Avicultura & Suinocultura Industrial, setembro de 96. REVISTA Avicultura e Suinocultura Industrial, edições de: maio de 89; março de 95; setembro de 96. REVISTA Avicultura Industrial, edições de: novembro de 96; março de 97; junho de 98; outubro de 98; junho de 99. SCHORR, Hélio. Chega de Subsídios. Revista Avicultura Industrial, fevereiro de 98. SORJ, Bernardo, POMPERMAYER, Malori J., CORADINI, Odacir Luiz. Camponeses e Agroindústria Transformação Social e Representação Política na Avicultura Brasileira. Rio, Zahar Ed., 1982. SOUZA, Arnaldo de. Quem ganha com a integração? Revista Avicultura & Suinocultura Industrial, março de 95. TROCOLLI, Irene Raguenet. Carnes: um negócio cada vez mais sofisticado. Agroanalysis, vol.15, nº2, p.23-25, fev. 1995..Aves Sucesso de exportação. Agroanalysis, vol.16, nº4, p.29-3,. abril 1996..Frango: Crescendo em qualidade. Agroanalysis, vol.17, nº1, p.23-24, janeiro 1997. UBA, União Brasileira de Avicultura. http://www.rudah.com.br/uba ENEGEP 2002 ABEPRO 8