PONTOS DE VISTA, ARGUMENTAÇÃO E ENSINO: técnicas de construção argumentativa na escrita de artigos de opinião

Documentos relacionados
Sugestão de Atividades Escolares Que Priorizam a Diversidade Sociocultural 1

CURSO ANO LETIVO PERIODO/ANO Departamento de Letras º CÓDIGO DISCIPLINA CARGA HORÁRIA Leitura e produção de texto científico I

Plano de ensino: CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA CONTEÚDO, METODOLOGIA E PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

COORDENADORIA DO CURSO DE LETRAS

Oficina de Leitura e Produção de Textos

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: UM OLHAR CRÍTICO-REFLEXIVO 1

A PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA A PARTIR DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS 1

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE LETRAS

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

A IMPORTÂNCIA DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE GÊNEROS

GUIA DIDÁTICO OFICINA DE DIDATIZAÇÃO DE GÊNEROS. Profa. MSc. Nora Almeida

A coleção Português Linguagens e os gêneros discursivos nas propostas de produção textual

PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração Educação. Aulas teóricas: 04 Aulas práticas: 02

Técnico Integrado em Controle Ambiental SÉRIE:

PROJETO DE APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL: PRODUÇÃO TEXTUAL ACADÊMICA, AVALIATIVO, PEDAGÓGICO E INSTITUCIONAL.

GERAL Preparar o futuro profissional do direito no sentido de expressar-se com correção, clareza e coerência.

FACULDADE SETE DE SETEMBRO FASETE

A ORALIDADE NA CONSTRUÇÃO DA ESCRITA

Unidade de Licenciaturas Colegiado de Letras

PLANO DE DISCIPLINA DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR NOME: LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA III CURSO: TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES INTEGRADO AO

COLÉGIO PEDRO II CAMPUS SÃO CRISTÓVÃO II LEITURA E EXPRESSÃO - UM PROJETO PARA SALA DE LEITURA -

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE LETRAS

1. A comunicação e a argumentação em sala de aula

A PONTUAÇÃO COMO ASPECTO RELEVANTE PARA A COERÊNCIA TEXTUAL: ANÁLISE DE POSTAGENS DO FACEBOOK

Plano de Ensino Componente Curricular: Curso: Período: Carga Horária: Docente: Ementa Objetivos Geral Específicos

Marque a opção do tipo de trabalho que está inscrevendo: ( X ) Resumo ( ) Relato de Caso

GÊNEROS TEXTUAIS: A PRÁTICA DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS NA AULA DE LP

significados que pretende comunicar em um determinado contexto sócio-cultural. A Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) leva em consideração que as

DEU A LOUCA NA BRANCA DE NEVE : O RECONTO ATRAVÉS DO AUDIOVISUAL COMO SUBSÍDIO DE INTERPRETAÇÃO LITERÁRIA

SANTOS, Leonor Werneck. RICHE, Rosa Cuba. TEIXEIRA, Claudia Souza. Análise e produção de textos. São Paulo: Contexto, 2012.

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio

PLANO DE ENSINO SEMESTRE:

6. PLANOS DE DISCIPLINAS

UM ENSINO DE TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO

O GÊNERO DISSERTATIVO ARGUMENTANTIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL II UMA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA EM SALA DE AULA COM O PIBID

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO EMENTA

O TRABALHO COM GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO DE CIÊNCIAS Autores: Vanessa Martins Mussini 1 Taitiâny Kárita Bonzanini 1,2

GÊNEROS TEXTUAIS NO LIVRO DIDÁTICO: REFLEXÕES E PRÁTICAS NO ENSINO FUNDAMENTAL

COESÃO REFERENCIAL E SEQUENCIAL LEITURA E ARGUMENTAÇÃO TEXTO ARGUMENTATIVO

Instrumento. COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de Gêneros Textuais. Belo Horizonte: Autêntica, Mariângela Maia de Oliveira *

Lógica Proposicional. 1- O que é o Modus Ponens?

TÍTULO: OS LUGARES DA ARGUMENTAÇÃO EM PROVÉRBIOS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE AS LÍNGUAS INGLESA E PORTUGUESA.

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

CONTEÚDO ESPECÍFICO DA PROVA DA ÁREA DE LETRAS GERAL PORTARIA Nº 258, DE 2 DE JUNHO DE 2014

UNIVERSIDAD E FEDERAL DO OESTE DO PARÁ- UFOPA XXX LLC LÓGICA, LINGUAGEM E COMUNICAÇ ÃO SEMIÓTIC A/ PORTUGU ÊS (30H) Santarém-PA

Plano de Ensino Componente Curricular: Curso: Período: Carga Horária: Docente: Ementa Objetivos Gerais Específicos

REFLEXÕES INICIAIS SOBRE LETRAMENTO

TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO. Professor Marlos Pires Gonçalves

Campus Crato COORDENADORIA DE EXTENSÃO

Cód. Disciplina Período Créditos Carga Horária D-11 2º 04 Semanal Mensal Nome da Disciplina / Curso LINGUAGEM FORENSE

O TRABALHO COM GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. I BIMESTRE 1. O Texto

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS Ano letivo 2018 / 2019

PLANO DE ENSINO. CH teórica: 15h CH Prática: 45h CH Não- Presencial :

O GÊNERO VIDEO TOUR COMO INSTRUMENTO DE ENSINO DE LÍNGUA INGLESA E DE VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE LOCAL

PROGRAMA DE DISCIPLINA

FORMULÁRIO PARA APRESENTAÇÃO DE PROGRAMA GERAL DE DISCIPLINA - PGD

Artigo de opinião. Este material foi compilado e adaptado de material didático criado pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco

CURSO DE ENFERMAGEM Reconhecido pela Portaria nº 270 de 13/12/12 DOU Nº 242 de 17/12/12 Seção 1. Pág. 20

III. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

EMENTA OBJETIVO GERAL

conteúdo apresentado e disponibilizado seja capaz de promover a preparação do aluno para o concurso vestibular Unicentro e demais

Livros didáticos de língua portuguesa para o ensino básico

A REPORTAGEM E SUAS DIMENSÕES ENSINÁVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DO ALUNO

1ª Série. 2LET020 LITERATURA BRASILEIRA I Estudo das produções literárias durante a época colonial: Quinhentismo, Barroco e Neoclassicismo.

GÊNEROS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 Autora: Maida Ondena Magalhães Carneiro. Orientadora: Elizabeth Orofino Lucio

A PRÁTICA ARGUMENTATIVA DOS PROFESSORES NAS AULAS DE QUÍMICA

O GÊNERO RESENHA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS E REFLEXIVOS.

PERSPECTIVAS PARA O PLANEJAMENTO DE ESCRITA Autor1: Jeyza Andrade de Medeiros. Modalidade: COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

A ORALIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE O USO DOS GÊNEROS ORAIS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

A ESCRITA DE GÊNEROS ARGUMENTATIVOS NO SEXTO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA COM TEXTOS DE OPINIÃO

Linguagem em (Dis)curso LemD, v. 9, n. 1, p , jan./abr. 2009

Reflexões sobre a arte de argumentar

Campus de Presidente Prudente PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração EDUCAÇÃO. Aulas teóricas:08 Aulas práticas: 08

Disciplinas ministradas em outros cursos

ENSINO DE LÍNGUA E ANÁLISE LINGUÍSTICA: PRESCRUTANDO OS DOCUMENTOS OFICIAIS

O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CARTA PESSOAL: UMA EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO TURMA: 20 H

ÍNDICE. Bibliografia CRES-FIL11 Ideias de Ler

Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais

O USO DE GÊNEROS JORNALÍSTICOS PARA O LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LIBRAS

ESTUDOS DISCURSIVOS: DO DEBATE À PRODUÇÃO TEXTUAL

REFLEXÕES SOBRE LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL NO IFPA CAMPUS ABAETETUBA. 1

A INSERÇÃO DO GÊNERO CARTA DO LEITOR NO ENSINO DE LÍNGUA: PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS PARA A LEITURA E A PRODUÇÃO DE TEXTO

PIBID: uma proposta de ensino do gênero textual discursivo

ABORDAGEM DA CONCEPÇÃO SOCIOINTERACIONISTA APLICADA EM COMANDOS DE PRODUÇÃO TEXTUAL DE LIVROS DIDÁTICOS

Sequência Didática e o Ensino do Gênero Artigo de Opinião. Ana Luiza M. Garcia

5 Argumentação: atividade estruturante da linguagem

Autorizado pela Portaria nº de 04/07/01 DOU de 09/07/01

SUBSÍDIOS DE LÍNGUA MATERNA NA PRODUÇÃO ESCRITA EM PORTUGUÊS LÍNGUA ADICIONAL

Currículo das Áreas Disciplinares/Critérios de Avaliação 9º Ano Disciplina: Português Metas Curriculares: Domínios/Objetivos / Descritores

GENEROS TEXTUAIS E O LIVRO DIDÁTICO: DESAFIOS DO TRABALHO

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICAS Ano Lectivo 2011/2012

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO EMENTA

PROMOVENDO A ARGUMENTAÇÃO NA SALA DE AULA POR MEIO DA DIVERSIDADE DE DISCURSOS

A DIDATIZAÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA NA OLP: DESAFIOS DOCENTES

Transcrição:

PONTOS DE VISTA, ARGUMENTAÇÃO E ENSINO: técnicas de construção argumentativa na escrita de artigos de opinião Jaiza Lopes Dutra Serafim jaizadutra@gmail.com André Magri Ribeiro de Melo andre.letraslp@gmail.com Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) Campus Avançado Prefeito Walter de Sá Leitão (CAWSL/UERN) RESUMO: Desde 1980, os estudos em torno do desenvolvimento de propostas para o ensino de língua portuguesa no Brasil a partir dos referenciais dialógicos e sociointeracionistas que marcaram o início do século XX. Este texto tem como escopo a reflexão em torno de um dos aspectos que têm ganhado espaço nos debates sobre ensino de língua materna na educação básica brasileira: a argumentação. Objetivamos, pois, construir uma ponte de diálogos entre a prática de argumentar e o desafio de ensiná-la no ensino fundamental dos anos finais. A discussão que intentamos instaurar é amparada em alguns pressupostos teóricos, como os de Bakhtin (1997), Abreu (2008) e MEC (1998). Realizada dentro de parâmetros qualitativos, esta escrita reflete nossa interpretação acerca do fenômeno da argumentação e da sua inserção nos espaços escolares dentro das aulas de português e nas situações de produção escrita. Destacamos o artigo de opinião para mobilização da reflexão e ressaltamos a relevância social e pedagógica deste texto como mais um instrumento de consolidação de uma proposta de cidadania linguística que nasça, cresça e perpasse a escola e retorne à realidade dos seus sujeitos. Palavras-chave: Argumentação e Ensino. Artigo de Opinião. Produção Escrita. Pontos de vista: as primeiras palavras... Normalmente, o ensino de argumentação/dissertação nas escolas brasileiras tem seu início no 8º ou 9º anos do ensino fundamental, mas, sobretudo, ocupa lugar de destaque no ensino médio. Tal fato se daria porque, neste momento, já estaria o

aluno cognitivamente preparado para um raciocínio de ordem analítica, que solicita determinada organização de dados da realidade. Sobre estes dados deve o aluno opinar e redigi-los sob forma dissertativa. Os PCNs incentivam a... possibilidade de [o aluno] poder expressar-se autenticamente sobre questões efetivas (PCNs, 1998, p. 40). Logo, os temas polêmicos são bem-vindos, pois inerentes aos temas sociais, abrem possibilidades para o trabalho com a argumentação capacidade relevante para o exercício da cidadania por meio da análise de formas de convencimento empregadas nos textos, da percepção da orientação argumentativa que sugerem, da identificação dos preconceitos que possam veicular no tratamento das questões sociais, etc. Neste artigo, objetivamos, principalmente, discutir as técnicas de argumentação mais comuns na produção de artigos de opinião nos anos finais do ensino fundamental, observando também aspectos semânticos e estruturais pertinentes ao artigo de opinião, bem como a relevância do debate em torno do ensino de produção textual e de técnicas de argumentação na educação básica, de forma que estes alunos possam, no ensino médio e no ensino superior a priori, constituírem-se como sujeitos capazes de expor com clareza suas ideias e defender com qualidade argumentativa e consciência política suas opiniões frente aos desafios da contemporaneidade. Sobre gêneros textuais e argumentação De acordo com Bakthin (1997), os gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da atividade humana. Por essa relatividade a que se refere o autor, pode-se entender que o gênero à sua composição, favorece uma categorização no próprio texto, isto é, a criação de um subgênero. O artigo de opinião é entendido aqui como um gênero discursivo de base, essencialmente, argumentativa. Atualmente, pedir um texto em sala de aula é, para uma grande parte dos professores, conviver por alguns minutos com a angústia de não ver o aluno nada produzir ou escrever o mínimo possível; mesmo assim, na maioria das vezes, frases soltas e desconexas. Se, para o professor, essa situação é preocupante, para o aluno, é angustiante, uma vez que este é que está na obrigação de entregar seu trabalho ao professor em um espaço de tempo que, diante da aflição no momento em que escreve tornar-se curto. O que fazer diante dessa realidade é tão complexo

quanto a própria situação vivenciada por um e outro. Os fatos apontados acima são reflexos de uma prática pedagógica que tem demonstrado o despreparo de muitos docentes no que tange ao ensino da leitura e da produção de textos. Escrever não é um dom divino, e sim uma prática que deve ser constantemente aprimorada. Escrever, como ler, é processual. Isso nos faz perceber que a produção textual suscita atividades que instrumentalizem o aluno, a partir de situações comunicativas próximas das vivenciadas por ele. É importante se compreender que a produção textual está relacionada com as várias áreas do conhecimento. Entretanto, é no ensino da língua materna que se pode explorar esses conhecimentos a partir da leitura e da discussão dos gêneros textuais. As produções argumentativas a que fazemos referência neste artigo são as que se enquadram geralmente nos gêneros carta argumentativa, resenha crítica, artigo de opinião, depoimento pessoal, entre outros. Consideremos também as produções textuais de caráter oral, como o debate, o seminário, a conferência e a aula expositiva, as quais possuem uma linguagem clara e objetiva, suscitando nos alunos o conhecimento advindo dos conteúdos aprendidos e unindo a isso a prática da argumentação em seus discursos. Nesse sentido, fundamentando-se na concepção de Língua como processo de interação social, propomos a leitura e a discussão quanto à situação de produção textual argumentativa, enquanto gênero textual, bem como sua inserção nas atividades ligadas ao ensino da língua materna, visando ao aperfeiçoamento linguístico do aluno e à edificação da sua cidadania linguística (RANGEL, 2008). Da teoria à práxis: o ensino da argumentação Podemos, assim, dizer que argumentar seria a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. Mas em que convencer se diferencia de persuadir? Convencer é construir algo no campo das ideias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a ser a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realizasse. (ABREU, 2003, p.25) Na constituição da opinião que se tornará o argumento ainda se consultam

os postulados argumentativo-retóricos preconizados por Aristóteles e Górgias, na filosofia antiga. Os novos tratados argumentativos procuram, inclusive, manter, na base, a mesma divisão pelos antigos preconizada. Procede-se, por conseguinte, à divisão das técnicas em dois grandes grupos: as que utilizam argumentos quaselógicos e as que trabalham com argumentos baseados na estrutura do real. Assim, se um locutor usar como tese um mandamento como Não matarás, estará utilizando uma verdade universal os homens consideram, realmente, inadequado retirar dolosamente a vida de alguém. Entretanto, algumas culturas aceitam e recomendam a pena de morte, caso se trate de determinado delito. Aí, então, entra-se no campo da fundamentação daquilo que é ideal, levando-se em conta as circunstâncias da cenografia do momento histórico em questão. Muitas são as técnicas para os dois conjuntos. Pedagogicamente, porém, cremos que o professor deve selecionar aquelas que julgar mais pertinentes de maior eficácia para a produção textual do aluno, inclusive porque uma exacerbação de conteúdo nem sempre é tão bem assimilada. Além disso, espera-se que o discente não só reconheça a técnica utilizada como também e, sobretudo coloque tal engrenagem textual em prática. Em decorrência da necessidade do aluno de conhecer a teoria em torno das técnicas argumentativas e utilizá-las dentro de suas produções, os manuais didáticos apresentam farto material para a promoção da discussão de temas, bem como propostas de encadeamento de ideias (os esqueletos argumentativos, com introdução, desenvolvimento e conclusão). Outros poucos, ainda, já pincelam noções como pressupostos, premissas e silogismos. Entretanto, a nosso ver, a referida identificação/análise das formas de convencimento ainda não se apresenta devidamente contemplada. O aluno, portanto, não é surpreendido com informação nova, que lhe proporcione melhor domínio da escrita dissertativa. Colocar em cena, então, nos bancos escolares, as técnicas argumentativas forneceria, possivelmente, ferramentas para que este aluno pudesse argumentar com mais segurança e, sobretudo, com mais criatividade. Na produção escrita, o argumentador dispõe de diferentes técnicas de argumentação que partem da especificidade do argumento que montará em defesa do seu ponto de vista. Geralmente, as ocorrências mais reais no cenário pedagógico do ensino de produção escrita no ensino fundamental dos anos finais são argumentos de cinco tipos, a saber: (a) contrariedade: provar o contrário; (b)

definição: construir limites conceituais frente ao auditório; (c) justiça: argumentação amparada em legislação humana ou divina; (d) ridículo: argumentação que parte da ironia, da sátira e de outros elementos de humor; e (e) retorsão: apropriação dos argumentos do outro, a partir de uma ótica própria, para retorcer o que lhe está sendo dito o uso da voz do outro para negar-lhe coerência. Entre pontos de vista, argumentação e ensino, um possível caminho: a construção de um ensino de língua materna capaz de criar condições para que os alunos possam emancipar-se, constituírem-se como sujeitos autônomos e potencialmente capazes de utilizarem sua língua materna em favor da cidadania de todos e da consolidação de uma sociedade mais igual, sem desrespeitar a diversidade e evitando a marginalização dos menos favorecidos economicamente. A argumentação é uma via de poder na linguagem e precisa ter seu espaço assegurado na escola para que os alunos tenham assegurado seu direito à voz, à participação e aos direitos e deveres que lhes competem socialmente. REFERÊNCIAS: ABREU, Antônio. Suárez. A Arte de Argumentar Gerenciando Razão e Emoção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008. BRASIL (1998) Parâmetros Curriculares Nacionais: 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília/DF: MEC/SEF. CARNEIRO, Agostinho Dias. Texto em construção: interpretação de texto. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1996. GAVAZZI, Sigrid. Ensino de argumentação na escola: uma nova proposta. Disponível na Internet via www.uff.br. Acesso em 14 de setembro de 2014. KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel e BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002., p.19-36.