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Transcrição:

O redentor, o astronauta e o homem que encarava pipas 1 Lucas MOURA 2 Graça TEIXEIRA 3 Universidade Federal do Acre, Rio Branco, AC RESUMO A crônica O redentor, o astronauta e o homem que encarava pipas divaga entre aspectos observados pelo cronista e projeções de seu imaginário durante um percurso de ônibus. O referido texto faz associações analíticas e poéticas de um fato cotidiano para que o leitor absorva a crítica construída em torno do uso de símbolos. Foi elaborada em atividade exigida na disciplina de Comunicação Comparada, como forma de produção textual a ser construída a partir dos estudos de intertextualidade. PALAVRAS-CHAVE: Crônica; intertextualidade; linguagem. INTRODUÇÃO A crônica é uma narração que, dentro ou não dos processos de produção jornalística, se configura a partir da interpretação de fatos cotidianos de forma contemplativa e problematizada, por meio de um discurso que com parcimônia prende os leitores mediante uso de recursos textuais que, necessariamente, não cumprem a um padrão fixo de construção. Em suma, nos países europeus, a crônica é caracterizada como relato cronológico e de narrativa histórica, variando conforme a nação, mas mantendo-se firme à raiz romana da palavra chronica de ser um gênero de registro histórico, sem pretensão de aprofundamento ou interpretação dos fatos. No Brasil, em correlação à expansão do jornalismo tem-se a peculiaridade da crônica contemporânea ser vista além da questão da mera documentação de um fato, ela é um termo que coexiste com uma visão literária, caracterizando-se de forma como uma construção legítima do jornalismo brasileiro. É o que José Marques de Melo diz ser no jornalismo brasileiro um gênero plenamente definido (2003:148). 1 Trabalho submetido ao XVIII Prêmio Expocom 2011, na Categoria Jornalismo, modalidade Produção em jornalismo opinativo. 2 Aluno líder do grupo e estudante do 4º. Semestre do Curso de Comunicação Social Jornalismo, email: ufac@gmx.com. 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social Jornalismo. 1

A crônica faz da realidade o primeiro passo em seu processo de criação, envolve sempre um diálogo entre o fato, a imaginação e as experiências vividas do cronista, consolidando-se no processo de significação com as situações recriadas e refletidas pelos leitores. Este gênero se fecha em torno do pensamento coletivo e de uma gama imprevisível de sentimentos em torno das circunstâncias observadas, apresentando cargas consideráveis de linguagem simples e regionalismos, da mesma forma que demonstra o potencial filosófico e a visão analítica de um momento da sociedade. Diversas discussões pautam a cerca da classificação das crônicas, estando tais categorizações presentes no ramo da pesquisa em comunicação, entre pesquisadores literários e até mesmo os próprios cronistas. Contudo, há uma concepção quase uníssona de que apesar de várias divisões serem tomadas como referencial, nem todas crônicas ultrapassam sua época e nem todas conseguem imortalizar situações por via desta que seria uma retratação mais humana do fato. No que se refere à intertextualidade, a crônica brasileira atual está, como qualquer outro texto, inserida no panorama em que o processo de recepção envolve um amplo conjunto de linguagens que já foram sentidas pelo leitor. É, em outras palavras, um gênero narrativo que está plantado no dinamismo dos processos culturais, onde se misturam os sons, as imagens, as artes num geral, dentre outras manifestações do homem, tal como se procura fazer na literatura. A noção de dialogismo dentro da crônica aparece no solilóquio da fase construtiva da mesma, bem como na fase de cognição da reflexão transmitida. O diálogo entre enunciados existe desde cenas que remetem ao texto verbal ou não-verbal, até os instantes de conflitos ou somas culturais em opiniões apresentadas sobre os fatos. O cronista dispõe em suas conversas artifícios mais informais que, diferentemente da linguagem apresentada em outros gêneros opinativos, podem ser inseridos da forma simbólica que lhe for conveniente sem que a crítica embutida seja destoada por completo. Foi no contexto de desenvolver uma associação intertextual, menos mecanizada do que os meios acadêmicos exigem, que a criação da crônica O redentor, o astronauta e o homem que encarava pipas mostrou-se como uma atividade rica para a aplicação de recursos de escrita presentes em diversas manifestações textuais. Por meio do olhar mais atento às ações do cotidiano, o campo teórico visto na Comunicação Comparada ilustrou-se na simples expressão de um gênero textual que exige mais do que aparenta ser. 2

OBJETIVO Como expressar em forma de gênero opinativo algo do cotidiano de um estudante de jornalismo? De que maneira poderia ser recontada e feita uma crítica à sociedade sem que a liberdade do autor fosse suprimida em grande parte? Foi olhando estes aspectos que procuramos A crônica vai além do código verbal, vinculam-se aos mais diversos processos textuais experimentados pelo autor e que são no fim reinventados pelas experiências tanto dele como do receptor com texto. Para que o objeto, pertencente a qualquer esfera da realidade, entre no horizonte social do grupo e desencadeie uma reação semiótico-ideológica, é indispensável que ele esteja ligado às condições sócio-econômicas essenciais do referido grupo, que concerne de alguma maneira às bases de sua existência material. (BAKHTIN, 2006:36) Ao procurar responder às questões anteriores e ajustar-se à fundamentação crítica em torno da linguagem e dos símbolos existentes na sociedade, o intuito da criação deste trabalho foi expressar-se em um gênero opinativo que refletisse mais livremente a identidade do autor com uma situação que ao seu vê está enraizada na realidade social em que vive. Com a finalidade de melhorar os níveis de transmissão de uma experiência, redescobrindo formas de estimular na imaginação do leitor sensações familiares, a crônica apresentada procurou destacar-se dos níveis de padronização de uma publicação destinada a mostrar opinião para as pessoas. JUSTIFICATIVA Mesmo sendo uma produção avulsa para o meio acadêmico a crônica deveria carregar uma carga ideológica, e tal carga foi a revolta com o meio social do cronista e sua necessidade de confrontar manifestações de cunho religioso que, a seu ver, são uma mistura distorcida do que deve compreender o campo da fé. Para entender qual seria a direção que MELO diz, sobre veículos de informação, ser dada pelas forças sociais que os controlam e que refletem também as contradições inerentes às societárias em que existem (MELO, 2003:75) procuramos a liberdade literária aprendida 3

sobre a crônica para assim tentar chegar a um entendimento sobre em que sentido ideológico a mesma pode estar. Desde o ingresso no curso de jornalismo, percebe-se que há um entrave entre o que se aprende para a prática e nas teorias acadêmicas e aquilo que muitos enfrentarão nas redações. A omissão e a redução das mensagens são uma realidade na vida de quem pretende meter-se com opinião. Criar a crônica, no subterfúgio da linguagem literária, foi uma forma de sentir o gosto da subjetividade amedrontando ou incomodando alguém e ao mesmo tempo um jeito de procurar melhorar capacidade de correlacionar fatos e textos, tal qual foi a possibilidade de expandir o entendimento sobre a direção ideológica MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADAS Foram feitas leituras e análises de crônicas de autores precursores para que adquiríssemos a prática da identificação das figuras de linguagem e do regionalismo impregnados na crônica. Depois foram vistas as formas de diálogo existentes neste formato de opinião, fossem eles vindos do tipo de narração, das conversas entre personagens ou de forma mais profunda tais como, correlação entre autores, entre gêneros textuais como: filmes, músicas, pinturas, anúncios e até outras crônicas. Aprendeu-se em primeiro plano quais são as possíveis classificações das crônicas e para isto foi desenvolvido estudo dentro das listagens de José Marques de Melo para tal gênero do jornalismo opinativo, de onde vinham interesses classificativos dos setores teóricos, lingüísticos e até mesmo dos próprios cronistas. Tal aprendizagem foi para que antes de nossas primeiras produções entendêssemos que a crônica não fica num campo uniforme e monolítico (MELO, 2003:156), ela apesar da fidelidade ao cotidiano pode assimilar outras características no decorrer da sua construção que se sobrepõem a esta, igual sua crítica social que pode por muitas vezes nem ser um foco principal, caindo muitas vezes apenas do campo da apreciação. As discussões em torno da linguagem coloquial, do enredo, dos tons de lirismo, da ironia, do humor e da reflexão serviram para um degrau a mais na construção de uma mensagem que ficasse oculta na crônica. A edificação em um trabalho em níveis foi uma grande preocupação para que fossem desenvolvidos como fugir de determinações ideológicas. A abordagem de aspectos construtivos da crônica instruiu uma visão crítica a cerca desse meio, mas não quiseram de forma alguma ferir a grande liberdade vista nesse meio. 4

DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO A crônica O redentor, o astronauta e o homem que encarava pipas é um relato de uma viagem entre a cidade de Rio Branco, capital do Acre e Senador Guiomard, cidade vizinha, durante o período que os populares chamam de verão por ser a época de calor mais intenso e por conseqüência seca de lençóis d água, açudes, rede de abastecimento. É um período também marcado pelo o aumento da poeira, onde o aspecto vermelho do ar é intenso, daí a comparação com o ambiente espacial marciano. O aluno em questão faz, após seu dia de trabalho, o percurso diário em um ônibus para universitários gratuito, o que para ele não justifica o mal estado do ônibus. O desfecho da história se faz quando a nave espacial, o ônibus, é ultrapassada por um caminhão pipa, comum no período de verão amazônico na região, e uma série de aparatos religiosos, inclusive um redentor são visíveis pelo autor em sua crítica. É uma crônica narrada em primeira pessoa, que se faz de um tom poético na descrição de algumas características locais, mas é ao mesmo tempo irônica e satírica com os símbolos religiosos mal usados no ambiente. Sobretudo, é um trabalho que expôs, sem querer se envolver com direcionamentos ideológicos muito profundos, a realidade de um jovem para jovens dentro do espaço acadêmico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Infelizmente a opinião na imprensa não está livre de sofrer restrições, muito se ouve sobre fim da censura, volta da censura, liberdade de imprensa, mas poucos gêneros conseguem se exprimir ou atingem espaço na sociedade, a ponto de servir para a construção de um aparato ideológico longe do comodismo. A elaboração da crônica em muito serviu para que víssemos que ela mesmo sendo um meio livre, por apoiar-se especialmente no Brasil na força da literatura, não deixa de estar atrelada à direcionamentos ideológico predeterminados, tal como a crítica social que é um jogo de debate com o Estado. Os gêneros do jornalismo, num geral, ainda se esfacelam nessa constante luta onde não se pode vencer, apenas expor. 5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MELO, José Marque de. Jornalismo Opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. 3. Ed. rev. e ampl. - Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003. DOOLEY, Robert A. Análise do discurso: conceitos básicos em lingüística. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003 CASSIRER, Ernst. Linguagem e Mito. São Paulo: Perspectiva, 1992. LAGINESTRA, Maria Aparecida et ali. A ocasião faz o escritor: orientação para produção de textos. São Paulo: Cenpec, 2010. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. MARX, Karl. Liberdade de Imprensa. Porto Alegre: L&PM, 2006. 6