AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE CARCAÇA DE VACAS NELORE SUBMETIDAS À RESTRIÇÃO NUTRICIONAL E COM DOIS NÍVEIS DE RECUPERAÇÃO DE PESO Kelvis oliveira de Barros 1 ; Henrique Jorge Fernandes 2 ; Luísa Melville Paiva 3 1 Estudante do Curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana; E-mail: kelvisbarros@hotemail.com. Bolsista PIBIC/CNPq 2 Professor do curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana; E-mail: henrique.uems@hotmail.com 3 Professor do curso de Zootecnia da UEMS, Unidade Universitária de Aquidauana; E-mail: luisapaiva@uems.br Resumo Para avaliar a composição e a qualidade de carcaça de vacas submetidas à restrição nutricional e a duas velocidades de ganho na realimentação, e estudar as relações entre o peso vivo, as medidas biométricas e o conteúdo de gordura na carcaça foram utilizados 33 vacas neloradas do rebanho de descarte da EMBRAPA. Os animais foram alojados em pastagens, divididos em 2 grupos, de maio a agosto de 2010: 11 vacas foram mantidas em regime de mantença e as demais foram submetidas à restrição nutricional. A partir de agosto, as vacas foram transferidas para o confinamento, e tiveram sua dieta ajustada: as 11 vacas do grupo mantença foram mantidas em dieta que garantia a manutenção de seu peso vivo (Controle); as demais foram divididas em 2 grupos, alimentadas com dietas formuladas para ganho compensatório acelerado, em torno de 1,5 kg d -1, e para ganho compensatório lento, em torno de 0,5 kg d -1 (11 animais). Após um período médio de 104 dias em confinamento, os animais foram abatidos e as carcaças avaliadas. O tratamento de restrição nutricional e realimentação produziu carcaças menos maduras, mas dentro dos padrões mínimos de qualidade. Novas pesquisas são necessárias para avaliar as diferenças nas relações entre medidas biométricas e o conteúdo de gordura na carcaça de bovinos em crescimento e maduros. Palavras-chave: gado de corte, qualidade de carcaça, restrição nutricional, vacas Introdução 1
O Brasil é hoje o maior exportador mundial de carne bovina. Percebe-se, no entanto, a necessidade de produzir animais com melhor qualidade de carcaça para atender às exigências dos mercados consumidores. A estimativa da composição corporal de animais vivos é essencial para desenvolver sistemas de produção mais eficientes, que consumam menos recursos e permitam predizer a composição do ganho de peso, o consumo de ração e o ponto ideal de abate para determinado grau de qualidade (TEDESCHI et al., 2004). A utilização de medidas biométricas (MB) como um indicador do tipo de animal ou como um preditor de aspectos específicos da composição corporal é uma proposta antiga (FERNANDES et al., 2010), com a grande vantagem de ser um método de baixo custo. Objetivou-se nesse experimento avaliar a composição e a qualidade de carcaça de vacas em confinamento, submetidas à restrição nutricional e a duas velocidades de ganho na re-alimentação, e estudar as relações entre o peso vivo, medidas biométricas e o conteúdo de gordura na carcaça. Material e Métodos O experimento foi desenvolvido na EMBRAPA Gado de Corte, em Campo Grande, MS. Foram utilizadas 33 vacas neloradas do rebanho de descarte da EMBRAPA. Os animais foram alojados em pastagens no período de maio a agosto de 2010, divididos em 2 grupos: 11 vacas foram mantidas em regime de mantença (sem variação de peso), e as demais foram submetidas à restrição nutricional. Estes tratamentos foram garantidos por ajustes na taxa de lotação das pastagens. A partir de agosto, as vacas foram transferidas para o confinamento e tiveram sua dieta ajustada para três diferentes tratamentos: as 11 vacas originalmente em mantença, foram mantidas em dieta que garantia a manutenção de seu peso vivo (Mantença), constituindo o tratamento controle; as demais vacas foram dividas em 2 grupos, alimentados com dietas formuladas para ganho compensatório acelerado (Alto Ganho), em torno de 1,5 kg d -1 (11 animais), e para ganho compensatório lento (Baixo Ganho), em torno de 0,5 kg d -1 (11 animais). As dietas foram ajustadas de acordo com as recomendações do NRC (2000). 2
Após um período médio de 104 dias em confinamento, os animais foram abatidos no laboratório de carcaças da Embrapa Gado de Corte. Na véspera dos abates foram tomadas as MB. As seguintes MB foram realizadas, como sugeridas por Fernandes et al. (2010): Aberturas de íleos e ísquios, medidas como a distância entre os dois pontos ventrais do tuber coxae, e entre as duas tuberosidades ventrais do tuber ischii, respectivamente; Profundidade de garupa, medida como a distância vertical entre o ponto ventral do tuber coxae e a linha ventral do corpo; Altura de garupa, medida do ponto ventral do tuber coxae, verticalmente, até o chão; Comprimento de corpo, medido como a distância entre o ponto dorsal da escápula e o ponto ventral do tuber coxae; Comprimento de costela, medida do ponto mais alto acima da escápula, ao ponto final das costelas; Arqueamento de costela, medido como a maior largura horizontal do abdômen, em ângulo reto ao eixo central do corpo; Altura de cernelha, medida a partir do ponto mais alto acima da escápula, verticalmente até o chão; e, finalmente, Comprimento de garupa, medido como a distância entre os pontos ventrais do tuber coxae, e as tuberosidades ventrais do tuber ischii. Todas as MB foram obtidas com um hipômetro. Imediatamente antes do abate, cada animal foi pesado após 16 horas de jejum de sólidos (peso corporal em jejum - PVJ). Durante o abate, a carcaça de cada animal foi dividida em duas metades, que foram refrigeradas a - 5 o C por 24 h. Após o resfriamento, na meia carcaça esquerda procedeu-se a retirada de uma secção entre a 9ª e a 11ª costela, como sugerido por Hankins & Howe (1946). Estas seções de costela foram então fisicamente dissecadas e os componentes físicos (músculo, gordura e osso) pesados para se estimar sua quantidade na carcaça (Hankins & Howe, 1946). Na meia carcaça direita foram realizadas as medidas de comprimento da carcaça e de espessura de gordura na 13ª costela. As características de carcaça foram analisadas segundo um modelo inteiramente casualizado e os efeitos da restrição nutricional e da velocidade de ganho na re-alimentação sobre essas características foram avaliadas pela decomposição da soma de quadrados relacionada aos tratamentos por intermédio de contrastes ortogonais. Utilizou-se o statement Selection Stepwise do PROC REG do SAS (SAS Institute, Cary, CA) para selecionar as características corporais (MB, PVJ e Espessura de gordura) mais relacionadas com o total de gordura na carcaça (TGC) e ajustar uma equação de predição da TGC a partir destas características. 3
Adotou-se um nível de significância de 10% para todas as análises. Resultados e Discussão O processo de restrição alimentar e re-alimentação dos animais reduziu (P<0,10) a espessura de gordura de cobertura da carcaça (Tabela 1). Apesar disto, a espessura de gordura apresentada pelas vacas submetidas a esse tratamento (cerca de 4,5 mm em média) ainda encontra-se dentro da faixa considerada adequada pelo mercado. O comprimento de carcaça foi a única característica avaliada não afetada pelo processo de restrição e re-alimentação. Uma vez que o comprimento de carcaça está mais ligado ao crescimento ósseo, que definirá o tamanho final do animal, e os ossos são componentes corporais de crescimento precoce (BERG & BUTTERFIELD, 1976), já era de se esperar que variações no ambiente de produção de vacas adultas não afetassem essa medida. Todos os componentes físicos da carcaça foram afetados pelo processo de restrição e re-alimentação. De modo geral, a carcaça das vacas submetidas a esse tratamento apresentaram mais músculos, mais ossos e menos gordura que as controle. Isto é coerente com carcaças menos amadurecidas. Berg & Butterfield (1976) explicam que animais submetidos à restrição nutricional buscam atingir o estágio de maturidade corporal de animais que não passaram pela restrição, seguindo uma priorização normal de crescimento de tecidos. Os resultados observados permitem inferir que, caso as vacas permanecessem mais tempo no processo de re-alimentação, talvez as diferenças na composição física das carcaças dessas para as das vacas controle pudessem ser anuladas. A velocidade de ganho durante a re-alimentação, por sua vez, não afetou nenhuma ds características de carcaça aqui avaliadas (P>0,10). 4
Tabela 1 Características de carcaça de vacas submetidas à restrição nutricional e a dois níveis de ganho na re-alimentação Características da carcaça Tratamentos Valor P Controle Restrição (Velocidade de Ganho na Realimentação) Baixa Alto C.V Efeito da Restrição Efeito da Velocidade do Ganho Espessura de Gordura, mm 8,22 5,16 4,18 36,8 <0,001 0,192 Comprimento de Carcaça, cm 140 139 137 4,02 0,501 0,300 Músculos da carcaça, % 55,0 58,8 58,2 6,18 0,055 0,678 Ossos da Carcaça, % 11,5 15,0 13,6 14,8 0,009 0,114 Gordura da Carcaça, % 35,5 26,9 29,3 15,8 0,003 0,203 A equação que ofereceu uma melhor predição do TGC (Eq. [1]) combinou as informações de PVJ, espessura de gordura e comprimento corporal. Estes resultados contradizem o modelo proposto por Fernandes et al. (2010) para a predição do TGC de bovinos em crescimento. Naquele trabalho, os autores encontraram maior relação da TGC com o arqeuamento de costelas, além do PVJ e da espessura de gordura. TGC = 21,3 x PVJ + 548 x EG 75,2 x COMPCOR Eq. [1] Onde: TGC é o total de gordura na carcaça (kg); PVJ é o peso corporal em jejum (kg); EG é a espessura de gordura na altura da 13ª costela (mm); e, COMPCOR é o comprimento do corpo (cm). Essa equação demonstra uma relação em que, vacas a um mesmo peso corporal, tendem a ter 548 kg de gordura na carcaça a mais para cada milímetro de espessura de gordura subcutânea, e 75 kg de gordura na carcaça a menos para cada centímetro de comprimento corporal. Conclusões O processo de restrição nutricional e re-alimentação produziu carcaças menos maduras, mas ainda dentro dos padrões mínimos de qualidade exigidos pelo mercado. 5
Novas pesquisas são necessárias para se avaliar as diferenças nas relações entre medidas biométricas e o conteúdo de gordura na carcaça de bovinos em crescimento e maduros. Referências BERG, R. T. E BUTTERFIELD, R. M. New concepts of cattle growth. Sydney: Sydney university press, 1976. 240p. FERNANDES, H.J.; TEDESCHI, L.O.; PAULINO, M.F. et al. Determination of carcass and body fat compositions of grazing crossbred bulls using body measurements. Journal of Animal Science. n. 88. p.1442-1453, 2010. HANKINS, O.G. & HOWE, P.E. Estimation of the composition of beef carcasses and cuts. Washington, USDA, 1946. (Technical Bulletin, 926), 26 p. NRC National Reserarch Council. Nutriente Requirement of Beef Cattle. 4th revised edition. National Academy Press, Washington, 2000. 381p. TEDESCHI, L. O., D. G. FOX, & GUIROY, P. J. 2004. A decision support system to improve individual cattle management. 1. A mechanistic, dynamic model for animal growth. Agric. Syst. 79:171 204. 6