ÍNDICE DE ABSENTEISMO DOS TRABALHADORES DO SERVIÇO DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANAIR LAZZARI NICOLA RONALDO LUIZ BARBOZA MARISTELA SALETE MARASCHIN RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo identificar e analisar o índice de absenteísmo dos trabalhadores de enfermagem e conhecer as causas do mesmo no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, localizado na cidade de Cascavel - PR. A população estudada contemplou enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que no período de janeiro a dezembro de 2004, que mantinham vínculo com a referida instituição. Foi realizamos um levantamento retrospectivo sobre a incidência de ausências e suas causas. Durante o ano de 2004, o referido hospital tinha em média 285 funcionários de enfermagem. No período estudado, encontramos 1.159 dias de faltas, 1.600 dias de licença médica com até 15 dias, 1.931 dias de licença médica a partir de 15 dias de afastamento, 979 dias de licença maternidade, 6.198 dias de férias, 582 dias de licença especial, 1.757,1 dias de horas extras a 50% este percentual corresponde ao horário normal de trabalho e 520,6 dias de horas extras a 100%, correspondendo a domingos e feriados. Como as causas do absenteísmo nem sempre estão somente no funcionário, mas também na organização e nas condições do trabalho, acreditamos que o resultado desta investigação servirá de suporte à Direção do Serviço de Enfermagem, Direção Geral e Recursos Humanos do Hospital para estudos e análise, em conjunto a outros fatores organizacionais para a implementação de políticas institucionais ou programas que visem reduzir os níveis de ausências, atuando sobre as causas do absenteísmo e não mais só sobre seus efeitos. PALAVRAS-CHAVE: Absenteísmo; Enfermagem; Trabalhadores.
INTRODUÇÃO: O absenteísmo é uma expressão usada para designar a falta do empregado ao trabalho e tem se tornado um problema crucial para as organizações e seus administradores. Suas causas estão ligadas a múltiplos fatores que o torna complexo e de difícil gerenciamento. Seu efeito é negativo, pois as ausências diminuem a produção, repercutindo diretamente na economia da empresa. Ele ocasiona não só custos diretos, mas também indiretos representados pela diminuição da produtividade, redução da qualidade e pelos problemas administrativos. Os fatores desencadeantes do absenteísmo podem estar relacionados com as condições de trabalho que as empresas oferecem, por fatores sociais, culturais, de personalidade e de doenças (CHIAVENATO, 1997). Assim podemos perceber que existe um conjunto de fatores que podem levar ao absenteísmo. Ainda, segundo o autor, um aspecto importante a ser considerado é que as causas do absenteísmo nem sempre estão no trabalhador, mas na empresa e podem ser encontradas na deficiência e na organização e supervisão do trabalho, na repetitividade das tarefas, nas condições desfavoráveis de ambiente e do trabalho, na falta de integração entre os funcionários e a empresa estes, são fatores que podem levar a desmotivação e desestímulo dos trabalhadores e como conseqüência à ausência no trabalho. Nas instituições hospitalares, a enfermagem constitui-se no maior contingente da força de trabalho e suas atividades geralmente são marcadas pela fragmentação das tarefas, por uma estrutura hierárquica inflexível para o cumprimento dos regulamentos e rotinas e com dimensionamento de pessoal insuficiente tanto qualitativamente como quantitativamente com repercussões na qualidade da assistência prestada, na resolutividade, na produtividade e nos elevados índices de absenteísmo, principalmente por doenças. Segundo Gaidzinski e Kurcgant (1998), absenteísmo é o comportamento de faltar ao trabalho com freqüência, independente das causas que o motiva e das conseqüências que provoca. O ônus econômico acarretado pelas ausências ao trabalho tem preocupado os administradores devido a sua repercussão e abrangência gerando prejuízos no desenvolvimento do trabalho, aumento dos custos de produção, efeitos negativos na moral dos trabalhadores e diminuição da qualidade e produtividade. O trabalho hospitalar, caracteriza-se pela concentração de condições de trabalho de risco, representadas por
trabalho noturno, nos finais de semana, por carga horária diária extensa, por cuidar de enfermos, por manipulação de produtos químicos, por radiações ionizantes, por transporte de cargas e por lidar com a morte (PITTA, 2003; SILVA; MARZIALE, 2003) Depoimentos de gerentes de enfermagem de hospitais brasileiros demonstram a necessidade de proporcionar boa qualidade de vida e preservar a saúde física e mental dos profissionais de enfermagem. Reconhecem que o desgaste diário do exercício profissional, o estresse e os conflitos enfrentados pela equipe, necessitam de medidas e estratégias que incentivem a promoção da saúde dos trabalhadores para garantir a qualidade da assistência, a produtividade e evitar o absenteísmo (NASCIMENTO, 2003). Historicamente o exercício do trabalho de enfermagem continua sendo desenvolvido predominantemente por mulheres. As atividades de cuidar dos doentes com suas características tecnológicas próprias de assistir, higienizar, alimentar, prover dos elementos indispensáveis ao bom desenvolvimento do enfermo, seguindo os padrões da divisão social do trabalho, sempre estiveram delegadas a mulher (PITTA, 2003). Segundo estudo publicado pelo Ministério da Saúde, em 1996, do pessoal de enfermagem empregado em todos os setores da economia, 85,26% são mulheres (BRASIL, 1996). Investigações têm sido realizadas sobre alguns aspectos da realidade profissional da mulher e a relação com o absenteísmo, mostrando que este se dá pelo acumulo de tarefas, pois após terminarem a jornada de trabalho formal nas empresas, se deparam com um vasto leque de atividades domésticas e familiares a serem cumpridas (PITTA, 2003; NASCIMENTO, 2003). Outra variável que intensifica o problema do absenteísmo é o fato do profissional de enfermagem possuir múltiplos empregos devido aos salários aviltantes e incompatíveis com a dignidade de suas atividades (ROBAZZI; MARZIALE, 1999). Nos estudos acerca do absenteísmo na área de enfermagem, uma das abordagens predominantes é a relação entre saúde-doençatrabalho. Os prejuízos à saúde física e mental decorrem das atividades realizadas em extensas jornadas de trabalho, do ritmo acelerado da produção desencadeado por excesso de tarefas, da realização de ações repetitivas e baixa remuneração. O trabalho desenvolvido nessas condições deixa de significar satisfação e ganhos e passa a representar sofrimento, exploração, doença e até morte (PITA, 2003). Em estudo
realizado pela mesma autora, as manifestações somáticas de distúrbios e sofrimento psíquico são antigas e conhecidas, frente a dificuldades de as pessoas habitualmente elaborarem no nível de pensamento angústias e dificuldades na esfera psíquica, assim, evidenciam de modo indireto as doenças e o sofrimento psíquico. Além destes aspectos, encontrou também problemas de ordem do aparelho-gênito urinário, grupo de pessoas poliqueixosas, transtornos mentais, doenças mal definidas, doenças do aparelho digestivo. Stacciarini; Tróccoli (2000), ao relacionar o estresse na profissão do enfermeiro evidenciam o papel interveniente das organizações. Ainda para as autoras, a influência organizacional sobre o estresse ocupacional do enfermeiro, parece estar mais voltada para aqueles que têm algum poder decisório na instituição, principalmente entre os enfermeiros com cargos administrativos. Outro aspecto importante são os fatores intrínsecos ao trabalho como, as relações interpessoais que comportam consecutivamente a sobrecarga de trabalho e os problemas de relacionamento, estes fatores são os maiores determinantes de estresse entre os enfermeiros. O ambiente organizacional, a falta de suporte social, de competência e confiança no papel profissional e a falta de preparo adequado são interpretados como fontes de estresse, tais condicionantes encontram-se relatados ao longo do tempo pelas publicações já realizadas. Segundo Robbins (2005), o condicionante ambiente organizacional revelase como fonte de estresse a partir das pressões para evitar erros ou cumprir prazos, a carga excessiva de tarefas, a insensibilidade das chefias e os relacionamentos desagradáveis, e, em tais situações podemos categorizar a partir das tarefas, dos papéis e das demandas interpessoais, da estrutura organizacional, da liderança organizacional, e ainda do lapso temporal de vida da organização. Assim, podemos dizer que as tarefas estão relacionadas às pessoas e as características de cada trabalho, bem como as condições que este trabalho se dá e o ambiente físico. Por sua vez as demandas dos papéis relacionam-se com as pressões sofridas pela pessoa em razão do papel que desempenha na organização, vez que os conflitos entre os diferentes papéis geram expectativas de difícil conciliação e satisfação (ROBBINS, 2005). As demandas interpessoais vinculam-se a falta de apoio social por parte dos colegas ou relações interpessoais insatisfatórias, refletindo assim como pressões
exercidas por outros funcionários. A estrutura permite-se como fonte de estresse a partir do nível de diferenciação dentro da organização, à quantidade de regras e regulamentações e forma de tomada de decisões. A liderança está ligada ao estilo gerencial, onde se cultuam as tensões, pelo medo e pela ansiedade, estabelecem pressões irrealistas para o desempenho em curto prazo (idéias focadas a aspectos pontuais desligados da realidade fática da estrutura), impõem controle muito rígido e enfocam rotineiramente a demissão de profissionais que não atingem as metas (ROBBINS, 2005). A falta de suporte social remete o trabalhador de enfermagem a uma situação de estresse em face da conjuntura política e econômica vivenciada pelo mesmo, fator que interfere de sobremaneira no seu desempenho, e via de conseqüência, o leva ao estresse reduzindo sua capacidade profissional e laboral. Algumas pessoas são capazes de reagir a situações estressantes, enquanto outras se abatem perante as mesmas. Os fatores individuais estão associados à história de vida do trabalhador, suas experiências e o acumulo destas. Podemos dizer que o indivíduo relaciona a sua capacidade de produção aos problemas econômicos, aos relacionamentos familiares e pessoais. Assim, podemos referir que os fatores de estresse são fenômenos cumulativos. O profissional se depara com problemas da falta de competência e do preparo ao exercício da função, que sua vez referencia fatores estressantes, pois diante da prática e no regular exercício de seus papéis torna-se incompreensível suas atitudes e decisões, que rotineiramente estão desvinculadas da realidade e necessidade que os fatos se apresentam para a intervenção, quer sejam, de ordem administrativa ou da assistência. Embora o absenteísmo venha sendo focalizado predominantemente sob a ótica da saúde ocupacional este fator insere-se em um contexto mais amplo, qual seja a da gerência de recursos humanos, particularmente no que se refere ao dimensionamento de pessoal de enfermagem, transcendendo assim, a área da saúde ocupacional. Sob essa perspectiva, o absenteísmo representa uma das variáveis que interfere na organização dos serviços de enfermagem e no estabelecimento do quadro de recursos humanos (GAIDZINSKI, 1998). Assim, quando se trata de dimensionar o quadro de pessoal de enfermagem, é necessário tomar as ausências do indivíduo no trabalho de forma distinta, ou seja,
existem ausências que podem ser previstas e a cobertura pode ser realizada de forma planejada, porém, o que afeta o desenvolvimento das atividades nos serviços de enfermagem, são as chamadas ausências não previstas, as quais exigem estratégias de planejamento diferenciadas. Diante das considerações apresentadas entendemos que o absenteísmo constitui um problema da gerência de recursos humanos e para a direção do serviço de enfermagem hospitalar que necessita manter um número suficiente de profissionais nas vinte e quatro horas para atender as necessidades dos pacientes sob sua responsabilidade. Para Chiavenato (1997), uma das formas de conhecer a magnitude do absenteísmo no âmbito organizacional é mensurá-lo através do índice de absenteísmo. Este é um indicador que reflete a porcentagem de tempo (dias e horas) não trabalhado devido às ausências em relação ao volume de atividades planejadas. Nos processos de dimensionamento de pessoal de enfermagem é imprescindível conhecer o índice de absenteísmo para que seja viável estabelecer o percentual de pessoal necessário para a cobertura dessas ausências denominado Índice de Segurança Técnica (IST) para garantir a qualidade da assistência prestada. OBJETIVOS: Identificar e analisar o índice de absenteísmo dos trabalhadores de enfermagem e conhecer as causas do mesmo no Hospital Universitário do Oeste do Paraná. METODOLOGIA: Realizamos um levantamento retrospectivo sobre a incidência de ausências e suas causas, no período de um ano (janeiro a dezembro de 2004). A população estudada foi constituída por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem de um hospital universitário. Para a realização da pesquisa, solicitamos autorização à Direção Geral do Hospital e ao Comitê de Ética em Pesquisa da universidade. Após o parecer favorável, realizamos a coleta de dados junto aos registros efetuados pelo Setor de Recursos Humanos do hospital. A principal variável do estudo foi identificar as causas das ausências registradas.
RESULTADOS: Durante o ano de 2004, o referido hospital tinha em média 285 funcionários de enfermagem registrados em seu quadro funcional. Segundo Gaidzinski (1998) as ausências, no serviço de enfermagem, podem ser consideradas previstas como as férias, folgas semanais e feriados e aquelas consideradas não previstas, por exemplo, faltas justificadas e injustificadas, suspensões, licenças médica, maternidade, paternidade, nojo, gala, entre outras. No período estudado, encontramos 1.159 dias de faltas sem justificativa. 1.600 dias de licença médica com até 15 dias. 1.931 dias de licença médica a partir de 15 dias de afastamento, considerado auxílio doença. 979 dias de licença maternidade. 6.198 dias de férias, 582 dias de licença especial. Ao aplicar o cálculo do índice de absenteísmo proposto por Chiavenato (1997), encontramos uma média de 4,06 dias de falta sem justificativa para cada funcionário de enfermagem. 5,61 dias de licença médica até quinze dias por funcionário. 6,77 dias de auxílio doença. 3,43 dias de licença maternidade. 21,74 dias de férias e 2,04 dias de licença especial por funcionário. Com o elevado índice de absenteísmo, houve a necessidade de cobertura, supridas por meio de horas extras, ficando assim representadas, 1.757,1 dias de horas extras a 50% este percentual corresponde ao horário normal de trabalho e 520,6 dias de horas extras a 100%, correspondendo a domingos e feriados, ou seja, 6,16 dias de horas extras a 50% e 1,82 dias de horas extras a 100% para cada funcionário de enfermagem. Os resultados encontrados apontam que o maior índice de ausências corresponde a licença médica, com afastamento de mais de 30 dias, seguido da licença médica com afastamento de até 15 dias. Estudos realizados em diferentes instituições hospitalares indicam que a licença relacionada a problemas de saúde constitui-se na principal causa de ausências não previstas da equipe de enfermagem. Para Nicola (2004), o absenteísmo dos trabalhadores de enfermagem do hospital onde este estudo foi desenvolvido, pode estar relacionado a sentimentos de insatisfação com o ambiente e condições de trabalho, número insuficiente de funcionários, tendo em vista que não existe substituição dos funcionários que estão de folga ou que faltam e isso gera sobrecarga de trabalho para os demais profissionais que permanecem no
trabalho. Outra forma de insatisfação manifestada está relacionada à ausência de qualquer benefício social, além daqueles exigidos pela legislação trabalhista e previdência social, bem como a ausência de um plano de assistência médico-hospitalar diferenciado que proporcionaria certo grau de segurança em casos de imprevistos de doenças ou emergências. CONCLUSÃO: Como as causas do absenteísmo nem sempre estão somente no funcionário, mas também na organização e nas condições do trabalho, acreditamos que o resultado desta investigação poderá subsidiar a Direção do Serviço de Enfermagem, Direção Geral e Recursos Humanos do Hospital estabelecer políticas institucionais ou programas que visem reduzir os níveis de ausências. A identificação dos tipos de ausências e sua repercussão na produtividade devem servir de suporte para ações voltadas para a melhoria das condições de trabalho e que visem à redução do percentual de ausências. As ações devem estar voltadas para as causas do absenteísmo e não mais só sobre seus efeitos. Administrar o problema das ausências, segundo Chiavenato (1999) traz retornos indiscutíveis relacionados aos custos. Cada pequena redução nos níveis de absenteísmo pode trazer razoável economia para a organização, bem como, melhoria na qualidade da assistência prestada, satisfação da equipe de enfermagem e melhorar as condições ambientais de trabalho, evitando assim, a sobrecarga para os profissionais que cumprem sua jornada de trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto de profissionalização dos trabalhadores da área de enfermagem (PROFAE). Sinais de mercado de trabalho do pessoal de enfermagem no Brasil. Brasília, 1996. CHIAVENATO, I. Recursos Humanos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
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