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Transcrição:

TECENDO LEITURAS: O LETRAMENTO LITERÁRIO E A COMUNICAÇÃO INTERTEXTO Francy Izabelly Oliveira MACEDO 1 francyzabelly@gmail.com Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino/ UFCG RESUMO A variedade temática presente nas artes em geral, mas, sobretudo, o modo multiforme por meio do qual esses temas se repetem, possibilita pensar na aproximação entre textos de variadas épocas e de diversas expressões. Nesse sentido, esse artigo trata acerca do diálogo presente entre o poema "Meninos carvoeiros" de Manuel Bandeira e pinturas de Portinari, em que ele retrata crianças em ambiente de pobreza, supostamente, realizando tarefas destinadas a adultos. Ambos os textos, verbal e não - verbal, tratam acerca da mesma temática - o trabalho infantil -, mas de modos diversos e segundo suas próprias especificidades. O estabelecimento de comparações entre diferentes textos possibilita o estudo das estratégias de leitura, favorecendo à formação de leitores mais conscientes acerca do seu processo de leitura. Nesse sentido, propomos algumas atividades, a partir do texto e das pinturas selecionados, visando exercitar as estratégias: conexão, inferência e visualização. Portanto, nosso objetivo é propor metodologias de trabalho que envolvam textos de linguagens diferentes, tendo por base o ensino das estratégias de leitura supracitadas. Nossa proposta se baseia nas reflexões de Cosson (2014), Girotto e Souza (2010) e Solé (1998) que tratam sobre o letramento literário e as estratégias de leitura respectivamente. Palavras-chave: Letramento. Estratégias de leitura. Linguagens. 1 Aluna regular do Programa de Pós - Graduação em Linguagem e Ensino da UFCG. Linha de pesquisa: Literatura e Ensino. Este artigo é baseado em aulas executadas durante a nossa experiência como professora de Língua Portuguesa no Centro Educacional Millenium - Cuité / PB, no segundo semestre de 2013. A proposta foi realizada com a turma do sexto ano do Ensino Fundamental, do turno da manhã. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1

1. INTRODUÇÃO O letramento literário, visando a formação crítica e autônoma de leitores, pressupõe o reconhecimento de instrumentos que favoreçam aos jovens leitores a apropriação de estratégias que facilitem o entendimento acerca de seu processo de ensino e aprendizagem. A fim de discutir estratégias direcionadas à comunicação intertextual, dentro do contexto da sala de aula, é que propomos o presente artigo. Tal proposta, no entanto, se baseia em uma experiência realizada com uma turma do sexto ano do Ensino Fundamental, durante o segundo semestre de 2013, quando lecionamos a disciplina de Língua Portuguesa no Centro Educacional Millenium, escola localizada no município de Cuité - Paraíba. No contexto supracitado, objetivou-se buscar, por meio do diálogo entre texto verbal e não verbal, a compreensão da interação entre linguagens, a fim de contribuir com a formação leitora de alunos em processo inicial de formação. Desse modo, selecionamos textos (poético e imagético) que tratassem sobre uma mesma temática: o trabalho infantil. A partir desses textos, discutimos as estratégias de leitura: inferência, conexão e visualização, chamando a atenção dos alunos para a comunicação intertexto. Assim, a sugestão aqui apresentada se configura enquanto uma adaptação da experiência vivenciada em sala. Nesse sentido, sugerimos uma proposta para a sala de aula com os textos: "Meninos carvoeiros" de Manoel Bandeira e as pinturas de Portinari: "Menino com estilingue" (1947) e "Menino do tabuleiro" (1947). Com isso, visamos contribuir com a discussão em torno do letramento literário e de sua contribuição ao processo de formação leitora, a partir do uso das estratégias de leitura: inferência, conexão e visualização. Desse modo, apresentaremos, inicialmente, algumas considerações acerca do letramento literário, conforme nos aponta Cosson (2014); em seguida, trataremos acerca das estratégias de leitura mencionadas, de acordo com a abordagem exposta por Girotto e Souza (2010); por fim, sugerimos uma metodologia de trabalho a partir Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 2

dos textos mencionados e com base nos estudos em torno do letramento literário e das estratégias de leitura referenciadas acima. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Letramento (s) Tendo em vista os usos que se pode fazer das diferentes linguagens, nas mais diversificadas práticas sociais, concebemos a existência de várias modalidades de letramento. Dentre os quais, elencamos alguns que são difundidos no ambiente escolar: letramento crítico, letramento escolar, letramento digital, letramento matemático etc. Na seara dos estudos da linguagem verbal, encontramos alguns estudos que se destacam e que buscam acrescentar informações que se coadunam na tentativa de construção de uma concepção de letramento. Assim, Cosson (2014) ao apresentar a conceituação de letramento defendida por Soares (1998), explica que, diferentemente de como concebemos a alfabetização, enquanto habilidade de ler e escrever, o letramento se constitui a partir da apropriação da escrita e das práticas sociais que estão relacionadas a ela. De modo semelhante, Kleiman (1995, p. 19, apud Molica, 2014, p. 15) define letramento como sendo: [...] "um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos." Há ainda uma concepção de letramento adjacente à leitura de mundo. Nessa perspectiva, o letramento pode se dá para além das fronteiras da escola, e sem necessariamente está associado ao domínio da leitura e da escrita, tendo em vista o uso formal da língua. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 3

Essa concepção defendida por Freire (1982) não exclui a importância do ato da leitura, mas leva em consideração as diversas formas e práticas de leitura, que extrapolam a decodificação das letras. Outra concepção de letramento que deve ser considerada é o letramento crítico: pode ser compreendido como a habilidade de avaliar textos com a finalidade de compreender as relações de poder e dominação a ele subjacentes (BAPTISTA, 2012). Em conformidade com o letramento crítico, a leitura é concebida como uma atividade problematizadora e desestabilizadora, já que se incita o desenvolvimento de posições e o questionamento dos sentidos construídos no texto. [..] "Portanto, uma leitura crítica pode levar a uma desnaturalização de certos discursos e a olhar os textos como parte de eventos letrados de uma sociedade e, por isso, histórica e culturalmente definidos'' (BAPTISTA, 2012, p. 152). Por seu turno, Cosson e Paulino (2009, p. 67, apud, Cosson, 2011, p. 282) discutem outra modalidade de letramento, mais direcionada à leitura de obras literária: o letramento literário. Assim, os autores definem letramento literário como processo de apropriação da literatura enquanto construção literária de sentidos. Dentro desse processo de formação de leitores literários, o professor atua como mediador da leitura, contribuindo para a aproximação entre texto e leitor por meio de diversas estratégias, tendo em vista os objetivos pretendidos. Nesse sentido, independente da abordagem adotada, as práticas de letramento na sala de aula devem ter como finalidade a formação de leitores. No entanto, o processo de formação de leitores autônomos pressupõe o domínio de algumas estratégias de leitura que funcionam como instrumentos facilitadores para a compreensão textual. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 4

2.2. Estratégias de leitura As estratégias de leitura usadas pelos leitores nas mais variadas situações comunicativas, quando trabalhadas no contexto da sala de aula, podem contribuir positivamente com o processo de formação de leitores, visto que se constituem enquanto instrumentos que corroboram na organização e sistematização de informações (que fazem parte do conhecimento prévio do leitor) em favor da construção de uma compreensão adequada do texto. Nesse sentido, Entre o repertório de estratégias de compreensão - fazer conexões, inferências, visualizações, questionamentos, sumarizações e sínteses -, há uma estratégia essencial, a de ativar o conhecimento prévio, em que ficam evidentes todas as demais estratégias, tais como: a previsão, a interlocução, o questionamento, a indagação. (GIROTTO e SOUZA, 2010, p. 65). O conhecimento prévio do aluno, conforme nos aponta Girotto e Souza (2010), é o que embasa as estratégias de leitura. Assim, a inferência ocorre quando os leitores acionam os conhecimento prévios, estabelecendo relações com as pistas do texto, a fim de chegar a determinadas conclusões. Por seu turno, as conexões que podem ocorrer de três maneiras, pelo menos: conexão texto- texto; conexão texto-leitor e conexão texto-mundo, sugerem a apropriação de saberes ou experiências anteriores ao texto, com os quais se pode estabelecer conexões. A visualização é, sobretudo, inferir significados e consiste na criação de imagens mentais acerca do texto lido, o que sugere ao leitor buscar nas suas experiências reais os elementos necessários para a construção de tais imagens. Por fim, temos as estratégias de sumarização e síntese. Ambas dizem respeito ao modo como são selecionadas as informações do texto com base no grau de Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 5

importância que elas têm. Desse modo, sumarizar significa retirar do texto a sua essência; saber escolher entre o que é essencial e o que é acessório. Enquanto que sintetizar consiste em adicionar sentido às informações importantes do texto. As estratégias de leitura são importantes para pensar as práticas de letramento, porque funcionam como estruturas mentais utilizadas pelos leitores em todas as situações comunicativas. A partir do momento que o leitor em formação toma conhecimentos dos instrumentos que pode lançar mão durante o processo de leitura, ele torna-se capaz de buscar as ferramentas necessárias para a compreensão de textos. Desse modo, tendo em vista a formação literária de jovens leitores, propomos o trabalho com estratégias de leitura, a partir de textos não - verbais e verbal. Os textos não - verbais utilizados são duas pinturas de Portinari e o texto verbal consiste no poema "Meninos carvoeiros", de Manoel Bandeira. A possibilidade de leitura proposta é direcionada para o diálogo entre os textos, por meio da temática prevalecente em todos eles: o trabalho infantil. 2. TECENDO TEXTOS: DA PROPOSTA À PRÁTICA O processo de letramento literário, conforme Cosson (2014) segue algumas etapas: motivação (momento que antecipa a leitura), a leitura propriamente dita (deve ser orientada pelo professor) e, por fim, a interpretação do texto literário. Assim, a proposta a seguir, pensada para alunos do sexto ano do ensino fundamental, visa a leitura e apreciação dos textos selecionado com base em uma metodologia dialógica e interativa, visando a participação de todos os envolvidos no processo de leitura literária. Tal procedimento se aproxima do modelo de oficina de leitura indicado por Cosson (2006), por colocar os alunos como atores durante a realização das atividades de leitura. Além disso, conforme sugestão do referido autor, a aula de leitura Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 6

encontra-se organizada em três momentos específicos: momento inicial; leitura do poema; compartilhamento de leituras, conforme apontamentos a seguir. 2.1. Momento inicial: motivação O momento inicial ou motivação para a leitura do poema, se dá por meio da leitura de imagens. Nesse sentido, é importante destacar que as imagens presentes não são meramente ilustrativas, mas se configuram como textos autônomos que buscam contar uma história própria, embora apresente relação entre si e com o poema a ser lido. Assim, apresenta-se a pintura "Menino do tabuleiro", de Portinari (figura 1) - aos alunos (é importante utilizar data show para facilitar a visualização das pinturas por todos os alunos, caso não seja possível, o professor pode imprimir cópias com as figuras para todos os discentes). Em seguida, o mediador solicita que os alunos observem com cuidado a imagem, atentando-se para detalhes, como: postura física, expressão facial, vestimentas, características físicas etc. O professor deve anotar as observações dos alunos no quadro. Além disso, o educador pode instigar os alunos a construir inferências sobre a pintura, perguntando, por exemplo: o que será que esse menino está fazendo? Porque vocês acham que ele está sério? O que significa esse tabuleiro na cabeça dele? Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 7

Figura 1: Menino do tabuleiro, 1947. Candido Portinari. Em seguida, o professor apresenta a segunda pintura de Portinari, "Menino com estilingue" (figura 2). Acerca dessa pintura o professor pode acrescentar outras indagações, a exemplo de: observe o olhar desse menino. Que expressão a sua face revela? Parece com a pintura anterior? Por que ele traz um estilingue na mão? O que significa esse objeto que ele traz na cabeça? Observe os detalhes da pintura: vestes, expressão facial, disposição dos objetos que o menino segura, postura física etc. O professor deve anotar as observações dos alunos no quadro, a fim de contrastá-las com as anotações acerca da primeira pintura. Figura 2: Menino com estilingue, 1947. Cândido Portinari. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 8

Ao responder a essas questões oralmente, os alunos estarão realizando leituras acerca das imagens, baseadas em inferências sobre o que sugerem os elementos predispostos nas pinturas. Tais inferências podem se coadunar ou divergir, mas contribuirão para apontar um diálogo presente entre as pinturas no que tange ao plano temático e estilístico. Esse diálogo ou conexão entre texto deve ser destacada pelo professor, caso os alunos não percebam. 2.2 Leitura literária O professor mediador deve realizar a leitura do poema transcrito abaixo em voz alta, atentando-se para o tom do poema. Concluída a leitura, o professor pergunta aos alunos sobre as suas impressões sobre o texto: o que sentiram ao ler o texto? O texto te fez lembrar de alguma situação conhecida por você? Gostaria de comentá-la? Após esse primeiro momento de discussão, o mediador pode solicitar que os alunos realizem uma segunda leitura do texto ou retomem trechos que lhes chamaram a atenção. Meninos carvoeiros (Manuel Bandeira) Os meninos carvoeiros Passam a caminho da cidade. Eh, carvoeiro! E vão tocando os animais com um relho enorme. Os burros são magrinhos e velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. A aniagem é toda remendada. Os carvões caem. (Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.) Eh, carvoeiro! Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 9

Só mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes burrinhos descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles... Pequenina, ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis! Eh, carvoeiro! Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado, Encarapitados nas alimárias, Apostando corrida, Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados. Além das indagações propostas, o mediador deve chamar a atenção dos alunos para as imagens presentes no poema, a exemplo daquela que podemos visualizar nos versos: "Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com/ um gemido". Os alunos podem ser convidados a descrever como visualizam, mentalmente, essa imagem. Eles podem, ainda, desenhar a imagem visualizada e comparar entre si os desenhos produzidos. Assim, estarão introduzindo um momento importante da aula de leitura literária: o compartilhamento de suas leituras. 2.3 Compartilhando de leituras O compartilhamento de leituras acontece sempre que os alunos são convidados a expor a sua opinião/ impressão sobre o texto. Por esse motivo, o compartilhamento, tendo em vista uma abordagem dialógica do texto, perpassa todas as etapas da aula de leitura, auxiliando o aluno a treinar a escuta, mas, principalmente, a adicionar a sua leitura individual, informações e observações destacadas por seus colegas. Uma atividade interessante que se pode fazer para organizar as informações compartilhadas pelos alunos - principalmente quando se trata de comparação entre textos - é o quadro das conexões, sugerido por Girotto e Souza (2010). Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 10

Nesse sentido, propomos, com base no modelo apresentado pelas referidas autoras, o quadro das conexões, que busca sintetizar as informações em torno das pinturas de Portinari e do poema de Manoel Bandeira, a fim de favorecer a comparação e a compreensão do diálogo entre as obras. QUADRO DAS CONEXÕES Diferenças Menino do tabuleiro Menino com estilingue Meninos carvoeiros O menino tem um rosto sério. O menino apresenta uma expressão facial triste. Os meninos cantam alegres. Semelhanças - As personagens de cada uma das obras são crianças. - Essas crianças trabalham. O quadro proposto busca destacar as semelhanças e as diferenças entre as "personagens" que surgem nas pinturas apreciadas e no poema de Bandeira. A partir desses dados, os alunos, com o auxílio ou em conjunto com o professor, podem produzir um texto ou comentário sintetizando a relação dialógica entre os textos discutidos. Essa atividade, que explora a estratégia de leitura síntese, ajuda a sistematizar os conhecimentos adquiridos durante a aula de leitura. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de formação de leitores exige que o professor assuma uma postura de leitor-mediador, dentro do contexto da sala de aula. Porém, nenhum processo de formação de leitores ocorre sem que, para isso, sejam definidos os objetivos a serem alcançados. Tais objetivos, devem ser alicerçados em teorias que pensem e contribuam com a aproximação entre o texto e o leitor, sobretudo no que se refere à formação literária. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 11

Por seu turno, a formação literária se dá, não somente por meio do contato estético entre obra e leitor, mas também através da compreensão do texto de literatura que, muitas vezes, surge como desafio para leitores em formação, dada a especificidade da linguagem. Assim sendo, faz-se necessário apresentar, discutir e trabalhar as estratégias de leitura em sala de aula, a fim de que o aluno tome posso dos instrumentos metacognitivos de que dispõe para a compreensão de textos, favorecendo a autonomia dos jovens leitores. REFERÊNCIAS BANDEIRA, M. Meninos Carvoeiros. Disponível em<http://www.lusopoemas.net/modules/news 03/article.php?storyid=712 >. Acesso: 23/08/2013. BAPTISTA, L. M. T. R. Letramento crítico, discursos e ideologia. In: RODRIGUES, M. C.; MILREU, I. (Orgs.). Ensino de língua e literatura: políticas, práticas e projetos. Campina Grande: Bagagem/ UFCG, 2012. COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2014. GONÇALVES, A. V.; PINHEIRO, A. S. (Orgs.). Nas trilhas do letramento: entre teoria, prática e formação docente. Campinas: Mercado das Letras, 2011. MOLICA, M. C. Fala, letramento e inclusão social. São Paulo: Contexto, 2014. GIROTTO, C. G. G. S.; SOUZA, R. J. Estratégias de leitura: para ensinar alunos a compreender o que leem. In: SOUZA, R. J [et al.]. Ler e compreender: estratégias de leitura. Campinas: Mercado das Letras, 2010. PETIT, M. O papel do mediador. In.. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. (Trad. Olga de Souza). São Paulo: Ed. 34, 2008. p. 147-189. Sites pesquisados: Obras de Portinari. Disponível em: http://www.portinari.org.br/. Acesso: 17/09/2015. Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 12