Correlação entre distúrbios lingüísticos e de cálculo em pacientes afásicos

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Transcrição:

Correlação entre distúrbios lingüísticos e de cálculo em pacientes afásicos Introdução: A habilidade de calcular representa um processo cognitivo extremamente complexo. É composta por processos multifatoriais, incluindo habilidades verbais, espaciais, de memória, e de funções executivas. Desta forma, a realização de cálculos matemáticos pode ser prejudicada em casos de disfunção e/ou lesão cerebral bem como nas demências. Objetivo: Neste estudo buscamos verificar a correlação entre alterações no processamento numérico e de cálculo com as alterações de linguagem em pacientes afásicos. Métodos: Foram avaliados 32 pacientes com afasia, com lesão cerebral única à esquerda. Os participantes foram submetidos à avaliação do processamento numérico e de cálculo através da bateria EC301 e às provas para avaliação da linguagem, através do protocolo Montreal-Toulouse. Resultados: O desempenho de pacientes afásicos demonstrou que existe um efeito deletério da ocorrência de lesão no hemisfério esquerdo, e consequentemente da afasia, sobre a maioria das tarefas que envolvem processamento numérico e cálculo, sendo que as tarefas de transcodificação foram as que se mostraram mais correlacionadas com as provas de linguagem. Conclusão: As habilidades lingüísticas de compreensão oral e gráfica, repetição, leitura e escrita estão diretamente relacionadas com as dificuldades encontradas em provas de cálculo oral e gráfico e nas provas de transcodificação, em que também estão envolvidas tarefas de conversão de numerais. Palavras Chaves: Matemática, linguagem, afasia, Introdução Estudos apontam que pacientes afásicos estão mais suscetíveis a apresentarem alterações no processamento numérico e de cálculo (1,2). Desde então, autores investigam (3,4) se o processamento numérico e de cálculo e o processamento lingüístico são atividades dependentes ou independentes. Em alguns relatos observamos dissociações nestes processamentos (5,6), caracterizada por déficit em habilidades matemáticas sem prejuízo importante da linguagem (7,8). Por outro lado, estudos em pacientes com lesões

2 cerebrais evidenciam a ocorrência concomitante de acalculia e linguagem, sugerindo que habilidades verbais têm um papel fundamental no cálculo(9). O objetivo deste estudo foi verificar a possível correlação entre as alterações do processamento numérico e de cálculo e as alterações de linguagem, em pacientes afásicos. Metodologia Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP, protocolo nº 0346/04. Participaram da pesquisa 32 pacientes com diagnóstico fonoaudiológico de afasia e presença de AVC isquêmico único em hemisfério esquerdo. Foram excluídos os participantes com diagnóstico ou histórico de transtornos auditivos, psiquiátricos e/ou neurológicos prévios e que fizessem uso de drogas psicotrópicas. Os pacientes foram submetidos à avaliação de cálculo, através da bateria EC301, que é composta por 13 testes (2). Para avaliação de linguagem, utilizamos o protocolo Montreal Toulouse. As provas utilizadas neste estudo foram as de compreensão oral, repetição, leitura, compreensão gráfica, denominação e ditado. Após a obtenção dos dados nas provas de linguagem, estas foram correlacionadas com as provas da bateria EC 301. Resultados Observamos, na Tabela 1, a relação entre o desempenho em tarefas de linguagem e o desempenho nas provas da bateria EC301 em pacientes afásicos. Tabela 1: Correlação entre o desempenho na bateria EC 301 e linguagem em pacientes com afasia 1 3 4 Provas 5 EC301 6 7 10 11 12 Compreensão oral r 0.73 0.68 0.67 0.52 0.64 0.46 0.55 0.57 0.73 p <0.001* <0.001* <0.001* 0.003* 0.000* 0.008 0.001* 0.001* <0.001* Repetição r 0.81 0.87 0.84 0.76 0.81 0.56 0.68 0.57 0.72 p <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* 0.001* <0.001* 0.001* <0.001* Leitura r 0.59 0.72 0.57 0.44 0.68 0.48 0.53 0.54 0.35 p <0.001* <0.001* 0.001* 0.012 <0.001* 0.006* 0.002* 0.001* 0.051 Compreensão Gráfica r 0.81 0.86 0.86 0.73 0.87 0.75 0.78 0.68 0.63 p <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* Denominação

3 r 0.74 0.79 0.72 0.47 0.76 0.50 0.55 0.62 0.59 p <0.001* <0.001* <0.001* 0.006 <0.001* 0003* 0.001* <0.001* <0.001* Ditado r 0.86 0.91 0.78 0.63 0.83 0.51 0.75 0.63 0.56 p <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* <0.001* 0.003* <0.001* <0.001* 0.001* p < 0,005 considerado para indicar significância estatística, segundo correção de Bonferroni. n= 32 Legenda: Prova 01 - seqüência numérica Prova 3 - transcodificação Prova 4 - reconhecimento de sinais Prova 5 - comparação numérica, Prova 06 - cálculo mental Prova 7- estimativa de resultado de operação Prova 10 - cálculo escrito Prova 11 - estimativa de quantidade e Prova 12 - julgamento de magnitude Discussão Nossos resultados mostraram que os pacientes afásicos com lesão de hemisfério cerebral esquerdo têm alta probabilidade de apresentar dificuldades nas habilidades numéricas e na execução dos cálculos. Em linhas gerais, as provas da bateria EC301 nas quais o desempenho dos pacientes com afasia foi significativamente pior do que os controles, foram fortemente correlacionadas com as provas de linguagem. Houve correlação entre o desempenho lingüístico e algumas provas da Bateria EC 301. Observamos que para as provas 1, 3, 4 e 6, foi necessário um envolvimento direto ou indireto nas habilidades: contagem oral, escrita alfabética e ortográfica dos números, compreensão oral e gráfica e repetição (Tabela 1). Acreditamos que estas correlações ocorreram devido à redução dos recursos do processamento da linguagem e, hipotetizamos também, que a compreensão oral poderia interferir no cálculo oral, nas provas de julgamento de magnitude e na estimativa de resultado e quantidade. Desta forma, a maioria das correlações encontradas poderiam ser decorrentes de alterações de nomeação, repetição, leitura, escrita, compreensão oral e compreensão gráfica, em graus diferentes de comprometimento, mostrando o envolvimento da linguagem no processamento numérico e de cálculo, levando-se em conta os diferentes procedimentos que cada tarefa exige. Analisando-se as provas de leitura e ditado (Tabela 1), observamos também fortes correlações com as provas 1, 3, 4, 7, 10, 11 e 12. Podemos justificar esses resultados considerando que a maior dificuldade encontrada no grupo afásico ocorreu nas provas de transcodificação, em que os erros semânticos podem ter sido gerados por erros lexicais em tarefas lingüísticas, sugerindo que as provas de transcodificação dependem do processamento lingüístico e poderiam refletir dificuldades específicas no processamento numérico (10). Recordações de regras aritméticas também se mostraram correlacionadas com as provas de linguagem. Estas alterações podem ser explicadas analisando-se as dificuldades de cada indivíduo, já que a maioria dos pacientes reconhecia os símbolos, mas apresentava

4 dificuldade em nomear alguns dos sinais aritméticos (+, -, x, =). Entretanto, observamos que muito destes indivíduos realizavam cálculos oralmente, sem erros, quando o sinal era mencionado pelo avaliador. Este tipo de dificuldade foi descrita previamente por Ferro, Botelho (11), que denominaram estas alterações de acalculia assimbólica. Nossos achados corroboram com este estudo em que foram observadas dificuldades na nomeação e na escrita dos sinais aritméticos de adição, multiplicação, divisão e igual. Ao nível semântico, pode-se considerar que as diferentes representações de sistemas numéricos (oral, ortográfico, arábico) partilham de várias representações semânticas. Em contra partida, podemos também afirmar que todos os três sistemas de representação têm em comum uma única semântica. Explicando este paradigma, Deloche (12), argumenta que o pressuposto de um único número para cada representação semântica parece irrealista, levando-se em conta as constelações de usos e significados que os números podem abranger. Este fato explicaria a forte correlação que encontramos quando relacionamos as provas de cálculo com as provas de denominação e com as demais provas de linguagem. Conclusão O desempenho de pacientes afásicos no processamento numérico e de cálculo demonstrou que existe um efeito deletério da ocorrência de lesão no hemisfério esquerdo, sobre a maioria das tarefas que impliquem processamento numérico e cálculo. Ao considerarmos a população afásica em geral, evidenciamos que as habilidades lingüísticas de compreensão oral e gráfica, repetição, leitura e escrita estão diretamente relacionadas com as dificuldades encontradas em provas de cálculo oral e gráfico e nas provas de transcodificação. Apoio FAPESP (04/04082-2) Referencias 1. Delazer M, Girelli L, Semenza C, Denes G. Numerical skills and aphasia. J.Int. Neuropschol. Soc. 1999; 5: 213-221. 2. Dellatolas G, Deloche G, Basso A, Salinas DC. Assessment of calculation and number processing using the EC-301 battery: Cross-cultural normative data and application to left-and-right brain damage patients. J. Int. Neuropsychol. Soc. 2001; 7: 840-859. 3. Ardila A, Rosselli, M. Acalculia e Dyscalculia. Neuropsychol. Rev. 2002.; 12(4): 179-231. 4. Klessinger N, Szczerbinski M, Varley R. Algebra in a man with severe aphasia. Neuropsychologia. 2007; 45: 1642 1648.

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