A INFLUÊNCIA DO GRAU DE INVESTIMENTO NA ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTOS.



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO MBA EM GERÊNCIA FINANCEIRA RONALD JOSÉ GOMES A INFLUÊNCIA DO GRAU DE INVESTIMENTO NA ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTOS. CRICIÚMA, MAIO DE 2009

RONALD JOSÉ GOMES A INFLUÊNCIA DO GRAU DE INVESTIMENO NAS DECISÕES DE INVESTIMENTO DAS PESSOAS. Monografia apresentada à Diretoria de Pós- Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC para obtenção do título de Especialista em Gerência Financeira. Orientador: Prof. Alexandre M. Gava CRICIÚMA, MAIO de 2009

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 Classificação de rating das agências... 14 Figura 02 Queda da produção industrial no mundo... 25 Figura 03 Comparação de solvência entre bancos brasileiros e mundiais.. 29

LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Índices de inflação em 1994... 06 Tabela 02 - Índices de inflação anuais a partir de 1990... 06 Tabela 03 Previsões para 2009... 28 Tabela 04 Elevação das taxas de juros praticadas pelo BNDES em função da crise financeira mundial... 33 Tabela 05 Projeções para 2009 e 2010... 40

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 06 1.1 Justificativa... 06 2 INVESTIMENTOS... 09 2.1 Sistema Financeiro Nacional... 09 2.2 Renda Fixa... 10 2.3 Renda Variável... 11 2.4 Fundos de Investimentos... 12 2.5 Imóveis... 12 3 O GRAU DE INVESTIMENTO... 14 3.1 Impacto do Grau de Investimento nas Empresas... 15 3.2 Conseqüências do Grau de Investimento no Mercado Financeiro... 16 3.3 Grau de Investimento e os Investimentos Individuais... 18 4 A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL... 20 4.1 Reflexos da Crise no Mundo... 23 4.2 O Brasil e a Crise... 28 5 PERSPECTIVAS PARA 2009... 38 5.1 Perspectivas Mundiais... 38 5.2 Perspectivas para o Brasil... 40 5.3 A Retomada do Crescimento... 41 6 CONCLUSÃO... 43 REFERÊNCIAS... 45

RESUMO Risco e retorno são variáveis que todo investidor leva em conta na hora de tomar decisões sobre investimentos. A partir da obtenção do grau de investimento, conferido pelas agências de rating Stanard & Poors e Fitch, o item segurança passou a fazer parte do arcabouço oferecido pelo Brasil para os investidores nacionais e internacionais. Tal segurança deriva dos bons fundamentos apresentados pela economia brasileira como estabilização da moeda, pequeno nível de intervenção governamental, autonomia do Banco Central brasileiro e condução da política econômica com responsabilidade, permitindo assim, que os investidores não se exponham a riscos conjunturais ao alocar seus recursos no mercado financeiro brasileiro. Porém, tal grau, como poderá ser visto neste trabalho, não evitou que a crise financeira mundial iniciada em setembro de 2008 afetasse o Brasil de maneira significativa, ainda que os fundamentos econômicos brasileiros alçassem o país a uma condição diferenciada perante o restante do mundo, sugerindo que, além e sofrer menos que outros países, será um dos primeiros a sair dela. Este trabalho tem como escopo o grau de investimento, a crise e o mercado financeiro brasileiro, buscando orientar o investidor, principalmente o individual como usar seus recursos perante estas três variáveis. Palavras-Chave: Investimentos. Grau de Investimento. Crise Financeira Mundial.

1 INTRODUÇÃO 6 1.1 Justificativa. A partir de 1994 com o fim da ciranda financeira, através do Plano Real, o Brasil pôde, finalmente, resolver o problema inflacionário e alçando-o a níveis aceitáveis. Assim ficaram os principais índices de inflação daquele ano em diante: Tabela 1 Índices de inflação em 1994 Período IGP-M(%) IPCA(%) INPC (%) INCC(%) IPC-FIPE(%) Jan-1994 39,07 41,31 41,32 32,99 42,67 Fev-1994 40,78 40,27 40,57 45,93 41,98 Mar-1994 45,71 42,75 43,08 39,14 43,47 Abr-1994 40,91 42,68 42,86 55,7 45,57 Mai-1994 42,58 44,03 42,73 45,6 43,77 Jun-1994 45,21 47,43 48,24 45,6 49,1 Jul-1994 40,00 6,84 7,75 44,74 32,45 Ago-1994 7,56 1,86 1,85 10,26 2,6 Set-1994 1,75 1,53 1,40 0,14 1,46 Out-1994 1,82 2,62 2,82 0,38 2,65 Nov-1994 2,85 2,81 2,96 1,32 3,11 Dez-1994 0,84 1,71 1,70 2,36 1,11 Fonte: Ipeadata Tabela 2 Índices de inflação anuais a partir de 1990 Período IGP-M(%) IPCA(%) INPC (%) INCC(%) IPC-FIPE(%) 1990 1.699,87 1.620,97 1585,18 1.095,42 1.639,0759 1991 458,38 472,70 475,10 486,30 458,6060 1992 1.174,67 1.119,10 1.149,06 1.194,59 1.129,4466 1993 2.567,34 2.477,15 2.489,11 2.763,41 2.490,9908 1994 1.246,62 916,46 929,32 1.029,77 941,2507 1995 15,24 22,41 21,98 31,48 23,1663 1996 9,19 9,56 9,12 9,56 10,0348 1997 7,74 5,22 4,34 6,81 4,8257 1998 1,79 1,66 2,49 2,76-1,7953 1999 20,1 8,94 8,43 9,2 8,63 2000 9,95 5,97 5,27 7,66 4,3841 2001 10,37 7,67 9,44 8,85 7,1335 2002 25,3 12,53 14,74 12,87 9,9005 2003 8,69 9,3 10,38 14,42 8,1793 2004 12,42 7,6 6,13 11,04 6,5644 2005 1,2 5,69 5,05 6,83 4,5254 2006 3,85 3,14 2,81 5,04 2,5478 2007 15,24 22,41 21,98 6,15 4,3821 2008 9,19 9,56 9,12 11,86 6,1632 Fonte: Ipeadata

7 A partir de então, com a economia estabilizada, as pessoas puderam planejar seus investimentos e objetivar ganhos reais, uma vez que o risco de seus rendimentos deteriorarem no curto prazo passou a ser mínimo. Os mercados financeiro e de capitais, por sua vez, experimentaram uma evolução sem precedentes, abrindo um leque diversificado de opções para as pessoas poderem investir suas economias. Desde então se tem observado um interesse crescente por novas alternativas de investimentos até então desconhecidas do público em geral, que, grosso modo, apenas conhecia a Caderneta de Poupança como produto de investimento no mercado financeiro. A partir de 2002, o mercado financeiro através dos bancos passa a oferecer investimentos mais atrativos como CDB, fundos de investimentos atrelados a títulos do governo, fundos cambiais e também fundos atrelados à renda variável (bolsa de valores). Mesmo assim o Brasil sempre foi considerado pelos grandes investidores internacionais, como, por exemplo, os fundos de pensão, um país de alto risco para investimento, limitando o fluxo de capitais estrangeiro, cerceando o crescimento econômico. Apesar disso, a economia nacional, a partir de 2003 passa a mostrar solidez, não estando mais tão à mercê das turbulências do mercado internacional 1. Isso fez com que o investidor doméstico procurasse no mercado financeiro e de capitais opções mais rentáveis de investimento de sua poupança, passando a ter uma participação mais efetiva no cenário econômico nacional. Com a obtenção do Grau de Investimento, também conhecido como Investment Grade, conferido pelas agências classificadoras de risco internacionais (Standart and Poor s e Fitch), grandes investidores internacionais, que nunca antes cogitavam a possibilidade de investir no Brasil, passam a considerar esta possibilidade em suas estratégias de investimento, abrindo a possibilidade de investir nas empresas brasileiras, fomentando o desenvolvimento e o crescimento da economia. Neste contexto o investidor brasileiro tem a possibilidade de aproveitar este momento de crescimento econômico e buscar estratégias de investimento alinhadas com este patamar de qualidade. Este trabalho pretende verificar de que forma esta mudança pode beneficiar os investidores nacionais, observando as tendências a curto, médio e longo prazos, no sentido em mostrar os impactos nos 1 LAHÓS, André. Brasil recebe grau de investimento da S&P. Disponível em www.portalexame.abril.com.br, acesso em 17 mai. 2008.

8 mercados financeiros e de capitais, e as principais ajustes nas suas estratégias de investimento. Por fim este trabalho considera principalmente o escopo da crise mundial iniciada nos Estados unidos em setembro de 2008, também chamada de Crise do Subprime ou Crise das hipotecas americanas e seus desdobramentos na economia mundial e brasileira, verificando seus efeitos no grau de investimento concedido ao Brasil.

2 INVESTIMENTOS 9 As pessoas investem seu dinheiro com dois objetivos básicos: aumento e proteção do seu patrimônio financeiro ou para a aquisição de bens de maior valor. Segundo Silva Neto (2003, p. 15), Poupamos por diversos motivos: para criar uma proteção natural contra períodos difíceis... para adquirir um bem ou até uma viagem, ou ainda para ter recursos para desfrutar a aposentadoria.. Necessariamente, as pessoas investem no intuito de aumentar o valor do dinheiro acumulado. Para Cerbasi (2008, p. 30) É preciso ter em mente que investir é multiplicar e não somar. Investir pressupõe o acúmulo de lucros que você obtém para que, com um patrimônio cada vez maior, você lucre mais., que evidencia uma diferença crucial entre poupar e investir. Segundo essa premissa, acumular dinheiro é poupar e investir é aumentar o patrimônio usando a dinâmica financeira. Ainda segundo Cerbasi (2008, p. 31 e 32), Investir, em essência, é estar com seu dinheiro onde está o dinheiro dos que estão ganhando. Comprar barato e vender caro, sempre. Não é o mesmo que simplesmente aplicar o dinheiro. O investimento, portanto, será tratado neste trabalho como sendo o acúmulo de dinheiro ou, quando se tratar de períodos de crise, como por exemplo, a crise do mercado financeiro internacional ocorrida a partir de Setembro de 2008 com a crise hipotecária americana 2, determinando o escopo dos objetivos de investimento deste trabalho. 2.1 O Sistema Financeiro Nacional A estrutura do sistema financeiro brasileiro compõe-se de várias instituições que interagem entre si visando fomentar e regulamentar os investimentos feitos por instituições e pessoas físicas, disponibilizando vários instrumentos para esses investimentos, podendo ser considerado um consistente e seguro. 2 COMO... Folha de São Paulo, São Paulo, 30 set. 2008. caderno Dinheiro, p. B1.

10 O Sistema Financeiro Nacional, considerando-se o elevado número de empresas e pessoas que o formam, incluindo-se os agentes autônomos, os corretores e outros profissionais liberais, funciona de uma forma coordenada, uma vez que toda documentação envolvida (seja a de ordem financeira, a de pessoal ou administrativa) no dia a dia, obedecem a um critério padronizado e único. Não há possibilidade de uso indevido ou não uniforme por parte do sistema (AZEVEDO, 1995, p.12). Além de bem regulamentar atividade de circulação de recursos de poupadores para tomadores, o mercado financeiro brasileiro possui uma estrutura madura e eficiente disponível para investimento, inclusive para pessoa física. Segundo Silva Neto (2003, p.42), O mercado financeiro existe apenas em função dos poupadores e deve sempre buscar defender seus interesses. Além disso, outra função dele é possibilitar que os recursos de quem poupa cheguem até as mãos daqueles que desejam investir, de forma rápida, eficiente e a baixos custos. Para isso, o Sistema financeiro nacional disponibiliza vários instrumentos de investimentos, sendo os mais importantes os seguintes: 2.2 Renda Fixa Instrumentos de renda fixa são investimentos em títulos de dívida do governo ou empresas, incluindo os bancos. Chama-se renda fixa por possuir rendimento pré-estabelecido ou que tem um escopo de variação pequeno, facilitando sua previsibilidade. Segundo Luquet (2000, p. 35), [Renda Fixa] É um tipo de investimento em títulos emitidos pelo governo ou por uma empresa, com direito a recebimento de juros. São, portanto, títulos de dívida que servem para que estas empresas captem recursos junto aos investidores. As aplicações em renda fixa podem ser organizadas de acordo com seus emissores. Existem basicamente três grupos de emissores de títulos de renda fixa: Governo (LTNs, NTNs, etc.), bancos (CDBs, RDBs, letras hipotecárias, letras cambiais) e empresas (debêntures, commercial papers) (MIRANDA, 2007. p. 1). São títulos facilmente acessíveis para investidores institucionais e individuais, que tem nos bancos e nas corretoras de valores seus principais meios de acesso.

2.3 Renda Variável 11 Renda variável, como o próprio nome diz, são investimentos cuja rentabilidade é indeterminada, podendo inclusive ser negativa. Para Cerbasi (2008, p. 166), O nome renda variável vem justamente da incerteza em relação aos ganhos futuros, decorrentes da incerteza ou risco em relação ao futuro desse tipo de investimento. A variação deste tipo de investimento advém do fato de estar atrelado ao fluxo de caixa de alguma empresa, motivo pelo qual apresenta uma variação nos resultados. O mercado de renda variável é representado principalmente pelo mercado de ações e seus derivados. Quando se compra uma ação, principal produto do mercado de renda variável, está comprando um fluxo de caixa incerto, que pode ser os dividendos, que são os lucros distribuídos pelas empresas, e/ou o ganho de capital, no caso de valorização da ação. Os mercados organizados, como as bolsas de valores, são o elo entre os investidores e os emissores de papéis de renda variável. (LUQUET, 2000. p. 35). O mercado de renda variável apresenta um risco maior, portanto, que o mercado de renda fixa, pelo alto grau de incerteza dos seus retornos, e por isso mesmo, também traz em si a oportunidade de maiores ganhos. Assim esclarece Silva Neto (2003, p. 30) os investimentos em renda variável apresentam maior risco e, portanto, maiores retornos. Eles são muito vulneráveis às condições políticoeconômicas do país e do mundo, além de estarem diretamente relacionadas às condições da empresa. O risco deste tipo de investimento está, portanto, nas condições de mercado e seus fatores influenciadores, como políticas governamentais, crises econômicas e oscilações de mercados, sendo um dos principais fatores de oscilação da renda variável o nível de investimento externo no mercado acionário do país. Os estrangeiros são a categoria de maior peso na bolsa, ao responder por cerca de 35% do total de operações realizadas no pregão. A segunda categoria que mais negocia são os investidores institucionais (como os fundos de pensão), que respondem por 27,9% do total e a terceira é a pessoa física, com 25,6%. (FUGA DE CAPITAL..., 2008, p. B7). A renda variável e, portanto, um investimento que possui na oscilação, em função dos motivos já expostos, seu risco de perda e sua oportunidade de maiores ganhos em relação á renda fixa.

2.4 Fundos de investimentos 12 Os fundos de investimento são opções de investimento onde os investidores confiam a terceiros, normalmente profissionais do mercado, seus recursos para investir. Um fundo pode ter vários investidores, onde cada um possui cotas deste fundo proporcional ao montante investido. Para Cerbasi (2008, p. 207), os fundos funcionam como uma espécie de condomínio, em que os proprietários chamados de cotistas que adquirem cotas deste condomínio confiam ao gestor as decisões sobre o que comprar, quando comprar e quando vender. Os fundos possuem CNPJ e regulamento próprio que especifica qual tipo de aplicação títulos de renda fixo e/ou variável será seu foco, especificando o percentual de renda fixa e variável quando for os dois casos. No Brasil, a regulamentação de fundos de investimento é bem desenvolvida e interessante. O fundo é quase como se fosse uma empresa independente, em que seus donos são os cotistas. Esta empresa possui CNPJ específico e, como qualquer outra, faz sua contabilidade, paga impostos e possui um estatuto. (SILVA NETO, 2003, p. 102) Os fundos são considerados uma opção bastante popular e segura, por abarcarem todos os tipos de investidores (individuais, institucionais e grandes fundos de pensão), pois possui uma variada gama de tipos e propósitos. Para Luquet (2000, p. 92), São populares porque permitem que investidores com poucos recursos tenham acesso a uma carteira diversificada de ações, CDBs ou qualquer outro ativo. Os fundos, normalmente disponibilizados ao público pelas instituições financeiras, como bancos e corretoras, são muito utilizados para quem não tem tempo disponível para acompanhar o mercado financeiro. 2.5 Imóveis Os imóveis são um instrumento de investimento bastante utilizado no Brasil, cuja rentabilidade se dá através da locação (aluguel) e da própria valorização deste. Cerbasi (2008, p. 239), assim esclarece as possíveis rentabilidade dos imóveis: Há quem compre bens imóveis como casa, terrenos e edifícios contando com sua valorização ao longo do tempo, e há quem compre um apartamento ou sala comercial com o objetivo de obter um renda mensal de aluguel. Os imóveis podem

13 ser considerados da classe de renda variável, principalmente em função dos riscos e da incerteza da valorização e possibilidade de locação. Os imóveis sãos bons investimentos quando temos grande crescimento na cidade ou região em que investimos. Entretanto, existem vários custos ligados a um imóvel que devem ser considerados, incluindo a possibilidade do inquilino sair do imóvel e termos de pagar todos os custos. (SILVA NETO, 2003, p. 58). Os riscos a que se refere o autor são o condomínio, manutenção e impostos, evidenciando os riscos inerentes a este tipo de investimento, sem contar casos de desvalorização imobiliária fazendo cair os preços dos imóveis.

3 O GRAU DE INVESTIMENTO 14 Quando um país recebe o certificado de grau de investimento, significa que foi considerado um local seguro para investir, devido a vários fatores econômicos. Gouveia (2008, p 1) assim elucida: As agências de risco como Fitch, Standard & Poors e a Moodys, por exemplo, (que funcionam como uma referência no mercado de investimentos) colocam uma classificação para cada país, como se fosse uma nota de grau de investimento. Essas notas são faixas atribuídas aos países que de acordo com relações de dívida, PIB, fatores econômicos e macroeconômicos. (EXPOMONEY, 2008, p 1) As agências classificadoras do risco de cada país atribuem uma classificação baseada em escalas, ainda que não seja padrão, mas seguem uma mesma linha classificatória. A tabela abaixo demonstra a escala de notas e os níveis classificatórios adotados pelas agências citadas. Figura 01 Classificação de rating das Aências Fonte: Gazeta Mercantil 1,2 e 3 de maio de 2008. No final de maio de 2008, foi anunciado a elevação da classificação do Brasil, tendo seu conceito elevado na classificação da agência Standard & Poor s, assim esclarecido por Monteiro (2008): O Brasil tem agora o selo de investimento não-especulativo dado por uma grande agência de classificação de risco

15 internacional. Esta elevação da nota, de BB+ para BBB-, proporcionou ao Brasil a saída do nível de Grau Especulativo para o nível de Grau de Investimento. Ao subir a nota de crédito externo de longo prazo do Brasil de BB+ para BBB-, o primeiro degrau do investimento não-espculativo, a Standard & Poor s dá o seu aval de que o país tem vontade política e condições econômicas de honrar seus compromissos financeiros com os credores internacionais (LUCHESI, 2008, p C2) O Grau de Investimento tende a beneficiar a economia do país como um todo, ainda que de uma forma não uniforme, mas vários são os efeitos benéficos desta classificação, afetando a economia nacional em termos estruturais e lançando o país num contexto econômico mais favorável. Maior fluxo de investimentos externo direto e de portfólio ao país. Queda no custo de captação de recursos no mercado internacional para empresas, bancos e governo brasileiros. Valorização da moeda, o que ajuda a controlar a inflação e propicia uma política monetária menos apertada e de crescimento. Esses são os principais impactos iniciais da obtenção do Grau de Investimento sobre a economia de países emergentes. (LUCHESI, 2008, p. C2) Assim o país alça um patamar mais qualificado em relação aos investidores internacionais passando a ser considerado como um local seguro para investimentos e cujo risco passa a ser considerado baixo para estes investidores, o que beneficia toda conjuntura do país, beneficiando empresas, governo e investidores, sejam institucionais ou individuais. 3.1 O impacto do Grau de Investimento nas empresas Especificamente para as empresas, a obtenção do Grau de Investimento pelo Brasil, também é uma boa notícia, pois tendem a se beneficiar em vários sentidos, desde a produção, competição local e internacional e até em sua estrutura de financiamento. Com a obtenção do Grau de Investimento, deverá haver um aumento progressivo nos investimentos estrangeiros, tanto no mercado financeiro como no sistema produtivo (fábricas, máquinas, estrutura). Eles deverão contribuir para um aumento na capacidade de produção do país, hoje em seu limite, e para permitir que a demanda continue a aumentar sem causar pressões inflacionárias. Ao mesmo tempo, o custo de captação de verbas de grandes empresas brasileiras no exterior deverá cair, o que aumenta sua capacidade de competir globalmente. (FUCS, 2008, p. 72)

16 Esta melhora no quadro econômico e financeiro da percepção internacional do Brasil tende a elevar a qualidade dos negócios assim corroborada por Ragazzi et al. (2008, p. C1): A expectativa de executivos e investidores é uma melhora geral no ambiente de negócios, com redução no preço dos financiamentos, aceleração no ritmo de fusões, aquisições e ofertas públicas. Evidentemente que as empresas, embora todas sejam beneficiadas de algum modo, não sentirão este benefício todas da mesma forma, ou seja, as vantagens não se darão equitativamente para todas as empresas. Algumas sentirão os efeitos do grau de investimento de uma forma mais imediata, outras aproveitarão no médio e longo prazo, e, ainda assim haverá dependência da conjuntura econômica brasileira para se avaliar os impactos desta classificação. Alguns setores como a construção civil, financeiro (bancos) e consumo tendem a se beneficiar no curto prazo, outras sentirão o benefício de forma imediata, pois segundo Ragazzi et al. (2008, p. C1), as maiores empresas do setor imobiliário estão entre as principais beneficiadas porque poderão contar com financiamento de longo prazo. Estes recursos também estarão disponíveis para os bancos, impulsionando as operações de crédito. As empresas que têm seu foco na exportação poderão vir a ter problemas oriundos do grau de investimento, pois a tendência a entrar mais capital externo no país pode trazer uma maior apreciação do real. Junior (apud Ragazzi et al), assim esclarece: Com a entrada de mais dinheiro no país após o Grau de Investimento, o real pode se valorizar ainda mais diante do dólar prejudicando as receitas em moeda estrangeira destas companhias. Portanto, fica claro que o impacto do Grau de Investimento tem acontecido de forma diferente nos diversos setores da economia brasileira. 3.2 Conseqüências do Grau de Investimento no Mercado Financeiro. Um dos impactos mais importantes do grau de investimento em todo mercado financeiro é que grandes investidores internacionais passarão a incluir o mercado brasileiro em suas opções de investimento. Os investidores, principalmente os institucionais (fundos de pensão e grandes gestores de fundos de aplicação) utilizam esta classificação como parâmetro balizador em suas decisões de investimentos. Para Lahóz (2008), A nova avaliação é importante por seu impacto

17 potencial nos investimentos estrangeiros no Brasil. A classificação de risco é uma ferramenta usada pelos investidores na hora de decidir onde irão aplicar o dinheiro. O mercado de renda fixa deverá ser beneficiado principalmente através do investimento estrangeiro dos grandes fundos internacionais, aumentando a atratividade deste tipo de investimento. A área de renda fixa também deve ser favorecida com a chegada de mais recursos, já que, diante da redução dos juros básicos da economia americana, fundos de hedge e de pensão devem olhar para os papéis do País com mais atenção. (suplemento especial gazeta mercantil p E1) Outro mercado que será favorecido com o Grau de Investimento é o mercado de crédito, pois com o aumento da entrada do capital externo, pelo simples fato de haver mais recursos disponíveis, acaba por baratear o custo deste capital. O acesso ao mercado de capitais externo também deverá melhorar de imediato para as empresas...mas as que desejarem pegar empréstimo em moeda local aproveitarão o novo ambiente, pois os bancos repassarão aos contratos as taxas mais baixas obtidas nas captações fora do país. (RAGAZZI, 2008, p. C1) O mercado de crédito, entretanto, deverá sentir este impacto não imediatamente, mas a médio prazo, pois segundo Teixeira apud Ragazzi et. Al. (2008), Os custos de financiamento e captação das empresas domésticas tendem a diminuir no médio prazo. Um outro desdobramento no mercado de crédito refere-se aos bancos internacionais, que exigirão menos dos bancos brasileiros, sobrando mais para o investimento no Brasil. Os bancos centrais de países ricos tendem a exigir dos bancos nos seus países mais provisões para com empréstimos inadimplentes no crédito aos países que não são grau de investimento. Com provisões menores nos empréstimos ao Brasil os bancos podem se sentir estimulados a elevar os limites para o país e suas empresas. (LUCHESI, 2008, p c2). O mercado de renda variável já está se beneficiando no curto prazo. Assim que foi anunciada a nova classificação do Brasil, os mercados reagiram positivamente ao anúncio. Segundo Ragazzi (2008, p C5), O Grau de Investimento obtido pelo Brasil, em tese, beneficia todas as empresas do país, que terão custo de capital reduzido e maior visibilidade aos olhos do investidor global.. Isso quer dizer

18 que o fluxo de capital estrangeiro tem aumentado e boa parte deste fluxo entra via bolsa de valores irrigando o mercado de renda variável brasileiro. Para Balthazar e Bautzer (2008, p. c5) A promoção do Brasil à cobiçada categoria dos países considerados seguros para os investidores vai colocar o país no radar de muitos administradores que ainda viam o Brasil como um lugar exótico para apostar seu dinheiro.. Em especial a Bolsa de Valores de São Paulo Bovespa vem recebendo, desde então significativo aumento de capitalização, tendendo uma valorização significativa já no curto prazo. Esta expectativa de crescimento é assim corroborada por Cotias (2008, p. D1): Com as portas abertas para fundos, fundações e bancos mundo afora, o Ibovespa tem condições de capitalizar uma valorização entre 20% e 30% no prazo de 12 a 18 meses com recursos de longo prazo. Por fim, um mercado que já vem de alguns anos mostrando perdas e deverá seguir este trajeto é o mercado cambial, principalmente o dólar, devido à grande probabilidade de aumento do fluxo de capital estrangeiro no país, assim afirmada por Fucs (2008, p. 71): A perspectiva de queda dos juros mais pra frente também se acentuou, apesar da expectativa de novas altas no curto prazo. E nada sugere que haverá uma recuperação da cotação do dólar., sugerindo cautela com este tipo de ativo. 3.3 O Grau de Investimento e os investimentos individuais Neste cenário de bonança para a economia nacional, o investidor individual (pessoas físicas e clubes de investimento) podem se beneficiar deste novo momento do mercado, recompondo suas carteiras de investimentos, já que o mercado financeiro como um todo se beneficia principalmente a longo prazo, pois segundo Fucs (2008, p 71), O efeito do Grau de Investimento no país deverá ser maior no longo que no curto prazo. A tendência de alta da bolsa brasileira que já era prevista antes da nota da Standard & Poor s, foi reforçada.. Contudo, este reposicionamento de suas carteiras deve ser feito com cautela, levando em consideração aspectos como tolerância a risco, objetivos e conseqüentes prazos de investimento e conhecimento do mercado. O mais importante, segundo os especialistas, é manter uma estratégia de investimentos adequada aos seus objetivos, à sua idade ao seu grau de tolerância a riscos, independente do sobe-e-desce do mercado no curto prazo. Os mais jovens podem arriscar mais porque, mesmo que percam muito, estarão em atividade e poderão se recuperar. (FUCS, 2008, p. 70),

19 Entretanto, com a economia brasileira já numa crescente a algum tempo, o Grau de Investimento vem confirmar a direção correta que tem tomado. E estes bons ventos devem ser aproveitados pelo investidor individual para melhorar seu patrimônio, principalmente as economias destinadas à aposentadoria. Apesar dos problemas estruturais brasileiros, as finanças públicas preocupantes e a alta carga tributária, a economia tem crescido e proporcionado bons retornos ao investidor principalmente na renda variável de longo prazo. Embora tenha levado 14 anos para chegar ao Grau de Investimento desde o fim da hiperinflação, com o Plano Real, o Brasil de hoje é outro país. No passado, muita gente ganhou dinheiro acreditando em cenários ruins para o Brasil especulando com o dólar ou apostando na alta da inflação. É um bom sinal que, nos últimos anos, e possivelmente nos próximos também, tanta gente tenha se dado bem apostando no sucesso do país. (FUCS, 2008, p. 70) Importante salientar, contudo, que o Grau de Investimento não quer dizer que os investimentos, principalmente em renda variável não significa que os bons ventos são definitivos e o Brasil está imune às crises internacionais, pois segundo Fucs (2008, p 68), Não dá pra achar que o Grau de investimento deixa o Brasil imune à crise internacional. Se houver uma forte desaceleração econômica ou uma recessão nos Estados Unidos a gente vai sofrer mesmo com o Grau de Investimento.. Portanto, não se pode considerar que o novo patamar de investimento conferido ao Brasil seja uma panacéia, uma garantia de retorno livre de risco. O que altera são as probabilidades de ganho e os cuidados anterior ao Grau de Investimento devem ser mantidos, ainda que por prudência.

4 A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL 20 Em setembro de 2008 iniciou nos Estados Unidos da América crise de grandes proporções com a inadimplência no pagamento de hipotecas do setor imobiliário e conhecida como Crise do Subprime por se tratar de hipotecas de alto risco, de clientes com histórico de pagamento duvidoso, juntamente com os instrumentos derivativos colocados no mercado financeiro e garantidos pelos pagamentos dos mutuários das hipotecas. A crise começou com a explosão da bolha de preços no mercado imobiliário [americano], inflada exatamente pelo excesso de crédito. Quando os preços despencaram, os bancos viram o valor de suas garantias reais (residências) se contrair. Os bancos também haviam empacotado essas dívidas (garantidas pelos pagamentos mensais dos mutuários) em títulos ao redor do mundo. Quando os preços das casas caíram e a crise se agravou, mutuários deixaram de pagar os débitos ou perderam seus empregos, fazendo desmoronar toda a cadeia (ESTABILIZAR..., 2009, p. B4). Estes títulos criados pelos bancos, garantidos pelas hipotecas do sistema financeiro americano, também conhecido por derivativos, tiveram papel fundamental na crise. Para Martins (2008, p. 49), Entre 2002 e 2008, o valor dos derivativos em circulação no mercado global saltou de US$ 106 trilhões para US$ 531 trilhões. Claramente, os derivativos desregulados [subprime] são a peça central desta crise. Os cidadãos americanos também utilizavam o crédito fácil para o consumo geral e em larga escala, fato que ajudou a agravar a crise. Ainda segundo Martins (2008, p. 48), O crédito barato financiou o consumo desenfreado das famílias americanas (cuja dívida agregada equivale hoje a 140% do PIB do país) e está por trás dos empréstimos irresponsáveis e investimentos temerários que produziram nos bancos americanos um rombo admitido de US$ 560 bilhões. No epicentro da crise estavam os principais bancos americanos, pois são os principais agentes de crédito hipotecário e também do mercado financeiro. Estes bancos estavam alavancados através dos derivativos das hipotecas. Com o não pagamento das hipotecas, os bancos não tinham como honrar os credores dos instrumentos derivativos gerando uma crise de confiança e liquidez.

21 É uma profunda crise de confiança decorrente de uma cadeia de empréstimos originalmente imobiliários baseados em devedores insolventes que, ao levar os agentes econômicos a preferirem a liquidez e assim liquidar seus créditos, está levando bancos e outras empresas financeiras à situação de quebra mesmo que elas próprias estejam solventes (BRESSER-PEREIRA, 2008, p. B6). O problema de falta de liquidez se tornou tão crônico que acabou por decretar a insolvência de grandes corporações financeiras americanas, como Lehman Brothers, Merry Lynch e outras grandes instituições e afetando o mundo inteiro. Para Martins (2008, p. 48), Há uma crise sem precedentes que começou nas economias com a concordata do banco de Investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro e se propagou também às economias emergentes. As outras grandes instituições financeiras afetadas foram o banco Bear Stearns, as financiadoras de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac e os bancos Washington Mutual e Wachovia. O [banco] Bear Sterns e o [banco] Merill Linch foram vendidos. As financiadoras de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac foram socorridas pelo governo. O [banco] Lehman Brothers pediu concordata. O Washington Mutual teve a maior falência de um banco americano. O [banco] Wachovia quebrou e foi vendido por US$ 2,2 bilhões ao [banco] Citigroup, mas dias depois o [banco] Wells Fargo anunciou que pagaria US$ 15 bilhões. A disputa está na justiça (ENTENDA..., 2008, p. B6). O quadro de insolvência se deu principalmente pela liberalização e desregulamentação do sistema financeiro americano, onde a presença regulamentadora e fiscalizadora do estado era praticamente inexistente. Martins (2008, p. 48) explica que Forjou-se ali, no combate à crise [de 1929] um modelo de economia global dominante até meados dos anos 1980, quando ocorreu outra grande transformação, de liberalização e desregulamentação dos mercados. Esta desregulamentação e conseqüente falta de fiscalização e controle, nasceu da crença que o próprio mercado se auto-regula através de mecanismos próprios. O paradigma hoje dominante afirma que os mercados financeiros tendem ao equilíbrio. Este pressuposto é falso e induz ao erro... A crença que os mercados tendem ao equilíbrio é diretamente responsável pelo tumulto atual. Encorajou as entidades regulatórias a abandonar sua responsabilidade e a depender de mecanismos de mercado para corrigir os excessos do próprio mercado. (SOROS, 2008, p. 55)

22 Mas o mercado financeiro não foi o único a ser atingido. A falta de crédito se alastrou por toda a economia afetando, além dos bancos e mutuários do crédito hipotecário, toda a economia americana e do mundo. O efeito dominó no rompimento do clico de financiamento atingiu outros países e o mercado acionário, em que muitas famílias guardam seu dinheiro. Com os bancos em crise, os consumidores e as empresas têm agora menos crédito para comprar e investir...a diminuição do crédito levou famílias e empresas a gastar menos e fará com que o conjunto das economias s retraia em 2% neste ano, segundo projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional).(ESTABILIZAR..., 2008, p. B4). O problema de liquidez acabou por determinar a escassez de crédito interno e externo dos EUA, fazendo com que o volume de empréstimos fosse reduzido, diminuindo tanto o consumo, quanto o crédito para financiamento de empresas, para capital de giro e investimentos. Segundo a revista Veja, de outubro de 2008, Sem dinheiro ou com seu custo alto, as empresas tendem a desacelerar suas atividades, cancelar investimentos e adiar compras (O INVERNO..., 2008, p. 126). O crédito para pessoas físicas também escasseou, causando retração no consumo por parte dos americanos. O nível de consumo entre os norte-americanos caiu pelo sexto mês consecutivo em dezembro [2008]. A queda do último mês do ano passado foi de 1% reforçando as expectativas de contração do PIB (Produto interno Bruto) do País em 2009. [...] O consumo dos EUA respondem por 70% do crescimento anual da economia. Com o resultado de dezembro, o nível de gastos das famílias ao longo de 2008 (alta de 3,6%) atingiu o nível mais fraco desde 1961. Dezembro registrou a sexta queda seguida no consumo, refletindo a escassez do crédito que vinha alimentando a economia dos EUA até meados do ano passado [2008], quando a crise eclodiu com mais força a partir de setembro. (CANZIAN, 2009, p. B9). Um quadro geral da crise pode ser entendido da seguinte maneira 3 : 1. Cenário econômico estimulava o refinanciamento: Com os imóveis valorizados, os mutuários refinanciavam suas hipotecas. Os bancos davam uma diferença em dinheiro utilizada para consumir. 2. Os bancos por sua vez captavam mais dinheiro: Para captar dinheiro, os bancos vendiam aos investidores títulos lastreados nas hipotecas. Os investidores emitiram seus próprios títulos lastreados nestes títulos (dos bancos) e se espalharam por todo o sistema bancário. 3 ENTENDA... Folha de São Paulo. São Paulo, 07 out. 2008. Caderno dinheiro, p. B6.

23 3. Mudança no cenário econômico: Para combater a inflação, os juros subiram enquanto os preços dos imóveis caíram. A inadimplência disparou e, assim, os títulos que eram garantidos por estas hipotecas perderam valor. 4. Bancos tem perdas e começa a crise de confiança: Além dos prejuízos com a inadimplência, os bancos tiveram fortes perdas com os títulos. Os bancos com maiores problemas se viram à beira da falência e precisaram ajuda do governo americano. A crise se espalha pelo mercado. 4.1 Reflexos da crise no mundo A crise financeira não atingiu apenas os Estados Unidos. Com a economia americana abalada, todo o mundo passa a sofrer seus efeitos. Os primeiros sinais que a crise seria mundial surgiram na Europa. Dois indicadores divulgados nesta terça-feira (14) [14/10/2008] na Europa chamaram a atenção, ao sugerir uma economia potencialmente abalada.o índice que mede a confiança dos investidores na Alemanha, medido pelo ZEW Center for European Economic Research, despencou em outubro para -63 ante os -41,1 registrados no mês de setembro. As expectativas de mercado estavam em torno de -51,1 para o período.já no Reino Unido, a inflação registrou seu maior avanço em setembro em mais de onze anos, apontou o relatório do National Statistics divulgado nesta segunda-feira. No mês os preços avançaram 5,2% quando comparados com o mesmo período do ano anterior. Analistas esperavam uma alta de 5% (INDICADORES..., 2008) A falta de liquidez impactou o comércio entre as nações desenvolvidas e emergentes, ajudando a espalhar a crise em todos os recônditos do mundo. O Fundo Monetário Internacional prevê um recuo no volume do comércio mundial de 2,8% em 2009, impactando principalmente as economias mais dependentes das exportações, como a chinesa 4. Nos Estados Unidos o consumo sofre seguidas quedas, onde o setor mais penalizado com a falta de crédito foi o segmento de automóveis. Com o aperto no mercado e crédito e a recessão, iniciada em dezembro de 2007, muitos consumidores optaram por não comprar um veículo novo ou simplesmente não conseguem financiamento para aquisição. O resultado disso é que, segundo a GM [General Motors], as vendas de todo o mercado americano foram ultrapassadas pelas do chinês pela primeira vez em um mês. E, caso continuarem nesse ritmo, as vendas nos EUA podem ter o pior resultado em 39 anos. (VENDA..., 2009, p. B8).

24 Com a ausência de capital para crédito nos países desenvolvidos, o fluxo de capital para os países emergentes foi severamente afetado, atingindo todos em maior ou menor escala, posto que o custo do capital aumentou consideravelmente. O principal canal de transmissão dos problemas do mundo desenvolvido para os emergentes é a seca no financiamento. Farto nos últimos cinco anos, ele não apenas diminuir, mas já há uma saída líquida de recursos das economias em desenvolvimento provocada pelos grandes bancos. (FALTA..., 2009, p. B5). Tal problema fez com que muitos emergentes recorressem ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar o colapso. Entre novembro de 2008 até janeiro de 2009 oito emergentes foram obrigados a recorrer ao FMI e juntos tomaram emprestados US$ 47,8 bilhões 5. Por conseqüência, as importações em todo o mundo também recuaram. Um dos grandes países exportadores, a China, sofreu forte impacto em suas exportações. Segundo o jornal Folha de São Paulo, Segunda maior exportadora mundial, a economia chinesa em janeiro vendeu ao exterior 17,5% menos que no mesmo mês do ano passado, a maior queda desde, pelo menos, 1998 (EXPORTAÇÕES..., 2009, p. B 9). A Rússia também mostra sinais de enfraquecimento da economia, evidenciando que também foi atingida pela crise financeira. Segundo o jornal Folha de São Paulo, Desde o estouro da crise, a moeda russa, o rublo, foi fortemente desvalorizado, atingindo seu menor nível em onze anos, fazendo o governo torrar 34% de suas reservas financeiras. Também a produção industrial recuou 10,3%, a maior baixa desde 2003 (RUSSIA..., 2009, p. B8). A produção industrial também recua em nível mundial, em detrimento da queda do consumo, que por sua vez se deu pela ausência de crédito. O gráfico abaixo ilustra a queda citada: 4 FMI... Folha de São Paulo. São Paulo, 29 jan. 2009, caderno Dinheiro, p. B8. 5 FALTA... Folha de São Paulo. São Paulo, 8 fev. 2009, caderno Dinheiro, p. B5.

25 Figura 02 Queda da Produção Industrial no mundo. Fonte: Folha de São Paulo. 08 fev. 2009. Outro problema deflagrado nos países atingidos pela crise, em decorrência da queda da economia, foi o desemprego. No mundo todo, índices alarmantes de desemprego se manifestaram. Segundo o jornal Folha de São Paulo, Com a crise econômica global... cerca de 20 milhões de migrantes chineses perderam seus empregos nos últimos meses e a expectativa é que este número seja acrescido de 6 milhões de pessoas. (MAIS..., 2009, p. B9). Nos estados unidos o desemprego também ocorreu em larga escala. Somente em janeiro de 2009 foram cortados 598 mil postos de trabalho, o maior corte de vagas mensal desde 1974 6. Em toda as partes do mundo eclodiram protestos contra o desemprego, aumentando a tensão social: Na Letônia, culminando com a queda do ministro da agricultura, no Chile onde uma onda de demissões atinge o país, na Grécia, nas Filipinas e também na Alemanha e Reino Unido, com manifestações contra a contratação de estrangeiros 7. Segundo Canzian, (2009, p. B3), A OIT (Organização Internacional do Trabalho), prevê 51 milhões de novos desempregados neste ano [2009] se o quadro se deteriorar. Os países ricos e também os emergentes, face à crise, deflagram planos de auxílio econômico para empresas e setores com problemas. Os Estados Unidos, 6 VAGO... Folha de São Paulo. São Paulo, 11 fev. 2009, caderno Dinheiro, p. B1. 7 DESEMPREGO... Folha de São Paulo. São Paulo, 04 fev. 2009, caderno Dinheiro, p B8.

26 origem e epicentro da crise, além do pacote previsto de US$ 780 bilhões, darão uma cartada fundamental quando anunciarem outro plano de socorro bancário. Cerca de US$ 335 bilhões já foram transferidos, mas o sistema continua frágil 8. Por fim o governo americano, através do seu presidente Barack Obama, deflagrou um plano de compra de ativos desvalorizados no intuito de conferir mais liquidez e confiança ao mercado financeiro. O Departamento do Tesouro dos EUA detalhou ontem [23/03/2009] um ambicioso plano para retirar até US$ 1 trilhão de ativos tóxicos do sistema bancário americano. O objetivo é limpar as carteiras de crédito dos bancos para tentar restaurar o mercado de crédito, epicentro da crise global. Cerca de 95% do custo e do risco do programa serão assumidos pelo governo federal, e, no caso de perdas, pagos pelos contribuintes. (CANZIAN, 2009, p. B1). Na América Latina, a queda do crescimento global, nos preços das commodities e o desaquecimento interno abriram espaço para que o Banco Central dos países sejam mais agressivos no corte dos juros. Brasil, México e Colômbia agiram neste sentido 9. Na Europa, embora a crise afeta a região de maneira desigual, oito países anunciaram pacotes fiscais totalizando US$ 254 bilhões. Os mais atingidos são os países que não tinham padrões econômicos como o alemão e o francês até a introdução do Euro em 1999. Com a moeda, Espanha, Portugal e Irlanda, entre outros, endividaram-se pra crescer 10. Na Ásia, a China lançou um pacote fiscal de US$ 586 bilhões, ou 7% do seu PIB. A Índia também já sofre forte contração. A indústria cresce hoje ao ritmo anual de 2,4% ante 8,5% há um ano. O país sofre com a diminuição tanto das exportações quanto do fluxo de capital estrangeiro. O pacote neste país foi de US$ 4,1 bilhões 11. No Japão, cujo sistema financeiro foi o menos atingido, dentre os países avançados, os efeitos da crise também são sentidos. Milhares de fornecedores de componentes a grandes exportadoras são afetados e o mercado interno também não mostra força para compensar as vendas externas. Neste contexto foi aprovado um pacote fiscal de 8 PAISES... Folha de São Paulo. São Paulo, 08 fev. 2009, caderno Dinheiro, p. B4. 9 Ibidem. 10 Ibidem. 11 Ibidem.

27 US$ 112 bilhões 12. Foram injetados na economia mundial o total de US$ 1,9 trilhão 13. Por fim, alguns países decretam a recessão. O primeiro a decretar foram os Estados Unidos. Segundo Pereira (2008, p. 1), Após diversos meses de debate, a força da crise tornou praticamente consenso a entrada da maior economia do mundo em um quadro recessivo. A NBER (National Bureau of Economic Research) acaba de oficializar a entrada da economia norte-americana em recessão, que segundo o órgão, começou já em dezembro de 2007 [...] Adotou-se tratar recessão como um período de dois trimestres seguidos de retração para determinada economia. De acordo com dados do PIB (Produto Interno Bruto) norteamericano, o terceiro trimestre apontou recuo de 0,5% na atividade do país. Com o aprofundamento da crise em fevereiro de 2009, a recessão chegou à União Européia, arrastando todos os grandes países do bloco para a retração econômica. A União Européia (composta por 27 países) entrou oficialmente em recessão após dois trimestres consecutivos de retração, e Holanda e Portugal também fazem parte agora do grupo em recessão, que conta, entre outros, com Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha. Tal recessão se deve principalmente à queda da economia, onde o PIB dos principais países europeus apresentou quedas seguidas, configurando o quadro de recessão. O PIB (Produto Interno Bruto) na Zona do Euro apresentou contração de 1,6% no último trimestre do ano passado, registrando a pior performance desde 1996. Cabe ressaltar que esta é a versão revisada do nível de produto, que estimou antes recuo de 1,5%. Quanto às variáveis do PIB, o consumo revelou variação negativa de 0,3% no decorrer do último trimestre, enquanto os investimentos caíram 4%. As exportações recuaram 6,7%, em consonância com as importações, cuja baixa foi de 4,7%. (ZONA...,2009, p.1). Diante desta recessão, as expectativas para a economia não são as melhores. Para Rossi (2009, p. B6), A Organização Mundial do Comércio (OMC), calculou em 9% a retração que o comércio global sofrerá este ano [2009], como conseqüência da crise, que seria o maior recuo desde a segunda guerra (1939-45), sendo que para o restante do mundo as projeções para 2009 também são sombrias, principalmente os países desenvolvidos, conforme a tabela abaixo: 12 Ibidem. 13 Ibidem.

Tabela 03 Previsões para 2009 Países PIB (Anual) Inflação (Anual) Taxa de Juro (a.a.) América Latina 0,6% 7,1% 8,76% Argentina 1,6% 6,7% 13,50% Brasil 0,8% 4,0% 9,25% Chile 1,6% 4,9% 1,50% EUA -3,1% -1,0% 0,13% Zona do Euro -3,1% 0,5% 1,00% Mercados Emergentes 2,5% 3,5% 3,11% Fonte: Bank of America Merryl Lynch 28 Na China, onde a recessão ainda não se instalou, mas mostra indicadores também preocupantes, sinalizando o agravamento da situação da economia daquele país. As exportações que avançaram por mais de sete anos, recuaram em novembro e dezembro do ano passado e o PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre cresceu 6,8%, expansão superior à dos países desenvolvidos e de boa parte dos países em desenvolvimento, mas a menor registrada desde 2002 14. 4.2 O Brasil e a Crise O Brasil, como não poderia deixar de ser, também foi afetado pela crise, ainda que num contexto não tão grave quanto os EUA e a União Européia, devido à conjuntura de sua economia. Segundo Clemente e Ramos (2008, p. 36) A comparação entre a crise nos Estados Unidos e no Brasil ajuda a entender semelhanças e diferenças importantes. A semelhança é que, nos dois países, surgiram dificuldades no sistema financeiro. A diferença é que, nos Estados Unidos, operações bilionárias com papéis podres, sem base no capital real dos bancos, contaminaram o conjunto da economia e criaram uma situação de insolvência para diversas instituições que podem acabar nacionalizadas pelo governo para não ir à lona. No Brasil o diagnóstico é outro. O Brasil, diferentemente dos países desenvolvidos, possui condições mais favoráveis para enfrentar a crise mundial. Seu contexto econômico mostra uma situação mais tranqüila em relação tanto às grandes economias como a seus pares emergentes. Um destes fatores, muito importante, foi ausência no país de bolhas de crédito e imobiliária. Atestam este fato Gandalini, Sverberi e Borsato (2008, p.85), Não houve aqui o mesmo processo de formação de bolhas de crédito que 14 MAIS de 20 milhões de chineses perdem o emprego. Folha de São Paulo. São Paulo, 03 fev. 2009, p B9.

29 volatilizou a economia de países como a Islândia, a Irlanda, a Hungria a Inglaterra e, sobretudo, os Estados Unidos. O Brasil nem chegou perto de experimentar um boom imobiliário. Outro aspecto crucial que ajudou a blindar relativamente o Brasil foi a situação de solvência dos bancos, cujos totais de empréstimos, frente ao capital próprio encontram-se dentro do nível recomendado. A figura abaixo demonstra este fato: Figura 03 Comparação de solvência entre bancos brasileiros e mundiais. Fonte: Revista Veja Esta situação de solvência financeira foi uma das principais pilastras que conferiram ao Brasil esta situação diferenciada perante a crise. Porém este nível saudável de empréstimos já vem de problemas enfrentados anteriormente. As instituições financeiras brasileiras (ao menos as maiores delas) possuem ativos saudáveis e são cautelosas. Essa prudência, fundamental na proteção do país contra a crise, resulta de trauma históricos e da ação exemplar do Banco Central (BC). Sobretudo na elaboração e na execução e na execução do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), implantado entre 1995 e 2000. O Proer é hoje tido como um dos mais bem-sucedidos planos da história. Esse programa de saneamento foi a face mais visível de um processo que mudou a regulação bancária brasileira. Desde então, o BC manteve a seriedade na fiscalização e na supervisão do sistema financeiro. (GUANDALINI, SVERBERI E BORSATO, 2009, p.84). As reservas em moeda estrangeira, principalmente em dólar, foram outro grande fator de estabilidade perante a crise, permanecendo no patamar de 200