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Transcrição:

P. C.Bm. 70/2008 SJC-CT Consulente: Conservatória do Registo de Automóveis do.. Assunto: Registo de acção de impugnação pauliana e dos procedimentos cautelares sobre veículos, que o DL n.º 116/2008, de 04.07, veio expressamente consignar para os imóveis Aplicabilidade ao registo de veículos. 1. A senhora Directora da Conservatória do Registo de Automóveis do pretende um pronunciamento dos serviços centrais sobre se estão sujeitos a registo sobre veículos as tipologias de procedimentos judiciais acrescentadas ao artigo 3.º do Código do Registo Predial (CRP) pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, designadamente a impugnação pauliana prevista na alínea a) e os procedimentos previstos na alínea d), ambos do n.º 1.. Afigura-se-lhe que o Código do Registo Predial não tem sido aplicável aos factos previstos nos artigos 5.º e 6.º do DL 54/75, de 12.02, dada a diferente natureza dos bens objecto dos actos, porém, do encontro entre este artigo 6.º e o artigo 3.º do CRP, denotava-se a intenção do legislador em submeter a registo o mesmo tipo de acções, independentemente da natureza dos bens. Entende que a intenção do legislador terá sido a de não excluir do registo de veículos estas novas tipologias de acções e a tal resultado pode chegar por via de interpretação extensiva. Acrescenta a consulente que a solicitação é efectuada no seguimento de pedido de registo de procedimento cautelar não especificado no qual se requer a restituição da posse do veículo de matrícula ( ) cuja decisão aguardará resposta ao presente pedido. O Exmo. Vice-Presidente do IRN, I.P. determinou a audição deste Conselho. 2. Como questão preliminar importa dizer que o conservador não pode tomar a iniciativa de suspender a qualificação de um acto de registo a pretexto de aguardar o pronunciamento dos serviços centrais do IRN, I.P., designadamente do departamento jurídico (DJ), do Conselho Técnico (CT), ou de qualquer outra instituição ou departamento. Consabidamente, os registos que têm por objecto veículos são lavrados de imediato sempre que for possível ou, não o sendo, em prazo que não deve ultrapassar 5 dias, conforme resulta da conjugação dos artigos 9.º, nºs 1 e 2, do DL n.º 178-A/2005, de 28 de Outubro, e 43.º, n.º 1, do Regulamento do Registo de Automóveis (RRA), aprovado pelo Decreto n.º 55/75, de 12 de Fevereiro. Fazer depender a sorte de um pedido de registo que se encontra apresentado de um pronunciamento como o que ora se solicita é criar um expediente dilatório que cerceia o direito ao registo que a lei atribui ao apresentante e, indirectamente, fixar um prazo para pronunciamento e decisão superior sobre a questão exposta, o que se nos afigura inadmissível. De resto, o serviço externo não pode nem deve condicionar por esta forma os serviços centrais, nem limitar o direito do Presidente do IRN, I.P., a ouvir o Conselho Técnico se essa for a sua vontade. Por certo que não foi essa a intenção da consulente, mas 1

objectivamente constrangeria o decisor que se veria forçado a imprimir maior celeridade ao processo consultivo se realmente aceitasse tal pressuposto. Certo mesmo é que não há disposição legal que autorize o conservador a auto suspender o seu dever de qualificação de pedido de registo que se encontre efectuado (apresentado) e, consequentemente, a sua execução, os respectivos termos, ou a sua recusa, até obter resposta à consulta que efectuou ao IRN - I.P. ou a qualquer outra entidade. Sobre o conservador em exercício de funções subsiste a vinculação ao dever de qualificação e dentro do prazo previsto na lei, não obstante qualquer proclamação contrária que faça. A violação de tal dever pode gerar responsabilidade disciplinar, servir de alicerce a reclamação e até mesmo de fundamento a pedido de ressarcimento de prejuízos que os interessados eventualmente venham a sofrer em virtude de ausência de decisão. 3. Também como questão preliminar não podemos deixar de evidenciar que a consulente justifica o pedido de consulta com o facto de ter pendente um pedido de registo de acção na qual o autor pede a restituição da posse de veículo. Aliás, é a decisão sobre esse pedido de registo que fica a aguardar a resposta à consulta. Obviamente que não questionamos a natureza jurídica da acção atribuída pela senhora conservadora que a define como sendo uma acção possessória. Não temos motivos para por em causa a qualificação efectuada nem necessidade de passar em revista os documentos que instruem o pedido de registo. No entanto, não ignoramos que a tal conclusão nem sempre se chega de forma linear uma vez que os articulados onde se alegam os factos que integram a causa de pedir e onde formulam as correspondentes pretensões nem sempre traduzem com objectividade esse pedido e causa de pedir. A jurisprudência revela-nos exemplos de situações em que causa de pedir e pedido não se mostram concorrentes. Umas vezes procura-se justificar uma posse com invocação de factos justificativos de domínio, outras parte-se de uma situação possessória para justificar um direito de propriedade. Ora, a nosso ver as acções possessórias sobre veículos não estão sujeitas a registo 1, obviamente por não visarem o reconhecimento, modificação ou extinção dos direitos referidos no artigo 5.º do DL n.º 54/75. Esta orientação tem sido sufragada relativamente a pedidos sobre bens imóveis 2 e não vemos razões que justifiquem solução diferente quando se trate de bens móveis sujeitos a registo. A mesma orientação deve valer, em tese, para o procedimento cautelar não especificado em que se requer a restituição da posse. Portanto, afigura-se-nos que também por esta razão não deveria ter sido suspenso o dever de qualificação sobre a pretensão registal. 4. Vejamos então a que novos factos ou novas tipologias de actos judiciais se refere a senhora conservadora e adiante-se já que a ser 1 O registo de mera posse previsto no artigo 2.º, n.º 1, alínea e), do CRP configura situação completamente diferente da que nos ocupa cf. art.1295.º, n.º 2, do CC. Ainda assim, adianta-se que a acção de justificação da mera posse também não está sujeita a registo uma vez que com ela se pretende um título para o próprio registo. 2 Vide Acórdão do Tribunal da Relação do Porto publicado no BMJ, n.º 474. (Março/1998), pág. 544; Vide ainda P.º 1/154 RP. 94, 1/37 RP. 95 e 1/202 RP. 95. 2

sancionado o entendimento que a consulente subscreveu no sentido da registabilidade dos novos factos, o impacto na prática dos serviços de registo de veículos far-se-á sentir mais pela sua complexidade do que propriamente pela sua quantidade. 4.1 Em primeiro lugar a acção de impugnação pauliana cujo registo passou a constar expressamente da alínea a) do n.º 1, do artigo 3.º do Código do Registo Predial. Tem sido curiosa a resposta ao problema da registabilidade das acções de impugnação pauliana individual. Supomos que a resposta afirmativa foi pacífica no início de vigência do actual Código Civil 3, porém, progressivamente, instalou-se a dúvida com a existência de arestos nos dois sentidos 4. Nos últimos anos mostrou-se dominante na doutrina e na jurisprudência a tese da irregistabilidade do registo da acção de impugnação pauliana com base na natureza pessoal e no escopo meramente indemnizatório que a caracterizam 5. Neste confronto de entendimentos foi até fixado jurisprudência pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 6/2004, publicado no DR, I série A, em 14.07.2004, no sentido de que a acção de impugnação pauliana individual não estava sujeita a registo predial. O recente Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, porém, veio sujeitar a registo as acções dessa natureza que tenham por objecto bens imóveis pelo que de iure constituto a tese da registabilidade sobre estes bens já não pode ser contestada. Não se pense, porém, que foi eliminada uma problemática estéril. Parece-nos, que bastará ler os votos de vencido do acórdão uniformizador de jurisprudência a que atrás aludimos para se antever a abertura de um novo leque de questões que se prendem com o regime e com efeitos do registo desta acção. Obviamente que esse desenvolvimento não pode ter lugar neste parecer. 4.2 Em segundo lugar, o registo os procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento bem como de quaisquer outras providências que afectem a livre disposição de bens e bem assim as providências que sobre aqueles vierem a ser decretadas, cuja registabilidade passou a constar das alíneas d) e e) do artigo 3.º do Código do Registo Predial. Se anteriormente a registabilidade estava cingida às próprias providências judiciais de arresto, de arrolamento e de outras providências que afectem a livre disposição de bens, agora é a própria abertura da instância que se passa a publicitar. Em registo predial servirá de base ao registo do procedimento um dos documentos previstos no artigo 53.º do Código correspondente e as providências ingressarão no registo por averbamento à inscrição do procedimento cf. art. 101.º, n.º 2, alínea a), se estiver registado. Relativamente a estas providências o legislador mais não pretendeu do 3 Catarino Nunes, Código do Registo Predial Anotado, Atlântida Editora, 1968, pág. 194. 4 Exemplificativamente veja-se no sentido da registabilidade os Acórdãos da RE de 24.04.2002, in CJ 27 (2002), 2, e RC de 17.01.1995 in CJ 20, (1995), I; No sentido da não sujeição a registo, o acórdão do STJ de 28.03.1996 in BMJ 455, pág. 498 e segs. 5 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 6/2004, publicado no DR, I série A, em 14.07.2004, em particular na parte que transcreve Vaz Serra. Na vigência da legislação anterior ao DL n.º 116/2008, de 14.07, veja-se no sentido da registabilidade o Prof. Dr. Luís Carvalho Fernandes, in O regime registal da impugnação pauliana, Estudos em Homenagem à Professora Doutora Isabel de Magalhães Collaço, II, Coimbra, Almedina. 3

que permitir a protecção antecipada do requerente/credor obtida a partir do registo do próprio procedimento cautelar. 4.3 Ainda que a senhora conservadora o não tivesse referido, creio que deve ser incluído no elenco de preocupações respeitantes aos reflexos do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 04.07, sobre o registo de veículos, a sujeição a registo da declaração de insolvência prevista na alínea n), do n.º 1, do artigo 2.º do CRP, em substituição da apreensão de bens em processo de insolvência, assim como o efeito da revogação dos nos. 2 e 3, do artigo 3.º do CRP que sempre se considerou aplicável ao registo de veículos. No que respeita à sentença o legislador põe em evidência que no processo de execução universal que vise a liquidação do património de devedor insolvente, os efeitos patrimoniais relativamente a este operam imediatamente com a declaração de insolvência (cf. artigos 81.º, n.º 1 e 6, e 149.º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas). A apreensão de bens neste tipo de processo é um acto meramente executivo que não pode ser confundido com a própria sentença que declara a insolvência e que marca o início dos efeitos sobre o devedor e sobre terceiros. No que respeita à revogação dos números 2 e 3 do aludido artigo 3.º quis o legislador eliminar do efeito suspensivo da instância por falta de prova do registo de acção que a ela se encontre sujeita. Nos imóveis compreende-se esta revogação se atentarmos que o registo das acções e das providências judiciais de arresto, arrolamento ou que afectem a livre disposição de bens, passou a ser directamente obrigatório 6, que entre os sujeitos a quem incumbe a obrigação de registar se contam também os tribunais, o Ministério Público e os agentes de execução e ainda que a lei fixa prazos e consequências emolumentares para o incumprimento da obrigação de registar - cf. artigos 8.º-A a 8.º -D do CRP. 5. Portanto, afigura-se-nos que no âmbito das acções e decisões judiciais sujeitas a registo sobre veículos podemos reconduzir as preocupações a três grandes questões: a registabilidade de acções impugnação pauliana; a registabilidade de procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento bem como de quaisquer outras providências que afectem a livre disposição de bens e bem assim as providências que sobre aqueles vierem a ser decretadas; por fim, a registabilidade da declaração de insolvência em vez da apreensão de bens em processo de insolvência. 5.1 A medida das dificuldades na resolução das questões atrás expostas está encerrada no regime a que se encontra sujeito a aplicação subsidiária do Código do Registo Predial ao registo de veículos. Dispõe o artigo 29.º do DL n.º 54/75, de 12.02, o seguinte: São aplicáveis, com as necessárias adaptações, ao registo de automóveis as disposições relativas ao registo predial, mas apenas na medida indispensável ao suprimento das lacunas da regulamentação própria e compatível com a natureza de veículos 6 Há excepções, designadamente as acções de impugnação pauliana e os procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento bem como de quaisquer outras providências que afectem a livre disposição de bens cf. art. 8.º-A, n.º 1, alínea b) e 3,º, n.º 1, alínea d)do CRP. 4

automóveis e das disposições contidas neste diploma e no respectivo regulamento. Como se afirma na consulta, a subsidiariedade do registo predial relativamente ao registo de veículos não tem abrangido as matérias abrangidas pelos artigos 5.º e 6.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12.02. os quais contemplam as acções (em sentido amplo) e decisões judiciais que o legislador pretendeu registar sobre os veículos. A definição dos factos sujeitos a registo em cada área de actividade ou espécie registo civil, registo predial, registo comercial, registo de veículos, registo de navios é própria para cada uma das espécies e foi delineada em função da multiplicidade de interesses que concorrem para justificar cada um dos institutos, da natureza do objecto do registo e, seguramente, dos resultados que se visam alcançar com a sujeição a registo de factos que ocorrem, quer no âmbito do direito privado quer no âmbito do direito público. Que razões determinaram a autonomização do registo sobre veículos e, em particular, que razões justificam o seu afastamento da matriz predialista, pese embora continuar a ser esta espécie o seu paradigma? O preâmbulo do DL n.º 54/75, de 12.02, identifica a necessidade simplificação de procedimentos, de celeridade na execução dos actos, a necessidade de ajustamento à limitadíssima duração e extrema mobilidade negocial inerentes aos veículos automóveis. Também o tratamento automático desta informação determinou um conjunto de soluções bem distantes da filosofia e dos procedimentos profundamente enraizados no registo predial. Tais razões não impediram que o elenco dos factos designados por acções e decisões judiciais sujeitas a registo fosse quase coincidente entre imóveis e veículos. E na parte que não é coincidente releva sobremaneira a especificidade de regime próprios de bens móveis, de que é exemplo a apreensão judicial tratada nos artigos 15.º e seguintes do DL 54/75, assente na sua limitadíssima duração e extrema mobilidade dos bens e que conferem a credores mecanismos expeditos de defesa dos seus direitos. Ainda assim o legislador fixou o Código do Registo Predial como direito subsidiário. O transcrito artigo 29.º - que limita o recurso ao regime supletivo na medida indispensável ao suprimento de lacunas, conquanto as normas aplicadas sejam compatíveis com a natureza dos veículos e com as disposições do citado Decreto e do Regulamento do Registo de Automóveis, e da norma assim encontrada dever ainda ser objecto de adaptação a todas estas normas do registo de veículos - exige interpretação e adaptação conforme às razões expressas no preambulo do diploma. O que queremos significar é que o regime subsidiário não impede, antes demanda a aplicação do regime registal aplicável aos imóveis. No que respeita às duas primeiras questões, isto é, à registabilidade da acção de impugnação pauliana e bem assim dos procedimentos de arresto, arrolamento e de outras providências cautelares que afectem a livre disposição de bens é certo que desde logo se levanta o problema da própria existência de lacuna no elenco dos factos sujeitos a registo sobre veículos. E em face do contexto justificativo da autonomização do registo sobre veículos afigura-se-nos que só pode ser no campo da integração da lei, isto é, no campo da aplicação do Direito praeter legem que a questão 5

terá solução. Isto porque a tentativa de interpretação extensiva de normas jurídicas tem por limite a letra da lei que não permite tanta subjectividade, ainda que se mostre convidativo o recurso à ideia de unidade do sistema jurídico. Como se sabe, o reconhecimento de uma lacuna não é tarefa fácil e aqui a história, a abundância legislativa em matéria de registo de veículos e as compreensivas justificações da especialidade do registo de veículos por comparação com o regime que lhe serve de paradigma parecem concorrer para a conclusão de inexistência de qualquer lacuna. Reconheça-se, porém, que em matéria de acções e decisões judiciais nunca houve problema precisamente por ser idêntica 7 a abrangência das normas correspondentes. Só agora temos dificuldades porque só agora o regime matricial foi alterado e passou a ser mais abrangente do que o regime subsidiado. Sobre as razões justificativas da especialidade do regime dos veículos importa dizer que hoje a tramitação do processo registal dos veículos é mais célere do que nunca, a generalidade das decisões de execução do acto solicitado é tomada de imediato (ao balcão, com a apresentação), os procedimentos encontram-se simplificados para os utentes quer pelo aumento do número de actos oficiosos quer pela possibilidade de aceder internamente a bases de dados tendo em vista o eventual suprimento de deficiências, houve aumento exponencial de serviços e entidades com competência para a recepção, apresentação e decisão dos pedidos de actos de registo sobre veículos, etc. Portanto, uma boa parte dos pressupostos ou condicionantes do diploma de 1975 de então para cá foram substancialmente alterados, sobretudo a partir da reforma operada pelo DL n.º 178-A/2005, de 28.10. que, como é sabido, eliminou as regras de competência territorial e alterou profundamente as regras de competência funcional dos seus operadores. Se em termos abstractos estão cada vez mais diluídas as razões que justificaram a diferença entre registo de veículos e registo predial, sobre o concreto problema que nos ocupa é que não vislumbramos razões que justifiquem a registabilidade da impugnação pauliana e dos aludidos procedimentos sobre imóveis mas não já sobre registo de veículos. Difícil, senão mesmo impossível, é justificar que a natureza diversa dos bens justifique a especialidade de regimes; Pelo contrário, é precisamente por se tratarem de bens rapidamente perecíveis e de extrema mobilidade negocial que a publicidade e protecção tabular se impõe até em toda a sua abrangência. Num contexto mais vasto de preocupações com a eficácia do processo executivo, o legislador do CRP antecipou a protecção ao credor/requerente quer pelo registo da acção pauliana quer pelo registo dos aludidos procedimentos. A montante densificou o regime registal dos actos associados ao processo executivo, o novíssimo regime de obrigatoriedade do registo destes factos no predial [( art. 8.º-A, n.º 1, alínea b), in fine, e n.º 2)] aproxima-o da obrigatoriedade que já se encontra consagrada nos veículos, e no que respeita às consequências do incumprimento da obrigação registar permite maior celeridade processual. 7 Dizemos idênticas e não iguais. Já atrás dissemos que há especialidades no registo de veículos, designadamente a apreensão com fundamento e em resultado de processo instaurado ao abrigo dos artigos 15.º e segs. do DL n.º 54/75. Estas especialidades, porém, não relevam para o efeito. 6

Este regime não irá trazer ao registo predial um acréscimo de trabalho suficientemente expressivo que mereça a nossa preocupação. O mesmo se diga se aplicado ao registo de veículos. Nesta espécie até nos parece mais útil a registabilidade destes novos actos atento a razões que o próprio legislador expressou no preâmbulo do diploma de 1975: natureza muito especial das coisas que constituem o seu objecto, particularmente caracterizadas pela limitadíssima duração e extrema mobilidade negocial.... Seguramente que há identidade de razões e consequente necessidade de tratamento igualitário. Tal como a consulente afirmou, e nós concordamos, a coincidência entre o artigo 3.º do CRP e o 6.º do DL n.º 54/75, faz crer que o legislador não desejou nunca um regime diferente, razão pela qual se impõe a aplicação analógica ao registo de veículos do disposto na alínea a), in fine, e alínea d), do n.º 1, do artigo 3.º do CRP. A protecção de credores num e noutro caso exige-o. Por isso também que nunca existiram dúvidas sobre a aplicabilidade dos n.º s 2 e 3, do artigo 3.º do CRP ao registo de veículos. A sua revogação não causará dificuldades a um sistema no qual o registo já era indirectamente obrigatório. O que agora se poderá discutir é se essa obrigatoriedade no registo sobre veículos não se estende agora também ao tribunal e ao Ministério Público, já que quanto ao agente de execução essa obrigatoriedade se nos afigura inquestionável. Obviamente que as excepções ao regime de obrigatoriedade contempladas no CRP se estendem também ao registo de veículos de sorte que a impugnação pauliana e os procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento bem como de quaisquer outras providências que afectem a livre disposição de bens cf. art. 8.º-A, n.º 1, alínea b) e 3,º, n.º 1, alínea d)do CRP - escapam ao regime da obrigatoriedade e às consequências que resultam do seu incumprimento. Parece-nos, pois, inquestionável que estão sujeitos a registo sobre veículos a impugnação pauliana bem como os procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento bem como de quaisquer outras providências que afectem a livre disposição destes bens. Estão também sujeitas a registo as providências decretadas nos procedimentos referidos anteriormente. 6. Vejamos agora a problemática sobre a registabilidade da declaração de insolvência sobre veículos. A este facto se referem designadamente o artigo 5.º, n.º 1, alínea h), o artigo 7.º e o artigo 48.º, n.º 2, do DL n.º 54/75 de 12 de Fevereiro. Já atrás dissemos, e agora reafirmamos, que no processo de liquidação do património de insolvente os efeitos patrimoniais sobre o devedor operam imediatamente com a declaração de falência. Os poderes de administração e de disposição dos bens integrantes da massa insolvente passam a competir a um administrador cf. art. 81.º, n.ºs 1 a 5, do CIRE. São ineficazes relativamente à massa insolvente os actos praticados em violação dos aludidos normativos, antes mesmo do registo da sentença de declaração de insolvência, salvo os previstos nas alíneas a) e b) do n.º 6 do mesmo artigo, cuja apreciação escapa completamente às malhas da qualificação do conservador. 7

Do artigo 149.º do mesmo Código resulta que proferida sentença declaratória da insolvência procede-se à imediata apreensão de todos os bens integrantes da massa insolvente, mesmo sem trânsito em julgado, entendo-se que o acto de apreensão configura um acto executivo ou conservatório que decorre da sentença. Note-se, porém, que à declaração de insolvência nem sempre se segue a apreensão de bens cf. artigo 225.º. Por sua vez, o n.º 3 do artigo 38.º do CIRE, determina que a declaração de insolvência é ainda inscrita no serviço de registo do registo predial, relativamente a bens que integrem a massa insolvente, com base na respectiva certidão e declaração do administrador da insolvência que identifique os bens 8. Deste regime decorre que o legislador pretende sujeitar a registo a declaração de insolvência sobre os bens a ele sujeitos que integram a massa insolvente e não já o acto de apreensão em processo de insolvência que perdeu relevância registal, aliás, em consonância com a sua relevância substantiva. O regime de ineficácia dos actos do insolvente relativamente à massa insolvente quando este não esteja sujeito a registo comercial tem início com o registo da declaração da insolvência. Daí a revogação do artigo 152.º do CIRE. Com isto queremos significar que é por força da alteração de normativos processuais constantes do CIRE que devemos rever as soluções normativas constantes dos regimes jurídicos registais que projectam e publicitam o registo dos factos considerados relevantes no processo de insolvência. Aqui não se trata de integração legislativa como anteriormente, mas de interpretação que viabilize a conformação dos normativos registais (de todos, naturalmente) com o regime processual definido no CIRE. Essa interpretação terá de ser extensiva, de forma a estender o regime previsto para uma espécie (predial) a um género (registo de bens sobre os quais se mostre pertinente o registo da declaração de insolvência). Por certo temos que procedem quanto ao género as razões que justificam a alteração para essa espécie. Tais normas devem ser objecto de interpretação actualista, atento à alteração do regime processual em que se baseia, justificada também pela necessidade de dotar o sistema de uma unidade uniformizadora. Assim, a declaração de insolvência deve projectar-se no registo predial quando a massa insolvente inclua imóveis, no registo comercial quando abranja quotas de sociedades por quotas e nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples sobre o direito aos lucros e à quota de liquidação; o mesmo facto pode incidir sobre veículos e ainda sobre navios. A condição é que cada bem em concreto sobre que tal registo incide esteja integrado na massa insolvente. No que a esta consulta interessa é que as disposições legais que se referem ao registo da apreensão de bens em processo de insolvência devem ser objecto de interpretação actualista, por forma a entender-se que o facto sujeito a registo é a declaração de insolvência e não já a apreensão no processo correspondente. A posição do Conselho Técnico vai exposta nas seguintes conclusões: 8 Convenhamos que a expressão usada peca por defeito. Além de imóveis a massa insolvente poderá incluir outro tipo de bens sujeitos a registo, designadamente quotas e participações sociais, veículos, navios, etc. Parece-nos indiscutível que não foi intenção do legislador cingir o registo da apreensão aos imóveis, razão pela qual a norma deve ser objecto de interpretação extensiva aos outros tipos de bens sujeitos a registo. 8

I - Não há disposição legal que autorize o conservador a auto suspender o seu dever de qualificação sobre pedido de registo que se encontra efectuado (apresentado) até obter resposta a consulta que efectuou ao IRN - I.P. ou a qualquer outra entidade. Sobre o conservador subsiste a vinculação ao dever de qualificação e dentro do prazo previsto na lei, não obstante qualquer proclamação contrária que faça. II - Estão sujeitas a registo sobre veículos a acção pauliana, os procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento bem como de quaisquer outras providências que afectem a livre disposição destes bens. Estão também sujeitos a registo as providências decretadas nos procedimentos referidos anteriormente cf. artigo 3.º, n.º 1, alínea a), in fine, d) e e) do CRP e 5.º, n.º 1, alínea h) do DL n.º 54/75, de 12.02. III - As disposições legais constantes da legislação sobre registo de veículos que se referem ao registo da apreensão de bens em processo de insolvência devem ser objecto de interpretação actualista, por forma a entender-se que o facto sujeito a registo é a declaração de insolvência, conforme decorre do n.º 3, do artigo 38.º do CIRE. de 2009. Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 29 de Janeiro Carlos Manuel Santana Vidigal, relator, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, João Guimarães Gomes Bastos, José Ascenso Nunes da Maia. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em 03.02.2009. 9