URO RESUMOS. BRASIL SILVA NETO Professor Adjunto - Depto Cirurgia UFRGS Chefe do Serviço de Urologia Hospital de Clínicas de Porto Alegre RS TiSBU

Documentos relacionados
Cirurgia da mama em casos de câncer de mama metastático: entendendo os dados atuais

Linfadenectomia Retroperitonial no Tumor Renal Localmente Avançado Papel Terapêutico ou Somente Prognóstico? Guilherme Godoy

DIAGNÓSTICO E RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA

Avaliação e Tratamento da Recidiva Loco-regional do Câncer de Próstata

MESA-REDONDA: MÓDULO DE CÂNCER DE PRÓSTATA. Radioterapia na doença oligometastática de próstata. SBRT e outras estratégias

Tratamento de Resgate após. Eu prefiro HIFU ou Crioterapia GUSTAVO CARDOSO CHEFE DO SERVIÇO DE UROLOGIA

Extensão da Linfadenectomia no Câncer da Próstata

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA RADIOTERAPIA

CANCER DE BEXIGA Quimioterapia neo-adjuvante racional, indicações e complicações. Luiz Flávio Coutinho. Tiradentes 13/08/2016

Vigilância ativa em câncer de próstata. Marcos Tobias Machado Setor de Uro-oncologia

Encontro Pós ASTRO 2011

Gaudencio Barbosa R4 CCP HUWC Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

Linfadenectomia no câncer de próstata. William C Nahas

Gustavo Nader Marta, Rachel Riera, Cristiane Rufino Macedo, Gilberto de Castro Junior, André Lopes Carvalho, Luiz Paulo Kowalski

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

Evidências em Saúde: PSA e Câncer de Próstata. Bárbara Castro Juliana Kaori Paulo Matsuo Rita Besson

PESQUIZA DE CÁNCER DE PULMÓN POR TOMOGRAFIA DE BAJA DENSIDAD

Recorrência Bioquímica depois de Prostatectomia Radical. PG em Medicina e Ciências da Saúde FMPUCRS

Gaudencio Barbosa R3 CCP Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantído UFC

Estadiamento do câncer de pulmão. Disciplina de Cirurgia Torácica UNIFESP +

Qual o melhor tratamento para o Câncer de Próstata de risco baixo ou intermediário?

Rastreamento do Câncer de Próstata Evidência Atual e Seleção de Pacientes. Há Papel para Marcadores Moleculares e/ou Genômicos?

Tratamento adjuvante sistêmico (como decidir)

Tipos de Estudos Epidemiológicos

Manejo de Lesão Cerebral Metastática Única. Eduardo Weltman Hospital Israelita Albert Einstein Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Gaudencio Barbosa R3 CCP HUWC Serviço de Cirurgia de Cebeça e Pescoço

Screening no Câncer de Próstata: deve ser recomendado de rotina para os homens entre 50 e 70 anos? Aguinaldo Nardi São Paulo Março 2012

- Papel da Quimioterapia Neo e

CÂNCER DE COLO DE ÚTERO OPERADO RADIOTERAPIA COMPLEMENTAR: INDICAÇÕES E RESULTADOS

câncer de esôfago e estômago Quais os melhores esquemas?

Revisão sistemática: o que é? Como fazer?

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CIRURGIA ONCOGINECOLÓGICA

10/04/2012 ETAPAS NO DELINEAMENTO DO ESTUDO EXPERIMENTAL:

Comparação de insuflação com dióxido de carbono e ar em endoscopia e colonoscopia: ensaio clínico prospectivo, duplo cego, randomizado - julho 2017

O que é e para que serve a Próstata

Ardalan Ebrahimi; Jonathan R. Clark; Balazs B. Lorincz; Christopher G. Milross; Michael J. Veness

Terapia de Reposição Hormonal e Ca de Próstata

Características endoscópicas dos tumores neuroendócrinos retais podem prever metástases linfonodais? - julho 2016

TRH pós PR é segura? Archimedes Nardozza Jr

Gaudencio Barbosa R4 CCP HUWC UFC

Tratamento Sistêmico Câncer Gástrico

Após um episódio de ITU, há uma chance de aproximadamente 19% de aparecimento de cicatriz renal

Módulo: Câncer de Próstata Localizado Alto Risco

BRONQUIECTASIAS: O NOVO, O VELHO E O FEIO. Palestrante James Chalmers, Universidade de Dundee

Delineamentos de estudos. FACIMED Investigação científica II 5º período Professora Gracian Li Pereira

Desenhos de estudos científicos. Heitor Carvalho Gomes

RM padrão de 1,5T no câncer endometrial: moderada concordância entre radiologistas

Estudo Compara Efeitos da Morfina Oral e do Ibuprofeno no Manejo da Dor Pós- Operatória

20º CONGRESSO BRASILEIRO DE MASTOLOGIA PROGRAMA PRELIMINAR

Comparação da efetividade da prostatectomia radical minimamente invasiva vs aberta

Efficacy and Safety of Nonoperative Treatment for Acute Appendicitis: A Meta-analysis Pediatrics, Março 2017

FATORES PREDITIVOS PARA FALHA BIOQUÍMICA APÓS RADIOTERAPIA DE RESGATE EM CÂNCER DE PRÓSTATA, PÓS- PROSTATECTOMIA RADICAL

QUAL O NÍVEL DE PRESSÃO ARTERIAL IDEAL A SER ATINGIDO PELOS PACIENTES HIPERTENSOS?

XXII WORSHOP UROLOGIA ONCOLÓGICA Março 2017 Hotel Solverde, Espinho

Analgesia Pós-Operatória em Cirurgia de Grande Porte e Desfechos

Qual o benefício da vacina contra HPV em mulheres previamente expostas? Fábio Russomano - IFF/Fiocruz Agosto de 2015

Orientações gerais: PROVA DE CONHECIMENTO EM METODOLOGIA CIENTÍFICA E INTERPRETAÇÃO DE ARTIGO CIENTÍFICO NÍVEL MESTRADO

Rodrigo de Morais Hanriot Radioterapeuta Sênior Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Francisco Madeira Pina

Diretrizes Assistenciais TUMORES ESTROMAIS GASTRO-INTESTINAIS (GIST)

06 A 08 DE NOVEMBRO DE 2014 PROGRAMA

Gaudencio Barbosa R3 CCP HUWC - 01/2012

Dr Marco Túlio C. Lasmar Urologista do Hosp Felicio Rocho BH/MG Coordenador do Departamento de Laparoscopia e Endourologia da SBU/MG

RADIOTERAPIA ADJUVANTE NO CÂNCER DO ENDOMÉTRIO

XXIII Jornadas ROR-SUL. 15, 16 e 17 Fevereiro 2016 Lisboa


TERAPIA DE REABILITAÇÃO PENIANA PÓS PROSTATECTOMIA RADICAL

Estudo N CC CC + RT p

Doença Localizada. Radioterapia exclusiva em estádios iniciais: quando indicar? Robson Ferrigno

Boletim Científico SBCCV

Lesões Ovarianas na Pré e Pós-Menopausa. Laura Massuco Pogorelsky Junho/2018

Epidemiologia Analítica. AULA 1 1º semestre de 2016

Alerson Molotievschi Residente 2º ano - Radioterapia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

Revisão Sistemática e Metaanálise. Aula

Leia estas instruções:

Terapia conservadora da mama em casos multifocais/multicêntricos

08 de março 29 anos 1984 / 2013 D. Theolina de Andrade Junqueira

A fase inicial do câncer de próstata apresenta uma evolução silenciosa e não causa sintomas, mas alguns sinais merecem atenção:

RADIOTERAPIA ESTEREOTÁXICA CORPÓREA

Radioterapia baseada em evidência no tratamento adjuvante do Câncer de Endométrio: RT externa e/ou braquiterapia de fundo vaginal

Câncer de Bexiga Musculo Invasivo. Guilherme de Almeida Prado Costa Médico Assistente do Serviço de Urologia Hospital Amaral Carvalho Jaú/ São Paulo

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Braquiterapia Ginecológica

IMPLANTE PERCUTÂNEO DE PRÓTESE AÓRTICA (TAVI)

Rua Afonso Celso, Vila Mariana - São Paulo/SP. Telefone: (11) Fax: (11)

O estado da arte da Radioterapia na abordagem de Tumores de Bexiga. Dr. Baltasar Melo Neto R3 - UNIFESP

04/03/2008. Identificar o desenho do estudo. Opinião de especialista Exemplo: Revisão Narrativa. Identificando Principais Tipos de Estudos

A Eficácia da Cinesioterapia na Reabilitação Funcional do Ombro em Mulheres Mastectomizadas.

Joint SFBO-SBR-ALATRO Consensus Meeting Controversies on Radiotherapy Treatment. Breast Cancer

Ensaios clínicos. Definições. Estudos de intervenção. Conceitos e desenhos

Radioterapia de SNC no Câncer de Pulmão: Update Robson Ferrigno

PANORAMA DO CÂNCER DE MAMA NO BRASIL

Algoritmo de condutas para tratamento de câncer de pâncreas

Conceito de evidência e Busca bibliográfica. 1º semestre de

Nos primeiros lugares das dores de cabeça da Urologia

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

VALIDADE EM ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

Que informações epidemiológicas sobre Oncologia Pediátrica têm sido produzidas?

Transcrição:

URO RESUMOS www.urologiaessencial.org.br BRASIL SILVA NETO Professor Adjunto - Depto Cirurgia UFRGS Chefe do Serviço de Urologia Hospital de Clínicas de Porto Alegre RS TiSBU A Multi-institutional Analysis of Perioperative Outcomes in 106 Men Who Underwent Radical Prostatectomy for Distant Metastatic Prostate Cancer at Presentation Análise Multi-Institucional de Desfechos Perioperatórios em 106 Homens Submetidos à Prostatectomia Radical com Câncer de Próstata Metastático ao Diagnóstico OBJEtIVO Examinar desfechos perioperatórios e complicações em curto prazo após Prostatectomia Radical para câncer de próstata localmente ressecável e com metástases à distância. delineamento E população do EStUdO Uma série de casos retrospectiva, entre 2007 a 2014, compreendendo 106 pacientes com diagnóstico recente de câncer de próstata metastático (M1) nos EUA, Alemanha, Itália e Suécia. Prasanna Sooriakumaran, Jeffrey Karnes, Christian Stief, et al. Eur Urol (2015), http://dx.doi.org/ 10.1016/j. eururo.2015.05.023 http://dx.doi.org/10.1016/j. eururo.2015.05.023 0302-2838/# 2015 [Epub ahead of print] RESUMO BASE teórica Ensaios clínicos atualmente estão investigando intervenções radicais em homens com neoplasia de próstata metastática, embora não existam dados sobre a segurança da Prostatectomia Radical como terapia neste contexto clínico. Objetivo: Examinar desfechos perioperatórios e complicações em curto prazo após Prostatectomia Radical para câncer de próstata localmente ressecável e com metástases à distância. INtERVENÇÃO Prostatectomia radical e linfadenectomia pelvica estendida. MEdIdAS de desfecho E ANÁLISE EStAtÍStICA Estatística descritiva foi utilizada para apresentar status de margem, continência, readmissão, reintervenção, taxa de complicação geral aos 90 dias, assim como para vinte e uma complicações específicas. Curvas de Kaplan-Meier foram usadas para estimar sobrevida. Variabilidade intercentros e subgrupos M1a/ M1b foram analisados. RESULtAdOS E LIMItAÇÕES 79.2% dos pacientes não sofreram complicações; margens positivas (53.8%), linfocele (8.5%) e infecção de ferida operatória (4.7%) 34 UROLOGIA ESSENCIAL V.6 N.1 JAN JUN 2016

www.urologiaessencial.org.br foram mais altas na nossa coorte do que em uma meta-análise de prostatectomia aberta realizada por indicações padrão. Em um seguimento mediano de 22.8 meses, 94/106 (88.7%) homens ainda estavam vivos. O estudo é limitado pelo seu desenho retrospectivo, critérios de seleção distintos entre os Centros e curto seguimento. CONCLUSÕES Prostatectomia Radical para homens com câncer de próstata metastático localmente ressecável parece seguro em mãos experientes em pacientes selecionados. Complicações gerais e específicas relacionadas à cirurgia não são mais frequentes do que quando a cirurgia é realizada pelas indicações clássicas, sendo o uso de linfadenectomia pélvica estendida em toda esta coorte, comparada à sua utilização na doença localizada/localmente avançada o principal fator para morbidade adicional. RESUMO para pacientes Homens que se apresentam com câncer de próstata avançado que se espalhou para além da glândula, mais frequentemente, estão sendo considerados para receber tratamentos dirigidos à própria próstata. Baseado em nossos resultados de uma série internacional de 106 homens, a cirurgia parece ser razoavelmente segura neste contexto, para pacientes selecionados. As estratégias terapêuticas no contexto do câncer de próstata metastático vêm aumentando sobremaneira, passando pelas diversas opções de tratamento sistêmico até a proposta de tratamento do tumor primário, no caso a próstata. O conceito de tratar o órgão-fonte para otimizar o tratamento sistêmico tem evoluído no cenário da neoplasia prostática. Ensaios clínicos, especialmente com radioterapia, estão em andamento, assim como a ideia de tratar cirurgicamente estes casos vem sendo avaliada. Antes de perguntarmos se é válida, em termos de controle oncológico, a realização de Prostatectomia Radical, precisamos saber se é factível e segura a realização da cirurgia em um cenário avançado da doença. O presente estudo apresenta diversas limitações metodológicas, porém demonstrou que a realização de Prostatectomia Radical em doença metastática é possível, apresentando uma frequência de complicações semelhantes à mesma cirurgia quando realizada por indicações rotineiras. A maior parte das complicações foi relacionada à execução da Linfadenectomia Estendida, o que também seria esperado e que não foi diferente, em frequência, das complicações comuns de linfadenctomia extensas realizadas em outros cenários clínicos. O próximo passo é sabermos se, apesar de segura, a estratégia de remoção da próstata quando há doença metastática produz benefício em controle da doença e sobrevida. Opportunistic Testing Versus Organized Prostate-specific Antigen Screening: Outcome After 18 Years in the Göteborg Randomized Population-based Prostate Cancer Screening Trial Rastreamento Oportunístico Versus Sistemático com Antígeno Prostático Específico: Desfecho após 18 anos de Seguimento no Ensaio Clínico Randomizado Populacional de Rastreamento de Câncer de Próstata de Gotemburgo Rebecka Arnsrud Godtman, Erik Holmberg, Hans Lilja, Johan Stranne, Jonas Hugosson EUROPEAN UROLOGY 68 (2015) 354 360 V.6 N.1 JAN JUN 2016 UROLOGIA ESSENCIAL 35

URO-RESUMO BRASIL SILVA NETO RESUMO BASE teórica Tem sido demonstrado que o rastreamento organizado diminui mortalidade por câncer de próstata, mas o efeito do rastreamento oportunístico é bastante desconhecido OBJEtIVO Comparar a habilidade para reduzir mortalidade por câncer de próstata e o risco de overdiagnosis entre o rastreamento sistemático e oportunístico. delineamento E participantes O estudo de rastreamento de Gotemburgo randomizou 10 mil homens para realizar PSA a cada 2 anos desde 1995, com biópsia de próstata recomendada para homens com PSA>2.5 ng/ml. O grupo controle de outros 10 mil homens foi exposto ao previamente reportado aumento do rastreamento oportunístico. Ambos os grupos foram seguidos até 31/12/2012. MEdIdAS de desfecho E ANÁLISE EStAtÍStICA Incidência cumulativa de câncer de próstata e taxas de mortalidade em ambos os grupos foram calculados usando método atuarial. Usando dados históricos de 1990 1994 (era pre-psa), nós calculamos a frequência de incidência e mortalidade na ausência de testagem com o PSA. O número necessário para rastrear e o numero necessário para diagnóstico foram calculados pela comparação entre os números esperados versus observados para incidência e mortalidade. RESULtAdOS E LIMItAÇÕES No 18 o ano de seguimento, 1396 homens foram diagnosticados com câncer de próstata e 79 morreram pela doença no grupo rastreamento, comparado com 962 e 122, respectivamente no grupo controle. No grupo rastreamento, a incidência e mortalidade cumulativa foram de 16%/ 0.98%, respectivamente, comparado aos valores esperados de 6.8% e 1.7%. Os valores correspondentes para o grupo controle foram 11 e 15% e 6.9%/1.7%. Rastreamento sistemático foi associado a uma redução da mortalidade por câncer de próstata específica de 0.72% (95% confi dence interval [CI] 0.50 0.94%) e redução relativa de risco de 42%(95% CI 28 54%). Houve uma redução absoluta de mortalidade por câncer de próstata de 0.20% (95% CI 0.06% - 0.47%) e redução de risco relativo de 12% (95% CI 5-26%) associado com rastreamento oportunístico. NNI and NND foram 139 (95% CI 107 200) e 13 para rastreamento sistemático a cada 2 anos e 493 (95% CI 213 1563) e 23 para rastreamento oportunístico. A extensão do rastreamento oportunístico não pode ser medida, a tendência da incidência foi usada como proxy. CONCLUSÕES Rastreamento sistemático reduz mortalidade por câncer de próstata, mas é associado com overdiagnosis. Rastreamento oportunístico teve pouco efeito na mortalidade por câncer de próstata e resultou em maior overdiagnosis, com quase o dobro de homens necessários para o diagnóstico para salvar a vida de um paciente com câncer próstata, comparado com o rastreamento sistemático, a cada 2 anos. RESUMO para pacientes Rastreamento com PSA dentro de uma estratégia de rastreamento sistemático parece ser mais efetivo do que o rastreamento não padronizado. Sempre controverso, o tema sobre o Rastreamento do Câncer de Próstata com PSA segue com as suas principais perguntas ainda a serem respondidas: 1) Deve-se rastrear homens para prevenir morte por cancer de próstata? Em caso 36 UROLOGIA ESSENCIAL V.6 N.1 JAN JUN 2016

BRASIL SILVA NETO URO-RESUMO afirmativo, o rastreamento deve ser sistemático ou oportunístico? O numero necessário para rastrear e diagnosticar para prevenir uma morte por câncer de próstata é economicamente viável? Acrescenta diagnósticos em excesso em número inaceitável? O estudo de Gotemburgo, que também compõe o ERSPC trial, é parte importante do arsenal de dados que temos à disposição para responder tais perguntas. Na publicação atual, analisa os dados do centro Sueco, com seguimento de 18 anos, seis a mais do que a publicação inicial. Foram randomizados aproximadamente 20 mil homens para receber rastreamento sistemático com PSA a cada 2 anos vs rastreamento oportunístico e realização de biópsia quando PSA >2,5ng/ml. A estimativa de contaminação pré- -randomização foi bastante baixa e a taxa de adesão para biópsia por protocolo de 87%. Os resultados apresentados demonstram que, de fato, o rastreamento sistemático reduz de maneira significativa a mortalidade por câncer de próstata, quando comparado com o rastreamento oportunístico, sendo que, aos 18 anos de seguimento, o NNI e o NND são 139 e 13, respectivamente, para prevenir uma morte. O rastreamento oportunístico, pela própria definição, gera uma variabilidade grande de estratégias de avaliação, introduzindo vieses importantes, o que contribui com a perda de força da mesma, inclusive apresentando um número maior de pacientes com doença mais avançada ao diagnóstico. Fica claro, por meio dos resultados deste estudo que a estratégia padronizada de rastreamento tem maior impacto na mortalidade por câncer de próstata. Deve-se analisar na sequencia como lidarmos com o consequente alto numero de overdiagnosis, bem como, se o NNI e o NND apresentados são números aceitáveis para a proposição de estratégias de caráter populacional como o estruturado no presente trabalho. Medical expulsive therapy in adults with ureteric colic: a multicentre, randomised, placebo-controlled trial Terapia Médica Expulsiva em Adultos com Cólica Ureteral: um Ensaio Clínico, Randomizado, Multicêntrico, Controlado contra Placebo Robert Pickard, Kathryn Starr, Graeme MacLennan, et al. The Lancet, Published online May 19, 2015 http://dx.doi. org/10.1016/s0140-6736(15)60933-3 RESUMO BASE teórica Meta-análise de ensaios clínicos randomizados, controlados prévios concluíram que drogas relaxantes do músculo liso, tamsulosina e nifedipina auxiliam na passagem de cálculo, em pacientes em manejo conservador para cólica ureteral, mas enfatiza a necessidade de ensaios clínicos de qualidade com critérios de inclusão mais amplos. Nós objetivamos preencher esta lacuna testando a efetividade destas drogas em um cenário clinico padrão. MétOdOS Para este ensaio clinico randomizado controlado por placebo, nós recrutamos adultos (idade 18 65 anos) submetidos a manejo expectante de cálculo ureteral único identificado por TC, em 24 Hospitais do Reino Unido. Participantes foram randomizados através de um sistema remote para receber tamsulosina 400 µg, nifedipine 30 mg, ou placebo tomados diariamente por até 4 semanas, usando um algoritmo do centro, tamanho do cálculo ( 5 mm or >5 mm) e localização do cálculo (superior, médio ou distal) V.6 N.1 JAN JUN 2016 UROLOGIA ESSENCIAL 37

URO-RESUMO BRASIL SILVA NETO como covariantes. Participantes, médicos e equipe foram cegados para o tratamento. O desfecho primário foi a proporção de participantes que não necessitou de intervenção adicional para eliminação do cálculo, dentro de 4 semanas da randomização, analisados em um protocolo de intenção-de-tratar modifi cado, defi nindo como elegíveis todos os pacientes que se obteve os dados sobre o desfecho principal. Este ensaio foi registrado com o European Clinical Trials Database, EudraCT number 2010-019469-26, e como um International Standard Randomised Controlled Trial, number 69423238. RESULtAdOS Entre 11/01/2011 a 20/12/2013, nós randomizamos 1167 participantes, dos quais 1136 (97%) foram incluídos na análise primária (17 foram excluídos por inelegibilidade e 14 participantes perderam seguimento). 303 (80%) dos 379 participantes no grupo placebo não necessitaram intervenção adicional nas 4 semanas, comparado com 307 (81%) de 378 no grupo tamsulosina (diferença de risco ajustada 1,3% [95% CI 5,7 a 8,3]; p=0,73) and 304 (80%) of 379 no grupo nifedipina (0,5% [ 5,6 a 6,5]; p=0,88). Não se observou diferença entre os grupos de tratamento ativo vs. placebo (p=0,78), nem entre os dois grupos de tratamento, tamsulosina e nifedipina (p=0,77). Eventos adversos graves foram reportados em 3 participantes do grupo nifedipina(um paciente apresentou dor lombar direita, diarreia e vômitos; um paciente apresentou mal-estar geral, cefaléia e dor torácica, outro teve dor torácica severa, dispneia e dor no braço esquerdo e um participante do grupo placebo cefaleia, tontura e dor abdominal crônica. Interpretação: Tamsulosina 400 µg e nifedipina 30 mg não são efetivos para diminuir a necessidade de tratamento adicional e alcançar a eliminação do cálculo em 4 semanas com manejo conservador da cólica ureteral. Apesar do nível de evidências relacionadas ao uso de Terapia Médica Expulsiva estar longe do ideal, até o presente momento o uso de drogas tais como Tamsulosina e Nifedipina são recomendadas de rotina para facilitar a passagem de cálculos ureterais, com o racional de seu potencial relaxamento da musculatura lisa periuretérica. O presente estudo visou contemplar o que as meta-análises anteriores sobre o assunto indicavam como limitação maior, que era a ausência de um estudo com consistência de delineamento que pudesse suportar o uso destas medicações no contexto da cólica ureteral. Estudo muito bem desenhado, foi proposto um ensaio clínico, randomizado, contra placebo, alocando mais de 1000 pacientes com calculo ureteral com até 10mm, documentado por TC abdominal, dividido em 3 grupos, para receber Tamsulosina, Nifedipina ou placebo, sendo os desfechos relacionados à velocidade de passagem de cálculo, uso de analgésicos e a necessidade de intervenção adicional. Não se observou diferença entre os grupos nas variáveis analisadas, sugerindo que não há benefício destas drogas na estratégia dita médica expulsiva. O trabalho foi muito bem delineado e conduzido, cobrindo praticamente todos os vieses possíveis e, de fato, torna o resultado do estudo a evidência mais forte disponível. Apesar disso, o trabalho não documentou a passagem do cálculo após o período de estudo, bem como a dicotomização na análise do tamanho do calculo pode não refletir o benefício que a Terapia Expulsiva pode ter sobre cálculos mais próximos de 10mm. 38 UROLOGIA ESSENCIAL V.6 N.1 JAN JUN 2016

BRASIL SILVA NETO URO-RESUMO Fluorescence Guided Targeted Pelvic Lymph Node Dissection for Intermediate and High Risk Prostate Cancer Dissecção Linfonodal Guiada por Fluorescência para Câncer de Próstata de Risco Intermediário e Alto Stephan Hruby, Christine Englberger, Lukas Lusuardi, et al. Journal of Urology, Vol. 194, 357-363, August 2015 Linfonodos positivos foram encontrados em cada lado, em todos exceto um paciente. Um total de 700 linfonodos (media ± DP 18,4±8,2 por paciente) foram removidos, dos quais 531 (75% de todos os gânglios) foram positivos para fl uoresceína (média 14 ±8.07 por paciente). Linfonodos positivos foram encontrados em cada lado, em todos exceto um paciente. Um total de 700 linfonodos (media ± DP 18,4±8,2 por paciente) foram removidos, dos quais 531 (75% de todos os gânglios) foram positivos para fl uoresceína (média 14 ±8.07 por paciente). OBJEtIVOS Nós investigamos se a visualização do sistema de drenagem da próstata utilizando indocianina livre verde levaria à identificação de todas, ou até em maior número, as metástases linfonodais detectadas por dissecção linfonodal super-estendida em população de pacientes com câncer de próstata de risco intermediário e alto. MAtERIAL E MétOdOS Um total de 38 homens, consecutivamente, com câncer de próstata de risco intermediário ou alto, de acordo com a Classifi cação de D Amico foram submetidos à dissecção linfonodal guiada por fl u- orescência durante prostatectomia radical laparoscópica. Linfadenectomia super-estendida foi adicionada como controle. Pacientes com terapia hormonal neoadjuvante, envolvimento linfonodal macroscópico ou RTU de próstata prévia foram excluídos do estudo. Métodos estatísticos descritivos, teste qui-quadrado e teste-t independente foram utilizados para analisar os dados. RESULtAdOS Idade media dos pacientes foi de 64,9 anos (intervalo 46-74) e o PSA pré-operatório médio foi de 13,8 ng/ml (intervalo 0,3-44). Um total de 23 (60.5%) e 15 casos (39.5%) foram classificados como risco intermediário e alto, respectivamente. CONCLUSÕES Dissecção linfonodal orientada por fl uorescência permite que a drenagem linfática da próstata seja identifi cada com grande confi abilidade.desde que somente os gânglios drenando a próstata sejam removidos, o número absoluto de gânglios removidos é menor, enquanto aumenta a acurácia diagnóstica. Cada vez mais importante dentro do cenário clínico do tratamento do câncer de próstata de risco intermediário e alto, a realização de linfadenectomia estendida e super-estendida proporciona informações sobre o estadiamento patologicoapresentando também potencial terapêutico. Por outro lado, os templates padrão para linfadenectomia nesta situação podem perder uma proporção considerável de linfonodos localizados em áreas não- -convencionais de dissecção, bem como o aumento da área de dissecção pode aumentar o risco de linfocele sem necessariamente retirar linfonodos que drenam a próstata. Os autores deste estudo objetivaram identificar com maior precisão, através da injeção prostática de fármaco fluorescente (indocianina), as áreas de drenagem linfática da próstata para cada paciente com risco aumentado de disseminação linfática do tumor. V.6 N.1 JAN JUN 2016 UROLOGIA ESSENCIAL 39

uro-resumo Brasil Silva Neto Controlando por meio de linfadenectomia super- -estendida, realizaram esta estratégia em 38 pacientes consecutivos com câncer de próstata de risco intermediário ou alto. Os resultados foram bastante encorajadores no que diz respeito à acurácia do método, mostrando com maior precisão as áreas de drenagem da próstata para cada paciente, inclusive em áreas fora do template convencional e demonstrando que não há necessiade de aumentar a área de linfadenectomia para retirar todos os linfonodos comprometidos, uma vez que se saiba as áreas exatas de drenagem, o que minimiza a morbidade do procedimento e o risco de linfocele. 40 UROLOGIA ESSENCIAL V.6 N.1 JAN JUN 2016