TEXTO 2 EDUCAÇÃO DE QUALIDADE UM DIREITO SOCIAL

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Transcrição:

Curso Gestão para Educação de Qualidade 1 TEXTO 2 EDUCAÇÃO DE QUALIDADE UM DIREITO SOCIAL Sonia Balzano... a escola de qualidade é aquela que tem como valor fundamental a garantia dos direitos de aprendizagem de seus alunos, dispõe de infraestrutura necessária, ensina o que é relevante e pertinente através de processos aceitos pela comunidade escolar e pela sociedade servida. Seus professores e funcionários e os pais dos alunos estão satisfeitos e os alunos mostram, através de formas objetivas, que aprenderam o que deles se esperava." (Soares, 2009) Considerando a aprendizagem como um direito social dos alunos, temse a definição das necessidades de aprendizagem do homem contemporâneo, como um princípio a ser considerado. É nesse sentido que serão discutidos alguns aspectos relacionados a questões pedagógicas da educação básica, considerando ser este o cerne da qualidade da educação. Nesta perspectiva, a LDB (arts. 26, 27 e 28) fixa diretrizes para a base nacional comum e parte diversificada do currículo da educação básica, e define objetivos e finalidades do ensino fundamental (arts. 32 e 33) e médio (arts. 35 e 36) e das condições para o atendimento às modalidades de educação de jovens e adultos (arts. 37 e 38) e educação especial (art. 58 a 60). As novas diretrizes curriculares para a educação básica (Res. CNE/CEB nº 4/2010) que norteiam a educação escolar, como já se viu no texto 3, sobre a Função Social da Escola, em seu Título IV - Acesso e Permanência para a conquista da qualidade social, dispõe (arts. 8º e 9º) sobre as condições de atendimento à diversidade social e cultural dos alunos, o que nos leva a considerar com mais profundidade o tema, ao tratar especificamente da qualidade da educação.

Curso Gestão para Educação de Qualidade 2 Apesar da nova concepção de escola com qualidade social, observase ainda que muitas escolas trabalham com a lógica da aprovação/reprovação (Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 4024/61) com base na cultura da repetência como forma de aprender, superada na LDB/96 pela lógica do direito de aprender, que considera como principal função da avaliação identificar o que o aluno aprende e quais suas dificuldades, com vista a implementação de medidas pedagógicas necessárias às aprendizagens ainda não concretizadas. Nesta concepção, cabe rever o que nos diz Perrenoud (2001) ao discutir o tema como a escola faz para fabricar sucessos e fracassos registrando entre outras considerações: Aí surge o problema da indiferença às diferenças. Imaginemos que pessoas de diferentes condições queiram atingir o mesmo pico. As mais treinadas não precisarão de guia, enquanto as mais desfavorecidas precisarão de uma equipe inteira para chegar ao cume. Se propusermos a cada uma delas uma ajuda padronizada, no momento da chegada reencontraremos as desigualdades iniciais: as mais bem preparadas chegarão primeiro, enquanto as mais fracas nem alcançarão o objetivo. Essa é uma forma de fabricar sucessos e fracassos. Refletindo sobre tal questão, no contexto do direito de todos de aprender com qualidade, cabe analisar algumas evidências das escolas que fazem a diferença, a partir da despadronização no modo de ensinar, com respeito às diferenças dos alunos nas suas bagagens socioculturais. A cultura do sucesso Em estudos realizados sobre escolas eficazes, o clima escolar é apontado como um dos componentes decisivos para a eficácia da escola. E, segundo Guiomar N. de Mello (1997) a cultura escolar do sucesso não é um dom divino nem uma entidade abstrata, ela deve ser construída a partir das intenções reveladas no projeto pedagógico, elaborado com a participação da comunidade escolar.

Curso Gestão para Educação de Qualidade 3 As metas e as estratégias definidas no planejamento da escola deverão concorrer para a construção coletiva desse clima, a partir da organização do ambiente escolar para o desenvolvimento do projeto político-pedagógico e da definição de sistemática de avaliação e controle dos resultados, pela comunidade escolar. Formação continuada de professores Atender às deficiências dos docentes por meio de processos de formação permanente na escola, com foco nos objetivos e conteúdos estabelecidos no projeto político-pedagógico, é também uma forma de promover a construção do conhecimento escolar em todas as suas dimensões. Para isso é fundamental planejar momentos das horas de atividades dos professores para esta formação, especialmente em reuniões por áreas do conhecimento, dificuldade presente nas nossas escolas, porém fundamental para promover a integração das disciplinas por área. Expectativas dos professores em relação à aprendizagem Um dos aspectos que mais pesa na construção de um clima escolar favorável são as expectativas dos professores em relação à aprendizagem dos alunos. Alunos cujos professores têm baixa expectativa quanto à sua capacidade de aprender, expressa muitas vezes na antecipação de resultados, como: Esse menino não tem jeito, o melhor é repetir a série para ficar mais forte!, em geral, passam a formar um conceito negativo sobre si mesmo, considerando-se incapazes de aprender e ter sucesso na escola. Situações como essa podem deixar marcas profundas em relação à autoestima dos alunos que, em consequência, ficam sem motivação para a aprendizagem. A expectativa elevada dos professores é fator propulsor de autoestima. A organização do espaço escolar O espaço escolar tem de ser prazeroso, desde a fachada da escola até a sala de aula. Um lugar receptivo para alunos e professores, organizado principalmente para eles, as pessoas mais importantes da escola. Palavras perdem o significado quando não tem correspondência na prática. Pode-se afirmar que se ensina a respeitar, respeitando, a organizar, organizando, a fazer, fazendo, e a amar, amando. A organização do espaço escolar não só

Curso Gestão para Educação de Qualidade 4 tem influência no clima escolar, mas também tem uma função pedagógica, uma concepção da prática escolar que pode ser favorável à atividade individual ou coletiva. A distribuição e o aproveitamento do tempo escolar O bom uso do tempo na escola indica a qualidade da proposta pedagógica e a responsabilidade que a instituição tem com a formação, a aprendizagem e o sucesso dos alunos. A realização de atividades significativas sobre os conteúdos escolares no tempo curricular expressam a preocupação da escola com a qualidade do ensino ministrado. É fundamental que os gestores empenhem esforços para garantir esse direito. O bom uso do tempo é um dos indicadores de qualidade que faz a diferença entre uma escola que planeja a sua prática, a executa e acompanha e avalia seus resultados, e escolas em que o cotidiano é que dita a sua organização, pois não há planejamento. O planejamento do ensino e a prática docente Tem-se como pressuposto que todas as crianças e jovens são capazes de aprender desde que a escola se organize para tal e os professores sejam capazes de ensinar. Assumir o compromisso com a aprendizagem dos alunos, inclusive com aqueles que apresentam dificuldades, demonstra o compromisso do professor e o empenho da escola em garantir a todos, os meios necessários para que obtenham sucesso. É fundamental conhecer mais sobre as escolas que conseguem sucesso com alunos das classes populares. Pois vencer a incapacidade da escola pública para ensinar a todos é o grande desafio desde a promulgação da LDB, quando as crianças e jovens das classes populares passaram a ter pleno acesso aos bancos escolares, pela conquista do direito à educação. Muitas causas da incompetência pedagógica da escola referem-se, entre outras, à falta de clareza dos objetivos do ensino, à inadequação do currículo e da metodologia, à ausência ou insuficiência de material didático e, também, à falta de qualidade dos cursos de formação de professores.

Curso Gestão para Educação de Qualidade 5 O desafio da escola é cumprir sua função social, proporcionando a todos os alunos o acesso às oportunidades educacionais disponíveis e ajudá-los a ser bem-sucedidos. Promover condições para a capacitação e atualização em serviço dos professores, por meio da ação-reflexão-ação do cotidiano escolar. Estas são medidas que podem reverter o quadro de fracasso da escola no desempenho da sua função social. Por fim, cabe destacar que de todos os temas tratados, o mais importante refere-se a como a escola organiza o ensino e desenvolve sua prática pedagógica. O grande desafio da educação é construir uma boa escola pública: Uma escola que ensina e na qual todos os alunos têm o tempo necessário e a oportunidade para aprender. Uma escola que os alunos têm prazer de frequentar. Uma escola que respeita o direito de todos de aprender.