Creio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia António Branco Vasco*



Documentos relacionados
Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem CURSO DE EDUCAÇÃO SOCIAL Ano Lectivo 2014/2015

DESENVOLVER E GERIR COMPETÊNCIAS EM CONTEXTO DE MUDANÇA (Publicado na Revista Hotéis de Portugal Julho/Agosto 2004)

24 O uso dos manuais de Matemática pelos alunos de 9.º ano

Worldwide Charter for Action on Eating Disorders

1. Motivação para o sucesso (Ânsia de trabalhar bem ou de se avaliar por uma norma de excelência)

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular PSICOTERAPIAS Ano Lectivo 2014/2015

CAPÍTULO 2 INTRODUÇÃO À GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

A psicologia tem uma dimensão prática que se integra em vários contextos e instituições sociais: escolas, hospitais, empresas, tribunais, associações

ISO 9000:2000 Sistemas de Gestão da Qualidade Fundamentos e Vocabulário. As Normas da família ISO As Normas da família ISO 9000

Avaliação e Tratamento das Perturbações Psicológicas de acordo com as. Terapias Comportamentais e Cognitivas. Mestre Marina Carvalho

O Quadro Nacional de Qualificações e a sua articulação com o Quadro Europeu de Qualificações

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

Psicologia Aplicada em Portugal

AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E DE PROJECTOS PEDAGÓGICOS

Modelo Cascata ou Clássico

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO, TENDENCIAS ATUAIS. RONDINA, Regina de Cássia RESUMO ABSTRACT

A Gestão, os Sistemas de Informação e a Informação nas Organizações

Rekreum Bilbao, Vizcaya, Espanha,

COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL

PESQUISA QUANTITATIVA e QUALITATIVA

Mestrado em Sistemas Integrados de Gestão (Qualidade, Ambiente e Segurança)

Matemática Aplicada às Ciências Sociais

O Quente e o Frio: Integração dos Aspectos Emocionais nas Terapias Cognitivo - Comportamentais

O essencial sobre a hipnose: teorias, mitos, aplicações clínicas e investigação

LEARNING MENTOR. Leonardo da Vinci DE/09/LLP-LdV/TOI/ Perfil do Learning Mentor. Módulos da acção de formação

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

Escola Secundária com 3º CEB de Coruche EDUCAÇÃO SEXUAL

ÁREA A DESENVOLVER. Formação Comercial Gratuita para Desempregados

A MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR POLICIAL 1

TRABALHO LABORATORIAL NO ENSINO DAS CIÊNCIAS: UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS DE FUTUROS PROFESSORES DE BIOLOGIA E GEOLOGIA

T&E Tendências & Estratégia

REDE TEMÁTICA DE ACTIVIDADE FÍSICA ADAPTADA

Modelo de Intervenção em Crises., Modelo Centrado em Tarefas

ENTREVISTA Coordenador do MBA do Norte quer. multiplicar parcerias internacionais

PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA A VIA RÁPIDA PARA O DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL DA COMUNICAÇÃO DE EXCELÊNCIA.

BRINCAR É UM DIREITO!!!! Juliana Moraes Almeida Terapeuta Ocupacional Especialista em Reabilitação neurológica

EXPERIMENTAR PODE SER VOAR PARA OUTRO ESPAÇO

Fonte:

INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO

RECURSOS HUMANOS Avaliação do desempenho

Como desenvolver a resiliência no ambiente de Recursos Humanos

O Indivíduo em Sociedade

Vendas - Cursos. Curso Completo de Treinamento em Vendas com Eduardo Botelho - 15 DVDs

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS COMBINADAS

Dias, Paulo (2004). Comunidades de aprendizagem e formação on-line. Nov@ Formação, Ano 3, nº3, pp.14-17

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

O futuro do planeamento financeiro e análise na Europa

Criatividade e Inovação Organizacional: A liderança de equipas na resolução de problemas complexos

NCE/10/00116 Relatório final da CAE - Novo ciclo de estudos

FINESSE II. Escala de Avaliação de Serviços dirigidos a Famílias em Contextos Naturais

ACIDENTE E INCIDENTE INVESTIGAÇÃO

2.1 Os projetos que demonstrarem resultados (quádrupla meta) serão compartilhados na Convenção Nacional.

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

TEORIAS DE CONTÉUDO DA MOTIVAÇÃO:

Percursos Teóricos-metodológicos em Ciências Humanas e Sociais

Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Grupo de Pesquisa em Interação, Tecnologias Digitais e Sociedade - GITS

Trabalho realizado por: Diva Rafael 12ºA nº15

TREINO DE APTIDÕES SOCIAIS

História e Sistemas da Psicologia

Motivação. Robert B. Dilts

O que é Administração

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular PSICOLOGIA DA SAÚDE E CLÍNICA Ano Lectivo 2014/2015

INCLUSÃO. Isabel Felgueiras, CONNECT versão Portuguesa

Psicologia da Educação

O Que São os Serviços de Psicologia e Orientação (SPO)?

CAP. I ERROS EM CÁLCULO NUMÉRICO

FICHA DE UNIDADE CURRICULAR

Gerenciamento de Projetos Modulo II Ciclo de Vida e Organização do Projeto

Caracterização dos cursos de licenciatura

Instrumento que cria uma Rede de Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional dos Países de Língua Portuguesa

AVALIAÇÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO E DESIGN MULTIMÉDIA

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

O que é Estudo de Caso?

QUALIDADE E INOVAÇÃO. Docente: Dr. José Carlos Marques

EVOLUÇÃO DO SEGURO DE SAÚDE EM PORTUGAL

AVALIAÇÃO DO CURSO DE TURISMO

Indicadores Gerais para a Avaliação Inclusiva

Objectivos Proporcionar experiências musicais ricas e diversificadas e simultaneamente alargar possibilidades de comunicação entre Pais e bebés.

Investimento Directo Estrangeiro e Salários em Portugal Pedro Silva Martins*

VOLUNTARIADO E CIDADANIA

(1) Qual a importância da saúde mental da população para os objectivos estratégicos da EU, tal como indicado em secção 1?

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

difusão de idéias AS ESCOLAS TÉCNICAS SE SALVARAM

Enquadramento 02. Justificação 02. Metodologia de implementação 02. Destinatários 02. Sessões formativas 03

Fulano de Tal. Relatório Combinado Extended DISC : Análise Comportamental x Feedback 360 FINXS

INOVAÇÃO NA ADVOCACIA A ESTRATÉGIA DO OCEANO AZUL NOS ESCRITÓRIOS JURÍDICOS

Adriano Marum Rômulo. Uma Investigação sobre a Gerência de Projetos de Desenvolvimento de Software em Órgãos do Governo do Ceará com Base no MPS-BR

INTRODUÇÃO objectivo

COACHING CERTIFICAÇÃO INTERNACIONAL Capacitação Profissional e Desenvolvimento Pessoal

A evolução do conceito de liderança:

Diagrama de transição de Estados (DTE)

GRUPO I Escolha múltipla (6 x 10 pontos) (circunda a letra correspondente à afirmação correcta)

Pedagogia. Objetivos deste tema. 3 Sub-temas compõem a aula. Tecnologias da informação e mídias digitais na educação. Prof. Marcos Munhoz da Costa

AUDITORIAS DE VALOR FN-HOTELARIA, S.A.

A Ponte entre a Escola e a Ciência Azul

Empreendedorismo De uma Boa Ideia a um Bom Negócio

Transcrição:

Creio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia António Branco Vasco* Resumo: Iniciando por constatar, que o fenómeno da integração em psicoterapia é um dos movimentos que caracteriza o campo da psicoterapia nos últimos anos, o autor propõe três ordens de razões para explicar a pertinência da integração. Razões de o rdem histórica e psicossocial, razões de ord e m empírica e razões de ordem filosófica. Abord a, ainda, a necessidade de re f l e c t i r, a nível de integração, em termos de "complementaridade parad i g m á t i c a. " P a l a v r a s - c h a v e : Psicoterapia; Integração. A B S T R A C T: The movement for integration in psychotheray is clearly one of the main trends that can be o b s e rved in the field. The author stresses thre e main reasons for this state of affairs and as a way of justifying the importance of integration: historical and psychosocial, empirical and philosophical. A specific way of thinking in integrative terms is also outlined "paradigmatica complementarity." K e y - w o rd s : Psychotherapy; Integration. Creio num engenho que falta mais fecundo de harmonizar as partes dissonantes creio que tudo é eterno num segundo creio num céu futuro que houve dantes. Natália Corre i a Claramente, uma das tendências que, nos últimos anos, tem caracterizado o "reino da psicoterapia," é a do desenvolvimento de modelos e formas de interv e n ç ã o integrativas, como forma de responder à "pro l i f e- ração selvagem" de escolas de modelo único e optimizar os resultados das intervenções. Como base para o desenvolvimento destas propostas integrativas penso encontrarem-se, essencialmente, três o rdens de razões. Nomeadamente, razões que podem ser designadas como históricas e psicossociais, razões de ordem empírica e, finalmente, razões de ord e m filosófica. É exactamente sobre estas três ordens de razões que me vou debru ç a r, como forma de fundamentar a necessidade de integração em psicoterapia. 1. Razões de Ordem Histórica e Psicossocial Apesar de ter decorrido cerca de um século desde que a prática da psicoterapia foi reconhecida como actividade profissional, e do esforço pioneiro (desde 1933) de alguns autores no sentido da demonstração da existência de factores comuns a d i f e rentes formas de intervenção psicoterapêutic a 1, 2, 3, 4, 5, só há cerca de vinte anos as questões re l a t i- vas à aproximação e possível integração de diferentes modelos e práticas psicoterapêuticas se t r a n s f o rmaram numa área de interesse claramente delineada e com identidade própria 6, 7, 8, 9, 1 0. Como é sobejamente conhecido, tradicionalmente, a comunidade psicoterapêutica caracterizava-se por uma hostilidade aberta entre os proponentes dos d i f e rentes paradigmas terapêuticos, que não têm parado de aumentar. Senão, vejamos! Em 1959 era já possível identificar 36 sistemas d i s t i n t o s de psicoterapia 1 1, em 1976 este número Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 77 * Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa; Society for the Exploration of Psychotherapy Integration.

António Branco Va s c o aumentava para 130 1 2, em 1980 disparava para 2 5 0 1 3, em 1986 atingia a quantia de 460 1 4 e em 1989 quase que se "perdia a conta," em Itália eram identificados mais de 500 1 5! Sendo argumentável que estes impre s s i o n a n t e s n ú m e ros possam expressar a vitalidade e criatividade da comunidade terapêutica, penso, no entanto, chegado o momento de questionarmos onde term i- na a diversidade saudável e começa o caos 1 6. Relativamente aos modelos mais respeitáveis (os testados empiricamente), o seu principal pro b l e m a é o de nenhum deles ter conseguido demonstrar uma eficácia diferencial superior face aos seus comp e t i d o res (no largo espectro das perturbações ment a i s ) 1 7, 1 8, 1 9, 2 0, 2 1, apesar de apare n t a rem ser muito diversas as formas como essa eficácia é alcançada. As consequências desta fragmentação do campo psicoterapêutico e a inexistência de eficácias difere n- ciais claras têm sido, para muitos terapeutas, a perplexidade, a confusão e a insatisfação com os modelos existentes. Lentamente, parece ter emergido um movimento, inicialmente informal, que Paul Wa c h t e l 2 2 d e s i g n o u por "subterrâneo psicoterapêutico", e que reflectia a insatisfação com os modelos puros, dado estes s e rem frequentemente incongruentes com as observações clínicas, conduzindo à adopção e utilização, por parte de terapeutas mais experientes, de técnicas oriundas de outras formulações teóricas. Também neste sentido apontaram os resultados das investigações pioneiras de Fiedler 2 3, no início dos anos 50, que mostraram, em jeito de darw i n i s m o psicoterapêutico, que a prática clínica de terapeutas experientes de diferentes orientações se assemelhava mais entre si do que com a de terapeutas inexperientes da mesma orientação. Conclusão esta parcialmente replicada, com psicoterapeutas port u g u e- ses, em investigação por mim re a l i z a d a 2 4. Por outro lado, várias investigações mostram que o eclectismo se tem vindo a estabelecer como a orientação modal dos profissionais de saúde mental americanos (psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais) com um valor de aderências entre os 30% e os 55% 6, 2 5, 2 6. Na maioria dos estudos, entre um terço e metade dos terapeutas consideram-se eclécticos 2 7. De igual modo, um painel de especialistas tinha previsto que, na década de noventa, o eclectismo seria mais popular do que qualquer outro sistema ter a p ê u t i c o 2 8. Previsão essa feita de novo em 2002, relativamente à próxima década 2 9. Apesar de, em Portugal, como mostrei e justifiquei em investigações anteriores, estes valores não sere m tão elevados, aparentemente têm, igualmente, vindo a aumentar, de 13% para 18%, desde finais da década de 80 até meados da década de 90 3 0, 3 1. Estes val o res obtêm-se se re c o rre rmos ao critério re s t r i t i v o de identificação com o eclectismo como orientação p re f e rencial. Caso re c o rramos ao critério, menos exigente, dos terapeutas que reconhecem fazere m uso de conceitos e técnicas de mais do que uma orientação, o valor de eclectismo sobe para cerca de 8 0 % 3 2, 3 3, 3 1. Deste modo, é como se a comunidade psicoterapêutica tivesse evoluído de um período de "luta a b e rta", passando por uma fase de "apro x i m a ç ã o ", 78 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia tendendo a encontrar-se, actualmente, numa situação de "convergência" ou mesmo de "integração" 1 0, 3 4. Claramente, a questão central deixou de ser tanto a de qual o "melhor" modelo, para passar mais a ser a tentativa de resposta à questão levantada por Paul já em 1967 3 5, "que tipo de i n t e rv e n ç ã o, administrada por que tipo de t e r a p e u t a, a que tipo de paciente e de p e rt u r b a ç ã o, em que c o n t e x t o e com que tipo de re s u l t a d o s". Ou ainda, numa formulação mais ousada, a necessidade de "orientar as i n t e rvenções por uma estratégia multimodal e flexível que permita pro p o rcionar ao paciente e ao seu meio ecológico uma multiplicidade de interv e n ç õ e s adequadas às suas necessidades cambiantes" 3 6. A nível institucional, as preocupações integrativas vieram a materializar-se em 1983 na fundação da Society for the Exploration of Psychotherapy I n t e g r a t i o n, na publicação de um número significativo de trabalhos relativos à temática da integração, p a rt i c u l a rmente o J o u rnal of Psychotherapy Integration e na realização anual de conferências. Talvez seja, finalmente, pertinente, expressar alguma preocupação com a actual proliferação de modelos integrativos. Na realidade, e como foi anter i o rmente referido, uma das principais razões que levaram ao surgimento da necessidade de pensar em termos integrativos foi, exactamente, a pre o c u- pação com o crescente número de escolas de modelo único. Acredito ser mais importante, no contexto actual, investir numa articulação de modelos existentes, part i c u l a rmente os de carácter integrativo, do que na criação de novos modelos de escola única. Deste modo, considero que devemos dirigir os nossos esforços para o desenvolvimento de "metamodelos" de integração em psicoterapia, tema a que tenho vindo a dedicar esforços de cenceptualização e de investigação 3 7. 2. Razões de Ordem Empírica Detenhamo-nos sobre as principais conclusões genéricas pro p o rcionadas por cerca de cinquenta anos de investigação sistemática em psicoterapia 1 7, 3 8 a. As intervenções psicoterapêuticas são, de uma f o rma genérica, significativamente mais eficazes do que a ausência de intervenção, do que interv e n ç õ e s i n f o rmais, do que a remissão espontânea, listas de espera e controles placebo. O paciente de psicoterapia, em termos médios, encontra-se significativamente melhor no fim das intervenções, do que 80% de possíveis pacientes não submetidos a interv e n ç ã o 1 7, 3 9. É importante chamar a atenção para o facto de este valor ser equivalente à redução da incidência de uma doença física ou taxa de mortalidade de 66% para 34% 4 0 e superior ao efeito de nove meses de a p rendizagem escolar da leitura e da escrita 1 9 ; b. As meta-análises mais antigas tendiam a mostrar uma pequena, mas consistente superioridade para as metodologias cognitivas e comportamentais re l a- tivamente às terapias verbais e relacionais, part i c u- l a rmente nas perturbações ansiosas e a curto prazo. Contudo, nas meta-análises mais recentes e rigorosas, estas diferenças tendem a esbater- s e 2 1. Assim, para além de situações muito concre t a s como: (a) fobia simples; (b) agorafobia e pânico simples; (c) obsessão-compulsão simples; e (d) Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 79

António Branco Va s c o disfunções sexuais simples 4 1, nas quais as intervenções comportamentais e cognitivas parecem ser as mais eficazes, nenhuma forma de terapia se m o s t rou, até ao momento, significativa e consistentemente superior a qualquer outra, part i c u l a rm e n t e a longo prazo 1 7, 1 8, 2 1, 4 2, 4 3. Deste modo, parece pre v a l e- cer o "Ve redicto do Pássaro DoDo" - "t o d o s g a n h a- ram, t o d o s m e recem prémio" - referido pela primeira vez por Saul Rosenzweig 5 em 1936 e, mais recentemente, por Luborsky e colegas em 1975. c. Apesar de não serem unívocos, os dados comparativos da eficácia psicoterapêutica e da eficácia farmacoterapêutica sugerem que a psicoterapia pare c e s e r, no mínimo, tão eficaz como a farmacoterapia nas p e rturbações ansiosas e nas depressões "re a c t i- v a s " 9, 39, 44, 45, 46 e mesmo, segundo algumas investig a ç õ e s 47, 48, nas depressões "endógenas". A complementariedade dos dois tipos de intervenção parece ser, nas situações mais graves, recomendável, dado os efeitos positivos de ambas p a re c e rem ter incidências diferenciais e complem e n t a res. Por exemplo, nas depressões os fárm a c o s p a recem ter um papel central na redução sintomática (i.e., perturbações do sono, perda de apetite, etc.), tendo a psicoterapia um papel central nos " p roblemas de vida" (i.e., ideação suicida, perda de i n t e resse, sentimentos de culpa e funcionamento interpessoal e social) 3 9, 4 4, 4 9. Nas restantes perturbações, menos investigadas em termos comparativos, a psicoterapia pare c e igualmente ser um complemento essencial das i n t e rv e n ç õ e s médicas, part i c u l a rmente nas situações mais graves, tanto mais que a re g u l a ç ã o s i n t o m á t i ca medicamentosa é muitas vezes necessária para tornar possível a interv e n ç ã o p s i c o t e r a p ê u t i c a 9, 3 9, 4 4, 4 6, 5 0. Uma vantagem acrescida da psicoterapia parece ser também a de diminuir as taxas de re c a í d a 5 0 ; d. Os estudos de catamnese parecem apontar para que, independentemente do tipo de terapia, a maioria dos pacientes que mostram melhoras iniciais tendem a mantê-las (com excepção para o abuso de substâncias, a obesidade e alguns tipos de d e p ressão), salientando-se a importância dos terapeutas se empenharem sistemática e explicitamente no cimentar dos ganhos terapêuticos dos pacientes, bem como na antecipação de dificuldades f u t u r a s 1 7, 5 1. Para além da remissão sintomática, qualquer forma de psicoterapia deveria ter como objectivo o aumento da resiliência dos pacientes; e. A eficácia das intervenções terapêuticas pode ser aumentada caso se tomem em consideração, para além das características da perturbação, as características psicológicas dos pacientes 5 2, 5 3, 5 4, 5 5, 5 6. Pare c e t o rn a r-se cada vez mais claro que, mais import a n t e do que a perturbação que o paciente tem, são as características do paciente que está pert u r b a- d o 5 5, 5 7. Deste modo, a investigação em psicoterapia tem cada vez mais vindo a salientar a importância de tomar em consideração, como fundamento de tomada de decisão e acção clínicas, variáveis do paciente e do pro b l e m a 5 2, 5 4, 5 5, 5 9, 6 0, 6 1, e ainda do processo e interacção terapêuticos 3 7, 6 2, 6 3, 6 4, 6 5, 6 6, 6 7 ; f. As características pessoais do psicoterapeuta têm uma influência muito significativa nos re s u l t a d o s 80 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia t e r a p ê u t i c o s 1 7, 4 3, para melhor e para pior (efeitos de d e t e r i o r a ç ã o ) 6 8, 6 9. Beutler e colaboradore s 7 0 avançam com um valor de 30% para a perc e n t a g e m de variância explicada pelas características do psic o t e r a p e u t a. Características dos terapeutas que parecem re l a- cionadas com melhor capacidade de estabelecimento de aliança terapêutica e melhores resultados da i n t e rvenção são: abertura à experiência, re s p o n s i v i- dade, flexibilidade, tolerância à incerteza e fru s- t r a ç ã o 1 7, 7 1. Por sua vez, algumas das características que mais parecem estar relacionadas com efeitos negativos da psicoterapia são: falta de empatia, incapacidade de avaliar a gravidade da condição do paciente e a contratransferência negativa 6 9 ; g. C e rca de 40% da variância em psicoterapia é atribuível à remissão espontânea. Ou seja, às características pessoais do paciente (grau de integridade do eu, estilo cognitivo, etc.) e às características do seu meio ecológico (acontecimentos de vida, apoio social, etc.) 4 1, 4 3. Por sua vez, para as variáveis do paciente, Beutler e colaboradore s 70 avançam com um valor de 60% relativo à percentagem de variância explicada. Estes valores reforçam a ideia, atrás referida, da i m p o rtância da diversificação dos critérios de tomada de decisão clínica, ilustrando a primord i a l i m p o rtância da pessoa do paciente na determ i- nação dos resultados. Acentua ainda a import â n- cia dos terapeutas se pre o c u p a rem também, e d i rectamente, com o contexto e qualidade do apoio social dos pacientes, quer como potencial factor de interv e n ç ã o quer como factor pro t e c- tor de re c a í d a s. h. C e rca de 30% da variância em psicoterapia é atribuível a factores comuns a todas as orientações teóricas (qualidade da aliança terapêutica, explicações alternativas da perturbação, experiências emocionais correctivas, etc.) 4 1, 4 3. Relativamente à qualidade da aliança terapêutica (confluência de características de paciente e terapeuta), é importante salientar que esta tem vindo a s e r, repetidamente, identificada como o factor intraterapêutico mais responsável pelo resultado das intervenções, independentemente de orientação teórica 5 7. Algumas investigações em etologia e neurociência parecem contribuir, por analogia, para a compreensão da importância fundamental da aliança terapêutica 72 : (a) estudos com pássaros demonstram que a capacidade para aprender a "cantar" é optimizada quando são expostos a modelos "ao vivo", em contraste com gravações 73 ; (b) outros pássaros são totalmente incapazes de aprender a "cantar" com gravações, necessitando de interacções sociais positivas 74 ; (c) o contacto e "cuidados" maternais, em ratos, protegem o cérebro dos efeitos negativos do stress 75,76. Relativamente aos factores comuns, em geral, também parece ser part i c u l a rmente ilustrativo o facto de a investigação recente em neurociência demonstrar que as actividades necessárias ao desenvolvimento e integração neuronais serem extraord i n a r i a- mente semelhantes aos "factores comuns em psicoterapia:" (a) o estabelecimento de uma relação de confiança e segurança; (b) o obter e experienciar novas informações a nível cognitivo, emocional, sensorial e comportamental; (c) alternar níveis de Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 81

António Branco Va s c o activação emocional com períodos de segurança e h a rmonia; (d) integrar conhecimento conceptual com experiências emocionais e corpóreas através do desenvolvimento de narrativas coconstruídas com o terapeuta; (e) fomentar métodos de processar e organizar novas experiências fora da terapia 72. i. C e rca de 15% da variância terapêutica é atribuível a efeitos placebo que podem, igualmente, ser classificados como factores comuns (expectativas optimistas, credibilidade diferencial dos vários racionais e técnicas, etc.) 4 1, 4 3. P a rece, relativamente aos efeitos placebo, importante salientar que placebo em psicoterapia é diferente de placebo em medicina. Ou seja, tomando como base de reflexão a etimologia de "placebo" (etim. do latim "para agradar") parece ser evidente que aquilo que é considerado, em medicina, como placebo é, na realidade, um efeito psicológico! Aliás, alguns autores defendem que a história da medicina, até ao século XVIII, possivelmente com excepção da ciru rgia, não é mais do que a história da remissão espontânea e do placebo 7 7. No reino da psicoterapia é extraordinariamente difícil d e t e rminar o que é placebo, em contraste com o que são elementos activos, excepto se tomarmos em consideração a perspectiva de uma escola part i c u l a r. Aquilo que é considerado placebo por algumas escolas, é exactamente o que é considerado activo por outras! 3 A tradução de "agradar," em psicoterapia, captura, de facto, variáveis essenciais à relação e mudança terapêuticas, como algumas das características mencionadas anteriormente (e.g., re s p o n s i v i d a d e, validação, flexibilidade, etc). Estas considerações têm levado vários autores a criticar a utilização da "metáfora dos medicamentos" na investigação em psicoterapia 7 8. j. Finalmente, só cerca de 15% da variância é que pode ser atribuída às técnicas específicas de cada orientação particular (associação livre, dessensibilização sistemática, duas cadeiras, etc.) 4 1, 4 3. A c redito, contudo, que este valor global, relativo à i m p o rtância das técnicas terapêuticas, será maior quando consideramos características e situações específicas. Por exemplo, as intervenções cognitivo- - c o m p o rtamentais nas perturbações anteriorm e n t e referidas, a gestão da directividade terapêutica em função do grau de reactância dos pacientes 5 4, o lidar com diferentes tipos de rupturas na aliança terapêut i c a 6 7 e o responder com diferentes tarefas terapêuticas a dificuldades específicas de pro c e s s a m e n t o emocional dos pacientes 5 5. Do meu ponto de vista, as considerações anteriormente feitas suportam claramente os esforços integrativos em psicoterapia. A conclusão geral que me parece ser legítimo re t i- rar das alíneas atrás apresentadas é, para além do facto de a psicoterapia ser inquestionavelmente eficaz, a de que as principais determinantes do sucesso terapêutico são, essencialmente, as características do paciente e da sua rede de apoio social, os factores comuns a todas as orientações teóricas, part i c u l a rmente a qualidade da aliança terapêutica, e as características do psicoterapeuta. Assim, parece claro que a psicoterapia deveria capitalizar primordialmente no contributo dos factore s comuns a todas as orientações, complementando-os com factores específicos, relativos a características 82 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia dos pacientes e especificidade das perturbações, e características da interacção e processo terapêuticos. Acredito que a eficácia pode ser aumentada tomando também consideração, e flexibilizando as i n t e rvenções em função das características psicológicas dos pacientes (e.g., intervenções mais dire c t i- vas para pacientes não-reactantes e não-dire c t i v a s ou paradoxais para pacientes reactantes), bem como o grau de compatibilidade entre possíveis díades terapeuta-paciente (e.g., os terapeutas mais metafóricos parecem ser menos eficazes com os pacientes mais pert u r b a d o s 7 9, 8 0 ). Curiosamente, a perspectiva integrativa que defendo tem como claro paralelo a evolução dos difere n t e s g rupos de trabalho (task forc e s) que se têm sequencialmente constituído, para sintetisar as principais conclusões relativas à investigação em psicoterapia e determinar os factores que mais influenciam a mudança terapêutica. Numa óptica inicial de identificação de "tratamentos empiricamente suportados" (E S Ts), surgiu o grupo liderado por Diane Chambless. Esta perspectiva acentua a importância de procedimentos e modelos específicos, que recorrem à utilização de manuais relativos a uma perturbação igualmente específica (D S M), resultando na criação de uma lista de tratamentos que a investigação parece mostrar eficazes com perturbações específicas 45,81. A filosofia subjacente a esta perspectiva é a crença na importância dos factores específicos às diferentes orientações teóricas, numa lógica de tomada de decisão clínica baseada em características de carácter diagnóstico. Em contraste, surgiu o grupo liderado por John N o rc ro s s 5 7, que acentua a importância das "re l a ç õ e s terapêuticas empiricamente suportadas" (E S R s). Esta perspectiva, em contraste com a anterior, sublinha que são os factores comuns às difere n t e s orientações, part i c u l a rmente a qualidade da aliança terapêutica, os principais responsáveis pela mudança terapêutica, defendendo a necessidade de diversificar os "critérios de tomada de decisão clínica" 2 1, 4 0, 4 3. As suas conclusões gerais são as de que: a. A relação terapêutica pro p o rciona um contributo substancial e consistente para os resultados da i n t e rvenção em todas as orientações teóricas; b. A investigação e prática deveriam contemplar as características e comportamentos dos terapeutas que facilitam a relação terapêutica; c. A disseminação dos ESTs sem considerações s o b re a relação terapêutica é incompleta e enganadora em termos clínicos e empíricos; d. A relação terapêutica interage com interv e n ç õ e s específicas e características do paciente e do terapeuta na determinação dos resultados - necessidade de estabelecer combinações óptimas; e. Adaptar a relação terapêutica às necessidades e características dos pacientes (para além do diagnóstico nosológico) aumenta a eficácia da interv e n ç ã o. Conclusões estas que vão exactamente no sentido das considerações feitas nas alíneas anteriore s. Por último, numa tentativa de conciliação entre as duas perspectivas foi constituída, recentemente, um novo grupo de trabalho, liderado por Larry Beutler e Louis Castonguay 8 2, e cujas conclusões serão bre v e- mente publicadas, designado por "princípios empiricamente suportados de mudança terapêutica" Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 83

António Branco Va s c o (E S P s), que tenta responder a duas questões centrais: a. O que é que sabemos sobre a natureza dos participantes, relações e procedimentos, dentro da i n t e rvenção, que esteja associado a efeitos positivos em todas as orientações teóricas? b. De que modo é que os factores ou variáveis que estão relacionados com os participantes, relações e i n t e rvenções, interagem positiva ou negativamente e n t re si relativamente à mudança terapêutica? 8 2. 3. Razões de Ordem Filosófica Contrariamente ao que alguns críticos da integração em psicoterapia parecem pensar, não entendo integração como sinónimo de unificação ou de indiferenciação, mas sim de "diferenciação esclarecida". Este conceito significa a capacidade para utilizar, de forma sequencial e/ou complementar, instrumentos de avaliação, conceptualizações e intervenções oriundos de d i f e rentes orientações teóricas (e "visões do mundo"), com o objectivo de aumentar a eficácia terapêutica. A conotação filosófica do conceito de "complementaridade paradigmática" é intencional. A c redito que, mesmo não sendo possível sintetisar as diferentes visões do mundo inerentes às d i f e rentes escolas terapêuticas, elas podem ser c o o rdenadas e articuladas de forma sequencial e/ou complementar, reconhecendo e identificando as condições e contextos em que cada uma delas melhor se aplica, em termos de capacidade explicativa e de potencial de orientação clínica. Curiosamente, Niels Bohr sentiu também necessidade de re c o rrer ao conceito de "complementaridade" para dar conta de determinada situação, inevitável em física quântica, na qual duas teorias consideradas mutuamente exclusivas são necessárias para explicar determinado fenómeno. Assim, a luz só pode ser cabalmente entendida como simultâneamente onda e partícula, não sendo possível uma síntese entre estas duas formas de entendimento 8 3. A c redito, igualmente, que nenhuma visão do mundo é intrinsecamente "superior" às outras, quer a nível ontológico (i.e., formismo, mecanicismo, org a n i c i s- mo e contextualismo), quer a nível epistemológico (i.e., empirismo, racionalismo e metaforismo), part i- c u l a rmente como forma de entendimento da re a l i d a d e clínica e base de tomada de decisões terapêuticas. Segundo a perspectiva ontológica de Pepper 8 4, a visão f o rm i s t a entende o mundo como composto por entidades discretas, agrupáveis por razões de semelhança, independentemente de considerações temporais ou contextuais (essencialmente os modelos terapêuticos nosológicos e de traço). No m e c a n i c i s m o o mundo é entendido de uma form a estática, como sendo composto por entidades re l a- cionadas funcionalmente numa óptica simples de antecedentes/consequentes (essencialmente os modelos terapêuticos comportamental e cognitivo). O o rg a n i c i s m o vê o mundo como uma totalidade em modificação, composto por complexidades o rganizadas, onde as estruturas servem as funções (essencialmente os modelos desenvolvimentistas). Por último, no c o n t e x t u a l i s m o, entende-se o mundo como um conjunto de texturas complexas e interligadas, construídas e contaminadas por significados part i c u l a res, atribuídos pelos observ a d o re s (essencialmente os modelos experienciais e s i s t é m i c o s ). 84 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia Por sua vez, no entendimento epistemológico de R o y c e 8 0, o e m p i r i s m o (essencialmente o modelo c o m p o rtamental) considera as crenças pessoais c o n s t ruídas com base em processos sensoriais e p e rceptivos, e testadas em termos de garantia e validade das observações relevantes (raciocínio indutivo). O r a c i o n a l i s m o (essencialmente o modelo cognitivo) considera as crenças como baseando-se em análises racionais e sendo testadas em termos de consistência lógica (raciocínio dedutivo). Por último, no m e t a f o r i s m o (essencialmente os modelos dinâmico e fenomenológico) as crenças baseiam-se em processos simbólicos conscientes e inconscientes, sendo a sua validade determinada pela generabilidade a outras experiências (raciocínio a n a l ó g i c o ). Tomando em consideração estas duas perpectivas, podemo-nos questionar sobre qual a utilidade do metaforismo ou do racionalismo para determinar a f requência de ataques de pânico de determ i n a d o paciente? Ou qual a utilidade do empirismo ou do metaforismo para compreender a coerência lógica de um determinado raciocínio? E, finalmente, qual a utilidade de ambos, o racionalismo e o empirismo, para captar o significado de afirmações tais como "sinto-me como um barco em mar revolto?" O mesmo se aplica às visões ontológicas do mundo, p a rt i c u l a rmente no tocante às atribuições causais subjacentes a cada uma delas, que veremos mais adiante. Por outro lado, tanto o paradigma de "pro c e s s a- mento de informação" como o paradigma desenvolvimentista de Piaget parecem, neste aspecto part i c u l a r, ir no mesmo sentido da complementaridade. Assim, segundo a perspectiva avançada por de De M e y 8 5 (curiosamente num livro dedicado a Piaget), tanto o desenvolvimento do paradigma do pro c e s s a- mento da informação, como os "estudos científicos", como ainda o modo como os seres humanos p rocessam a informação para constru í rem um "modelo do mundo", podem ser vistos em quatro e s t á d i o s : a. Monádico - as unidades de informação são vistas como entidades separadas e independentes umas das outras; b. E s t rutural - a informação é vista como uma entidade mais complexa, consistindo em unidades de informação organizadas de uma determinada maneira; c. Contextual - para além da análise da org a n i z a ç ã o e s t rutural das unidades de informação, é necessária i n f o rmação adicional sobre o contexto para entender o significado da inform a ç ã o ; d. Cognitivo ou Epistémico - a informação é vista como complementar a um sistema conceptual que re p re s e n- ta o sistema de conhecimento ou modelo do mundo do " c o n h e c e d o r. " É o próprio De Mey que afirma que, não só o nosso c o m p o rtamento parece ser raramente governado por um modelo único do mundo, mas também que é necessário entender o estádio "cognitivo ou epistémico" como complementando e não eliminando, estádios menos avançados do processamento da inform a ç ã o 8 5. Por sua vez, também na análise que Piaget e Garc i a 8 6 fazem relativamente ao desenvolvimento da ciência (bem como relativamente ao desenvolvimento psicológico), os processos de desenvolvimento são melhor entendidos não no quadro de uma lógica de substituição de uma "forma de ver" por outra, mas sim por um processo de superação e de integração (de que penso ser a complementaridade Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 85

António Branco Va s c o p a r a d i g m á t i c a um exemplo). Não se trata de um movimento pro g ressivo exclusivamente descontínuo, mas igualmente contínuo. Mesmo que se verifiquem descontinuidades estruturais (i.e., formas de explicação - níveis terapêuticos metateórico e teórico), igualmente, têm lugar continuidades de carácter funcional (i.e., formas de resolução de pro b l e- mas - nível clínico estratégico). Quando se pensa em termos de integração em psicoterapia, considero part i c u l a rmente relevante o mecanismo que Piaget e Garc i a 86 identificam como comum a ambos o desenvolvimento psicológico e científico. Trata-se daquilo que designam como funcionamento aos níveis "intra", "inter" e "trans". Por funcionamento a nível "intra" entende-se identificar e lidar com as qualidade das situações, sujeitos e objectos, re c o rrendo exclusivamente ao uso de explicações locais e part i c u l a res (o que pode ser entendido como semelhante a uma visão formista do mundo). Por sua vez, o nível de funcionamento "inter" é essencialmente caracterizado por explicações centradas em redor de um sistema de transformações que pressupõe a existência de re l a ç õ e s e n t re diferentes situações, sujeitos e objectos ( f o rmulação que pode ser vista como semelhante a uma visão mecanicista do mundo). Finalmente, e a um nível de abstração mais elevado, encontra-se o nível de funcionamento "trans", que contempla, exactamente, as re l a ç õ e s e n t re as tranformações referidas para o nível "inter", permitindo a formação de estru t u r a s (semelhante às visões do mundo organicista e c o n t e x t u a l i s t a ). Penso que esta análise se aplica tanto ao desenvolvimento psicossocial da psicoterapia, como a um n ú m e ro crescente de terapeutas. Após um longo período de funcionamento "intra" (as escolas terapêuticas totalmente separadas), foi possível observar um outro período predominantemente "inter" (o início de relações e diálogo entre diferentes escolas) e, finalmente, esforços concretos no sentido da integração, o funcionamento "trans". Relativamente à pessoa do psicoterapeuta, alguns dos resultados das investigações que tenho re a l i z a d o ao longo dos últimos anos, parecem apontar no mesmo sentido: a. A p a rentemente, quando alguns terapeutas se encontram numa situação de dissonância entre as suas crenças pessoais de ordem ontológica e epistemológica e as asserções metateóricas dos modelos clínicos que subscrevem, tendem a rever ou a ampliar o seu paradigma de referência. Este fenómeno é ilustrado pelo facto de, quando em dissonância, re l a t a rem uma diminuição da influência da teoria na prática e pelo aumento da probabilidade de selecc i o n a rem o eclectismo como orientação s e c u n d á r i a 8 7 ; b. P a rece que os terapeutas eclécticos não só fazem uso de um leque mais amplo de estilos epistémicos 3 0, mas são igualmente mais flexíveis em termos de estilos terapêuticos, e mais capazes de estabelecer boas alianças terapêuticas com os seus pacientes 8 8, 8 9. Possivelmente, tal facto significa que o sentir-se à vontade com diferentes estilos epistémicos pro p o r- ciona aos terapeutas a capacidade para re c o rrer a d i f e rente formas complementares de entendimento da realidade clínica bem como a diferentes estilos 86 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia terapêuticos e, consequentemente, para estabelecer boas alianças com um leque mais diferenciado de pacientes ou com o mesmo paciente, ao longo do tempo agindo, assim de forma mais "re s p o n s i v a " 7 1 ; c. Finalmente, o nível de desenvolvimento epistemológico dos terapeutas parece contribuir para os seus estilos terapêuticos. Assim, terapeutas mais experientes e simultaneamente mais desenvolvidos do ponto de vista epistemológico, tanto de orientação psicodinâmica como cognitiva, mostraram-se mais semelhantes no tocante a estilos terapêuticos do que um grupo composto por todos os outros terapeutas psicodinâmicos e cognitivos 2 4. Possivelmente, o processo de filtragem inerente à prática clínica contribui para que os terapeutas simultaneamente mais experientes e mais capazes de questionar o conhecimento previamente adquirido (i.e., mais desenvolvidos epistemologicamente), independentemente de orientação teórica, se t o rnem mais semelhantes no tocante a determ i n a d a s atitudes e operações. Joseph Royce defendeu que quanto mais um indivíduo está empenhado na defesa de uma visão específica do mundo, mais limita as imagens que constrói do conhecimento e da re a l i d a d e 9 0. Queria com isto dizer que o ser humano age como se possuísse um conhecimento da re a l i d a d e última quando, na realidade, só detem uma perspectiva limitada: afirma ser detentor da verd a d e sem ter consciência dos limites da sua perspectiva - olha para a realidade de forma parcial, mas ousa fazer afirmações relativas à totalidade das c o i s a s 9 0. As considerações de Royce ganham re l e v â n c i a a c rescida à luz da proposta de substituição do modelo do psicólogo clínico enquanto "cientista/pratic a n t e " 91, 92, 93, 94 para o de "metafísico/cientista/pratic a n t e " 95. Esta nova formulação é mais ampla, para além de contemplar os componentes científicos e práticos, contempla igualmente os componentes ontológicos e epistemológico (part i c u l a rmente as questões relativas aos conceito de realidade e da n a t u reza, origens, validade e processos inerentes ao conhecimento humano). Alguns autores defendem que as asserções ontológicas e epistemológicas subjacentes aos difere n t e s modelos terapêuticos constituem um obstáculo de monta para a integração em psicoterapia 5 2, 9 6, 9 7, 9 8, 9 9. Contudo, outros defendem que diferentes visões do mundo podem ser parcialmente coordenadas e c o m p l e m e n t a rem-se, reconhecendo as condições e contextos diferenciais de aplicação óptima ( M o s h a m 1 0 0 aplica estas ideias à psicologia do desenvolvimento e Epstein relativamente às e m o ç õ e s 1 0 1 ). Penso que os três conjuntos de re s u l t a- dos relativamente aos psicoterapeutas, anteriormente apresentados, apontam exactamente nesta mesma dire c ç ã o. Royce considera que os três estilos epistémicos (i.e., empirismo, racionalismo e metaforismo) não são independentes - todas as pessoas fazem uso de todos eles, com maior ou menor frequência, encontradose estes articulados de forma hierárq u i c a 90. Ta n t o esta perspectiva de Royce, como os resultados atrás mencionados fazem-me postular que, se os estilos d e t e rminam aquilo que consideramos ser a re a l i- dade e o conhecimento válido, a abertura ontológica e epistemológica pro p o rcionada pelo facto de se ser Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 87

António Branco Va s c o capaz de fazer deles um uso diferencial e complem e n t a r, possivelmente contribui para os clínicos f u n c i o n a rem terapeuticamente de forma mais flexível. Ou seja, capazes e dispostos a utilizar, de form a sequencial ou convergente, instrumentos de avaliação, conceptualizações e intervenções originárias de diferentes paradigmas clínicos e, consequentemente, aumentando a probabilidade de optimizar a eficácia terapêutica. Deste modo, deixa de ser o terapeuta a "impôr" ao paciente uma perspectiva única metateórica, teórica e de estilo terapêutico, passando a ser o paciente a "impôr" ao terapeuta qual a perspectiva ou conjunto de perspectivas que mais adequada(s) pare c e ( m ) s e r, no sentido da resolução dos seus pro b l e m a s. F u n c i o n a r, clinicamente, dentro desta perspectiva p a rece constituir a forma mais adequada de se ser " responsivo" à necessidades dos pacientes 71, e mater i a l i z a r, no sentido piagetiano do termo, o equilíbrio entre acomodação e assimilação. Designo, assim, a capacidade de fazer um uso diferencial e complementar dos estilos epistémicos e visões do mundo por c o m p l e m e n t a r i d a d e p a r a d i g m á t i c a, constituindo esta uma forma de ultrapassar o ensimesmamento que Royce designa por "encapsulamento" 90. A complementaridade paradigmática implica igualmente as características do pensamento pós- - f o rm a l 102, 103 : (1) re l a t i v i s m o - o reconhecimento da natureza relativa e não-absoluta de todos os tipos de conhecimento, bem como de que as crenças pessoais não são mais do que uma entre várias formas de construir a realidade; (2) c o n t r a d i ç ã o - o re c o n h e c i m e n t o d e que as contradições e complexidades são componentes inevitáveis do conhecimento e da re a l i d a d e, bem como o reconhecimeto de que se conquista a tolerância aceitando a natureza dialéctica da re l a ç ã o e n t re os opostos; (3) i n t e g r a ç ã o - síntese de alto nível de abstracção que constitui uma totalidade integrativa de sistemas opostos part i c u l a re s. Basicamente, as decisões clínicas, explícitas ou implícitas, são sempre dependentes do modo como mapeamos o "território terapêutico," estando este p rocesso de mapeamento dependente de categorias de classificação que se modificam de acordo com visões do mundo e modelos teóricos. Penso que os terapeutas utilizam, primord i a l m e n t e, os quatro tipos de mapas que estão re l a c i o n a d o s com as visões ontológicas do mundo, atrás re f e r i- d a s 8 4 : (1) formismo - os diagnósticos nosológicos tradicionais e as abordagens de traço; (2) mecanicismo - as análises funcionais de comportamentos e cognições; (3) organicismo - as análises estru t u r a i s e desenvolvimentistas; (4) contextualismo - os marc a d o res da interacção terapêutica, as fases do p rocesso terapêutico, os genogramas e análises s i s t é m i c a s. Assim, entendo que estas diferentes visões do mundo podem ser vistas como contraditórias e re l a t i v a s, mas susceptíveis de serem integradas, a um nível mais elevado de abstracção e num registo de complementaridade paradigmática. P o s s i v e l m e n t e todos estes "mapas" têm a sua relevância clínica, passando a optimização das intervenções pela capacidade de os utilizar de forma diferencial e c o m p l e m e n t a r. Igualmente interessante é o facto de estes mapas e, 88 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia consequentemente, os critérios explícitos ou implícitos de tomada de decisões clínicas se re l a- c i o n a rem com os conceitos de causalidade pro p o s- tos por Aristóteles. Ou seja, ao operar sob uma perspectiva eminentemente formista o terapeuta faz atribuições causais que se baseiam na causalidade material - considera que são as características intrínsecas do paciente (anatómicas, bioquímicas ou psicológicas) que causam o problema; quando operando sob uma perspectiva mecanicista, os terapeutas fazem atribuições baseadas na causalidade m e c â n i c a o u e f i c i e n t e - forças externas e lineares (reforços e punições) são as causas do problema; por sua vez, quando sob uma perspectiva organicista, os terapeutas baseiam as suas explicações na causalidade f i n a l ou t e o l ó g i c a, são os objectivos, padrões de comportamento persistentes, mas já não funcionais, expectativas e "dores de crescimento," bem como as suas vicissitudes que causam o pro b l e m a ; por fim, na óptica contextualista, as atribuições dos terapeutas baseiam-se na causalidade f o rm a l o u teleonómica - a causa do problema são interacções complexas e os significados construídos, num re g i s- to de aqui e agora. De novo, considero que qualquer um dos quatro tipos de causalidade pode ser útil para pensar e clarificar diferentes situações clínicas, difere n t e s tipos de pacientes e mesmo diferentes fases do p rocesso terapêutico. Possivelmente, o mais i m p o rtante consiste no facto de o terapeuta estar ciente de todas elas, estar ciente que nenhuma é intrinsecamente melhor do que outra e, acima de tudo, ser capaz de as utilizar complementarm e n t e, consoante o seu respectivo valor heurístico. Gostaria, como remate, de citar uma frase de F e rnando Pessoa que me parece captar, na perfeição, a essência do conceito de complementaridade paradigmática: "o binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo." Eu ousaria acre c e n t a r que a Vénus de Milo é tão útil como o binómio de Newton! B i b l i o g r a f i a : 1. Alexander, F. (1963). The dynamics of pychotherapy in light of learning theory. American.k Journal of P s y c h i a t ry, 120, 440-448. 2. Dollard, J., & Miller, N.E. (1950). Personality and p s y c h o t h e r a p y. New York: McGraw-Hill. 3. Frank, J.D., & Frank, J.B. (1991). Persuasion and h e a l i n g (3ª ed.). Baltimore: Johns Hopkins University P ress. 4. French, T.M. (1933). Interrelations between psychoanalysis and the experimental work of Pavlov. A m e r i c a n J o u rnal of Psychiatry, 89, 1165-1203. 5. Rosensweig, S. (1936). Some implicit common factors in diverse methods in psychotherapy. American Journ a l of Ort h o p s y c h i a t ry, 6, 412-415. 6. Beitman, B. D., Goldfried, M. R., & Norc ross, J. C. (1989). The movement toward integrating the psychotherapies: An overv i e w. American Journal of P s y c h i a t ry, 146, 138-147. 7. Goldfried, M.R. (1982). On the history of therapeutic integration. Behavior therapy, 13, 572-593. 8. Goldfried, M.R., & Newman, C. (1986). Psychotherapy integration: An historical perspective. In J.C. Norc ro s s (Ed.), Handbook of eclectic psychotherapy. New Yo r k : B ru n n e r / M a z e l. Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 89

António Branco Va s c o 9. Goldfried, M.R., Gre e n b e rg, L.S, & Marm a r, C. (1990). Individual psychotherapy: Process and outcome. A n n u a l Review of Psychology, 41, 659-688. 10. Norc ross, J.C. (1986). Eclectic psychotherapy: An introduction and overv i e w. In J.C. Norc ross (Ed.), Handbook of eclectic psychotherapy (pp.3-24). New Yo r k : B ru n n e r / M a z e l. 11. Harper, R. A. (1959). Psychoanalysis and psychotherapy: 36 systems. Englewood Cliffs, NJ: Pre n t i c e - H a l l. 12. Parloff, M.B. (1976). Shopping for the right therapy. S a t u rday Review, 21 de Fevere i ro, 135-142. 13. Herink, R. (1980). The psychotherapy handbook. New York: Meridian. 14. Goleman, D. (1986). Psychiatry: First guide to therapy is f i e rcely opposed. The New York Ti m e s, 23 de Setembro, Cl. 15. Freni, S., Basile, R., Fava, E., & Galati, S. (1989, S e t e m b ro). Some observations on the situation of psychotherapy in Italy. In D. E. Orlinsky (organizador), The social context of psychotherapy re s e a rch: A comparative discussion of the organization and impact of service delivery systems. Workshop integrado na Third European Conference on Psychotherapy Research, Bern a. 16. Goldfried, M.R., & Padawer, W. (1982). Current status and f u t u re directions in psychotherapy. In M.R. Goldfried (Ed.), C o n v e rging themes in psychotherapy. New York: Springer. 17. Lambert, M. J., & Ogles. B. M. (2004). The efficay and e ffectiveness of psychotherapy. In M. J. Lambert (Ed.), B e rgin and Garfield s Handbook of psychotherapy and behavior change (5ª ed.) (pp. 139-193). New York: Wi l e y. 18. Orlinsky, D.E., & Howard, K.I. (1986). Process and outcome in psychotherapy. In S.L. Garfield e A.E. Bergin (Eds.), Handbook of psychotherapy and behavior change ( 3 ª ed.). New York: Wi l e y. 19. Smith, M.L., Glass, G.V., e Miller, T.I. (1980). The benefits of psychotherapy. Baltimore: John Hopkins. 20. Stiles, W.B., Shapiro, D.A., e Elliot, R. (1986). Are all psychotherapies equivalent? American Psychologist, 41, 165-180. 21. Wampold, B. E. (2001). The great psychotherapy debate: Models, methods, and findings. New Jersey: L a w rence Erlbaum. 22. Wachtel, P.L. (1977). Psychoanalysis and behavior therapy: To w a rd an integration. New York: Basic Books. 23. Fiedler, F.E. (1950). A comparasion of therapeutic re l a- tionships in psychoanalitic, nondirective and Adlerian therapy. J o u rnal of Consulting Psychology, 14, 436-445. 24. Vasco, A., Dryden, W. (1997). Does development do the did?: Clinical experience and epistemological development together account for similarities in therapeutic style. P s y c h o t h e r a p y, 34, 262-271. 25. Garfield, S.L., & Kurtz, R. (1976). Clinical psychologists in the 1970s. American Psychologist, 31, 1-9. 26. Norc ross, J.C., & Prochaska, J.O. (1982). A national survey of clinical psychologists: Affliations and orientations. Clinical Psychologist, 35(3), 1-2, 4-6. 27. Arn k o ff, D.B., & Glass, C.R. (1992). Cognitive therapy a n d psychotherapy integration. In D.K. Freedheim (Ed.), H i s t o ry of psychotherapy: A century of change (pp. 261-303). Washington D.C.: American Psychological Association. 28. Prochaska, J.O., e Norc ross, J.C. (1982). The future of psychotherapy: A Delphi poll. P rofessional Psychology, 13, 6 2 0-6 2 7. 90 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia 29. Norc ross, J. C., Hedges, M., & Prochaska, J. O. (2002). The Face of 2010: A Delphi Poll on the Future of Psychotherapy: P rofessional Psychology: Research and P r a c t i c e, 33, 316-322. 30. Vasco, A.B. (1996). Ecletic trends among Port u g u e s e psychotherapists re v i s i t e d. Comunicação apresentada na "XII Annual Conference of the Society for the Exploration of Psychotherapy Integration", Berkeley, E.U.A. 31. Vasco, A.B. (2001). Tendências eclécticas nos psicoterapeutas portugueses: Comparações com um estudo anterior. Psicologia, Vol. XV, nº 2, pp. 289-298. 32. Vasco, A.B., Garc i a - M a rques. L., & Dryden, W. (1992). Eclectic trends among Portuguese therapists. J o u rnal of Psychotherapy Integration, 4, 321-331. 33. Vasco, A.B. (1996). Del encapsulamiento a la complementariedad paradigmática: Estilos terapéuticos y epistémicos de los psicoterapeutas. Revista Argentina de Clínica P s i c o l o g i c a, V, 7-15. 34. Vasco, A.B. (1990). Da To rre de Babel ao esperanto terapêutico: Notas sobre investigação e integração em psicoterapia. Psiquiatria Clínica, 11, 117-123. 35. Paul, G.L. (1967). Strategy of outcome re s e a rch in psyc h o t h e r a p y. J o u rnal of Consulting psychology, 31, 109-1 1 9. 36. Liberman, R.P. (1985). Fore w o rd. In D.T. Mays & C.M. Franks (Eds.), Negative outcome in psychotherapy and what to do about it. New York: Springer. 37. Vasco, A.B., & Conceição, N. (Maio, 2003). A hardly re c- ognized similarity in psychotherapy: Te m p o r a l sequence of strategic objectives. Comunicação apre s e n t a- da na "XVIII International Conference of the Society for the Exploration of Psychotherapy Integration," New York, E.U.A. 38. Lambert, M.J., & Bergin, A.E. (1994). The eff e c t i v e n e s s of psychotherapy. In A.E. Bergin & S.L. Garfield (Eds.), Handbook of psychotherapy and behavior change ( p p. 143-189). New York: John Wi l e y. 39. Parloff, M.B., London, P., e Wolfe, B. (1986). Individual psychotherapy and behavior change. Annual Review of P s y c h o l o g y, 37, 321-349. 40. Rosenthal, R., & Rubin, D. B. (1982). A simple, general purpose display of magnitude of experimental effect. J o u rn a l of Educacional Psychology, 74, 166-169. 41. Lambert, M.J., & Barley, D. E. Research summary on the therapeutic relationship and psychotherapeutic outcome. In J. C. Norc ross (Ed.) (2002), Psychotherapy relationships that w o r k(pp. 17-31). Oxford: Oxford University Pre s s. 42. Frank, J.D. (1979). The present status of outcome re s e a rc h. J o u rnal of Consulting and Clinical Psychology, 47, 310-316. 43. Lambert, M.J. (1989). The individual therapist s contribution to psychotherapy process and outcome. C l i n i c a l Psychology Review, 9, 469-485. 44. Klerman, G.L. (1986). Drugs and psychotherapy. In S.L. G a rfield & A.E. Bergin (Eds.), Handbook of psychotherapy and behavior change (3ª ed.). New York: Wi l l e y. 45. Nathan, P. E., & Gorman, J. M. (Eds.) (2002). A guide to treatments that work. Oxford: Oxford University Pre s s. 46. Thase, M. E., & Jindal, R. D. (2004). Combining psychotherapy and psychopharmacology for treatment of mental disord e r s. In M. J. Lambert (Ed.), B e rgin and Garfield s Handbook of psychotherapy and behavior change (5ª ed.) (pp. 743-766). New York: Wi l e y. 47. Blackburn, I.M., Bishop, S., Glen, A.I.M., Whalley, L.J., & Christie, J.E. (1981). The efficacy of cognitive therapy in Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 91

António Branco Va s c o d e p ression: A treatment trial using cognitive therapy and p h a rm a c o t h e r a p y, each alone and in combination. B r i t i s h J o u rnal of Psychiatry, 139, 181-189. 48. Kovacs, M. (1980). The efficacy of cognitive and behavior therapies for depression. American Journal of P s y c h i a t ry, 137, 1495-1501. 49. Klerman, G. L., Weissman, M. M., Markowitz, J., Glick, I., Wi l n e r, P. J., Mason, B., & Shear, M. K. (1994). Medication and psychotherapy. In A. E. Bergin & S. L. G a rfield (Eds.), Handbook of psychotherapy and behavior change (4ª ed.) (pp. 734-782). New York: Wi l e y. 50. Hollon, S. D., Thase, M. E., & Markowitz, J. C. (2002). Treatment and preventioan of depression. P s y c h o l o g i c a l Science in the Public Intere s t, vol. 3, nº 2. 51. Lieberman, B.L. (1987). The maintenance and persistence of change: Long-term follow-up investigations of p s y c h o t h e r a p y. In J.D. Frank, R. Hoehn-Saric, S.D. Imber, B.L. L i e b e rman, & A.R. Stone (Eds.), E ffective ingredients of successful psychotherapy. New York: John Wi l e y. 52. Beutler, L. E. (2002). It is not the size, but the fit. C l i n i c a l P s y c h o l o g y, Science and Practice, 4, 434-438. 53. Beutler, L.E., & Clarkin, J.F. (1990). Systematic tre a t- ment selection. New York: Bru n n e r / M a z e l. 54. Beutler, L. E, & Harwood, T. M. (2000). P re s c r i p t i v e psychotherapy: A practical guide to systematic tre a t- ment selection. Oxford: Oxford University Press. 55. Millon, T. (1999). Personality guided therapy. New York: John Wi l e y. 56. Millon, T., & Davis, R. D. (1996). D i s o rders of personality: DSM-IV and beyond. New York: John Wi l e y. 57. Norc ross, J. C. (Ed.) (2002). Psychotherapy re l a t i o n- ships that work. Oxford: Oxford University Pre s s. 58. Gre e n b e rg, L. S., Rice, L. N., & Elliot, R. (1993). Facilitating emotional change: The moment-bymoment pro c e s s. New York: Guilford. 59. Prochaska, J. O., & Norc ross, J. C. (2002). Stages of change. In J. C. Norc ross (Ed.), Psychotherapy relationships that work (pp. 303-313). Oxford: Oxford University Pre s s. 60. Stiles, W. B., Morrison, L. A., Haw, S. K. Harper, H., Shapiro, D. A., & Firth-Cozens, J. (1991). Longitudinal study of assimilation in e x p l o r a t o ry psychotherapy. P s y c h o t h e r a p y, 28, 195-206. 61. Young, J. E., Klosko, J. S., & We i s h a a r, M. E. (2003). Schema therapy: A practitioner s guide. New York: Guilford. 62. Beitman, B. D. (1987). The stru c t u re of individual psyc h o t h e r a p y. New York: Guilford. 63. Benjamin, L. S. (1993). Interpersonal diagnosis and t reatment of personality disord e r s. New York: Guilford. 64. Benjamin, L. S. (2003). Interpersonal re c o n s t ructive therap y. New York: Guilford. 65. Howard, K. I., Lueger, R., Maling, M., & Lutz, W. (1993). A phase model of psychotherapy. J o u rnal of Consulting and Clinical Psychology, 61, 678-685. 66. Meier, A., & Bovin, M. (1998). The seven phase model of the change process: Theoretical foudation, definitions, coding guidelines, training pro c e d u re s, and re s e a rch data. St. Paul University, Ottawa, Ontario, Canada. 67. Safran, J. D., & Murran, J. C. (2000). Negotiating the therapeutic alliance. New York: Guilford. 92 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca

C reio num Engenho que falta mais Fecundo de Harmonizar as Partes Dissonantes: Fundamentação para a Integração em Psicoterapia 68. Mays, D.T., & Franks, C.M. (Eds.) (1985). N e g a t i v e e ffects in psychotherapy. New York: Springer. 69. Mohr, D. C. (1995). Negative outcome in psychotherapy: A critical re v i e w. Clinical Psychology: Science and Practice, 2, 1-27. 70. Beutler, L. E., Bongar, B., & Shurin, J. N. (1998). Am I c r a z y, or is it my shrink?new York: Oxford University Pre s s. 71. Stiles, W. B., Honos-Webb, L., & Surko, M. (1998). Responsiveness in Psychotherapy. Clinical Psychology: Science and Practice, 5, 439-458. 72. Cozolino, L. (2002). The neuroscience of psychotherapy: Building and rebuilding the human brain. New York: Nort o n. 73. Baptista, L. F., & Petronovich, L. (1986). Song development in the white-crowned sparrow: Social factors and sex d i ff e rences. Animal Behavior, 34, 1359-1371. 74. Eales, L. A. (1985). Song learning in zebra finches: Some e ffects of song model available on what is learned and when. Animal Behavior, 37, 507-508. 75. Meaney, M. J., Aitken, D. H., Viau, V., Sharma, S., & S a rrieau, A. (1989). Neonatal handlings alters adre n o c o rt i c a l negative feedback sensivity and hippocampal type II g l u c o- c o rticoid receptor binding in the rat. N e u ro e n d o c r i n o l o g y, 50, 597-604. 76. Plotsky, P. M., & Meaney, M. J. (1993). Early, postnatal experience alters hypothalamic cort i c o t ro p h i n - releasing factor (CRF) MRNA, median eminence CRF content ans stre s s - induced release in adult rats. Molecular Brain Researc h, 18, 1 9 5-2 0 0. 77. Shapiro, A. K, & Shapiro, E. (1997). The powerful placebo: From ancient priest to modern physician. Baltimore : Johns Hopkins. 78. Stiles, W. B., Shapiro, D. A. (1994). Disabuse of the Dru g Metaphor: Psychotherapy Process-Outcome Corre l a t i o n s. J o u rnal of Consulting and Clinical Psychology, 62, 942-9 4 8. 79. Zelhart, P. F., & Wa rgo, D. G. (1977). P s y c h o t h e r a p i s t epistemologies and client outcomes. Comunicação apresentada no Rocky Mountain Psychological Association Annual Meeting, Denver, Colorado. 80. Royce, J. R., & Mos, L. P. (1980). Manual: Psycho- Epistemological Pro f i l e. Alberta, Canda: University of A l b e rta Center for the Advanced Study in Theore t i c a l P s y c h o l o g y. 81. Chambless, D. L., & Hollon, S. D. (1998). Defining empirically s u p p o rted psychological interventions. J o u rnal of Consulting and Clinical Psychology, 66, 7-18. 82. Beutler, L. E., & Castonguay, L. G. (Eds) (para publicação). Empirically supported principles of therapeutic change: Integrating common and specific therapeutic factors acro s s major psychological disord e r s. New York: Oxford University P re s s. 83. Plotnisky, A. (1994). Complementarity: Anti-epistemology after Bohr and Derr i d a. Durham: Duke University Pre s s. 84. Pepper, S. C. (1942). World hypotheses. Berkley: Unioversity ovf California Press. 85. De Mey, M. (1982). The cognitive paradigm: Cognitive science, a newly explored approach to the study of cognition applied in an analysis of science and scientific knowledge. Dord recht: Reidel. 86. Piaget, J., & Garcia, R. (1983). Psychogènese et hist o i re des sciences. Paris: Flammarion. 87. Vasco, A.B., Garc i a - M a rques, L., & Dryden, W. (1993). Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca 93

António Branco Va s c o "Psychotherapist know thyself!": Dissonance between metatheo retical and personal values in psychotherapists of diff e re n t t h e o retical orientations. Psychotherapy Researc h, 3, 181-196. 88. Vasco, A. B., Silva, F., & Chambel, J. (Julho, 1998). Clients and therapists worldviews: Impacts on the therapeutic alliance. Comunicação apresentada na "XIV I n t e rnational Conference of the Society for the Exploration of Psychotherapy Integration", Madrid, Espanha. 89. Silva, F., & Vasco, A.B. (Junho, 2004). Characteristics of Integrative Therapists: Empirical Developments. Comunicação apresentada na "XIX International Confere n c e of the Society for the Exploration of Psychotherapy Integration," Amsterdam, Holanda. 90. Royce, J. R. (1964). The encapsulated man: An i n t e rd i s c i p l i n a ry essay on the search for meaning. Princetown, NJ: Van Nostrand. 91. Dern e r, G.F., (1965). Graduate education in clinical psyc h o l o g y. In B.B. Wolman (Ed.), Handbook of clinical psyc h o l o g y. New York: MacGraw-Hill. 92. Goldfried, M.R. (1984). Training the clinitian as scientistp rofessional. P rofessional Psychology, 15, 477-481. 93. O Sullivan, J.J., & Quevillon, R.P. (1992). 40 years later: Is the Boulder Model still alive? American Psychologist, 47, 67-70. 94. Raimy, V.C. (1950). Training in clinical psychology. New York: Pre n t i c e - H a l l. 95. O Donohue, W.O. (1989). The (even) boulder model: The clinical psychologist as metaphysician-scientist-practic i o n e r. American Psychologist, 44, 1460-1468. 96. Lazarus, A.A. (1989). Why I am an eclectic (not an integrationist). British Journal of Guidance and Counselling, 17, 248-258. 97. Messer, S.B. (1992). A critical examination of belief s t ru c t u res in integrative and eclectic psychotherapy. In J. C. N o rc ross, & M.R. Goldfried (Eds.), Handbook of psychotherapy integration. New York: Basic Books. 98. Safran, J. D., & Messer, S. B. (1998). Psychotherapy integration: A post-modern critique. In J.D. Safran, Wi d e n i n g the scope of cognitive therapy. Northvale, NJ.: Jason A ro n s o n. 99. Schacht, T.E., & Black, D.A. (1985). Epistemological commitments of behavioral and psychoanalytic therapists. P rofessional Psychology, 16, 316-323. 100. Mosham, D. (1982). Exogenous, endogenous, and dialectical constructivism. Developmental Review, 2, 371-3 8 4. 101. Epstein, S. (1993). Emotion and self-theory. In M. Lewis & J.M. Haviland (Eds.), Handbook of emotions. New York: Guilford. 102. Kramer, D.A. (1983). Post-formal operations? A need for further conceptualization. Human Development, 26, 91-1 0 5. 103. Alexander, C.N., & Langer, E.J. (Eds.) (1990). H i g h e r stages of human development. New York: Oxford University Pre s s. 104. Beitman, B. D., Goldfried, M. R., & Norc ross, J. C. (1989). The movement toward integrating the psyc h o t h e r a p i e s : An overv i e w. American Journal of P s y c h i a t ry, 146, 138-147. 105. Vasco, A.B., Silva, F., & Chambel, J. (2001). Visões do mundo de pacientes e terapeutas: impactos na aliança terapêutica. Psicologia, Vol. XV, nº 2, pp. 299-308. 94 Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca