RESENHA SEMANAL E PERSPECTIVAS Na Europa, os líderes europeus sinalizaram que há pouco espaço para concessões ao Reino Unido. No Brasil, o banco central sugeriu estabilidade da Selic nas próximas reuniões. Nos Estados Unidos, o consumo registrou nova alta em maio e deve puxar o crescimento do PIB no segundo trimestre. O consumo das famílias registrou alta de 0,4% em maio após avançar 1,1% (revisado) no mês anterior, resultado em linha com a expectativa do mercado. Com isso, o consumo das famílias acumulou ganho de 1,0% no trimestre encerrado em maio ante expansão de 0,4% no primeiro trimestre. O núcleo de inflação (PCE) se manteve estável em 1,6% ao ano em maio, permanecendo ligeiramente abaixo da projeção do FED (1,7%) para 2016. A confiança do setor industrial (ISM manufatura) avançou em junho para 53,2 pontos de 51,3 pontos no mês anterior, atingindo o maior patamar desde fevereiro de 2015. A alta no indicador foi puxada pela elevação nos subíndices de novas encomendas e produção. A aceleração do consumo e a recuperação da confiança do setor industrial apontam para a aceleração do crescimento do PIB no segundo trimestre. Esperamos uma alta entre 2,5% e 3,0%, em termos anualizados, no segundo trimestre frente avanço de 1,1% no primeiro trimestre. Diante do atual quadro de recuperação da economia, mantemos nossa expectativa de uma alta na taxa de juros pelo FED no final do ano. Na Zona do Euro, a confiança industrial e a inflação registraram aceleração em junho. O indicador de confiança industrial (PMI manufatura) registrou alta e atingiu 52,8 pontos de 51,5 pontos em maio na Zona do Euro, o maior patamar no ano. Os aumentos da confiança na Alemanha (de 51,5 para 52,8), Itália (de 52,4 para 53,5) e Espanha (de 51,8 para 52,2) explicam a aceleração do indicador em junho. Por sua vez, na França a confiança industrial recuou 1 ponto base para 48,3. No Reino Unido, a despeito das incertezas causadas pelo voto no Brexit, a confiança do setor industrial avançou para 52,1 pontos de 50,4 no mês anterior. Com relação à inflação, o indicador registrou alta de 0,1% na comparação anual em junho após recuar 0,1% em maio, resultado acima da expectativa do mercado (0%). A menor deflação nos preços de energia, que passou de queda de 8,1% em maio para queda de 6,5% em junho explica a aceleração da inflação em junho. O núcleo de inflação, que exclui alimentos e energia, avançou para 0,9% de 0,7% em maio, ficando acima da expectativa do mercado (0,8%). A reunião dos líderes europeu sinalizou que há pouco espaço para concessões ao Reino Unido nas negociações sobre a sua possível saída da União Europeia. Segundo os líderes, a 1
manutenção do acesso ao mercado único europeu implica em aceitar a livre movimentação de bens, serviços, capital e pessoas. O controle na movimentação de pessoas foi o principal argumento em defesa do voto pela saída do Reino Unido da União Europeia. A negociações com a União Europeia devem ocorrer apenas após a definição do novo primeiro ministro do Reino Unido em setembro. Na Ásia, a confiança recuou na China e dados de atividade e inflação apresentaram moderação no Japão. Os indicadores de confiança industrial (PMI manufatura), oficial e Caixin, registraram queda em junho, recuando para 50 e 48,6 pontos, respectivamente, de 50,1 e 49,2 no mês anterior. O subíndice novos pedidos recuou em ambos os indicadores influenciado pela queda das encomendas do exterior. O enfraquecimento do PMI industrial sugere nova moderação do PIB chinês no segundo trimestre, tendência que deve persistir ao longo do segundo semestre segundo as nossas estimativas. Assim, mantemos a nossa expectativa de crescimento de 6,5% do PIB na China em 2016. No Japão, a atividade econômica mostrou sinais adicionais de enfraquecimento. A produção industrial recuou 2,3% em maio na comparação com abril, após alta de 0,5% no mês anterior, o resultado foi muito abaixo da expectativa do mercado (-0,2%). As vendas no varejo ficaram estáveis em maio após recuar 0,1% em abril. O resultado de maio ficou em linha com a expectativa do mercado. O núcleo de inflação, que exclui os preços de energia e alimentos, também registrou moderação em maio, avançando 0,6% na comparação anual contra alta de 0,7% em abril. Esses sinais de moderação da atividade e da inflação reforçam a nossa expectativa de alguma ação pelo banco central japonês nas próximas reuniões na tentativa da estimular a sua economia. 2
Na América Latina, a Argentina revisou a sua série histórica do PIB enquanto o banco central do México elevou a taxa de juros acima do consenso. Na Argentina houve a divulgação do PIB do 1º trimestre ao mesmo tempo em que houve a revisão do indicador para os últimos anos. O PIB argentino apresentou uma contração de 0,7% no primeiro trimestre de 2016 em comparação com o último trimestre de 2015. Com essa contração, a economia argentina acumulou a terceira queda consecutiva no PIB. Apesar disso, em comparação com o primeiro trimestre de 2015, a atividade na Argentina mostrou leve alta de 0,5%, superior à expectativa do mercado (-1,0%). Para o fim do ano, acreditamos que o PIB argentino deve registrar uma contração de 0,5%, no entanto deve crescer 2,5% em 2017. No México, o banco central (Banxico) decidiu elevar sua taxa de juros de referência em 50 p.b., acima da expectativa de mercado (25 p.b.), para 4,25% ao ano. A ação do Banxico é explicada pela sua preocupação com a recente depreciação do peso frente ao dólar e os seus efeitos na inflação. Na Europa Emergente, a expectativa ainda é de inflação baixa. Na Polônia, o cenário é de deflação com o índice de preços com queda de -0,8% interanual para o mês de junho. Na República Tcheca, com inflação em 0,1% interanual, o banco central decidiu por unanimidade manter a taxa de juros de referencia em 0,05%. O Comitê sinalizou que pode continuar intervindo na koruna (com tendência de valorização frente ao euro) para manter o ambiente de relaxamento monetário. Em ambos os casos a inflação deve permanecer longe do centro da meta dos bancos centrais (em 2,5% e 2,0% respectivamente). No Brasil, banco central sinalizou que ainda não há espaço para a flexibilização da política monetária. A divulgação do relatório de inflação do segundo trimestre sinalizou que a taxa de juros deve ficar estável em 14,25% ao ano nas próximos reuniões. Segundo estimativas do banco central, no cenário de referência, mantida a taxa de juros em 14,25% e a taxa de câmbio em R$ 3,45/US$ ao longo dos próximos anos, a projeção de inflação para 2017 é 4,7% contra 4,9% estimado no relatório do primeiro trimestre. Por sua vez, no cenário de mercado, considerando a expectativa do mercado para a taxa Selic e no câmbio para 2016 e 2017 em R$3,58/US$ e R$3,8/US$ e 13,44% e 11,25%, respectivamente, a projeção do banco central aponta uma alta de 5,5% da inflação em 2017. Para 2016, a banco central projeta inflação de 6,9% no cenário de referência e 7,0% no cenário de mercado. Em seu discurso após a divulgação do relatório, o presidente do banco central Ilan Goldfajn, reforçou que o objetivo do banco é trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) já em 2017. Assim, diante do distanciamento das projeções dos cenários de referência e de mercado, e com a expectativa de inflação para 2017 acima do centro da meta (5,5%), acreditamos que as condições econômicas correntes não permitem a flexibilização do política monetária nas próximas reuniões. Com isso, 3
revisamos o nosso cenário para a Selic em 2016, retirando o corte de juros da reunião de agosto, mas mantendo os cortes de 50 p.b nas reuniões de outubro e novembro, encerrando o ano em 13,25%. Acreditamos que a queda nas expectativa de inflação nos próximos meses e a aprovação da medidas fiscais estruturantes abrirão espaço para a redução da taxa Selic na reunião de outubro. No campo fiscal, o setor público voltou a registrar déficit. O setor público consolidado registrou déficit de R$ 18,1 bilhões em maio após superávit de R$ 10,2 bilhões em abril. O resultado de maio ficou acima da nossa expectativa (-R$ 14,7 bilhões) e da do mercado (-R$ 15,9 bilhões). Em maio o governo central registrou déficit de R$ 17,8 bilhões e os governos regionais e empresas públicos apuraram déficit de R$ 360 milhões. No ano, o setor público acumula déficit de R$ 13,7 bilhões contra superávit de R$ 25,5 bilhões no mesmo período do ano passado. No mesmo período, o governo central acumula déficit de R$ 23,5 bilhões enquanto os governos regionais e empresas públicas registram superávit de R$ 9,8 bilhões. O fraco desempenho da receita líquida, que registra queda de 5,3% em termos reais no ano, contra alta de 1,4% das despesa explica o déficit do governo central em 2016. No acumulado em 12 meses, o déficit do setor público passou para 2,5% do PIB frente 2,3% em abril. Acreditamos que o setor público seguirá se deteriorando nos próximos meses e deve encerrar o ano com um déficit de 2,6% do PIB. Com relação à atividade, a produção industrial ficou estável no mês de maio. A pesquisa mensal da indústria mostrou estabilidade na comparação com abril, com ajuste sazonal, resultado em linha com as expectativas de mercado mas abaixo da nossa expectativa (+0,7%). Em termos anuais, a produção industrial apresentou uma contração de 7,8%, ante queda de 6,9% no mês de abril. Dentre as categorias de uso, as maiores quedas foram nas categorias de bens de capital (-11,3%) e bens duráveis (-17,4%) em termos anuais. Os segmentos de bens intermediários (-8,1%) e bens semi e não duráveis (-2,0%) também registraram quedas na comparação anual. Caso a produção industrial fique estável em junho, ela encerrará o segundo trimestre com uma alta de 0,2% em relação ao primeiro trimestre de 2016, encerrando um ciclo de onze trimestres consecutivos sem crescimento. A melhora na confiança da indústria (FGV) para junho sugere a continuidade da recuperação da produção industrial nos próximos meses, reforçando a nossa expectativa de algum crescimento do PIB no segundo semestre do ano. 4
No mercado de trabalho, a taxa de desemprego ficou estável em maio. A taxa de desemprego trimestral encerrou maio em 11,2% contra 8,1% no mesmo mês do ano passado. O número de desempregados totalizou cerca de 11,4 milhões no trimestre encerrado em maio, um aumento de 3,3 milhões frente o mesmo período do ano passado. O contingente de pessoas ocupadas foi estimado em 90,8 milhões no final de maio, uma queda de 1,2 milhão na comparação com maio de 2015. O rendimento real médio habitualmente recebido totalizou R$ 1.982 em maio, recuo de 2,7% na comparação maio do ano passado. As quedas do rendimento e da população ocupada provocaram a queda da massa salarial. A massa de rendimento real somou R$ 175,6 bilhões em maio, um recuo de 3,3% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Quanto ao crédito, os bancos públicos e privados seguem moderando o crescimento dos seus estoques. O estoque de crédito registrou alta de 2,0% em maio na comparação com o mesmo mês do ano anterior, totalizando R$ 3,14 trilhões (52,4% do PIB). Essa é a menor taxa de crescimento desde maio de 2002 (-1,7%). O estoque de crédito nos bancos públicos avançou 5,3% em maio, enquanto o estoque nos bancos privados e estrangeiros recuou 2,0% na comparação anual. Na classificação por segmento, o estoque de crédito livre teve queda de 0,2% em maio contra alta de 4,4% no crédito direcionado. As concessões registraram queda de 17,6% em maio, recuando 17,9% na média móvel de três meses, a preços constantes e média por dia útil. A inadimplência total do sistema ficou em 3,8% em maio frente 3,7% em abril. A inadimplência para pessoas físicas ficou estável em 4,3% enquanto a inadimplência para pessoas jurídicas avançou para 3,3% de 3,1% no mês anterior. 5
Na próxima semana, o principal evento será a pesquisa de emprego nos Estados Unidos (payroll). Após fraco desempenho em maio, quando foram criados 38 mil postos de trabalho, a aceleração na criação de empregos é fundamental para afastar os temores sobre a economia norteamericana. Ainda nos Estados Unidos também haverá a divulgação do indicador de confiança ISM Composto e dos pedidos à indústria. Na Zona do Euro, o destaque da semana será a divulgação das vendas no varejo de maio. No Brasil, a principal divulgação da semana será a inflação (IPCA) de junho. Projetamos alta de 0,35% em junho após elevação de 0,78% em maio. Caso a nossa projeção se confirme, a inflação em 12 meses recuará para 8,84% de 9,23% no mês anterior. Para o restante do ano, esperamos uma gradual moderação da inflação, encerrando o ano em 7,5%. 6
INDICADORES DE MERCADO 7
CALENDÁRIO E PROJEÇÕES 8
MARCELO CIRNE DE TOLEDO Chief Economist marcelotoledo@bram.bradesco.com.br ANDRE NASCIMENTO NOGGERINI andrenoggerini@bram.bradesco.com.br DANIEL XAVIER FRANCISCO danielxavier@bram.bradesco.com.br HUGO RIBAS DA COSTA hugo@bram.bradesco.com.br JOSE LUCIANO DA SILVA COSTA lucianocosta@bram.bradesco.com.br THIAGO NEVES PEREIRA thiagopereira@bram.bradesco.com.br Tel.: 2178-6600 economia@bram.bradesco.com.br Material produzido em 01/07/2016 às 14h00 Outras edições estão disponíveis no Site: www.bradescoasset.com.br, item Informações aos Investidores / Nossa visão / Informativos de Macroeconomia. As opiniões, estimativas e previsões apresentadas neste relatório constituem o nosso julgamento e estão sujeitas a mudanças sem aviso prévio, assim como as perspectivas para os mercados financeiros, que são baseadas nas condições atuais de mercado. Acreditamos que as informações apresentadas aqui são confiáveis, mas não garantimos a sua exatidão e informamos que podem estar apresentadas de maneira resumida. Este material não tem intenção de ser uma oferta ou solicitação de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro. BRAM - Bradesco Asset Management é a empresa responsável pela atividade de administração de recursos de terceiros do Banco Bradesco S.A. BRAM - Bradesco Asset Management - Todos os direitos reservados. 9