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Transcrição:

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR CLEIRE MARIA CARIOCA DA COSTA PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA INDÚSTRIA DE INJEÇÃO PLÁSTICA: O CASO DA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA S.A. PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO: PAULO N FIGUEIREDO VERSÃO FINAL ACEITA DE ACORDO COM O PROJETO APROVADO DATA DA ACEITAÇÃO: ASSINATURA DO PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

II AGRADECIMENTOS A realização deste projeto foi possível porque pude contar com o carinho e apoio de algumas pessoas às quais sou profundamente grata. São elas: - meu filho Lucas Pereira 8 anos - pelo incentivo para que eu prosseguisse, mesmo abdicando do meu tempo a seu lado; - minha família, pelo carinho e apoio; - meu amigo Renato Donaton responsável por minha incursão ao Mestrado; - meus amigos Paulo Bessa e Alessandra Nishikawa, por seu grande auxílio na coleta das evidências empíricas e incentivo para conclusão desta dissertação; - professor Paulo Negreiros Figueiredo, por sua dedicação e persistência em não me deixar desanimar diante das dificuldades; - funcionários da Multibrás da Amazônia S.A, por sua atenção. Especialmente a seus diretores Ulisses Tapajós Neto e Odair Hernandes. Muito obrigada, Cleire Maria Carioca da Costa.

III RESUMO Esta dissertação enfoca o relacionamento existente entre os processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas. Este relacionamento é examinado na empresa Multibrás da Amazônia S.A., durante o período de 1983 a 2000. Trata-se de um empresa do ramo de injeção plástica, fornecedora de componentes plásticos para a indústria de eletro-eletrônica e mecânica. Este estudo permitiu demonstrar a aplicabilidade das estruturas desenvolvidas em Figueiredo (2001) para descrever competências tecnológicas e processos de aprendizagem e concluiu que numa escala de 1 a 6 a Multibrás, atingiu nível 5 de acumulação de competências tecnológicas. Baseado em estudo de caso individual, este estudo mostrou que a maneira e a velocidade de acumulação de competências tecnológicas na empresa estudada estão associadas aos diversos processos usados para adquirir conhecimento tecnológico e convertê-lo em conhecimento organizacional. Por meio do uso de estrutura existente na literatura, porém aplicada a uma indústria diferente de outras de estudos anteriores, esta dissertação sugere que deve existir um esforço organizado, contínuo e integrado para geração e disseminação de conhecimento em toda a empresa a fim de que a acumulação de capacitação tecnológica seja acelerada na empresa.

IV ABSTRACT This resume focus the connection between the learning process and the technological competences evolution. It is based on business case of a plastic injection company named Multibras da Amazonia S/A, that manufacture plastic parts to electro- electronic industry assemblers, the study used the company evolution from 1983 to 2000. Its conclusion allowed to demonstrate, how the theories developed by Figueiredo (2001) can be used to describe the technological competences and the learning process, and on it s scale from 1 to 6 the Multibras case has reached the level 5. Based on the business case, the study confirmed how the technological competences learning process and accumulation is linked to an organizational knowledge. Using the theory basis, but applied to an industry case, different from all the previous studies, this resume shows that it s necessary to have a continuous, organized and integrated effort to generate and develop the knowledge evolution inside the company to make possible the technological competences accumulation on a fast and effective track.

V ÍNDICE Lista de Boxes Lista de Figuras Lista de Gráficos Lista de Tabelas viii viii ix x CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 01 1.1- VISÃO GERAL 01 1.2- QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO 02 1.3- METODOLOGIA 02 1.4- ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 03 CAPÍTULO 2 ANTECEDENTES NA LITERATURA 05 2.1- BREVE REVISÃO DE ESTUDOS EXISTENTES 05 CAPÍTULO 3 ESTRUTURAS ANALÍTICAS 10 3.1- ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA EMPRESA 10 3.1.1- ESTRUTURA PARA DESCRIÇÃO DA ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA EMPRESA 10 3.2- OS PROCESSOS SUBJACENTES DE APRENDIZAGEM NA EMPRESA 14 3.2.1- ESTRUTURA PARA DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 14 CAPÍTULO 4 DESENHO E MÉTODO DA DISSERTAÇÃO 19 4.1- QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO 19 4.2- MÉTODO DA DISSERTAÇÃO 19 4.3- ESTRUTURA DESCRITIVA PARA COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS 20 4.4- TIPOS E FONTES DE INFORMAÇÃO 20 4.4.1- ENTREVISTAS 21 4.4.2- DOCUMENTAÇÃO DA EMPRESA 22 4.4.3- OBSERVAÇÃO DIRETA ÀS INSTALAÇÕES DA EMPRESA 22 4.5- PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS 23 4.5.1- CRITÉRIOS PARA AVALIAR AS CARACTERÍSTICAS CHAVE DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 24

VI CAPÍTULO 5 TRAJETÓRIA DE ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA S.A. DE 1983 A 2000 26 5.1- PROCESSOS E ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO 26 5.1.1- FASE 0 PERÍODO DE 1983 A 1986 26 5.1.2- FASE 1 PERÍODO DE 1987 A 1995 31 5.1.3- FASE 2 PERÍODO DE 1996 A 2000 48 5.2- ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA PRODUTOS 78 5.2.1- FASE 0 PERÍODO DE 1983 A 1986 78 5.2.2- FASE 1 PERÍODO DE 1987 A 1995 79 5.2.3- FASE 2 PERÍODO DE 1996 A 2000 80 CAPÍTULO 6 PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA S.A. 82 6.1- PROCESSOS DE AQUISIÇÃO EXTERNA DE CONHECIMENTO 82 6.1.1- VIAGENS E VISITAS A FEIRAS INTERNACIONAIS 82 6.1.2- EVENTOS, CURSOS DE FORMAÇÃO E TREINAMENTOS ESPECÍFICOS 83 6.1.3- AQUISIÇÃO DE ESPECIALISTAS E CONTRATAÇÃO DE ESTAGIÁRIOS 84 6.1.4- CONTRATAÇÃO DE CONSULTORIAS EXTERNAS 85 6.1.5- VISITAS E INTEGRAÇÃO ENTRE FÁBRICAS 86 6.1.6- AQUISIÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS 87 6.1.7- PROCESSO DE ENGENHARIA SIMULTÂNEA 87 6.2- PROCESSOS DE AQUISIÇÃO INTERNA DE CONHECIMENTO 88 6.2.1- MÉTODO APRENDER FAZENDO 88 6.2.2. GERENCIAMENTO DA ROTINA E ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS 88 6.2.3- EQUIPES EXCLUSIVAS 89 6.2.4- APRIMORAMENTO DE PROCESSOS E PRODUTOS 90 6.3- PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO 90 6.3.1- PROGRAMAS DE TREINAMENTO 90 6.3.2- PROCESSOS DE DISSEMINAÇÃO 91 6.3.3- SEMINÁRIOS 91 6.4- PROCESSOS DE CODIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO 92

VII 6.4.1- MANUAIS E PROCEDIMENTOS 92 6.4.2- SISTEMA DE ENGENHARIA 93 6.4.3- PADRONIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE FABRICAÇÃO 94 6.4.4- REGISTROS DE INFORMAÇÕES DO PROCESSO 95 6.4.5- CARTILHAS E FOLDERES 96 6.5- A RELAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E A ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA S/A 97 CAPÍTULO 7 ANÁLISES E DISCUSSÕES 100 7.1- RESUMO DA ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA S.A (1983-2000) 100 7.1.1- FUNÇÃO PROCESSOS E ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO 103 7.1.2- FUNÇÃO PRODUTOS 104 7.2 O PAPEL DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA S/A 104 7.2.1- VARIEDADE DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 104 7.2.2- INTENSIDADE DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 107 7.2.3- FUNCIONAMENTO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 108 7.2.4- INTERAÇÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 109 7.2.5- RELAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS CHAVE DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM... 111 7.2.6- CONCLUSÃO DA RELAÇÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS 113 CAPÍTULO 8 - CONCLUSÃO 115 8.1 QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO 115 8.1.1- TRAJETÓRIA DE ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS 116 8.1.2- O PAPEL DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM UTILIZADOS NA MULTIBRÁS DA AMAZÔNIA NA ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS 116 8.1.3- O PAPEL DA LIDERANÇA 119 8.1.4- FATORES EXTERNOS 121 8.2 SUGESTÕES PARA DISSERTAÇÕES FUTURAS 122 BIBLIOGRAFIA 123

VIII ANEXOS ANEXO A CERTIFICADO DO SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADO ISO 9002 127 ANEXO B CERTIFICADO DO SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADO ISO 14001 128 ANEXO A CERTIFICADO DO SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADO OHSAS 18001 129 LISTA DE BOXES Box 5.1 Visão Brasmotor 37 Box 5.2 Desenvolvimento de Embalagens Próprias 68 LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 Estrutura Analítica da Dissertação 17 Figura 5.1 Organograma da Empresa no período de 1983 a 1986 28 Figura 5.2 Formulário de Auto-Avaliação do 5S (frente) 44 Figura 5.3 Formulário de Auto-Avaliação do 5S (verso) 45 Figura 5.4 Formulário de Apresentação de Divulgação do Resultado da Auditoria do 5S realizada na Multibrás 46 Figura 5.5 Organograma da Empresa no período de 1987 a 1995 47 Figura 5.6 Estrutura do Planejamento Estratégico da Multibrás 51 Figura 5.7 Modelo de PDCA Utilizado na Multibrás da Amazônia para o Processo do Gerenciamento da Rotina e para Análise e Solução de Problemas 52 Figura 5.8 Fluxo do Processo de Gerenciamento pelas Diretrizes Adotado na Multibrás 53 Figura 5.9 Planilha de Desdobramento pelas Diretrizes Adotado na Multibrás (exemplo da UGB Manufatura ) 54 Figura 5.10 Formulário do Plano de Ação Anual Adotado pela Multibrás no Gerenciamento pelas Diretrizes 55 Figura 5.11 Modelo de Ítem de Controle Adotado pela Multibrás no Gerenciamento pelas Diretrizes 56

IX Figura 5.12 Modelo do Formulário do Plano de Ação Adotado pela Multibrás no Gerenciamento pelas Diretrizes 57 Figura 5.13 Ilustração do Processo Produtivo da Multibrás no Ano 2000 63 Figura 5.14 Folha de Instrução de Trabalho (FIT) Adotada na Multibrás 67 Figura 5.15 Ilustração do Sistema de Entrega JIT/Kanban da Multibrás 69 Figura 5.16 Tela de Monitoramento do Sistema Injet 71 Figura 5.17 Tela do Sistema Injet apresentando o Resumo da Produção 71 Figura 5.18 Tela do Sistema Injet apresentando o Ciclo da Produção 72 Figura 5.19 Tela do Sistema Injet apresentando o Gráfico de Eficiência de Ciclos 72 Figura 5.20 Quadro Demonstrativo do Grau de Cooperação no Desenvolvimento de Novos Produtos Feitos pela Multibrás 73 Figura 5.21 Organograma da Empresa no período de 1995 a 2000 77 Figura 6.2 Quadro de Gestão à Vista 98 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 5.1 Evolução do Market-Share da Multibrás 78

X LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 Estrutura Descritiva das Competências Tecnológicas na Indústria de Injeção Plástica 13 Tabela 3.2 Processos de Aprendizagem em Empresas em Industrialização 16 Tabela 4.1 Relação dos Funcionários Participantes das Entrevistas Estruturadas 21 Tabela 6.1 Horas de Treinamento por Colaborador na Multibrás 96 Tabela 7.1 - Taxa de Acumulação de Competências Tecnológicas para a Multibrás da Amazônia S.A. ( 1983 2000 ) 102 Tabela 7.2 Variedade dos Processos de Aprendizagem na Multibrás 106 Tabela 7.3 Intensidade dos Processos de Aprendizagem na Multibrás 107 Tabela 7.4 Funcionamento dos Processos de Aprendizagem na Multibrás 108 Tabela 7.5 Interação dos Processos de Aprendizagem na Multibrás 110 Tabela 7.6 Relação entre as características chave dos Processos de Aprendizagem na Multibrás 112

1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 VISÃO GERAL Esta dissertação enfoca o relacionamento existente entre os processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas. Este relacionamento é examinado na empresa Multibrás da Amazônia S.A., durante o período de 1983 a 2000. Trata-se de um empresa do ramo de injeção plástica, fornecedora de componentes plásticos para a indústria eletro-eletrônica e mecânica. Em outras palavras, a dissertação examina as implicações dos processos subjacentes de aprendizagem tecnológica para a acumulação de competências tecnológicas na empresa em estudo. A dissertação enfoca a acumulação de competências para duas funções tecnológicas: processo e organização da produção e, produtos. Os processos de aprendizagem são examinados à luz de quatro características chave: variedade, intensidade, funcionamento e interação, a partir do uso de estrutura de análise existente na literatura. A acumulação de competências tecnológicas é fator crítico para a performance competitiva de empresas. Esse fator é mais crítico para empresas atuantes em economias em industrialização. Empresas em industrialização são empresas industriais que atuam em economias de industrialização recente, ou em desenvolvimento. Elas têm que adquirir conhecimentos para construir e acumular suas próprias competências tecnológicas (Bell,1993; Figueiredo, 2001) Competências tecnológicas nesta dissertação são definidas como os recursos necessários para gerar e administrar melhorias em processos, produtos, organização da produção, equipamentos e projetos de engenharia. Esses recursos são acumulados e incorporados em indivíduos (habilidades, conhecimento tácito) e sistemas organizacionais(bell & Pavitt, 1995). Para construir e acumular competências tecnológicas, empresas em industrialização precisam engajar-se em vários processos de aprendizagem (Figueiredo,2001). Nesta dissertação, Processo de Aprendizagem é definido como sendo os vários processos pelos quais conhecimento é adquirido por indivíduos e convertido para o nível

2 organizacional, em outras palavras, são os processos pelos quais a aprendizagem individual é convertida em aprendizagem organizacional. Os processos de aprendizagem permitem às empresas acumular competências tecnológicas ao longo do tempo (Figueiredo,2001). 1.2 QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação está estruturada para responder a duas questões: (i) (ii) Como evoluiu a acumulação de competências tecnológicas em processos e organização da produção e produtos na Multibrás da Amazônia, durante o período de 1983 a 2000? Qual o papel dos processos de aprendizagem utilizados na Multibrás da Amazônia na acumulação de competências tecnológicas no período de 1983 a 2000? 1.3 METODOLOGIA Neste estudo, para respondermos às questões da dissertação, o método escolhido foi o de estudo de caso individual, pois as questões estão associadas com situações operacionais da empresa em estudo, necessitando serem observadas durante determinado período. E este modelo de estudo de caso é mais apropriado para estudos em questões de como e por que (Yin,1994), como é o caso desta dissertação. A dissertação faz uso de evidências empíricas primárias, predominantemente qualitativas, colhidas por meio de diferentes fontes de informação, como por exemplo: levantamento histórico de dados junto à documentação da empresa (relatórios, material de treinamento, entre outros documentos), aplicação de questionários, entrevistas com os funcionários da empresa e por observação direta, sendo que estes dados foram consultados em conjunto com o intuito de verificar uma convergência das informações. A Multibrás da Amazônia está instalada no Distrito Industrial Marechal Castelo Branco, na Zona Franca de Manaus. Tem como atividade a fabricação de peças plásticas injetadas destinadas ao pólo da indústria eletroeletrônica, duas rodas e telefonia.

3 A escolha da Multibrás deve-se ao fato desta empresa operar em um ambiente extremamente dinâmico, que depende totalmente da programação de produção de seus clientes para se programar. Para isso, deve ser flexível, a fim de atender às entregas no prazo e na quantidade requeridos. A Multibrás é líder no mercado de plásticos na região norte do Brasil, oferecendo um rico reservatório de evidências empíricas, no que se refere aos processos de aprendizagem e recursos tecnológicos utilizados. Para descrever e classificar as competências tecnológicas da Multibrás, foi utilizada a estrutura apresentada por Figueiredo (2001), adaptada de Lall (1992) e Bell & Pavitt (1995), e adaptada para descrever acumulação de competências tecnológicas na indústria de injeção plástica. Esta estrutura distingue competências de rotina e competências inovadoras por meio de funções tecnológicas distintas. Os processos de aprendizagem foram analisados conforme a estrutura analítica desenvolvida em Figueiredo (2001). 1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO A dissertação está estruturada em oito capítulos, como segue: Capítulo 1 Neste capítulo serão apresentadas as questões da dissertação, os objetivos do trabalho, os procedimentos metodológicos e, onde a pesquisa será realizada. Capítulo 2 Neste capítulo será apresentado um breve resumo sobre os estudos existentes sobre as referidas questões. Capítulo 3 Neste capítulo será apresentada a estrutura analítica a ser utilizada no estudo das trajetórias de acumulação de competências e, os processos de aprendizagem na Multibrás da Amazônia S.A / AM. Capítulo 4 Neste capítulo será apresentado o desenho e o método da dissertação. Capítulo 5 Neste capítulo serão apresentadas as evidências empíricas coletadas na Multibrás da Amazônia S.A, no que se refere à descrição das trajetórias de acumulação de competências. Capítulo 6 Neste capítulo serão apresentadas as evidências empíricas coletadas na Multibrás da Amazônia S.A, no que se refere aos processos de aprendizagem.

4 Capítulo 7 Neste capítulo será apresentada a análise dos dados coletados e explorado o papel dos processos de aprendizagem e a trajetória de acumulação de competências tecnológicas na Multibrás da Amazônia S.A. Capítulo 8 Neste capítulo serão apresentados os resultados finais da pesquisa e sugestões para dissertações futuras.

5 CAPÍTULO 2 - ANTECEDENTES NA LITERATURA O objetivo deste capítulo é fazer uma breve revisão de estudos existentes sobre acumulação de competências tecnológicas e processos de aprendizagem, à luz de Dutrenit (2000), Kim (1995,1997) e Figueiredo (2001). 2.1 BREVE REVISÃO DE ESTUDOS EXISTENTES A partir do início dos anos 70, a pesquisa em tecnologia em países em desenvolvimento adotou uma perspectiva dinâmica. A nova abordagem começou a enfocar mudanças ao longo do tempo na tecnologia e como as empresas conseguiam fazer tais mudanças (Stewart e James,1982). Esses estudos deram grande atenção às mudanças ao longo do tempo nas dimensões técnicas da competência tecnológica. Na América Latina, em particular, grande parte dos estudos foram implementados sob o Programa de Pesquisa em Ciência e Tecnologia (Cepal/BID/IDRC/Pnud), alguns deles sumariados em Katz (1987). A maioria dos estudos realizados na Ásia, foram implementados sob o projeto de pesquisa do Banco Mundial Aquisição de Competência Tecnológica, mais tarde sumariado em World Development (1984). Na África, alguns poucos estudos foram implementados (Mlawa,1983). Na América Latina, a questão da competência tecnológica em plantas siderúrgicas recebeu atenção considerável nos anos 70. Alguns daqueles estudos também sugeriram que as diferentes intensidades de esforços inovadores domésticos foram associados a diferentes tipos de performance operacional. O mérito desses estudos foi ter revelado a significância dos compromissos domésticos para os processos de geração de conhecimento técnico para criar as competências técnicas próprias (Katz, 1987). Também ilustraram que a acumulação de competências tecnológicas é pelo menos uma condição necessária para a mudança em processos, produtos e equipamentos, especialmente no longo prazo (Bell,1984). Entretanto, como se trataram de estudos em fábricas individuais não desenvolveram uma análise comparativa da trajetória de competências tecnológicas naquelas fábricas.

6 Explorou-se os mecanismos, os processos subjacentes de aprendizagem. Porém, limitaram-se aos processos de aquisição de conhecimento e não foram explorados os processos de conversão de conhecimento, quando a aprendizagem individual é convertida em aprendizagem organizacional. A partir do final dos anos 80, companhias manufatureiras em países em desenvolvimento, particularmente na América Latina, começaram a enfrentar as pressões da competição externa, como conseqüência da abertura do mercado até então protegido e do fim da política de substituições de importação. Mudanças na organização da produção, baseadas naqueles novos conceitos, foram então estudadas como parte desse processo de reestruturação (Humphrey, 1995). Esse novo conjunto de estudos baseou-se fortemente nos princípios de Just-in-Time (JIT), Total Quality Control and Management (TQC/M) e aprimoramento contínuo (Humphrey, 1993; Kaplinsky, 1994; Humphrey, 1995; Bessant e Kaplinsky, 1995). Eles exploraram como esses princípios foram introduzidos dentro de empresas. Um outro subconjunto de estudos enfocou a adoção de princípios como JIT e TQC/M e técnicas como Materials Requirement and Planning (MRP) 1, em torno de tecnologias de Computer Aided Design (CAD) e Computer Aided Manufacturing (CAM). Estes estudos destacaram a importância de mudanças nas dimensões organizacionais da produção, para a empresa alcançar ganhos substanciais (Hoffman,1989), ou mesmo em dimensões mais amplas, como a social (Meyer-Stamer et allii, 1991). No entanto, estes estudos de meados dos anos 80, trataram as práticas organizacionais como técnicas dadas e raramente mencionaram a palavra conhecimento ou a expressão mecanismos de aprendizagem, como fizeram alguns estudos dos anos 70. A partir do início dos anos 90, a literatura de empresas em industrialização começou a dar maior atenção as dimensões organizacionais e gerenciais das competências tecnológicas, 1 O MRP (Material Requeriment Plannning) surgiu nos anos 70 como uma técnica destinada ao planejamento das necessidades de materiais, com o objetivo de garantir o fluxo de abastecimento de insumos, aliados a um baixo nível de estoques. Já nos anos oitenta, teve uma mudança conceitual, passando a ser mais abrangente, considerando o planejamento de todos os recursos para manufatura, isto porque a administração dos estoques é, também, impactada pela produtividade, sendo necessário identificar premissas e prover recursos. Passou a ser conhecido então como MRP II(Manufacturing Resource Planning). Atualmente, alguns autores chamam de MRP III a uma combinação, adotada a partir dos anos 90, do MRP II com o Just in Time. A mudança é sutil, porém significativa, o MRP II direciona a produção conforme o plano, o MRP III direciona a produção ao consumo real, no MRP III a produção é autorizada através do consumo de uma produção anterior.

7 mecanismos de aprendizagem e implicações para performance, numa perspectiva mais ampla se comparada com os estudos dos anos 70 e 80. Tiralap (1990) observou na indústria eletrônica da Tailândia, que firmas em que a gerência/dono percebia a mudança tecnológica como essencial para o crescimento dos negócios, e a habilidade e conhecimentos dos operadores como necessários para a geração de mudança tecnológica, alcançaram desempenhos técnicos e de negócios melhores do que aquelas em que se percebia o contrário. Investigando a associação entre competência tecnológica e performance estratégica em duas empresas de aço no Brasil, o estudo de Piccinini (1993) concluiu que a empresa que acumulou dinamicamente competência tecnológica fazendo uso de fluxos interativos de conhecimento teve uma melhor performance energética do que aquela que não o fez. Estudando uma empresa de metais na Jamaica, Girvan e Marcelle (1990) observaram que a acumulação de competência tecnológica da empresa foi influenciada pela liderança corporativa e o compromisso com práticas de aquisição de conhecimento (treinamento no exterior, assistência técnica estrangeira, etc). O estudo mostrou o papel da liderança corporativa em influenciar a construção de competências tecnológicas. Porém, não foi considerado o fato de a liderança poder também limitar os esforços em acumulação de competência tecnológica. Tremblay (1994) desenvolveu uma análise comparativa das dimensões organizacionais numa amostra de fábricas de celulose e papel na Índia e no Canadá, associadas à sua performance ao longo do tempo. O estudo, contemplou entre outras as seguintes dimensões organizacionais: motivação e o compromisso com a mudança, a liderança corporativa, o processo decisório, o controle e os canais de comunicação, o fluxo de informação, o tipo de hierarquia e a atitude gerencial. Este estudo não reconstruiu a trajetória de acumulação de competências tecnológicas seguida por aquelas firmas e também não explorou os processos subjacentes de aprendizagem. Hobday (1995) descreveu as trajetórias seguidas por um conjunto de empresas de eletrônica no Sudeste asiático. O estudo de Hobday, foi influenciado pela literatura de marketing em países de industrialização recente (Wortzel & Wortzel,1981, por exemplo). Este estudo gerou ricas evidências sobre as características das trajetórias de acumulação de competências tecnológicas.

8 Ariffin e Bell (1996) encontraram diversas trajetórias associadas a diferentes tipos de links entre subsidiária e matriz em firmas da área eletrônica na Malásia. O estudo deu grande atenção à evolução das competências tecnológicas rotineiras e inovadoras, utilizando para tanto, uma estrutura desenvolvida em Bell e Pavit (1995). O estudo também deu atenção ao papel dos mecanismos de aprendizagem construídos em cada firma, a fim de adquirir conhecimento para a acumulação de competências tecnológicas. Baseando-se em estudos de caso individuais, Kim examinou as trajetórias bem-sucedidas de acumulação de competências tecnológicas e analisou a importância, para aquelas trajetórias, dos processos de conversão de aprendizagem individual em aprendizagem organizacional. Dutrénit (1998) enfocou as limitações em criar uma base de conhecimento coerente para desenvolver competências tecnológicas estratégicas no longo prazo. Este estudo argumentou que os processos de aprendizagem intrafirma tiveram um papel crucial na trajetória de acumulação de competência tecnológica da empresa. Figueiredo (1999) pesquisou no Brasil em termos de relacionamento entre trajetórias de acumulação de competências tecnológicas e os processos subjacentes de aprendizagem, duas empresas de aço, uma automobilística e outra de equipamentos de telecomunicações. Estudou mais detalhadamente as questões ao longo da existência das empresas. O estudo foi mais aprofundado para as empresas de aço, por meio de evidências empíricas coletadas em trabalho de campo. Neste estudo as empresas em questão são: USIMINAS (Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A) e CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). A pesquisa encontrou que as diferenças nas trajetórias das duas empresas de aço estão fortemente associadas às diferenças nos seus processos de aprendizagem. A experiência da USIMINAS sugere que CSN poderia ter acumulado níveis mais profundos de competências tecnológicas inovadoras no período dos anos de 1940s a 1980s se os seus processos de aprendizagem tivessem características similares àqueles da USIMINAS. No Brasil, estudos que abordam essas questões dentro de empresas ainda são raros, e principalmente na indústria de injeção plástica são inexistentes. Portanto, essa dissertação embora utilize estruturas analíticas existentes na literatura, enfocará um tipo de indústria

9 cujo relacionamento entre processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas ainda não foi examinada em estudos anteriores, em outras palavras, esta dissertação fará uso de estruturas existentes na literatura, para enforcar o relacionamento entre processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas na indústria de injeção plástica, em particular na Multibrás da Amazônia S.A. Mas, especificamente, esta dissertação fará uso das estruturas desenvolvidas em Figueiredo (2001), para examinar a relação entre processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas. Além disso a dissertação confirmará a aplicabilidade empírica das estruturas desenvolvidas em estudos anteriores particularmente na indústria de injeção plástica. Adicionalmente, contribuirá para incitar novas evidências e explicações verificando até que ponto os processos de aprendizagem estão relacionados à acumulação de competências tecnológicas, em uma firma de componentes plásticos, e: (i) confirmar a aplicabilidade empírica das estruturas analíticas desenvolvidas em estudos anteriores, principalmente (Figueiredo, 2001); e (ii) acumular novas evidências e explicações que serviriam para gerar recomendações práticas para empresas de indústria de plástico no Brasil, contribuindo assim na geração de estratégias para acelerar suas taxas de acumulação de competências tecnológicas inovadoras.

10 CAPÍTULO 3 ESTRUTURAS ANALÍTICAS O objetivo deste capítulo é apresentar as estruturas analíticas, à luz das quais será examinado o relacionamento entre acumulação de competências tecnológicas e os processos subjacentes de aprendizagem na empresa em estudo. O capítulo está organizado em duas seções. A seção 3.1 apresenta a estrutura de análise das competências tecnológicas e seção 3.2 apresenta a estrutura para os processos de aprendizagem. 3.1 ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA EMPRESA Competências tecnológicas, nesta dissertação, são definidas como os recursos necessários para gerar e administrar melhorias em processos, produtos, organização da produção, equipamentos e projetos de engenharia. Esses recursos são acumulados e incorporados em indivíduos (habilidades, conhecimento tácito) e sistemas organizacionais(bell & Pavitt, 1995). A acumulação de competências tecnológicas é fator crítico para a performance competitiva de empresas, este fator é ainda mais crítico para empresas em economias em industrialização. Ao iniciar suas operações, esse tipo de empresa carece até mesmo de competências tecnológicas básicas. Para competir globalmente, sua performance operacional deve ser aprimorada a uma taxa mais rápida do que a das empresas de fronteira tecnológica (Figueiredo, 2001). Nesta dissertação, a taxa de acumulação de competências tecnológicas é definida como o número de anos que a empresa leva para mudar de nível de competência tecnológica, por exemplo: passar do nível um para o nível dois. 3.1.1 ESTRUTURA PARA DESCRIÇÃO DA ACUMULAÇÃO DE COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS NA EMPRESA Para descrever e classificar as competências tecnológicas será utilizada a estrutura apresentada por Figueiredo (2001), adaptada de Lall (1992) e Bell & Pavitt (1995), cuja estrutura será adaptada para descrever acumulação de competências tecnológicas na

11 indústria de injeção plástica. Esta estrutura distingue competências de rotina e competências inovadoras por meio de funções tecnológicas distintas. Em Figueiredo (2001), competências de rotina são competências tecnológicas para fazer atividades a determinados níveis de eficiência (habilidades, conhecimentos e sistemas organizacionais para usar tecnologia) e competências inovadoras são as competências tecnológicas para criar ou aprimorar produtos e processos (habilidades, conhecimento e sistemas organizacionais para mudar tecnologia). Esta estrutura foi adaptada, nesta dissertação, ao tipo de indústria onde opera a Multibrás da Amazônia S.A. conforme a tabela 3.1. As colunas desta tabela apresentam as duas funções tecnológicas e atividades relacionadas, e as linhas apresentam os seis níveis de acumulação de competência para as empresas do setor analisado. As funções tecnológicas são: processos e organização da produção; e produtos. As linhas da tabela 3.1 apresentam as classes de atividades, que são divididas em: atividades de rotina e inovadoras. Totalizam seis níveis de competências, os quais serão explicados resumidamente abaixo: Nesta dissertação as competências de rotina são subdivididas em dois níveis, que são: (1) Nível de competência tecnológica básica: a empresa encontra-se neste nível, quando executa atividades apenas para operacionalizar a planta, ou seja, no início de suas atividades. Como por exemplo: instalação de uma nova planta, na qual todas as atividades já estão peremptoriamente definidas, sem autonomia para quaisquer modificações. (2) Nível de competência tecnológica renovada: neste nível a empresa ainda realiza apenas operacionalização da planta, mas já busca evoluir, como por exemplo com obtenção de certificados. As competências inovadoras estão subdivididas em 4 níveis, conforme descrito a seguir:

12 (3) Nível de competência tecnológica pré-intermediária: neste nível a empresa, além de realizar pequenas adaptações, também possui controle da planta, podendo reestruturar processos de trabalho. (4) Nível de competência tecnológica intermediária: neste nível a empresa está apta a implementar novas tecnologias, assistida por terceiros, ou seja, a mesma pode realizar, conjuntamente com um terceiro, por exemplo, a alimentação de matéria-prima à vácuo direto do container. (5) Nível de competência tecnológica intermediária superior: neste nível a empresa está envolvendo-se em contínuos esforços de automação da fábrica, emprego de robótica nas linhas produtivas. Por exemplo, o emprego de robôs de pintura substituindo pintores. (6) Nível de competência tecnológica avançada: neste nível a empresa passa a também participar ativamente do desenvolvimento de novos processos, via P&D. Um exemplo seria a empresa realizar o desenvolvimento de uma nova sistemática de organização da produção, por meio de P&D.

13 Tabela 3.1: Estrutura Descritiva das Competências Tecnológicas na Indústria de Injeção Plástica Níveis de Processo e Competências Organização da Tecnológicas Produção Produto Competências de Rotina Básica Coordenação de rotinas na planta; Injeção de peças plásticas simples (ex. (1) capacidade da planta sub-utilizada; peças plásticas para uso doméstico: inventários anuais baldes,banheiras, etc) Renovado Absorção da capacidade da planta; Injeção, pintura e serigrafia de peças (2) implantação de ISO 9000; plásticas inventários rotativos Competências Inovadoras Pré- Criação de células de trabalho, Injeção, pintura serigrafia e Intermediário unificando as operações de injeção e montagem de peças plásticas (3) acabamento no mesmo local; eliminação de estoques intermediários. Intermediário Estabelecimento de rotinas de processos; Acabamento e tratamento de peças (4) introdução da alimentação de matéria- e adição de outros componentes de prima à vácuo, diretamente do container; terceiros; aprimoramento sistemático aumento sistemático da capacidade de em especificações dadas produção; introdução de novas técnicas (envolvimento em desenhos de organizacionais (Kanban, Just-in-time) moldes) Superior Sistemas automatizados para monitora- Aprimoramento sistemático de (5) mento on-line da produção; Integração especificações próprias, envolvendo de sistemas automatizados de processos materiais utilizados e embalagens e PCP; Internalização/Rotinização em desenvolvimento completo de produto JIT/Kanban próprio (ex. telha de plástico) desenvolvimento de fornecedores. Avançada Produção de classe mundial; desenho P&D para desenvolvimento de (6) e desenvolvimento de novos processos; moldes; produtos de injeção de baseados em engenharia e P&D; precisão. desenvolvimento e implantação de novo sistema de gestão (SGI); injeção de precisão Fonte: adaptado de Figueiredo (2001)

14 3.2 OS PROCESSOS SUBJACENTES DE APRENDIZAGEM NA EMPRESA Nesta dissertação, processos de aprendizagem são definidos como sendo os vários processos pelos quais conhecimento é adquirido por indivíduos e convertido para o nível organizacional. Em outras palavras, são os processos pelos quais a aprendizagem individual é convertida em aprendizagem organizacional. Os processos de aprendizagem permitem às empresas acumular competências tecnológicas ao longo do tempo (Figueiredo, 2001). Os processos de aprendizagem, conforme Nonaka e Takeuchi (1995), iniciam-se a partir do conhecimento do indivíduo, que o transfere para o grupo, setor e para a organização, essa transferência se realiza por meio de conversão de conhecimentos. Essa conversão se dá de quatro maneiras: conversão de conhecimento tácito para tácito (socialização do conhecimento), conversão de conhecimento tácito para explícito (externalização do conhecimento), conversão de conhecimento explícito para explícito (combinação do conhecimento) e, conversão de conhecimento explícito para conhecimento tácito (internalização do conhecimento). Para Argyris (1999), os responsáveis pela aprendizagem organizacional são os indivíduos, pois estes é que possuem a capacidade ou a competência para fazer algo. 3.2.1 ESTRUTURA PARA DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM Os processos de aprendizagem serão analisados, conforme a estrutura analítica desenvolvida em Figueiredo (2001), indicada na tabela 3.2. As linhas dispõem os quatro processos de aprendizagem e as colunas, as quatro características chave dos processos de aprendizagem. A estrutura identifica quatro processos de aprendizagem em: (i) os processos de aquisição externa de conhecimento; (ii) os processos de aquisição interna de conhecimento; (iii) os processos de socialização de conhecimento; e (iv) os processos de codificação de conhecimento. Apresenta-se abaixo uma breve definição de cada processo de aprendizagem (Figueiredo, 2001): (i) Processos de aquisição externa de conhecimento são os processos, através dos quais, os indivíduos adquirem conhecimento tácito e/ou codificado de fora da empresa. Por exemplo: uso de assistência técnica, treinamento no exterior.

15 (ii) (iii) (iv) Processos de aquisição interna de conhecimento são os processos pelos quais os indivíduos adquirem conhecimento fazendo diferentes atividades dentro da empresa. Por exemplo: aprender-fazendo atividade de rotinas diárias. Processos de socialização de conhecimento são os processos pelos quais indivíduos partilham seu conhecimento tácito (modelos mentais e habilidades técnicas). Por exemplo: construção de times de excelência (grupos de trabalho), transferência de conhecimentos de colaborador para colaborador - treinamentos. Processos de codificação de conhecimento são os processos pelos quais o conhecimento tácito dos indivíduos ( ou parte dele) se transforma em explícito, tornando-se fácil de entender e possibilitando sua disseminação para a empresa, como exemplo: padronização de rotinas, elaboração de procedimentos. Esses processos de aprendizagem são examinados à luz de quatro características chave, conforme definidas abaixo (Figueiredo, 2001): (i) (ii) Variedade é definida aqui como a presença de diferentes processos de aprendizagem dentro da empresa. A variedade é avaliada aqui em termos de presença/ausência de um processo inteiro (ex.: processo de codificação de conhecimento) e os sub-processos que ele pode conter (ex.: a atualização de padrões operacionais básicos, codificação de desenhos de projetos). Intensidade é definida aqui como a repetibilidade através do tempo na criação, atualização, uso, aprimoramento e/ou fortalecimento dos processos de aprendizagem. A intensidade é importante porque: (i) ela pode assegurar um fluxo constante de conhecimento externo para a empresa; (ii) ela pode levar a um maior entendimento da tecnologia adquirida e de seus princípios; e (iii) ela pode assegurar uma conversão constante da aprendizagem individual para aprendizagem organizacional contribuindo para rotinizá-la. Esta caraterística apresenta-se sob três aspectos: uma vez, intermitente e contínua.

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17 (iv) Funcionamento é definido aqui como o modo pelo qual os processos de aprendizagem operam ao longo do tempo. Embora a intensidade possa ser contínua, o funcionamento dos processos pode ser insuficiente. Em outras palavras, embora alguns processos de aprendizagem possam começar com um bom funcionamento, este pode deteriorar-se ao longo do tempo. Funcionamento pode contribuir para fortalecer e/ou atenuar variedade e intensidade. Esta característica apresenta-se sob quatro aspectos: fraco, moderado, bom ou excelente. (v) Interação significa o modo pelo qual os processos de aprendizagem influenciam um ao outro. Por exemplo, um processo de socialização de conhecimento (ex. programa interno de treinamento) pode ser influenciado por um processo de aquisição externa de conhecimento (ex. treinamento no exterior). Esta característica apresenta-se sob três aspectos: fraca, moderada ou forte. Esta estrutura analítica básica, será usada nesta dissertação para examinar até que ponto os processos de aprendizagem influenciam a acumulação de competências tecnológicas na empresa em estudo. Figura 3.1 Estrutura analítica da dissertação. Processos/ Mecanismos/ Práticas de Aprendizagem Acumulação de Competências Tecnológicas Fonte: Adaptado de Figueiredo (2001) Esta dissertação reconhece, que a acumulação de competências tecnológicas numa empresa pode ser afetada por diversos fatores, inclusive fatores externos à empresa, como políticas governamentais, macroeconômicas, tecnológicas e industriais (Lall, 1987, 1992; Bell & Pavitt, 1993). Também reconhece que os processos de aprendizagem podem ser

18 influenciados por características da empresa, por exemplo, o comportamento da liderança e as crenças e normas da empresa (Argyris e Schön, 1978; Senge 1990). Todavia, os fatores externos e comportamento da liderança estão além do escopo desta dissertação e serão abordadas aqui apenas superficialmente.

19 CAPÍTULO 4 - DESENHO E MÉTODO DA DISSERTAÇÃO Este capítulo apresenta o desenho e o método empregado nesta dissertação. A seção 4.1 apresenta as questões da dissertação, a seção 4.2 apresenta o método utilizado nesta dissertação, a seção 4.3 apresenta a estrutura descritiva para competências tecnológicas, a seção 4.4 demonstra os tipos e fontes de informação e, a seção 4.5 apresenta o procedimento para análise dos dados. 4.1 QUESTÕES DA DISSERTAÇÃO (i) Como evoluiu a acumulação de competências tecnológicas em processos e organização da produção e produtos na Multibrás da Amazônia, durante o período de 1983 a 2000? (ii) Qual o papel dos processos de aprendizagem utilizados na Multibrás da Amazônia na acumulação de competências tecnológicas no período de 1983 à 2000? 4.2 MÉTODO DA DISSERTAÇÃO Para responder às questões da dissertação, a metodologia escolhida é estudo de caso individual (Yin,1994), através de entrevista e pesquisa documental. Pois as questões de processos de aprendizagem e acumulação de competências tecnológicas estão relacionadas com situações vivenciadas no dia-a-dia da empresa necessitando ser observadas durante determinado período, resgatando informações relevantes às questões estudadas. A unidade de análise são as trajetórias de acumulação de competências tecnológicas na fábrica da Multibrás da Amazônia. Em outras palavras, a unidade de análise, aqui, é aquilo que a dissertação quer explicar (Yin, 1994).

20 4.3 ESTRUTURA DESCRITIVA PARA COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS Nesta dissertação para descrever e classificar as competências tecnológicas, será utilizada a estrutura apresentada por Figueiredo (2001), adaptada de Lall (1992) e Bell & Pavitt (1995). Contudo, esta estrutura foi adaptada para descrever acumulação de competências tecnológicas na indústria de injeção plástica (tabela 3.1). Nessa estrutura estão distinguidas competências de rotina e inovadoras, através de duas funções tecnológicas em estudo processos e organização da produção e produtos. Para adaptar esta estrutura, foi realizada entrevista piloto com o superintendente da Multibrás, que é o funcionário mais antigo com 23 anos de empresa (5 anos de Hévea e 18 de Multibrás), verificando as atividades desenvolvidas na empresa e classificando-as em atividades de rotina ou atividades inovadoras. Estas atividades foram acompanhadas in loco, por este autor, ao longo de 30 dias, com auxílio de técnicos especialistas da empresa como mecânicos, ferramenteiros, e técnicos em plástico, o que reforçou e validou o levantamento de dados realizado na entrevista piloto anteriormente realizada. Estas atividades, também foram organizadas nas duas funções tecnológicas em estudo, possibilitando a adaptação da estrutura proposta por Figueiredo (2001) para a indústria de injeção plástica. 4.4 TIPOS E FONTES DE INFORMAÇÃO A fim de responder as duas questões da dissertação, foram necessárias informações primárias, preponderantemente qualitativas, dos seguintes tipos: (1) em relação às trajetórias de acumulação de competências tecnológicas foram necessárias informações relativas às atividades de processo e organização da produção e, produtos. Estas informações estavam ligadas principalmente com a capacidade da empresa em usar, adaptar e/ou mudar a tecnologia empregada. Foram realizadas entrevistas, observação direta das instalações da fábrica e a documentação da empresa; e (2) para os processos de aprendizagem foi necessária a coleta de informações detalhadas, relacionadas aos quatro processos de aprendizagem, verificando suas características chave e mecanismos ao longo do tempo estudado. Para isso, foram realizadas

21 entrevistas com funcionários da empresa, consulta à documentação da empresa (manuais de treinamento, lista de freqüência em treinamentos e outros). Os dados foram coletados em três fontes: entrevistas (seção 4.4.1), documentação da empresa (seção 4.4.2) e observação direta (seção 4.4.3). 4.4.1 ENTREVISTAS Para realizar a entrevista, foi utilizada uma amostra de 12 funcionários, desde os mais antigos até os recém contratados, passando por vários níveis hierárquicos, de diversas áreas como: Financeiro, Informática, Manufatura, Qualidade, Ferramentaria e Engenharia, conforme demonstrado na tabela 4.1. Essas entrevistas visaram coletar informações relativas aos processos de aprendizagem e aprimoramento da capacidade tecnológica da empresa durante o período de 1983 a 2000, fazendo uso de questionários e posterior tabulação dos dados obtidos e analisados à luz da tabela 3.1 para competências tecnológicas e à luz da tabela 3.2 para processos de aprendizagem. Ainda que a amostra tenha sido pequena, procurou-se entrevistar funcionários representantes das diversas áreas da empresa e repetidas vezes de forma a se obter dados suficientes para a realização desta dissertação. Tabela 4.1 Relação de Funcionários Participantes das Entrevistas Estruturadas Participantes Entrevistas das Quantidade Gerentes 4 Engenheiros 2 Técnicos 1 Coordenadores 3 Operários 2 Total 12 Fonte: Derivado do trabalho de campo para a dissertação Além destas entrevistas, tiveram papel fundamental as informações fornecidas pelo Superintendente da Multibrás, Sr. Ulisses Tapajós Neto, que é o funcionário mais antigo

22 da empresa e acompanhou toda a sua evolução desde Hévea da Amazônia em 1978, quando então exercia a função de engenheiro químico, e participou das instalações da planta da fábrica. É relevante também destacar a experiência deste autor que é funcionário da empresa há 12 anos. 4.4.2 DOCUMENTAÇÃO DA EMPRESA Outro recurso utilizado para coleta de evidências foi a análise da documentação da empresa, tais como procedimentos, registros de qualidade, material de treinamento, instruções de trabalho, entre outros documentos. Esta documentação corrobora as informações coletadas pelas entrevistas, e pela observação direta. Para a acumulação de competências tecnológicas e processos de aprendizagem, estes documentos serviram de objeto de estudo, podendo demonstrar a evolução da empresa no período em questão (1983-2000). Para os processos de aprendizagem, foram pesquisados dados referentes à quantidade e forma dos treinamentos realizados ao longo de 1983-2000, buscando verificar o funcionamento, variedade, intensidade e interação dos mecanismos de aprendizagem empregados pela empresa, tais como: os programas e cronogramas de treinamento interno para os funcionários, realização de cursos externos, descrição de visitas e feiras técnicas, material utilizado para treinamento dos funcionários, e outros documentos. Para verificar a trajetória de acumulação de competências tecnológicas, foram verificados registros de qualidade, instruções detalhadas de trabalho, lista dos ativos da empresa, pesquisas de mercado, e outros documentos. 4.4.3 OBSERVAÇÃO DIRETA ÀS INSTALAÇÕES DA EMPRESA Também foi realizada observação direta das atividades, o que também contribuiu para confirmar as informações coletadas por meio dos questionários e das entrevistas, permitindo principalmente o acompanhamento da utilização dos recursos tecnológicos (máquinas, equipamentos, modelos de gestão) e transferência de conhecimentos entre as pessoas diretamente ligadas às atividades produtivas e de apoio dos diversos setores (ferramentaria, produção, manutenção, qualidade, PCPM, financeiro, suprimentos, e outros).

23 Nesta atividade, foram realizadas visitas aos postos de trabalho, conhecendo a operação das células de produção, que inclui os processo de injeção e acabamento, podendo ser visualizada a operação automatizada de pintura, a aplicação da documentação técnica referente aos processos de manufatura, bem como as formas de monitoramento. Acompanhando o processo, foi possível também observar a forma de execução das tarefas e a forma de interação entre as áreas diretamente ligadas à produção, observando a transferência de conhecimentos. Nas visitas às áreas de apoio, foi observada a forma de aplicação do modelo de gestão, seu acompanhamento e controle foram vistos, as operações de manuseio e métodos de controle e armazenagem nos almoxarifados, a estrutura e metodologia da atividade de planejamento e controle de produção, dentre outras observações. Cabe destacar que o fato do autor desta dissertação ser funcionário da empresa facilitou em muito esta etapa, permitindo visitas e observações direcionadas, conforme a necessidade para o desenvolvimento do estudo. 4.5 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS Referente às trajetórias de acumulação de competências tecnológicas, primeiramente as informações obtidas nas entrevistas e das outras fontes de informação foram agrupadas em tabelas analíticas, uma para cada função tecnológica em estudo. As linhas apresentam as atividades e habilidades existentes na empresa, onde foram separadas as atividades segundo a capacidade da empresa em apenas usar a tecnologia (rotina), e para modificar a tecnologia (inovadoras), à luz da tabela 3.1. As colunas apresentam o período de tempo (anos), e estão divididas em dois períodos: década de 80 e década de 90. Estas tabelas foram empregadas como base para a descrição cronológica da trajetória de acumulação das competências tecnológicas para as duas funções estudadas, à luz da tabela 3.1, conforme apresentado no capítulo 5. Para os processos de aprendizagem, após tabulação das informações coletadas e observadas, foram elaboradas quatro tabelas, em que foram descritos os processos de aprendizagem existentes na empresa em estudo desde sua implantação, e a variação de suas características chave ao longo do período de estudo, conforme descrito no capítulo 6.