O desenvolvimento cognitivo da criança. A epistemologia genética de Jean Piaget

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Transcrição:

O desenvolvimento cognitivo da criança. A epistemologia genética de Jean Piaget

Epistemologia Genética Epistemologia genética Teoria sobre a gênese e do desenvolvimento cognitivo da criança (em específico, o processo de formação do conhecimento humano). (...) é a busca do entendimento de como o conhecimento é construído, e nesta perspectiva se torna epistemológico. (Ferracioli, 1999, p.6). Sujeito epistêmico sujeito das interações, sujeito ativo no processo de conhecer; que se desenvolve e adquire capacidade de pensar o seu meio.

Observação por meio de estudos empíricos. Suas investigações ganharam originalidade ao propor situações concretas para as perguntas e tarefas que as crianças eram chamadas a desempenhar. As operações lógicas obedecem às leis do funcionamento mental, e não da física. (Ramozzi-Chiarottino, 2005)

Aprendizagem e Desenvolvimento A aprendizagem vem em função da experiência imediata com o meio ex. com professores abordando um assunto em sala de aula. Aprendizagem sensu stricto (em função da experiência) e sensu lato (aprendizagem + equilibração). O desenvolvimento é um processo sobre a totalidade das estruturas do conhecimento, que não está no indivíduo nem nos objetos presentes em seu meio. O conhecimento é um construto que decorre das interações entre ambos. Um processo que se dá pelas sucessivas elaborações do indivíduo enquanto sujeito do conhecimento. (Ferracioli, 1999)

Inteligência

Duas funções indissociáveis que atuam em polos opostos no desenvolvimento cognitivo. Assimilação e Acomodação Assimilação Noção comum presente na fisiologia e na psicologia, significa entrar em contato com objeto e dele retirar e reter algumas impressões/informações para a sua apropriação integra-se aos esquemas mentais. Adequação às necessidades e singularidades do objeto. Faz-se um molde em função da incorporação dos novos elementos do objeto e provoca a modificação dos esquemas mentais. Acomodação (de Pádua, 2009)

(de Pádua, 2009) O novo pela experiência imediata Desequilíbrio (desconforto; desafio intrigante) funções de assimilação (digestão) e acomodação (amoldamento) Ativa esquemas mentais (estruturas que organizam, mediam as ações e estabelecem generalizações) que sofrem alteração (integração e reconstrução a partir da estrutura existente) Adaptação Em que ocorre o desenvolvimento progressivo de novas estruturas... Ocorre a equilibração (processo que envolve equilíbrio, desequilíbrio e reequilíbrio). (Ferracioli, 1999)??? Quando se interroga crianças, Piaget afirma que se obtêm respostas bem diferenciadas nos diferentes níveis do desenvolvimento da criança. Para as crianças, segundo Piaget, as coisas são dotadas de vida e intencionalidade

O desenvolvimento do processo de formação do conhecimento humano se dá em uma sucessão de estádios (de estados dinâmicos ), considerando que podem se adiantar ou atrasar na média das idades de uma criança. 1º 2º 3º 4º Estádio sensório-motor (inteligência sensório-motora) 0-2 anos Estádio pré-operatório (inteligência simbólica ou pré-operatória) 2 a 7,8 anos Estádio operatório concreto (inteligência operatória concreta) 7,8 a 12 anos Estádio operatório formal (inteligência operatória formal) A partir de 12 anos (Ferracioli, 1999; Abreu et al., 2010)

Estádio sensório-motor/pré-verbal (0-2anos) Dependência total do bebê que inicialmente está voltado às ações sensoriais - suga, pega, vê, cheira... Integrando as informações que chegam pelos sentidos. Desenvolve sua motricidade e capacidade de locomoção como sentar e engatinhar. Inicia a aquisição de uma estrutura cognitiva embrionária. Há um desenvolvimento gradual da fala, mas não a preocupação em se comunicar claramente não há uma noção do outro. Relaciona-se com o aparente e explora o espaço físico. A partir de um ano começa a ter noção de que os objetos continuam existindo para além de seu campo de visão.

Estádio pré-operatório (2 a 7/8 anos) Iniciam o domínio da representação de objetos e a função simbólica, ou seja, operam signos e acontecimentos por associação (internalização), de forma a não operar conceitos, fase em que muitos exemplos, histórias e brincadeiras ajudam a contar sobre algo novo a ser assimilado pela criança. O Jogo do faz de conta. Permanece centrada em si mesma (egocêntrica) e não tem noção de outro. Não não aceita o acaso ou aquilo que a surpreende de maneira que não seja o esperado fase dos porquês. Tem dificuldade em relacionar fatos que não foram experienciados por ela. Desenvolve um senso intuitivo para responder ao meio. Não é capaz de abstrair (nem lidar com proporções). Não trabalha com reversibilidade. Dependência vai se tornando mais relativa para realizar atividades em seu cotidiano. Começam a identificar padrões sociais pelo processo de identificação - menino brinca com boneco e bola, menina brinca com boneca (e todos brincam no celular/tablet).

Estádio operatório concreto (7/8 a 12 anos) O pensamento ainda se conserva em imagens e concepções a cerca do mundo real. As intuições ganham articulações e se transformam em operações de maneira que a criança já consegue relacionar objetos e situações em que opera conceitos abstratos classifica, ordena, estabelece correspondências (Se A>B e se B>C então...). Ao final a criança já consegue lidar com a noção de proporção e reversibilidade, desde que sejam desafios que possam ser pensados a partir de uma experiência de representação de uma ação concreta. Noções de sociedade e convívio social se desenvolvem, assim como a noção de outro.

Estádio operatório formal (12 anos em diante) No início da adolescência, ao se alcançar a independência da concretude do real, é possível se iniciar uma leitura mais reflexiva do meio em que se vive. Desenvolvem-se aqui as teorias acerca do mundo de forma a explorá-lo em termos hipotético-dedutivos. Proporções, probabilidades, operações combinatórias e correlações são realizadas. Capacidade de trabalhar com desenvoltura com figuras de linguagem - a metonímia e a metáfora.

Referências Abreu LCA et al. A epistemologia genética de Piaget e o construtivismo. Rev. Bras. Cresc. e Desenv. Hum. 2010; 20 (2): 361 366. de Pádua GLD. A Epistemologia Genética de Jean Piaget. Revista FACEVV. 2009; 2: 22-35. Ferracioli L. Aprendizagem, Desenvolvimento e Conhecimento na Obra de Jean Piaget: Uma Análise do Processo de Ensino-Aprendizagem em Ciências. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. 1999; 80 (194): 5-18. Leitura complementar Ramozzi-Chiarottino. Os estágios do desenvolvimento da inteligência. In: Jean Piaget. Coleção memória da pedagogia. Suplemento Especial, n.1. São Paulo: Segmento-Duetto, 2005.