BRINCANDO COM LOGARITMOS: DO DESENVOLVIMENTO ÀS APLICAÇÕES

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Transcrição:

ISSN 2177-9139 BRINCANDO COM LOGARITMOS: DO DESENVOLVIMENTO ÀS APLICAÇÕES Sersana Sabedra de Oliveira sersana@hotmail.com Fundação Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé, 96413-170 Bagé, RS, Brasil Nívea Maria Barreto Nunes Oleques oleques@gmail.com Fundação Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé, 96413-170 Bagé, RS, Brasil Claudia Laus Angelo claudia.angelo@unipampa.edu.br Orientadora Fundação Universidade Federal do Pampa, Campus Bagé, 96413-170 Bagé, RS, Brasil Resumo. Neste minicurso vamos apresentar aos participantes alguns aspectos históricos do desenvolvimento dos logaritmos, discutir aplicações e realizar uma atividade lúdica envolvendo os tópicos abordados. Tendo em vista que o nosso público alvo são acadêmicos de Matemática, temos como objetivo oferecer algumas propostas que possam ser levadas às salas de aula do Ensino Médio e que se apresentam como alternativas à metodologia definição propriedades exemplos exercícios avaliação. Esperamos que esses futuros professores, ao reverem o conceito e as propriedades dos logaritmos num contexto diferente do tradicional, tenham à disposição mais recursos para levarem aos seus alunos, na tentativa de minimizar possíveis posturas de negação prévia desse conteúdo. Palavras Chave: Logaritmos, Aplicações, História, Atividade lúdica 1. INTRODUÇÃO Alguns conteúdos de Matemática da educação básica como Frações, Trigonometria e Logaritmos, quando apenas pronunciados nas salas de aula, parecem já vir impregnados de rejeição antes mesmo dos professores iniciarem um diálogo sobre eles. E, mesmo quando os alunos já foram apresentados a esses conteúdos e os retomam em algum momento nos cursos superiores, a recusa inicial é semelhante. Quando comentamos com um professor de outra área que estávamos pensando em oferecer um minicurso sobre Logaritmos a reação foi Credo! Logaritmos..., corroborando com nossa hipótese de que existe uma rejeição prévia desse conteúdo. A escolha por oferecermos este minicurso, portanto, foi motivada pela oportunidade de discutir com os participantes alguns aspectos relacionados à história e às aplicações dos logaritmos, bem como apresentarmos uma atividade lúdica 1 que pode ser aplicada com o 1 Tal atividade foi elaborada pelas primeiras autoras quando cursavam a componente curricular Laboratório de Ensino de Matemática III no semestre 2013-2 do Curso de Matemática-Licenciatura da Unipampa, campus Bagé. 331

objetivo de avaliar os conhecimentos dos alunos sobre os conteúdos de logaritmos já desenvolvidos. Acreditamos que quanto mais propostas de se trabalhar um conteúdo estiverem disponíveis no arsenal de conhecimentos do professor, maiores as possibilidades dele se mobilizar de acordo com a turma e os alunos e de atingir os seus objetivos. Santos (2011) elaborou, aplicou e analisou uma sequência didática envolvendo funções logarítmicas com apoio do software GeoGebra. Nas conclusões de sua pesquisa a autora enfatiza a importância dos professores conhecerem (...) quais processos cognitivos podem favorecer a aprendizagem, e como apresentar aos estudantes conteúdos matemáticos que possibilitem o desenvolvimento desses processos e contribuam para a aprendizagem. (SANTOS, 2011, p. 187). No entanto, a própria autora reconheceu (...) o quanto é trabalhoso elaborar uma sequência didática e planejar estratégias de ensino com objetivos previamente estabelecidos. (SANTOS, 2011, p. 194) Neste minicurso traremos três possibilidades de trabalho com os logaritmos que podem ser exploradas conjuntamente ou não numa sala de aula, dependendo dos objetivos do professor e em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais. (PCN) De acordo com os PCN Ensino Médio, dentre as competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos estudantes, estão a capacidade de (...) Aplicar conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais, em especial em outras áreas do conhecimento. Relacionar etapas da história da Matemática com a evolução da humanidade. (...) (BRASIL, 1999, p. 46). Em relação à primeira, daremos ênfase a duas aplicações dos logaritmos: a leitura da escala Richter que mede a intensidade dos abalos sísmicos e a aplicação de logaritmos em problemas de juros compostos. Com relação à segunda, traremos aspectos da história dos logaritmos que mostram como eles surgiram da necessidade de simplificar cálculos na época das grandes navegações no início do século XVII e como hoje, mesmo com o advento dos computadores, as funções logarítmicas representam uma importante área, juntamente com as funções exponenciais, em estudos de variação de grandezas. Além disso, realizaremos uma atividade lúdica com os participantes do minicurso como forma de avaliar o aproveitamento dos mesmos em relação aos temas discutidos e como proposta de utilização posterior em salas de aula do Ensino Médio. 2. ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DOS LOGARITMOS O desenvolvimento dos logaritmos foi considerado um dos grandes feitos para a matemática no início do século XVII. Seu surgimento é oriundo da grande necessidade da época em simplificar cálculos numéricos. Segundo Eves (2004), (...) a astronomia, a navegação, o comércio, a engenharia e a guerra fizeram com que as demandas para que esses cálculos se tornassem cada vez mais rápidos e precisos crescessem sempre e continuamente. (EVES, 2004, p. 341). O benefício dessas áreas com a criação dos logaritmos foi expressivo. Eves (2004) reforça que (...) o poder dos logaritmos como instrumentos de cálculo repousa no fato de que eles reduzem multiplicações e divisões a simples operações de adição e subtração. (EVES, 2004, p. 342). A palavra Logaritmo significa número de razão. John Napier a adotou em substituição à denominação que havia utilizado primeiramente: número artificial (EVES, 2004, p. 346). Logaritmo é uma junção de dois termos gregos logos e arithmos, onde logos significa razão e a arithmos número. 332

A seguir apresentaremos algumas informações sobre personagens que trouxeram contribuições importantes para o desenvolvimento dos logaritmos. 2.1 John Napier (1550 1617) De acordo com os estudos de Eves (2004), John Napier nasceu na Escócia e foi considerado profeta por prever que no futuro construiriam dispositivos para navegar de baixo d água e carros de guerra, o que se confirmou durante a Primeira Guerra Mundial. Concentrou grande parte de suas energias em polemizar assuntos ligados à política e à religião. Foi acusado de fazer uso de magia negra e afirmou que o papa era o Anticristo. Porém, quando não estava envolvido em polêmicas ou profecias, tinha como objeto de lazer estudar Matemática e Ciência. Durante seus estudos inventou os logaritmos e a calculadora de Napier, antigamente chamada de ossos de Napier, conforme figura 1. Sua obra foi publicada em 1614 e intitulada como Mirifici logarithmorum canonis descriptio (Descrição da Maravilhosa Lei dos Logaritmos). Após tornar-se pública, foi utilizada por toda Europa e divulgada por muitos estudiosos deste período. Conforme Eves (2004), A maravilhosa invenção de Napier foi entusiasticamente adotada por toda Europa. Na astronomia, em particular, já estava passando da hora para essa descoberta; pois, como afirmou Laplace, a invenção dos logaritmos ao diminuir o trabalho, dobrou a vida dos astrônomos. Bonaventura Cavalieri (...) empenhou-se em divulgar os logaritmos na Itália. Trabalho análogo foi prestado por Johann Kepler na Alemanha e Edmund Wingate na França. (EVES, 2004, p.346) O método de Napier consistia numa abordagem geométrica, fazendo associações de progressão geométrica com a progressão aritmética, sem utilização de expoentes. Ele não trabalhava com o conceito de base. 2.2 Henry Briggs (1561 1631) Figura 1 Calculadora antiga criada por John Napier. Fonte: Dante (2014, p. 174) 333

Era professor de geometria em Londres e grande admirador de Napier. A fim de contribuir com o inventor dos logaritmos Boyer (1996) conta que Em 1615 ele visitou Napier em sua casa na Escócia, e lá eles discutiram possíveis modificações no método dos logaritmos. (BOYER, 1996, p. 215). Eves (2004) ressalta também que Foi durante essa visita que Napier e Briggs concordaram que as tábuas seriam mais úteis se fossem alteradas de modo que o logaritmo de 1 fosse 0 e o logaritmo de 10 fosse uma potencia conveniente de 10, nascendo assim os logaritmos briggsianos ou comuns, os logaritmos dos dias de hoje. (EVES, 2004, p. 345). Após a morte de Napier, Briggs publicou seus estudos em 1624 de nome Arithmetica logarithmica, contendo tábuas de logaritmos com quatorze casas decimais. Também foi desse livro que herdamos as palavras característica e mantissa. 2.3 Jobst Bürgi (1552 1632) Suíço, construtor de relógios, destacou-se por publicar uma obra em 1620, contendo uma tábua de logaritmos, o que confirma que em paralelo aos estudos de Napier, Bürgi trabalhava independentemente em ideias semelhantes. Porém, sua metodologia era diferente, pois, consistia numa abordagem algébrica. Os logaritmos de Bürgi, aproximam-se mais dos estudados hoje em dia. O mérito sobre a criação dos logaritmos acabou sendo de Napier, por ter publicado primeiro suas construções, segundo conta Boyer (1996): Ficou sugerido, até agora, que a invenção dos logaritmos foi obra de um só homem, mas tal impressão não deve permanecer. Napier foi de fato o primeiro a publicar uma obra sobre logaritmos, mas idéias muito semelhantes foram desenvolvidas independentemente na Suíça por Jobst Bürgi mais ou menos ao mesmo tempo. Na verdade, é possível que a idéia de logaritmo tenha ocorrido a Bürgi em 1588, o que seria meia dúzia de anos antes de Napier começar a trabalhar na mesma direção. Porém Bürgi só publicou seus resultados em 1620, meia dúzia de anos depois de Napier publicar sua Descriptio. (BOYER, 1996, p.216) Como vimos, esses três estudiosos, Napier, Briggs e Bürgi colaboraram com o desenvolvimento e a divulgação dos logaritmos numa época em que simplificar operações aritméticas era fundamental para o avanço da astronomia e da navegação. Mas, nos dias de hoje, mesmo com o advento dos computadores, os logaritmos, e em especial, as funções logarítmicas, continuam representando um papel importante. Lima (2004), ao tratar da evolução de algumas ideias matemáticas comenta: (...) um matemático ou astrônomo do século 17 achava os logaritmos importantes porque eles lhe permitiam efetuar cálculos com rapidez e eficiência. Um matemático de hoje acha que a função logaritmo e sua inversa, a função exponencial, ocupam uma posição central na Análise Matemática por causa de suas propriedades funcionais, muito especialmente a equação diferencial x = c x, a qual descreve a evolução de grandezas que, em cada instante, sofrem uma variação proporcional ao seu valor naquele instante. (LIMA, 2004, p. 30) 334

Embora Lima (2004) apresente uma aplicação atual de logaritmos no cálculo diferencial, muitas outras podem ser exploradas em nível médio. Duas delas são discutidas a seguir. 3. ALGUMAS APLICAÇÕES DE LOGARITMOS Às vezes temos muita dificuldade em ver as relações que certos conteúdos têm com o cotidiano, em outras palavras, não percebemos onde eles são aplicados. Isso pode tornar as aulas sem sentido para muitos estudantes. No caso dos logaritmos os PCN + Ensino Médio (BRASIL, 2002) enfatizam que a aprendizagem desse conteúdo perderia contexto se os professores não explicitassem sua importância (...) em questões tecnológicas e em outras ciências, para expressar grandezas cujo intervalo de variação é exponencial. (BRASIL, 2002, p. 26). Algumas aplicações de logaritmos são citadas nesse documento como a escala logarítmica de decibéis, a definição do ph de substâncias, a variação da população de microorganismos e a escala Richter dos abalos sísmicos que exploraremos abaixo. 3.1 A escala Richter 2 Em junho de 2013 ocorreram diversos terremotos em várias regiões do planeta e com diferentes intensidades. Esses tremores são causados pela acomodação das placas tectônicas, que são imensos blocos de rocha, em constante movimento de deslize. O que acontece é que alguns países se encontram na borda dessas placas, e, por consequência, sofrem os abalos sísmicos. Para entender melhor a formação destas, observe figura abaixo: Figura 2 Placas Tectônicas Fonte: TERREMOTOS (2014, p. 70-71) Na figura 2, podemos observar grandes rachaduras na Terra, como se sua crosta fosse uma casca de ovo trincada. Essas rachaduras são decorrentes do movimento das placas tectônicas que flutuam sobre o magma 3. Quando elas se chocam, acumulam muita energia que é liberada depois que elas se soltam, resultando nos abalos sísmicos. 2 O conteúdo deste item foi baseado no artigo Terremotos: logaritmos da revista GE Matemática 2015: vestibular + ENEM, p. 68-75. 3 Rochas derretidas de camadas mais profundas do planeta, a altíssimas temperaturas. (TERREMOTOS, 2014, p. 70) 335

Entretanto, os terremotos são fenômenos naturais e rotineiros, ou seja, acontecem várias vezes. Porém, o que muda é a intensidade do tremor. Por exemplo, um abalo sísmico de 1 ponto na escala Richter praticamente não é sentido. Mas, o que mede a intensidade dos terremotos? Abaixo temos um medidor de intensidade de abalos sísmicos, o sismógrafo: Figura 3 Sismógrafo Fonte: ADERJ (2014, p.1) De acordo com o artigo Terremoto (2014, p. 68): A cada dia, os sismógrafos acusam cerca de 500 mil eventos no planeta 100 mil deles com intensidade acima de 2 pontos na escala Richter, o suficiente para serem sentidos. Porém, somente alguns podem ocasionar estragos maiores, dependendo da profundidade do choque das placas tectônicas, do tipo de solo, da qualidade das construções na superfície e da densidade populacional. Mas o que os logaritmos têm a haver com isso tudo? A resposta está na escala Richter, utilizada pela primeira vez pelo físico norte-americano Charles Richter, em 1935. Essa escala mede a amplitude das ondas sísmicas e é uma escala logarítmica onde (...) cada grau é uma potência de base 10. Ou seja, de um grau a outro, a amplitude das ondas sísmicas cresce dez vezes. (TERREMOTO, 2014, p.68). Durante a realização do minicurso mostraremos aos participantes como comparar a magnitude de dois tremores de terra utilizando logaritmos. 3.2 Juros compostos Vamos iniciar a discussão a partir da seguinte situação problema adaptada de Thomas (2012): No ano 2000, foram depositados R$ 100,00 em uma conta poupança que rendia juros cumulativos pagos uma vez ao ano a uma taxa de 5%. Suponhamos que nenhum valor foi depositado ou sacado dessa conta. Determine uma fórmula para a função que descreve a quantia M (montante) na conta após x anos. Inicialmente, M = 100. No entanto, ao final do primeiro ano, essa quantia é acrescida dos juros e teremosm(1): M(1) = M + 5 M = M(1 + 0,05) 100 Ao final do segundo ano a quantia M(1) sofre outro acréscimo de juros e teremos M(2): 336

M(2) = M(1 + 0,05) + 5 M(1 + 0,05) = M(1 + 0,05)(1 + 0,05) = M(1 + 0,05)2 100 Assim, procedendo dessa mesma forma, ao final de x anos o montante na conta será de: M(x) = M(1 + 0,05) x (1) A função acima é uma função exponencial. Ao final de 2014, por exemplo, terão se passado 14 anos e teremos na conta: M(14) = 100(1 + 0,05) 14 198 reais E onde entram os logaritmos? Ora, a função logarítmica é a função inversa da exponencial. Então, em problemas de juros compostos nos quais desejamos saber, por exemplo, depois de quanto tempo uma quantia que depositamos atingirá um determinado valor, teremos que utilizar logaritmos. Vejamos a situação seguinte baseada no problema proposto por Hughes-Hallett et al (1999): Suponha que R$ 5.000,00 são depositados numa conta que paga 8% de juros anuais. Quanto tempo é necessário para dobrar essa quantia se os juros forem compostos anualmente? De acordo com o problema, desejamos saber depois de quantos anos o montante será de R$ 10.000. Assim, utilizando a Eq. (1), podemos escrever: 10000 = 5000(1 + 0,08) x Dividindo ambos os lados da igualdade por 5000 temos: 2 = (1,08) x Aplicando logaritmo em ambos os lados da igualdade vem: log 2 = log(1,08) x log 2 = x log(1,08) x = log 2 log(1,08) x 0,3010 0,0334 x 9,01 Portanto, se os juros são compostos anualmente, são necessários aproximadamente 9 anos para que a quantia de R$ 5.000,00 dobre de valor. Assim como em problemas de juros compostos, outras situações podem ser descritas por uma função exponencial como, por exemplo, crescimento populacional, eliminação de uma droga pelo corpo e propagação de uma doença. E, dependendo do que se deseja conhecer dessas situações, também serão necessários conhecimentos sobre logaritmos. 337

4. ATIVIDADE LÚDICA: GINCANA DOS LOGARITMOS A atividade Gincana dos Logaritmos foi elaborada com o objetivo de ser um instrumento de avaliação que pode ser utilizado ao final do desenvolvimento do conteúdo de Logaritmos, num momento de descontração, mas que oportuniza ao professor verificar se os alunos compreenderam os conteúdos trabalhados. É uma atividade de baixo custo de confecção e que pode ser realizada em qualquer sala de aula. Consiste em um jogo e suas regras foram organizadas da seguinte forma: a turma é dividida em 4 grupos e estes são identificados com plaquinhas com as letras A, B, C e D. Na mesa central estará disponível uma caixa com alguns números e curiosidades. Um representante do grupo A, vai até a mesa e sorteia um número. Conforme esse número, no projetor irá aparecer um desafio para todos realizarem. Se a sala de aula não tiver projetor disponível, o professor pode fazer um cartaz com o desafio para mostrar aos alunos. O grupo que responder primeiro e corretamente o desafio, ganha um ponto que será marcado no quadro. Um exemplo de desafio é: Quais das opções abaixo não são logaritmos no conjunto dos números reais? Por que? a) log 2 32 b) log 5 5 c) log 0 0 d) log 0,25 16 Se o participante, ao invés de um número, retirar um Você sabia? que contém uma curiosidade envolvendo logaritmos, o grupo, lendo-o para o restante, automaticamente ganha um ponto. Um exemplo de Você sabia? é: Você Sabia? O cálculo do logaritmo é utilizado para saber o tempo necessário para que uma população dobre seu tamanho através da fórmula p(x) = p 0 (taxa) x (x = tempo). O jogo continua até todos os grupos participarem do sorteio e até acabarem todos os desafios. Em caso de empate, será apresentado outro desafio e o grupo que responder primeiro ganha o jogo. Esta atividade será realizada com os participantes do minicurso. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a realização deste minicurso esperamos disponibilizar aos futuros professores mais recursos que podem ser utilizados em sala de aula, com relação aos logaritmos. Não se trata de nenhuma receita, pois cada sala de aula é única, assim como cada aluno e cada professor. Apenas consideramos que tendo mais possibilidades de se trabalhar determinado conteúdo, mais chances teremos de nos mobilizarmos conforme a turma e os alunos com o objetivo de melhorar a aprendizagem e o interesse dos mesmos. Agradecimentos 338

À nossa querida orientadora, que mesmo com muitos afazeres se dispôs a nos ajudar, contribuindo muito para o nosso aprendizado e também para a realização deste trabalho. À professora da disciplina Laboratório de Ensino de Matemática III, por estimular nossa criatividade. REFERÊNCIAS ADERJ. Associação Defensores da Represa Jurumirim. Brasil amplia rede de sismógrafos para monitorar terremotos. Acessado em 7 out. 2014. Online. Disponível em: http://aderjurumirim.org/site/noticias/brasil-amplia-rede-de-sismografos-para-monitorarterremotos/4217.html BOYER, Carl B. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1996. BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio): parte III - ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Acessado em 13 out. 2014. Online. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12598%3apublicacoes&itemid =859 BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Acessado em 13 out. 2014. Online. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cienciasnatureza.pdf DANTE, Luiz Roberto. Matemática Contexto & Aplicações. 2. ed. São Paulo: Ática, 2014. EVES, Howard. Introdução à história da matemática. São Paulo: Ed. da UNICAMP, 2004. HUGUES-HALLETT, D. et al. Cálculo e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 1999. LIMA, E. L. Meu professor de matemática: e outras histórias. 4. ed. Rio de Janeiro: SBM, 2004. SANTOS, A. T. C. O ensino da função logarítmica por meio de uma sequência didática ao explorar suas representações com o uso do software GeoGebra. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. TERREMOTOS: logaritmos. GE Matemática 2015: vestibular + ENEM, São Paulo, ed. 6, p. 68-75, 2014. THOMAS, G. B. Cálculo. 12 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. V. 1. 339