FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES E A INCLUSÃO DOS ALUNOS PÚBLICO ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Larissa Guadagnini Thereza Makibara Ribeiro Márcia Duarte Universidade Federal de São Carlos Palavras-chave: Inclusão escolar, formação de professores, educação especial. INTRODUÇÃO Este estudo consiste em um recorte da pesquisa de trabalho de conclusão de curso intitulado O professor da sala de aula comum e os processos de adaptação curricular na inclusão escolar, que dentre outros aspectos, teve como intuito analisar a importância da formação inicial dos professores para viabilizar a inclusão dos alunos público alvo da educação especial. A educação inclusiva no Brasil teve seu início no final do século XX, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que trouxe diferentes propostas para a educação básica. Entre elas, a proposta de universalização do ensino que aparece diretamente relacionada à questão da inclusão escolar, propondo uma nova opção de educação para pessoas com deficiência, questionando e organizando as antigas políticas públicas da Educação Especial de forma a construir uma sociedade igualitária (DUARTE E GUADAGNINI, 2013). Nesse contexto, constatam-se números crescentes relacionados aníveis de matrículas de alunos público alvo da educação especial (PAEE) em escolas regulares. Segundo dados coletados no ano de 1998, 200 mil alunos estavam matriculados na educação básica, sendo apenas 13% em salas comuns. Já em 2014, o número sobe para 900 mil alunos, sendo 79% em salas comuns. Considerando-se somente matrículas em escolas públicas, observa-se um aumento de 93% nas matrículas de alunos PAEE. 1 Tais números mostram o aumento das matrículas dos alunos em escolas regulares, o que não é sinônimo de processo inclusivo. Por isso, números elevados como esses comprovam a 1 Portal Brasil: http://www.brasil.gov.br/educacao/2015/03/dados-do-censo-escolar-indicam-aumento-dematriculas-de-alunos-com-deficiencia. Acesso em: 05 de outubro de 2015.
importância do processo de inclusão escolar na rede regular de ensino, mostram que leis e metas criadas com o propósito de tornar a inclusão uma realidade vêm surtindo efeito a cada ano em relação a números, porém, ainda são poucos os estudos do cotidiano escolar para comprovar que esses alunos realmente têm aprendido em sala de aula. Portanto, muitos documentos nacionais que explicitam a forma pela qual o ambiente escolar deve estar organizado, contudo não são muitas as definições quanto à atuação do professor em sala de aula, de modo a atender diferentes públicos. Há, sim, recomendações amplas que podem vir a guiá-lo e auxiliando-o na realização de atividades propostas. Segundo Mazzaro (2007, p.103), [...] Os professores tentam adequar suas práticas pedagógicas à propostas de inclusão, porém, faltam-lhe as condições básicas para atender à diversidade, que requer estrutura que a escola não possui. Na maioria das instituições escolares brasileiras, não há estrutura pedagógica para receber alunos PAEE, ou seja, há uma carência de profissionais com formação adequada, condições de trabalho e recursos que sejam capazes de atender a diversidade. Como um dos pontos a serem destacados, entende-se que a formação inicial de professores não é voltada à inclusão escolar, ou seja, as grades curriculares dos cursos de formação de professores ainda se apoiam em práticas tradicionalistas de ensino em que o professor leciona para salas de aulas homogêneas sem se preocuparem em explorar o currículo escolar de modo a atender às necessidades educacionais específicas de cada aluno. Freitas e Moreira (2011) defendem que os cursos de licenciatura incluam conteúdos sobre o ensino de alunos PAEE em seu currículo, porém, espaços como esses na grade curricular continuam inexistentes em muitas instituições. A partir do exposto, algumas questões devem ser colocadas: Como a formação inicial do professor influência em sua prática pedagógica voltada á inclusão escolar dos alunos público alvo da educação especial? Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo analisar a importância da formação inicial dos professores para viabilizar a inclusão dos alunos público alvo da educação especial. MÉTODO O estudo foi efetivado mediante uma abordagem qualitativa, com um delineamento descritivo. 1.1 Participantes
Participaram do estudo três professoras da rede regular de ensino, que serão identificadas como Professora I, Professora F e Professora J. A Professora I, atuava na educação infantil em uma escola da rede municipal de ensino de uma cidade localizada no interior do Estado de São Paulo, e tinha como formação inicial o magistério e graduação em Geografia, pela ACER. Já a Professora F, atuava no ensino fundamental em uma escola da rede municipal de ensino, e tinha como formação inicial o magistério e graduação em Letras (UNESP e Pedagogia (UNINOVE).A Professora J. atuava na educação de jovens e adultos em uma escola rural localizada em um assentamento de uma cidade do interior de São Paulo, e possuía graduação incompleta em Educação Especial, pela UFSCar. As três participantes, tinham ou em algum momento de sua trajetória enquanto professoras já lecionaram para alunos público alvo da educação especial. 1.2 Local de Coleta de Dados Os dados do estudo foram coletados nas residências particulares das entrevistadas. 1.3 Instrumentos e análise dos dados O instrumento utilizado nesta pesquisa foi um roteiro de entrevista semiestruturado com aproximadamente 15 questões, que tinham como foco a formação dos professores em relação a seu trabalho com os alunos público alvo da educação especial. As respostas fornecidas pelos participantes foram transcritas, analisadas e deram origem a novos questionamentos que complementaram as bases teóricas (TRIVIÑOS, 1987). RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados foram divididos em dois eixos temáticos, a fim de responder aos objetivos do estudo: I. Formação Acadêmica Inicial Este tópico de análise teve por objetivo verificar se a formação inicial dos professores, deu-lhes base para atuar com os alunos PAEE, no contexto da inclusão escolar. Assim, quando perguntado as professoras se a formação acadêmica inicial lhes
deu subsídios para trabalhar com alunos PAEE, somente a professora de EJA respondeu que sim. Segundo ela: Creio que minha formação tem como base as informações teóricas necessárias para minha atuação. Com relação à prática temos os estágios que nos dão a oportunidade de observarmos a atuarmos em diversos contextos e em contato com diversas deficiências. O curso constantemente oportuniza Aciepes, minicursos e vários eventos onde podemos aprender mais e trocar experiências com profissionais de outros lugares e outras áreas. (Professora J) Já as outras duas entrevistadas, afirmam que não tiveram a base necessária na graduação para trabalhar no atendimento com alunos PAEE. Para elas, o conhecimento que possuem para o trabalho com esses alunos foi construído a partir das experiências cotidianas em sala de aula, pois o curso de graduação não oferecia disciplinas voltadas para a área de Educação Especial em sua grade curricular. Esses dados revelam que as professoras sentem a necessidade de uma base teórica e prática para o trabalho com alunos PAEE. Porém, não encontram essa base nos cursos de graduação, fazendo com que entrem nas salas de aula despreparadas para lidar com esses alunos. Castanho e Freitas (2005, p.1) comentam que: a universidade é um lugar onde os valores e práticas de educação inclusiva precisam ser vivenciados. Assim, entende-se que os professores precisam de um preparo que vai além da aquisição de conhecimentos científicos. Assim, é necessário que os cursos de licenciatura reestruturem sua grade curricular de forma a contemplar disciplinas e estágios curriculares voltados para a área de Educação Especial e para o atendimento à diversidade. Por atendimento à diversidade pode-se entender atendimento igualitário alunos PAEE, de diferentes culturas, etnias e classes sociais. II. Preparação recebida na formação inicial para inclusão dos alunos PAEE Esse tópico teve por objetivo analisar de que forma a formação inicial das participantes ofereceu preparo para lidar com a inclusão escolar dos alunos PAEE. Assim, foi perguntado as professoras a forma pela qual elas foram preparadas para lidar com a inclusão dos alunos PAEE nos cursos de graduação, contudo, todos os professores relataram que não foram preparados para incluir os alunos PAEE, nem
mesmo aqueles que tiveram a disciplina de educação especial, visto que avaliaram como insuficiente a formação recebida. Esses dados confirmam, o que já foi dito anteriormente, que os cursos de graduação realizados pelas participantes não ofereceram preparo para lidar com a inclusão escolar dos alunos PAEE, o que segundo Pereira (2006), pode ocasionar a inexistência de práticas pedagógicas inclusivas e assim promover a exclusão escolar. Portanto, é primordial que se invista na formação inicial e continuada, com vistas o atendimento à diversidade no âmbito escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa pesquisa pode-se perceber claramente pelas falas dos participantes a falta de preparo para ao atendimento a alunos PAEE, pois na formação inicial não tiveram a oportunidade de cursar disciplinas voltadas para o atendimento à diversidade. Entendese, portanto, que o ponto chave para uma formação voltada ao atendimento da diversidade, seria incluir temas relacionados à educação inclusiva à disciplinas já existentes nas grades curriculares dos cursos de licenciatura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. CASTANHO, D. M.; FREITAS S. N. Inclusão e prática docente no ensino superior. In: Revista Educação Especial. Santa Maria, n. 27, 2005. Disponível em:<http:// www.ufsm.br/ ce/revista/ceesp/2006/01/a6.htm>. Acesso em: 2 dez 2015. DUARTE, M; GUADAGNINI, L. Práticas pedagógicas de acessibilidade curricular para alunos com deficiência intelectual em classes do ensino fundamental e médio. VIII Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial. Londrina, 2013. EIDELWEIN, M. P. Pedagogia universitária voltada a formação de professores na temática da inclusão. Revista Educação Especial. Santa Maria, n. 26, 2005. Disponível em:< http:// www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2005/02/a9.htm>. Acesso em: 18 ago 2006. FREITAS, S. N.; MOREIRA, L. C. A universidade frente à formação inicial na perspectiva da inclusão. In:Professores e Educação Especial: formação em foco. CAIADO, K. R. M.; JESUS; D. M.; BAPTISTA, C. R. (org). Porto Alegre: Mediação, 2011, V. 1, p. 65-73.
LOPES, J.; SILVA, H. S. O professor faz a diferença. Na aprendizagem do aluno. Na realização escolar dos alunos. No sucesso dos alunos. 319 p. Lisboa: Lidel, 2010. MAZZARO, J. L. Baixa visão na escola: conhecimentos e opiniões de professores e pais de alunos deficientes visuais.brasília, DF. 2007. Tese (Doutorado em Educação), Universidade Estadual de Campinas, Campinas. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.