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16 TÍTULO: PROPOSTA DE PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA E NOS SINTOMAS URINÁRIOS DE MENINAS COM DISFUNÇÃO DO TRATO URINÁRIO INFERIOR CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FISIOTERAPIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA AUTOR(ES): LARISSA ANGÉLICA DELMIRO FRANCISCO DA SILVA ORIENTADOR(ES): CLÁUDIA DE OLIVEIRA COLABORADOR(ES): VALÉRIA PALMIERI

1. Resumo Introdução: A disfunção do trato urinário inferior (DTUI) é um distúrbio na fase de esvaziamento ou de enchimento do trato urinário inferior em crianças sem distúrbios neurológicos. A DTUI, com seus sintomas associados, pode causar significativo impacto na qualidade de vida (QV) e considerável variedade de percepções e respostas entre as pessoas com isso o objetivo deste estudo é verificar a influência da proposta de um protocolo fisioterapêutico específico na qualidade de vida e nos sintomas urinários de meninas com Disfunção do Trato Urinário Inferior (DTUI). Métodos: Estudo descritivo, do tipo série de casos que contou com a participação de sete crianças cadastradas no Ambulatório de Uropediatria da Clínica de Fisioterapia da UNISANTA. Inicialmente as crianças foram avaliadas com diário miccional, exame de urina, urofluxometria, biofeedback eletromiográfico e questionário AUQEI de qualidade de vida. O diário sol e chuva também fez parte da avaliação semanal. A seguir, as crianças eram submetidas a um protocolo específico composto por: biofeedback eletromiográfico; liberação miofascial na região paravertebral; eletroestimulação na região parassacral; e reeducação miccional. Após resolução dos sintomas com as sessões realizadas duas vezes por semana, foram reavaliadas. Resultados: A qualidade de vida não apresenta prejuízos em meninas com DTUI e após a intervenção houve melhora significativa na pontuação da mesma. Conclusão: O protocolo estabelecido mostrou que o número de sessões pode variar de acordo com cada criança, devendo ser feito de modo individualizado. Em 100% dos casos, observou-se que não houve infecções urinárias, enurese e manobras de contenção após o tratamento. Houve desmame da medicação anticolinérgica em 85,71% dos casos. Palavras-chave: Criança, Modalidade de fisioterapia, Incontinência urinária. 2. Introdução A disfunção do trato urinário inferior (DTUI) é um distúrbio na fase de esvaziamento ou de enchimento do trato urinário inferior. Em crianças sem distúrbios neurológicos e que apresentem hiperatividade vesical, a principal apresentação clínica é de urgência miccional, que pode estar associada também à incontinência e à enurese 1,2. 1

Em crianças, a DTUI é geralmente manifestada por incontinência urinária, infecção urinária, refluxo vesicoureteral, cicatrizes renais, problemas psicológicos e constipação 1-3. A literatura disponível sobre as causas possíveis da DTUI ainda não é clara. Entretanto, algumas crianças utilizam manobras de contenção para evitar as perdas urinárias ou mesmo inibir a urgência miccional; outras contraem o assoalho pélvico, para inibir a contração do detrusor e adiar a micção. Essa conduta, utilizada como um mecanismo voluntário para regular o ciclo do trato urinário inferior, pode manter a DTUI: durante a micção, ela gera uma disfunção miccional caracterizada pela perda da coordenação entre a contração do detrusor e o relaxamento do assoalho pélvico 4 que induz mudanças periféricas e centrais, gerando um "novo" sistema de controle da micção, mais vulnerável, com falha na transmissão dos sinais inibitórios e consequente hiperatividade vesical 5. A hiperatividade vesical tem sido tratada classicamente com antimuscarínicos 1. No entanto, alguns estudos têm relatado baixa taxa de resolução completa dos sintomas (cerca de 30%) com esse tipo de medicamento que, além disso, frequentemente traz efeitos colaterais como boca seca, constipação intestinal e intolerância ao calor 1,2. A DTUI, com seus sintomas associados, pode causar significativo impacto na qualidade de vida (QV) e considerável variedade de percepções e respostas entre as pessoas 9,10. A criança e o adolescente têm diferentes graus de percepção de si mesmos e do mundo. Dessa maneira, uma só concepção de satisfação pessoal é difícil de ser uniformizada entre eles, em virtude da sua fase de desenvolvimento 11,12. Devido à alta taxa de comorbidade de distúrbios (20-40%), crianças com DTUI apresentam alterações de ordem emocional (como timidez, insegurança e baixa autoestima) e comportamentais (como agressividade, hiperatividade e transtornos do déficit de atenção) 13. Por esse motivo, faz-se necessária a busca por outras modalidades de tratamento conservadores como a uroterapia, que consiste em orientações comportamentais e miccionais, tais como a ingestão hídrica adequada e a 2

micção de horário, que evitam a retenção hídrica e não a inibição do desejo miccional, pois esvaziam a bexiga sempre que houver desejo miccional 1,6. 3. Objetivos Frente ao exposto, o presente estudo tem como objetivo verificar a influência da proposta de um protocolo fisioterapêutico específico na qualidade de vida e nos sintomas urinários de meninas com Disfunção do Trato Urinário Inferior (DTUI). 4. Método Trata-se de um estudo descritivo, do tipo série de casos. Este estudo contou com a participação de sete crianças diagnosticadas com DTUI, cadastradas no Ambulatório de Uropediatria da Clínica de Fisioterapia da UNISANTA. Chegou-se a esse número, após a utilização dos critérios de inclusão e exclusão descritos a seguir: Critérios de inclusão: - Sexo feminino; - Idade de 4 a 12 anos; - Meninas com diagnóstico de DTUI e em tratamento com antimuscarínicos há seis meses. Critérios de exclusão: - Outras condições vesicais, tais como bexiga neurogênica e/ou associada à doença neuromuscular; - Dificuldade cognitiva; - Desistência da pesquisa a qualquer momento; - Ausência do tratamento por mais de três dias consecutivos. 5. Desenvolvimento Este estudo faz parte do projeto intitulado Influência da eletroestimulação parassacral e da liberação miofascial paravertebral na disfunção do trato urinário inferior em crianças: série de casos, que possui 3

aprovação do Comitê de Ética, registrado no CAAE sob o número 38453514.4.0000.5513, Parecer número 906.188. Os dados foram coletados no período de fevereiro de 2015 a abril de 2016. A pesquisa contou com a participação de 10 crianças avaliadas no ambulatório da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA). Dessas, duas desistiram no decorrer da intervenção e uma foi excluída por má formação renal. Avaliações pré-intervenção fisioterapêutica (T0) e pós-intervenção fisioterapêutica (T1) Durante a avaliação e o tratamento, cada criança encontrou-se com o fisioterapeuta, em sala individual, apenas na presença do mesmo e de um responsável por ela, caso quisesse. Inicialmente, foi realizada uma avaliação inicial denominada de T0, contendo os seguintes instrumentos: ficha de avaliação padronizada, diário miccional, exame de urina, urofluxometria, biofeedback eletromiográfico e avaliação postural. Esperava-se utilizar o mesmo protocolo de T0 até a reavaliação, na 20ª sessão. Entretanto, notou-se a necessidade de reavaliar as crianças até a obtenção da melhora do quadro, de acordo com o acompanhamento do diário miccional sol e chuva e os relatos das pacientes referentes aos seus sintomas urinários, com isso foram reavaliadas (T1) seguindo o mesmo protocolo de T0. Assim, o número de sessões de fisioterapia - com duração de 30 minutos, duas vezes na semana variou para mais ou para menos de 20 sessões, de acordo com a individualidade de cada paciente. Instrumentos de pesquisa No presente estudo, utilizou-se a ficha de avaliação padronizada pelo Ambulatório de Uropediatria da UNISANTA, contendo dados sociodemográficos e anamnese completa e detalhada dos dados pessoais do paciente, história da moléstia atual, queixa principal, exame de urina, urofluxometria, antecedentes pessoais e familiares, rotina pré-morbidade, rotina pós-morbidade, informações sobre o funcionamento vesical (Como se iniciou a 4

incontinência urinária? Há dificuldade para iniciar a micção? Apresenta enurese? Perde urina durante esforços? Sente a bexiga vazia ao terminar a micção?). Essa ficha de avaliação foi aplicada no momento da avaliação inicial (T0). O biofeedback eletromiográfico analisa a percepção do assoalho pélvico. Para esse procedimento, explicou-se para cada paciente como realizar a contração da musculatura do assoalho pélvico, utilizando como comando verbal a expressão prender o xixi. Após o entendimento do procedimento pela criança, dois eletrodos de superfície foram colocados paralelos no centro tendinoso do períneo (região entre a vulva e o ânus), segundo protocolo descrito por Lordêlo 7. Solicitou-se, então, que ela fizesse a contração e o relaxamento do assoalho pélvico, na forma como se visualizava por meio de telas lúdicas no computador acoplado ao biofeedback Miotol da marca Miotec. Essa avaliação durou de 3 a 5 minutos. O diário miccional sol e chuva foi preenchido mensalmente pela própria criança, por ser uma forma lúdica e didática de responder 14. Assim, quando a criança não tivesse perda urinária, haveria noite seca, e ela desenharia um sol, para representar isso. E, nas noites em que houvesse perda urinária, ela desenharia a chuva. Também foi utilizado o diário miccional de 3 dias, preenchido pelos pais. Nele, foi anotado o horário, o valor do líquido ingerido, o volume urinado, se houve necessidade urgente de urinar, se houve perda involuntária de urina e qual a atividade que a criança estava fazendo no momento da perda. No momento da orientação (T0), foram ofertados aos responsáveis, além dos diários impressos, um copo medida e orientações de como coletar a urina para sua mensuração e anotação correta no diário miccional. A qualidade de vida foi avaliada pelo questionário AUQEI (Auto Questionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé). Esse questionário de avaliação de qualidade de vida em crianças e adolescentes, descrito e validado para o português por Assumpção JR 10, baseia-se no ponto de vista da satisfação da criança, visualizada a partir de quatro figuras que são associadas a diversos domínios da vida e a diferentes estados emocionais. Dele constam 26 questões que exploram relações familiares, sociais, atividades, saúde, funções corporais 5

e separação. Os pais não estiveram presentes no momento da aplicação do questionário, para que não influenciassem na escolha das respostas. O questionário foi aplicado em T0 e T1 com auxilio do terapeuta, pedindo-se à criança, que, sem tempo definido, assinalasse suas respostas de acordo com o que mais correspondesse ao seu sentimento frente ao domínio proposto Autonomia; Lazer; Funções; Família 10. Cada questão foi pontuada de 0 (muito infeliz) a 3 (muito feliz), sendo que a pontuação máxima a ser obtida era 78 pontos. Com base no AUQEI, a pontuação de corte foi considerada 48. Abaixo dessa pontuação, a qualidade de vida das crianças foi considerada prejudicada e, acima de 48, boa 10. Intervenção: Protocolo fisioterapêutico específico para meninas com DTUI Neste estudo, a intervenção foi a proposta de um protocolo específico para a DTUI constituído dos seguintes recursos: liberação miosfacial, eletroestimulação (EE), biofeedback eletromiográfico e reeducação miccional. Inicialmente era realizado a liberação miofascial na região paravertebral por 10 minutos, descrito por Loureiro AF (2012) 8. A liberação miofascial foi realizada por poder colaborar para o bom alinhamento da pelve e, dessa forma, levar ao melhor posicionamento da bexiga e da coluna vertebral, visto que, em geral, as crianças com DTUI postergam a micção, adotando posturas que tensionam a coluna lombar e a região pélvica o que gera uma hipertonia da musculatura pélvica e pode levar à dificuldade no relaxamento da musculatura do assoalho pélvico durante a micção 1,7 Na sequência, foram colocados os eletrodos na região parassacral, entre as raízes nervosas de S2 e S3 7. Para EE foram utilizados os seguintes parâmetros: frequência de 10 HZ, amplitude de 700ms, duração de 20 minutos e intensidade variando de acordo com a sensibilidade de cada paciente, conforme o estudo descrito por Lordêlo 7 : O nível de intensidade foi sempre inferior ao limiar motor, sem a presença de dor ou outros incômodos 6. 6

A seguir as crianças eram submetidas a exercícios dos músculos do assoalho pélvico por meio do biofeedback eletromiográfico lúdico Miotol da marca Miotec. Esse procedimento era realizado por 5 minutos. Finalmente, eram realizadas as orientações quanto à reeducação miccional. Foi ensinado as crianças como relaxar a musculatura do assoalho pélvico e não contrair a musculatura abdominal durante a micção, adotando a postura de sentada no vaso sanitário com abdução de membro inferiores; repouso dos pés sobre um suporte, caso os mesmos não alcançassem o chão; inclinação do dorso levemente para frente; e orientação à criança para não levantar rapidamente do vaso após a micção, para reduzir a chance de resíduo urinário pós-miccional 2. Esta intervenção durou até que houvesse resolução ou melhora significativa do quadro. Análise estatística Por se tratar de uma série de casos, este estudo foi analisado de forma descritiva simples. 6. Resultados No total, participaram da presente pesquisa sete crianças. A idade das participantes variou entre quatro e doze anos. Entre elas em T0, três apresentaram perdas urinárias diante de esforços e sensação de bexiga vazia ao termino da micção. Quatro delas tiveram dificuldade para iniciar a micção e quanto à enurese noturna, apenas duas participantes apresentaram este sintoma, variando os casos entre cada questão. A Tabela 1 relata as informações sobre a quantidade de líquido ingerido e os sintomas urinários dos 7 casos estudados antes e após a intervenção. 7

Tabela 1 Dados sobre a quantidade de líquido ingerido e sintomas urinários dos 7 casos estudados antes e após a intervenção nos três dias consecutivos do diário miccional. DIA 1 Líquido ingerido* T0 T1 Frequência Urinária T0 T1 Volume Urinado Total T0 T1 Nível de Urgência T0 T1 Perda involuntária* T0 T1 CASO 1 860 1650 5 5 870 705 I M N N CASO 2 1050 700 5 5 1200 955 I P P N CASO 3 1500 600 4 5 1200 1500 I M P N CASO 4 1180 675 11 6 800 920 M P N N CASO 5 670 1010 6 7 350 500 P P N N CASO 6 1300 900 8 8 920 790 I M M P CASO 7 910 1000 8 7 760 845 M P M N DIA 2 CASO 1 770 840 4 5 730 800 I M N N CASO 2 520 600 4 7 660 1140 M M N N CASO 3 2200 1400 4 3 950 650 I M N N CASO 4 850 1000 8 6 520 1030 M P N N CASO 5 690 1070 7 7 550 530 P P N P CASO 6 1100 630 4 7 790 510 M M P N CASO 7 1000 780 8 7 940 905 M P M P DIA 3 CASO 1 845 860 5 5 820 835 I M N N CASO 2 500 650 4 4 800 970 I P M N CASO 3 2100 800 3 4 900 850 I I N N CASO 4 950 675 10 7 1330 850 M P N N CASO 5 725 990 5 6 400 480 P M N N CASO 6 650 640 5 8 500 550 M M N P CASO 7 950 1200 6 7 1190 1160 M P M P NOTA: quantidade de líquido ingerido em ml; nível de perda involuntária de urina. Legenda: N não houve perda; P pequena; M moderada; I intensa. T0: avaliação pré-intervenção fisioterapêutica; T1: avaliação após intervenção fisioterapêutica 8

No presente estudo, em T0 e em T1, outros elementos importantes foram coletados. Eles se referem à presença (ou à ausência) de medicação anticolinérgica, de infecções urinárias, à utilização (ou não) de manobras de contenção, número de sessões eem relação à avaliação do questionário sobre aqualidade de vida. As informações a esse respeito estão demonstradas na Tabela 2. Tabela 2 - Informações sobre a presença de medicação anticolinérgica, de infecções urinárias, de manobras de contenção e qualidade de vida antes e após a intervenção fisioterapêutica e número de sessões de meninas com DTUI. Medicação anticolinérgica Infecções urinárias Manobras de contenção Qualidade de vida Número de sessões CASO 1 T0 Sim 45 T1 47 22 CASO 2 T0 Sim Sim Sim 48 T1 55 84 CASO 3 T0 Sim 51 T1 56 11 CASO 4 T0 Sim Sim Sim 55 T1 Sim 52 27 CASO 5 T0 Sim Sim Sim 56 T1 52 39 CASO 6 T0 Sim 44 T1 60 39 CASO 7 T0 Sim Sim 57 T1 61 29 Legenda: T0: avaliação pré-intervenção fisioterapêutica; T1: avaliação após intervenção fisioterapêutica Com exceção dos Casos 1 e 6, os demais apresentaram um resultado acima da nota de corte na avaliação inicial (T0) de qualidade de vida. Após a intervenção (T1), o Caso 1 apresentou melhora do escore, mas ainda se manteve abaixo da nota de corte. Em todos os outros casos, após a intervenção obteve-se aumento significativo dos escores (Tabela 2). Esse fato caracteriza que: meninas com DTUI não apresentam prejuízo na qualidade de vida; após a intervenção, elas adquirem melhora da qualidade de vida. 9

7. Considerações finais Este estudo mostrou que meninas com DTUI não apresentam prejuízo na qualidade de vida, a qual, no entanto, melhora significativamente após a intervenção do protocolo fisioterapêutico aqui proposto. O número de sessões pode variar de acordo com cada criança. E revelou ainda que, em 100% dos casos, não houve infecções urinárias, enurese e manobras de contenção após o uso do protocolo fisioterapêutico apresentado e também houve desmame da medicação anticolinérgica em 85,71% dos casos. 8. FONTES CONSULTADAS 1. Correia DM, Santos JM, Ferreira RS, Junior Barroso U, Lordêlo P. Estimulação elétrica neural para hiperatividade vesical: Uma revisão sistemática. Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2013;4(2): 142-51. 2. Sociedade Brasileira de Urologia. Projeto Diretrizes Disfunção do Trato Urinário Inferior. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 2006; Jun: 1-8. Disponível em: http://projetodiretrizes.org.br/6_volume/15-disftraturininf.pdf 3. Vasconcelos MMA, Lima EM, Vaz DB, Silva THS. Disfunção do trato urinário inferior - um diagnóstico comum na prática pediátrica. J Bras Nefrol 2013;35(1):57-64. 4. Koff SA, Wagner TT, Jayanthi VR. The relationship among dysfunctional elimination syndromes, primary vesicoureteral reflux and urinary tract infections in children.j Urol. 1998; 160: 1019-22. 5. Messelink EJ. The overactive bladder and the role of the pelvic floor muscles.bju Int 1999; 83: 31-5. 6. Vaz MMT. Qualidade de Vida em Crianças com Bexiga Hiperativa tratadas com a Eletroestimulação Transcutânea Parassacral. [Dissertação] Salvador: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública; 2006. 7. Lordêlo P, Teles A, Veiga ML, Correia LC, Junior Barroso U. TranscutaneousElectricalNerveStimulation in ChildrenwithOveractiveBladders: A Randomized ClinicalTrial. J. urol. 2010, 184:683-9. 8. Loureiro AF. Avaliação da eficácia das técnicas de liberação miofascial e cinesioterapia em mulheres com dor pélvica crônica. Tese de mestrado: Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2012. 9. Oliveira SG, Battisti BZ, Secco VL, Polese JC. Avaliação da qualidade de vida de portadores de incontinência urinária. RBCEH, Passo Fundo. 2009; 6 (1): 34-41. 10. Assumpção JR. FB, Kuczynski E, Sprovieri MH, Aranha EMG. Escala de avaliação de qualidade de vida AUQEI (Auto QuestionnaireQualité de Vieengantimagé) Validade e confiabilidade de uma escala para qualidade de vida em crianças de 4 a 12 anos. ArqNeuropsiquiatria. 2000; 58 (1): 119-27. 11. Shin D, Johnson DM. Avowed happiness as an overall assessment of the quality of life. Social Indicators Research. 1978; 5(1-4): 475-92. 12. Landgraf MJ. Precision and sensitivity of the short-form pediatric enuresis module to assess quality of life (PEMQOL).J PediatrUrol. 2007: 109-17. 13. Natale N, Kuhn S, Siemer S et al: Quality of life and self-esteem for children with urinary urge incontinence and voiding postponement. J Urol 2009; 182: 692. 14. Campos RM, GugliottaA, Ikari O, Perissinoto MC, Lúcio AC, Miyaoka R, D Ancona CAL. Estudo comparativo, prospectivo e randomizado entre uroterapia e tratamento farmacológico em crianças com incontinência urinária. Einstein.2013; 11(2): 203-8. 10