UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: POSSIBILIDADES PARA O MUNDO DO TRABALHO



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ Carla Paiva Mattos INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: POSSIBILIDADES PARA O MUNDO DO TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção como requisito parcial à obtenção do título de MBA Orientadora: Profa. Rita de Cássia Magalhães Trindade Stano, Dra. Itajubá, julho de 2005

MATTOS, Carla Paiva. Um Estudo da importância das Inteligências Múltiplas para o desenvolvimento do Ser Humano e das Organizações. Itajubá: UNIFEI, 2005. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Itajubá). Palavras-Chaves: Inteligências Múltiplas IM, Ser Humano, Organização, Gardner. ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ Carla Paiva Mattos INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: POSSIBILIDADES PARA O MUNDO DO TRABALHO Trabalho de Conclusão de Curso aprovado por banca examinadora em 11 de agosto de 2005, conferido ao autor o título de MBA Banca Examinadora: Profa. Rita de Cássia Magalhães Trindade Stano, Dra. Prof. Giovanni Horácio Guimarães, Dr. Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr. Itajubá, julho de 2005 iii

Dedicatória Dedico o presente trabalho à minha família e ao Cláudio, que me deram toda força no decorrer do curso, sempre me mostrando que eu era capaz de vencer. iv

Agradecimento Agradeço à minha Orientadora pela motivação que me deu desde a escolha do tema e pela dedicação até o último minuto de estudo. Agradeço também a Deus que sempre está ao nosso lado nos protegendo e nos mostrando qual o melhor caminho. v

SUMÁRIO Dedicatória iv Agradecimento v Sumário vi Resumo vii Abstract vii 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 Objetivo 1 1.2 Justificativa 1 2. O QUE É A INTELIGÊNCIA 2 2.1 Auto Conhecimento e Relações Interpessoais 3 2.2 O que é Inteligência Emocional 4 2.3 Educação Emocional 5 2.4 Importância das Emoções 6 3. HOWARD GARDNER 7 3.1 A Teoria das Inteligências Múltiplas 7 3.2 Projeto Zero 11 3.3 A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas Implicações 11 4. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS 14 4.1 Como esta Teoria difere das definições tradicionais de Inteligência 18 4.2 Como se desenvolveu a Teoria das Inteligências Múltiplas desde 1983 20 5. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E NEUROPSICOLOGIA 22 6. O QUE DIZEM OS CRÍTICOS DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS 24 MÚLTIPLAS 7. AS NOVAS INTELIGÊNCIAS 26 8. PEDAGOGIA E ANDRAGOGIA 27 9. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS NAS ORGANIZAÇÕES 28 10. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E INOVAÇÃO 32 11. CONCLUSÃO 33 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 36 vi

RESUMO A Teoria das Inteligências Múltiplas (I. M.) vem expandindo a forma de avaliar e desenvolver o potencial de cada pessoa. É, sem sombra de dúvida, uma das melhores maneiras de desenvolver o ser humano, além de também ser de grande interesse para as organizações nessa época de mudanças cada vez mais rápidas. Por esse motivo, o estudo do tema, pode realmente mostrar como é importante estudar as inteligências existentes, a fim de desenvolver a vida de cada pessoa e a vida da organização a que pertence. De fato, apesar de inicialmente o interesse pelas I.M. ter sido despertado principalmente no nível de ensino de crianças e jovens, sua importância para o ciclo de aprendizado permanente exigido pelas carreiras de hoje está sendo cada vez mais apreciado. O uso de técnicas ligadas às I. M. vem crescendo cada dia e sendo aplicada cada vez mais dentro das organizações, particularmente pelas Universidades Corporativas, o que assegurará a seqüência de soluções criativas que garantirão a perenização das organizações. A realização pessoal do indivíduo, através do estudo das inteligências de cada um, poderá trazer benefícios para todos. Pessoas se conhecendo melhor e trabalhando mais motivadas, gerando organizações mais produtivas. Palavras-chave: Inteligências Múltiplas - I. M., Ser Humano, Organização, Gardner. ABSTRACT The Multiple Intelligences Theory (MI) is enlarging the way we evaluate and develop each person s potential. It is, without doubt, one of the best ways to develop the human being, besides being also of great interest to all organizations in these times of ever-faster changes. Therefore, the study of this subject will show effectively how important is to study all kinds of existing intelligences so that we can develop each person s life and also the life of his organization. Actually, besides having been in the beginning of interest mainly at the level of education for children and the youth, its pertinence to the lifelong learning is over more appreciated. The use of MI techniques grows permanently inside organizations, mainly in the Corporate Universities, allowing the creative solution sequence that will warrant the continuity of organizations. The personal realization of individuals through the study of the particular intelligence of each one will be beneficial for all. People will know themselves better, work better and generate more productive organizations. Keywords: Multiple Intelligences, MI, Human Being, Organization, Gardner. vii

Capítulo 1 - Introdução As inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo. (Rubens Alves, em Cenas da Vida). Inteligência! Algo aparentemente fácil de definir. A princípio poderíamos dizer que sim. Pessoas que tem facilidade de aprender: pessoas inteligentes. Porém, como veremos neste estudo, qualquer pessoa pode desenvolver inteligências. Crianças, por exemplo, consideradas com baixo rendimento escolar, podem desenvolver atividades que antes pareciam ser impossíveis para elas. Veremos a importância do estudo das inteligências para o bom desenvolvimento do ser humano e conseqüentemente de sua vida profissional. 1.1 Objetivo: Mostrar a importância do estudo e desenvolvimento das Inteligências Múltiplas, analisando as contribuições que elas podem oferecer na vida pessoal e na qualidade das Relações do Trabalho. 1.2 Justificativa: O grande diferencial para o sucesso em qualquer área sempre esteve nas pessoas. Através do desenvolvimento do ser humano, pode-se conseguir resultados surpreendentes. Sabemos que cada indivíduo se identifica e se sobrepõe em uma ou algumas áreas em especial. Daí a importância de estudar e mostrar às pessoas em que espaço ela pode dar mais de si e se desenvolver, a fim de atingir seus objetivos e se sobressair bem em sua organização e para sua carreira profissional. Através de testes e aprofundamento no estudo da inteligência de cada um, podemos melhorar e acordar inteligências adormecidas, buscando o máximo do potencial das pessoas. 1

Capítulo 2 - O que é a Inteligência Inteligência é a capacidade de aprender, compreender e até mesmo adaptar-se facilmente a uma situação ou a algo novo. Buscando uma definição clara e aprofundada dessa Faculdade, acompanhamos o texto de Edênio Valle (1997): Como seres inteligentes, não poderíamos deixar de nos perguntar sobre a natureza dessa capacidade aparentemente exclusiva de entender, raciocinar, ordenar e inventar. Capacidade que implica não só a compreensão das coisas e do mundo, mas de nós próprios. Na antigüidade, os gregos, os egípcios, os hebreus, os hindus e também os povos chamados primitivos tinham alguma interpretação da inteligência humana. O senso comum define a inteligência como a capacidade para aprender, resolver problemas, entender situações inéditas, inventar e fazer relações em nível sempre mais abstrato. No início do século XX, sob o impacto da recém-inaugurada ciência psicológica, tais interpretações perderam o tom mítico-religioso ou filosófico. Passaram a ser uma investigação analítica e empírica do comportamento e da capacidade inteligente em seu desdobramento e globalidade. Os ingleses e norte-americanos realizaram um ingente esforço. Desenvolveram maneiras criativas de avaliar as capacidades mentais de crianças a adultos através de testes padronizados, de dificuldade gradativa, com quesitos aptos a explorar as diversas facetas do pensamento humano. Voltava-se para problemas de aritmética, raciocínio verbal, conhecimentos gerais, relações espaciais, provas de vocabulário, etc. Tais quesitos, aplicados a milhares e milhares de crianças, em condições controladas, receberam cuidadoso tratamento estatístico, do qual emergiram facetas convergentes, mas distintas, da atividade inteligente. Devido ao procedimento estatístico utilizado, estas facetas passaram a ser designados como fatores. A inteligência humana seria, nesta visão, composta de vários fatores que interagem. Alguns testes captam melhor os amplos, como o fator geral, mais ligado ao raciocínio lógicoabstrato e importante para qualquer tipo de solução de problemas. Outros testes são mais específicos. Medem aspectos parciais, como o verbal, importante na comunicação e expressão verbal, ou o fator espacial, importante na percepção das relações espaciais entre objetos e conjuntos. Segundo estudos feitos por Howard Gardner (1994) sobre inteligência e cognição ficou claro a existência de alguns pontos fortes ou competências intelectuais diferentes, cada um dos quais pode ter sua própria história desenvolvimental. A revisão de uma pesquisa recente em 2

neurobiologia novamente sugeriu a presença de áreas no cérebro, que correspondem, pelo menos aproximadamente, a determinadas formas de cognição. E estes mesmos estudos implicam numa organização neural que prova ser hospitaleira à noção de diferentes modos de processo de informação. Pelo menos nos campos da psicologia e da neurobiologia, o Espírito do Tempo parece estar aparelhado para a identificação das diversas competências intelectuais humanas. Mas a ciência jamais pode proceder de forma completa indutiva. Poderíamos realizar os testes e experiências psicológicas concebíveis ou esquadrinhar toda instalação e neuroanatômica que desejássemos e ainda assim não teríamos identificado as procuradas inteligências humanas. Aqui, nos confrontamos com uma pergunta não sobre a exatidão do conhecimento, mas, antes, sobre como o conhecimento é obtido. É necessário avançar uma hipótese ou uma teoria e então testá-la. Apenas quando os pontos fortes e limitações da teoria tornam-se conhecidos à plausibilidade do postulado original torna-se evidente. Então se torna necessário dizer, de uma vez por todas, que não há e jamais haverá uma lista única, irrefutável e universalmente aceita de inteligências humanas. Porque, então, prosseguir neste caminho precário? Porque há necessidade de uma melhor classificação de todas as competências intelectuais humanas da que temos agora; porque há muitas evidências recentes surgindo de pesquisas científicas, observações interculturais e estudos educacionais que precisam ser revisados e organizados; e talvez, acima de tudo, porque parece que podemos apresentar uma lista de pontos fortes intelectuais que provarão ser úteis para uma ampla gama de pesquisadores e profissionais e os capacitará a nos comunicarmos mais eficazmente sobre esta curiosamente sedutora entidade chamada intelecto. Em outras palavras, a síntese que buscamos jamais pode ser a resposta geral para todas as pessoas, mas promete oferecer algumas coisas para muitos interessados. 2.1 Auto Conhecimento e Relações Interpessoais Segundo Littlejohn (1982), a interação em qualquer ambiente que seja nasce da aceitação, desprendimento e acolhimento, e no mundo atribulado em que vivemos às vezes não nos damos conta disso. Relacionar-se é dar e receber ao mesmo tempo é abrir-se para o novo. Passamos mais tempo em nosso ambiente de trabalho do que em nosso lar, e ainda assim não nos damos conta de como é importante estar em um ambiente saudável, e o quanto isto depende de cada um. A aceitação começa pela capacidade de escutar o outro, colocar-se no lugar dele e estar preparado para aceitar ao outro e a nós mesmos. A base do relacionamento Interpessoal está no autoconhecimento. 3

Hoje, mais do que nunca, é importante que tomemos consciência da necessidade de investirmos no nosso processo de autoconhecimento e nas relações interpessoais, pois começamos a constatar que, além das notas baixas em leitura e escrita, existe outro tipo de deficiência vivenciada em nosso meio, a deficiência emocional. Pesquisas recentes afirmam que nossos alunos apresentam déficits de aptidões emocionais, afirmação que pode ser comprovada se levarmos em conta o comportamento apresentado por eles: retraimento ou dificuldades de relacionamento social; ansiedade e sintomas depressivos; problemas de atenção ou de raciocínio; assim como atitudes agressivas e delinqüentes. 2.2 O que é Inteligência Emocional A Inteligência Emocional está relacionada a habilidades tais como motivar a si mesmo e persistir mediante frustrações; controlar impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificação prorrogada; motivar pessoas, ajudando-as a liberarem seus melhores talentos, e conseguir seu engajamento a objetivos de interesses comuns. (Gilberto Vitor). Daniel Goleman, Ph.D. é o presidente do Emotional Intelligence Services (empresa de consultoria), em Sudbury, Massachusetts. Ao longo de 12 anos, escreveu sobre psicologia e ciências do cérebro para The New York Times. Editor da revista Psychology Today por nove anos, lecionou em Harvard (onde recebeu seu doutorado). Além de Inteligência Emocional, publicado pelo Brasil pela Editora Objetiva, entre seus livros anteriores estão Vital Lies, Simple Truths (Mentiras Vitais, Verdades Simples), The Meditative Mind (A Mente Meditativa) e, como co-autor, The Creative Spirit (O Espírito Criativo). Em um de seus livros, mapeia a Inteligência Emocional em cinco áreas de habilidades: 1. Auto-Conhecimento Emocional: reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre. 2. Controle Emocional: habilidade de lidar com seus próprios sentimentos. 3. Auto-Motivação: dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se sempre caminhando. 4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas. 5. Habilidade em relacionamentos interpessoais. 4

As três primeiras acima referem-se a Inteligência Intra-Pessoal. As duas últimas, a Inteligência Inter-Pessoal. Inteligência Inter-Pessoal: é a habilidade de entender outra pessoa: o que as motiva, como trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas. 1. Organização de Grupos: é a habilidade essencial da liderança, que envolve iniciativa e coordenação de esforços de um grupo, habilidade de obter do grupo o reconhecimento da liderança, a cooperação espontânea. 2. Negociação de Soluções: o papel do mediador, prevenindo e resolvendo conflitos. 3. Empatia - Sintonia Pessoal: é a capacidade de identificando e entendendo os desejos e sentimentos das pessoas, responder (reagir) de forma apropriada de forma a canalizá-los ao interesse comum. 4. Sensibilidade Social: é a capacidade de detectar e identificar sentimentos e motivos das pessoas. Inteligência Intra-Pessoal: é a mesma habilidade, só que voltada para si mesmo. É a capacidade de formar um modelo verdadeiro e preciso de si mesmo e usá-lo de forma efetiva e construtiva. 2.3 Educação Emocional A educação emocional é estudada, entre outros, por Daniel Goleman e Celso Antunes. Para ter sucesso em qualquer profissão, no mundo globalizado e competitivo onde vivemos, precisamos saber lidar com nossas emoções, identificar e atender às necessidades das pessoas de nosso relacionamento. Pesquisas da universidade da Harvard mostram que o sucesso profissional depende muito da competência emocional da pessoa e não somente de sua qualificação intelectual. Auto-estima, autoconfiança, autoconhecimento, vivências dos valores morais e éticos preponderantes a todas as pessoas, são o principal objetivo desse importante tema, que é a Educação Emocional. O homem é dotado, além da inteligência, também de emoções. Temos então a inteligência cognitiva (QI) e a inteligência emocional (QE). A educação emocional deve levar o indivíduo, a saber, trabalhar suas emoções, reconhecê-las, controlá-las e utilizá-las com melhor proveito na vida, tornando os relacionamentos pessoais mais ricos. É a empatia levando o ser ao contágio emocional, quando transmite e capta modos um do outro, promovendo o relacionamento interpessoal. 5

2.4 Importância das Emoções Goleman (1997) fala da importância das emoções, relacionando aos itens a seguir: Sobrevivência: Nossas emoções foram desenvolvidas naturalmente através de milhões de anos de evolução. Como resultado, nossas emoções possuem o potencial de nos servir como um sofisticado e delicado sistema interno de orientação. Nossas emoções nos alertam quando as necessidades humanas naturais não são encontradas. Por exemplo, quando nos sentimos sós, nossa necessidade é encontrar outras pessoas. Quando nos sentimos receosos, nossa necessidade é por segurança. Quando nos sentimos rejeitados, nossa necessidade é por aceitação. Tomadas de Decisão: Nossas emoções são uma fonte valiosa da informação. Nossas emoções nos ajudam a tomar decisões. Os estudos mostram que quando as conexões emocionais de uma pessoa estão danificadas no cérebro, ela não pode tomar nem mesmo as decisões simples. Por que? Porque não sentirá nada sobre suas escolhas. Ajuste de limites: Quando nos sentimos incomodados com o comportamento de uma pessoa, nossas emoções nos alertam. Se nós aprendermos a confiar em nossas emoções e sensações isto nos ajudará a ajustar nossos limites que são necessários para proteger nossa saúde física e mental. Comunicação: Nossas emoções ajudam-nos a comunicar com os outros. Nossas expressões faciais, por exemplo, podem demonstrar uma grande quantidade de emoções. Com o olhar, podemos sinalizar que precisamos de ajuda. Se formos também verbalmente hábeis, juntamente com nossas expressões teremos uma possibilidade maior de melhor expressar nossas emoções. Também é necessário que nós sejamos eficazes para escutar e entender os problemas dos outros. União: Nossas emoções são talvez a maior fonte potencial capaz de unir todos os membros da espécie humana. Claramente, as diferenças religiosas, culturais e políticas não permitem isto, apesar das emoções serem "universais". 6

Capítulo 3 - Howard Gardner Howard Gardner é professor de Educação e co-diretor do Projeto Zero, no Harvard Graduate School of Education, e professor adjunto de Neurologia na Boston University School of Medicine. É autor de inúmeros livros, incluindo Estruturas da Mente, A Criança Pré- Escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la e, mais recentemente, Mentes que Criam. Em 1981, Gardner recebeu o Mac Arthur Prize Fellowship e, em 1990, tornou-se o primeiro americano a receber o Louisville Grawemeyer Award in Education. Psicólogo construtivista influenciado por Piaget, Gardner é professor especializado em educação e neurologia. Em 1983, ele e uma equipe de pesquisadores divulgaram a teoria de inteligências múltiplas, questionando a visão predominante de inteligência centrada nas habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas. Para Gardner, a inteligência consiste na habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. Na teoria, são identificados nove "tipos" de inteligência. Em cada pessoa, tais inteligências se combinam de forma diferente. Na educação, a teoria de inteligências múltiplas implica o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades, a criação de currículos específicos para cada saber; um ambiente educacional mais e amplo e variado. Gardner é um crítico implacável dos testes de QI e de aptidão escolar. É considerado um dos principais pedagogos deste final de século. 3.1 A Teoria das Inteligências Múltiplas A Teoria das Inteligências Múltiplas foi elaborada a partir dos anos 80 por pesquisadores da Universidade Norte-Americana de Harvard, liderados pelo psicólogo Howard Gardner. Sua origem é interessante. Acompanhando o desempenho profissional de pessoas que haviam sido alunos fracos, Gardner se surpreendeu com o sucesso obtido por vários deles. O pesquisador passou então a questionar a avaliação escolar, cujos critérios não incluem a análise de capacidades que, no entanto, são importantes na vida das pessoas. Concluiu que as formas convencionais de avaliação apenas traduzem a concepção de inteligência, limitada à valorização da competência lógico-matemática e da lingüística. Gardner demonstrou, porém, que as demais faculdades também são produtos de processos mentais e que não há motivos para diferenciá-las do que se geralmente considera inteligência. Assim, segundo uma visão pluralista da mente, ampliou o conceito de inteligência única para o de um feixe de capacidades. Para ele, inteligência é a capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos valorizados em um ambiente cultural ou comunitário. 7

O psicólogo estabeleceu vários critérios para que uma inteligência seja considerada como tal, desde possível manifestação em todos os grupos culturais até a localização de sua área no cérebro. Ele próprio identificou sete inteligências, mas não considera esse número definitivo. A Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985) é uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação. Sua insatisfação com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência, que focalizam, sobretudo as habilidades para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas. Através da avaliação das atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, e do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente apropriadas, para os seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Na sua pesquisa, Gardner estudou também o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; adultos com lesões cerebrais e como estes não perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras habilidades sejam sequer atingidas; populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas habilidades intelectuais; como se deu o desenvolvimento cognitivo através dos milênios. Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não sejam organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense nessas habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta. Howard Gardner diz que todas as pessoas têm múltiplas inteligências. Estas podem ser desenvolvidas e fortalecidas, ou ignoradas e enfraquecidas. Ele diz, atualmente, que cada indivíduo tem nove inteligências. A Teoria das Inteligências Múltiplas, um resultado do empenho para se conhecer as capacidades cerebrais é uma nova concepção científica sobre a mente, uma visão pluralista, que reconhece diferentes facetas de cognição. Segundo essa teoria, todo ser humano, excluídos os casos de lesões cerebrais, possui potencialidade a serem desenvolvidas de diversos tipos de inteligência, entendendo-se inteligência como a capacidade de resolver 8

problemas ou elaborar produtos valorizados em um ambiente cultural ou comunitário. A resolução de problemas inclui a habilidade de comunicações de idéias e emoções, que não precisam necessariamente ocorrer através da comunicação verbal, da inteligência lingüística. A pesquisa feita a partir de uma perspectiva fundamental em aspectos psicológicos e biológicos, constata que embora as inteligências sejam inatas e façam parte da natureza humana como os olhos ou coração, é a partir das relações com o ambiente e com a cultura, que o homem desenvolve mais algumas e deixa de aprimorar outras. Gardner defende que estas gamas de habilidade não são fixas por Deus, mas construída por homens e mulheres. Um potencial biopsicológico, que depende de estímulos culturais para ser desenvolvido. Conforme esclarecimento do pesquisador, a idéia das inteligências múltiplas é antiga e ele não pretende reivindicar a sua autoria, mas sim o fato de organizar esses conceitos e sistematizálos a partir de novas descobertas sobre o cérebro humano. Nesta nova visão, as conceituadas inteligências lógico-matemática e lingüística são apenas parte de um espectro muito mais amplo. Há capacidades importantes para a vida humana, tanto do ponto de vista de realização pessoal quanto profissional, que não são desenvolvidas nas escolas. Gardner não fala mais de uma inteligência, mas de um feixe de inteligências, onde a lógica-matemática e lingüística são colocados na mesma condição das demais. É inteligente quem administra um hotel, quem cura alguém, quem faz um poema, quem possui auto conhecimento, quem constrói um computador, quem sabe se guiar numa floresta. Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos os indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por condições ambientais. A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a sua definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que são significativos em um ou mais ambientes culturais, Gardner sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos talentos, que devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois, passados para a geração seguinte. 9

Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência pode ser visto em termos de uma seqüência de estágios: enquanto todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado. Uma curiosidade: Um curioso incidente que aconteceu em nosso país antes da Copa do Mundo de 1958. O Brasil possuía seu primeiro psicólogo esportivo, João Carvalhaes, que atendia a seleção brasileira de futebol. O psicólogo resolveu aplicar em todos os jogadores testes de QI. Garrincha, que estava no apogeu de sua carreira, após responder os testes ficou sabendo que seu quociente intelectual era irrisório, sendo classificado como débil mental. Por este motivo quase foi impedido de participar da Copa. (MODERNELL, 1992). Ninguém duvida do talento que possuía este atleta quando se encontrava no meio de um gramado com a bola nos pés. Todavia, o teste psicométrico de inteligência indicava Garrincha como uma pessoa sem grandes chances de ser bem sucedido em sua vida, o que não correspondeu à realidade. Fica claro que os testes de QI predizem apenas como vai ser o desempenho escolar e não o sucesso profissional depois de concluída a instrução formal. É dentro desta perspectiva que Gardner apresenta a teoria das Inteligências Múltiplas (IM). Os testes de QI medem apenas as capacidades lógica e lingüística, capacidades que normalmente são as únicas exigidas e avaliadas pelas escolas e, sem dúvida, as capacidades mais valorizadas em nossa sociedade. Gardner pretende considerar também as outras capacidades, as outras "inteligências" menos lembradas, para analisá-las em sua teoria. Para selecionar quais as inteligências que seriam trabalhadas em sua teoria foram utilizadas diversas fontes: as informações disponíveis sobre o desenvolvimento normal e o desenvolvimento do indivíduo talentoso; estudos sobre populações prodígios, idiotas sábios, crianças autistas, crianças com dificuldade de aprendizagem; dados sobre a evolução da cognição; considerações culturais comparadas sobre a cognição; estudos psicométricos; estudos de treinamento psicológico e principalmente análise da perda das capacidades cognitivas nas condições de lesão cerebral. Cada inteligência deveria ter uma operação nuclear ou um conjunto de operações identificáveis e deveria também ser capaz de ser codificada em um sistema de símbolos. (GARDNER, 1995). 10

3.2 Projeto Zero O Projeto Zero de Harvard, iniciado por Nelson Goodman e co-dirigido por Howard Gardner e David Perkins, realiza pesquisas básicas sobre cognição, aprendizagem e artes há 30 anos. A Universidade Harvard, nos Estados Unidos, desenhou o Projeto Zero, que reúne equipes interdisciplinares com o objetivo de estudar as relações entre a inteligência, a compreensão e o ensino. A educadora Argentina Paula Pogré, 47, da Universidade Nacional de General Sarmiento, que integra a equipe, diz que o desafio de lidar com a diversidade é algo novo. 3.3 A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas Implicações No início do século XX, as autoridades francesas solicitaram a Alfredo Binet que criasse um instrumento pelo qual se pudesse prever quais as crianças que teriam sucesso nos liceus parisienses. O instrumento criado por Binet testava a habilidade das crianças nas áreas verbal e lógica, já que os currículos acadêmicos dos liceus enfatizavam, sobretudo o desenvolvimento da linguagem e da matemática. Este instrumento deu origem ao primeiro teste da inteligência, desenvolvido por Terman, na Universidade de Standford, na Califórnia: o Standford-Binet Inteligence Scale. Subseqüentes testes de inteligência e a comunidade de psicometria tiveram enorme influência, durante este século sobre a idéia que se tem de inteligência, embora o próprio Binet (Binet & Simon, 1905 Apud Kornhaber & Gardner, 1989) tenha declarado que um único número, derivado da performance de uma criança em um teste, não poderia retratar uma questão tão complexa quanto à inteligência humana. As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e mais específicas do que se acreditava (Gardner, 1985). Neurologistas têm documentado que o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único nem tão pouco é infinitamente plástico. Acredita-se, hoje, que o sistema nervoso seja altamente diferenciado e que diferentes centros neurais processem diferentes tipos de informação (Gardner, 1987). Howard Gardner, baseou-se nestas pesquisas para questionar a tradicional visão da inteligência, uma visão que enfatiza as habilidades lingüística e lógico-matemática. Segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que não existem habilidades gerais, duvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes atuações valorizadas em culturas diferentes. 11

Finalmente, ele define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. Para Gardner, reduzir a inteligência às capacidades intelectuais é um erro, pois se pode falar com segurança de pelo menos sete tipos de inteligências diferentes: lingüística, lógicomatemática, corporal-cinestésica, musical, visual-espacial, interpessoal (em relação aos outros), pessoal (em relação a si mesmo). Segundo ele, essas inteligências são sete jeitos diferentes de conhecer o mundo, e a maior ou menor aptidão para cada uma delas define um perfil de cada aluno, de cada pessoa. As idéias de Gardner recebem muitas críticas de psicólogos. Uma delas é que, ao se "enraizar" as aptidões intelectuais em sete grupos predefinidos, esquece-se do enorme papel que o meio pode ter, ao abrir diversos caminhos de desenvolvimento. A crítica mais comum é do tipo "Por que não 10, 15, 18 tipos de inteligência?" Outros dizem que Gardner confunde "inteligência" com "habilidade", o que empobrece o conceito. A maioria dessas objeções é abordada pelo próprio Gardner em seus livros. Para a pedagogia, mais preocupada com possíveis aplicações práticas do que com o rigor acadêmico, essa teoria é muito atrativa, especialmente porque Gardner comanda um projeto de escola experimental na Universidade de Harvard (Projeto Zero), por meio do qual tenta verificar na prática as conseqüências de suas idéias para a educação. Em sua escola, a música, a dança, a dramatização, o desenho não são considerados apenas novas "matérias" que vêm enriquecer e equilibrar o currículo, mas também estratégias didáticas para o ensino de conteúdos mais tradicionais, procurando respeitar os possíveis diferentes modos de aprender. Trabalhos em equipe e realização de projetos, criação, apreciação e crítica de obras de arte, auto-avaliação e concepção da escola como uma pequena comunidade são outras das características do projeto pedagógico de Gardner. Não que essas idéias sejam absolutamente originais. O próprio Gardner faz questão de deixar claro que, em termos de aplicação à educação, sua teoria leva a práticas que já foram em grande parte introduzidas desde o início do século, pelo menos por pedagogos ligados ao movimento da Escola Progressiva (conhecida também como Escola Nova). Assim como acontece no caso da Teoria da Inteligência Emocional, a Teoria das I.M. de Gardner parece dever parte de seu sucesso à capacidade de agregar em torno de si um grande 12

descontentamento com uma educação excessivamente preocupada com a transmissão de conteúdos intelectuais. Uma escola que admita a influência, em sua concepção de trabalho, da teoria das inteligências múltiplas, certamente poderá introduzir inovações interessantes em suas práticas, oferecendo mais oportunidades para que cada aluno encontre rumos próprios para seu crescimento. 13