ALTAS HABILIDADES OU SUPERDOTAÇÃO: O DESENHO DA REALIDADE NA REDE ESTADUAL PAULISTA

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Transcrição:

ALTAS HABILIDADES OU SUPERDOTAÇÃO: O DESENHO DA REALIDADE NA REDE ESTADUAL PAULISTA Eliane Morais de Jesus Mani - Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Rosemeire de Araújo Rangni - Universidade Federal de São Carlos - UFSCar Palavras-chave: Educação Especial. Altas Habilidades ou Superdotação. Rede de Ensino Estadual Paulista. Eixo Temático: Altas Habilidades 1 Introdução O cenário educacional brasileiro têm sofrido inúmeras mudanças nas últimas décadas, com notórios avanços em políticas públicas, conhecimentos e práticas que dia a dia modificam o contexto escolar. Nesta direção, o modelo inclusivo amplia espaços promovendo a inclusão escolar dos estudantes que compõem o público alvo da Educação Especial PAEE, a saber: deficiências, transtornos globais do desenvolvimento - TGD e altas habilidades ou superdotação 1 (BRASIL, 2008; 2013), constituindo novas formas de conceber conceitos e princípios sobre as diferenças e garantias de direitos de todos os estudantes com respeito e equidade, conforme premissas legais. Entretanto, apesar da evidente transformação no que diz respeito ao acesso do estudante PAEE ao ensino comum, as ações das escolas na busca em oferecer respostas educativas adequadas a esses alunos se concentram fortemente para aqueles que hipoteticamente demandam mais esforços, dadas a condições deficitárias impostas pelo meio para a aprendizagem, ou seja, da pessoa deficiente ou com TGD. Já o atendimento aos alunos que se destacam pelos potenciais são vitimados pelo senso comum de que se encontram em vantagem educativa diante de seus pares, entre outros mitos e crenças errôneas sobre essa parcela de educandos (VIRGOLIM, 2007; GUENTHER, 2012; RANGNI, 2012; MANI, 2015). Deste modo é salutar o desenvolvimento de estudos que possam mostrar o andamento sobre como está se delineando o contexto educacional para essa parcela de educandos na 1 Neste estudo foi adotado o termo altas habilidades ou superdotação por estar em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96, alterada pela Lei nº 12.796 (BRASIL, 2013).

Rede de ensino estudada, uma vez que esta se configura como uma parte do cenário educacional com a maior malha estudantil do país, e que apresenta uma robusta legislação com especificidade sobre as altas habilidades ou superdotação (SÃO PAULO, 2011; 2012; 2014). Mas quem são os alunos com altas habilidades e onde estão na Rede Estadual Paulista? Conforme se expressa na Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), a pessoa com altas habilidades ou superdotação se caracteriza como sendo aqueles que: Demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse (BRASIL, 2008, s/p). Cumpre mencionar que as pessoas com talentos especiais não nascem prontas, apesar de suas potencialidades, e dessa maneira a escola deve reconhecer e assumir uma postura de atenção para o desenvolvimento e inclusão desses estudantes, garantindo um viés de equidade e qualidade de ensino nas escolas (VIRGOLIM, 2007; MANI, 2015). Para Renzulli (2014, p. 220), a constituição da superdotação acontece como algo que se desenvolve em certas pessoas, em certos momentos e em certas circunstâncias. O autor evidencia, ainda, que pessoas podem apresentar um potencial notável, porém há uma longa distância no percurso de vida até que esse potencial seja manifestado como um comportamento superdotado 2, denotando, portanto, a importância e desafio para o professor quanto à transformação do potencial em desempenho. A partir da concepção da superdotação no Modelo dos Três Anéis (que se apresenta por habilidades acima da média, associado ao alto nível de energia e envolvimento com a atividade e a criatividade), o autor mencionado busca esclarecer as principais dimensões do potencial humano para a criatividade produtiva e a dimensão acadêmica. Vale ressaltar que os estudos desenvolvidos por Renzulli (2014) demonstram que não há um critério único para determinar a superdotação. Todavia, é a intersecção entre os traços 2 A teoria apresentada por Renzulli (2014) discute a superdotação a partir do desenvolvimento de comportamentos superdotados, revelando uma clara distinção entre potencial e desempenho, uma vez que uma pessoa pode demonstrar um potencial notável em determinada área, contudo existe uma distância entre a manifestação desse potencial e evidências de um desempenho superior, que implica notoriamente na prática de estímulos e ações educacionais para essa população.

existentes no Modelo dos Três Anéis que compreende o desenvolvimento do comportamento superdotado. O conhecimento sobre a temática das altas habilidades é de extrema importância para se perceber sinais identificáveis nas salas de aula, entretanto, para além da identificação é fundamental que sejam desenvolvidos serviços de atendimento educacional especializado para suplementar as necessidades próprias dessa população escolar, pois, a rede de ensino estadual paulista abarca cerca de 5.300 unidades escolares, com aproximadamente 230 mil professores e mais de quatro milhões de alunos, gerenciadas por 91 Diretorias de Ensino dispostas em todo Estado. Assim sendo, este estudo objetivou apresentar o atendimento de alunos com altas habilidades ou superdotação na rede de ensino estadual paulista, no período de 2000 a 2014. Para tanto, o método teve como base a Pesquisa Exploratória Descritiva. Para Gil (2011) a pesquisa exploratória é desenvolvida com o intuito de proporcionar uma visão geral sobre determinado fato. Já a pesquisa descritiva, na visão do mesmo autor, busca a descrição de características apontadas por determinada população sobre um tema específico. Para esse fim, levantou-se o censo das matrículas de alunos com altas habilidades ou superdotação na Rede Estadual Paulista no período de 2000 a 2014, por meio, da Secretaria Estadual e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. 2 Resultados e Discussão O Quadro I expõe o número de matrículas de alunos com altas habilidades ou superdotação na rede de ensino estadual paulista, no período de 2000 a 2014. QUADRO 1 Matrículas dos Alunos com Altas Habilidades ou Superdotação na rede de ensino estadual paulista e no INEP. Ano Dados SEE-SP Dados INEP 2000 59 Alunos 56 Alunos 2001 74 Alunos 74 Alunos 2002 33 Alunos 35 Alunos 2003 73 Alunos 95 Alunos 2004 64 Alunos 65 Alunos 2005 -- 49 Alunos 2006 -- 174 Alunos 2007 02 Alunos 283 Alunos 2008 02 Alunos 716 Alunos 2009 02 Alunos -- 2010 02 Alunos -- 2011 -- --

2012 983 Alunos -- 2013 -- -- 2014 1032 Alunos -- Fonte: Mani (2015). Os dados revelaram apenas 2.326 alunos com altas habilidades ou superdotação identificados pela SEE-SP de 2000 a 2014, denotando que há necessidade de maiores investimentos em ações para identifica-los para garantir seus direitos educacionais aos seus potenciais. Também, apontam que nos anos de 2005, 2006, 2011 e 2013 não houve matrículas de alunos com altas habilidades ou superdotação na SEE-SP, e, do mesmo modo, de 2009 a 2014 não houve censo disponibilizado pelo INEP sobre a matrícula dessa parcela de alunos. Ainda, conforme pode se observar na comparação entre os dados, observou-se que a partir do ano de 2005 esses dados se apresentam de forma discrepante. Notoriamente, o censo exposto não demonstra dados com maiores especificações. Todavia, as crescentes matrículas entre os anos de 2007 e 2008 destacados pelo INEP, bem como o aumento de matrículas nos anos de 2012 e 2014 é ínfimo se comparado à hipótese indicada por Gagné (2008) de 10% da população escolar com altas habilidades ou superdotação. 3 Conclusão A realidade demonstrada pelos dados fortalece a necessidade de se debruçar sobre esse panorama para compreender como se desenha a realidade sobre as matrículas de alunos com altas habilidades ou superdotação na rede de ensino estadual paulista, uma vez que se infere que são poucos os esforços para a identificação deste alunado nesta rede de ensino, denotando uma clara invisibilidade, que ocasiona a ausência de atendimentos adequados a esta população educacional. Essa parcela de alunos carece de atenção e respeito frente as suas necessidades para que seja possível garantir o desenvolvimento pleno de suas potencialidades, por meio do ensino de qualidade, cuja premissa é prioritária para a educação democrática. O levantamento da realidade apresentada e sua discussão pode representar um marco significativo para a reflexão na busca por novos caminhos para avanços no campo da educação dos alunos com altas habilidades ou superdotação. 4 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf >. Acesso em: 12 mar. 2016.

. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências, 2013. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm>. Acesso em: 12 mar. 2016. GAGNÉ, F. Building gifts into talents.talent development according to the DMGT.Veröffentlicht. IN: news&science. Begabtenförderung und Begabungsforschung.özbf, Nr. 19/Ausgabe 2, 2008, S. 27-30. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2011. GUENTHER, Z. C. Crianças Dotadas e Talentosas... Não as Deixem Esperar Mais! Rio de Janeiro: LTC, 2012. MANI, E. M. de J. Altas Habilidades ou Superdotação: políticas públicas e atendimento educacional em uma diretoria de ensino paulista. 2015. 172f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial), Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015. RANGNI, R. A. Reconhecimento do Talento em Alunos com Perdas Auditivas do Ensino Básico. 2012. 160 f. Tese (Doutorado em Educação Especial), Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012. RENZULLI, J. A Concepção de Superdotação no Modelo dos Três Anéis: um modelo de desenvolvimento para a promoção da produtividade criativa. IN: VIRGOLIM, A.; KONKIEWITZ, E.C. (Orgs.). Altas Habilidades/Superdotação, Inteligência e Criatividade. Campinas: SP, Papirus, pp. 219-264, 2014. SÃO PAULO. Resolução SE 11, de 31 de janeiro de 2011. Dispõe sobre a educação escolar de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas da rede estadual de ensino e dá providências correlatas, 2011. Disponível em: < http://siau.edunet.sp.gov.br/itemlise/arquivos/11_08.htm>. Acesso em: 12 mar. 2016.. Resolução SE 81, de 7 de agosto de 2012. Dispõe sobre o processo de aceleração de estudos para alunos com altas habilidades/superdotação na rede estadual de ensino e dá providências correlatas, 2012. Disponível em: < http://www.educacao.sp.gov.br/lise/sislegis/detresol.asp?strato=201208070081>. Acesso em: 12 mar. 2016.. Resolução SE 61, de 11 de novembro de 2014. Dispõe sobre a Educação Especial nas unidades escolares da rede estadual de ensino, 2014. Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/lise/sislegis/detresol.asp?strato=201411110061>. Acesso em 12 mar. 2016. VIRGOLIM, A.M. R. Altas Habilidades/Superdotação: encorajando potenciais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.