Esta revista faz parte integrante da edição 1534 do Jornal de Leiria, de 5 de Dezembro de 2013 e não pode ser vendida separadamente



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Angola Os últimos anos foram de grande desenvolvimento em Angola. Parte desta mudança fez-se com empresas da região de Leiria, que têm contribuído para uma nova realidade naquele país africano. Esta revista faz parte integrante da edição 1534 do Jornal de Leiria, de 5 de Dezembro de 2013 e não pode ser vendida separadamente

GRUPO IMOFIL www.imofil.com IMOFIL CONSTRUÇÃO IMOFIL ALUMÍNIOS MADEIFIL PREBENGO SAGRIBENGO CERÂMICA BENGO TINCOTRADE SPINERG SOLUÇÕES PARA ENERGIA

Editorial Índice 04 Mercado angolano exige projectos sólidos e maduros 12 Em Angola vive-se bem 14 Grupo missionário Ondjoyetu apoia 25 mil pessoas 18 Joaquim Coutinho Duarte, presidente da Associação Empresarial Luso Angolana em entrevista 20 Grupo Arnaud, a porta de entrada em Angola 22 Armag: empresa que veste Luanda há 22 anos 24 Grupo Imofil: o construtor de desafios 27 Boas parcerias determinam êxito da Iriss-Fast Angola 30 Estpor cresce no mercado eléctrico e imobiliário 32 Benguela com A Preferível há mais de 50 anos 34 Grupo MOPIC inaugura fábrica em Luanda no próximo ano 36 Movicortes Angola: plataforma de negócios do grupo em Portugal 39 DB Schenker: em Angola a transportar para o resto do mundo 42 Primacis reforça presença no mercado angolano 44 António Araújo: oito anos na banca em Angola 46 Liz On-Line em crescimento no mercado angolano 48 Grupo Lena: obras com 700 milhões de dólares em carteira 50 Gestinfor lidera mercado dos serviços em Angola 52 LMP Angola cresce no sector das portas seccionadas e segurança 54 Carlis expande actividade para Lubango e Luanda Ficha Técnica Edição: Jorlis - Edições e Publicações, Lda. Director: João Nazário Coordenação: João Nazário Redacção: Alexandra Barata, Lurdes Tindade, Serviços Comerciais: Rui Pereira, Sandra Nicolau Paginação: Isilda Trindade, Rita Carlos Impressão: Lisgráfica, Lda Tiragem: 15.000 N.º de Registo 109980 Depósito Legal n.º 5628/84 Distribuição: Jornal de Leiria, edição n.º 1534, de 5 de Dezembro de 2013 Não é novidade para ninguém que Angola tem sido importantíssima para a economia portuguesa e determinante para que muitas empresas estejam a conseguir aguentar este período de maiores dificuldades no mercado interno. Nos últimos anos, só do distrito de Leiria, foram várias dezenas as empresas que se instalaram naquele país africano, que se tornou no quarto principal destino das exportações desta região com um crescimento de 58% em 2011 face ao ano anterior. Naturalmente que também houve muitos empresários em dificuldades que foram para Angola apenas dar o último suspiro, pensando que iriam encontrar algum el dorado de onde, sem muito fazer, se regressava de bolsos, ou malas, cheios. Esta revista não fala desses, dos que olharam para Angola apenas como um país a explorar sem grande investimento, em que a única preocupação é ganhar o máximo de dinheiro em pouco tempo e tirá-lo de lá assim que possível. Pelo contrário, a preocupação foi a de procurar empresas que, de uma forma séria, olharam para aquele país com quem Portugal tem afinidades seculares e avançaram com projectos estruturados, dispostas a investir e a integrar a economia angolana respeitando os seus agentes. Não foi, de todo, difícil encontrálas, pois são inúmeras as empresas portuguesas, muitas delas da região, que se instalaram em Angola numa perspectiva de longo prazo, desenvolvendo a sua actividade num evidente respeito pela sociedade angolana, bem como pelas suas leis e identidade. Muitas dessas empresas são já, aliás, uma referência, tendo contribuído com relevância para o desenvolvimento a que se tem assistido naquele país, quer com o know how que levaram, quer pelas obras que desenvolveram, quer ainda pelo emprego que criaram. Ou seja, se Angola tem sido importante para a economia portuguesa e para parte do seu tecido empresarial, também não deixa de ser verdade que a maioria das empresas que apostaram naquele país tem contribuído de forma muito relevante para o seu desenvolvimento e afirmação enquanto potência africana. João Nazário Angola 5 de Dezembro de 2013 3

Mercado angolano exige projectos sólidos e maduros Solidez São mais de 200 mil os portugueses a viver e a trabalhar em Angola, um mercado que se apresenta cada vez mais como um destino e menos como uma tábua de salvação para empresas em dificuldades. O êxito de quem parte para aquela que poderá vir a ser a maior potência de África depende de projectos estruturados, sólidos e capazes de fazer frente à concorrência crescente. A tecnologia associada à indústria transformadora e o conhecimento são áreas privilegiadas. Lurdes Trindade lurdestrindadejl@gmail.com Há cada vez mais portugueses a viver e a trabalhar em Angola, sendo inegável a importância das relações comerciais entre os dois países. As estatísticas oficiais falam de cerca de 130 pessoas, mas quem se encontra no território assegura que existem mais de 200 mil, entre empresários, quadros expatriados e famílias com jovens e crianças. Usufruem de um país que cresce economicamente dois dígitos ao ano e que, fruto de uma guerra que durou mais de 40 anos e que destruiu grande parte das infraestruturas, tem ainda muito para reconstruir. Angola continua a ser uma terra de oportunidades para os portugueses, mas, mais do que isso, é um país de destino para empresários e jovens qualificados que tenham como objectivo trabalhar com qualidade e seriedade, acrescentando valor a uma economia ávida de investimento e de conhecimento. Trata-se de um país que tem registado um crescimento demográfico avassalador - cerca de 50% da população tem menos de 34 anos e que precisa, cada vez mais, de investimentos na construção de escolas, de hospitais, centros de saúde e materno-infantis, habitação, estradas secundárias e autoestradas, transportes marítimos e fluviais. Necessita, também, de colmatar carências ao nível do pessoal qualificado, apesar da multiplicação de centros de formação profissional, escolas técnicas e universidades. Um contexto em que diversas empresas portuguesas instaladas no território têm desempenhado um papel importante, formando quadros internamente, além de incentivarem os seus colaboradores angolanos a regressar aos bancos da escola, quer ajudando financeiramente quer com a disponibilidade de tempo para frequência das aulas. Recorde-se que uma das maiores empresas na área da formação é de Leiria, tendo nos seus quadros centenas de formadores em várias áreas do saber. Angola é, pois, um país com muito por fazer em áreas que os portugueses dominam bem. Mas não apenas para a comercialização de bens e serviços, pois essa via, apesar das boas performances das exportações nos últimos anos, tem tendência a esbater-se. É sim um mercado cada vez mais importante para o investimento directo português, como confirma Manuel Gomes, economista, professor universitário em Angola e consultor dos ministérios dos Transportes, da Indústria e da Comunicação Social angolanos. 4 Angola 5 de Dezembro de 2013

RICARDO GRAÇA 50% da população em Angola tem menos de 34 anos. O país tem registado um crescimento demográfico e precisa, cada vez mais, de investimentos na construção de escolas, de hospitais, centros de saúde e materno-infantis, habitação, estradas secundárias e autoestradas, transportes marítimos e fluviais A partilha da mesma língua e a existência de laços culturais e históricos comuns reaproximaram os dois países, pelo que, ao longo dos anos mais recentes, as ligações entre Portugal e Angola adquiriram novo fôlego: tornaram-se mais fortes, mais próximas e mais equitativas, evoluindo para um relacionamento efectivamente bilateral, em que os investimentos se realizam de parte a parte, revela Carlos Bayan Ferreira, presidente da direcção da Câmara de Comércio e Indústria Portugal- - Angola. Os números desta relação bilateral falam por si. Segundo a AICEP, Portugal foi o quarto maior investidor estrangeiro em Angola em 2012, assim como no primeiro trimestre deste ano. Em 2011 foi o terceiro maior. Do outro lado da relação encontram-se os investimentos de Angola em Portugal, que assumiram o 11º lugar da tabela dos investidores estrangeiros em 2012. Há mais de 8800 exportadoras portuguesas presentes no mercado angolano, uma dinâmica que tem permitido o aumento das exportações para Angola com as vendas a crescerem 8,8% entre 2008 e 2012. Se compararmos o primeiro trimestre de 2012 com o de 2013, esse crescimento foi de 7,5%. Angola é o quarto destino das exportações portuguesas. >>> Angola 5 de Dezembro de 2013 5

Contudo, nos primeiros seis meses do ano, as exportações angolanas de bens para Portugal já superam as exportações portuguesas para aquele país. No universo dos PALOP (Países Africanos de Lingua Oficial Portuguesa), Angola assume a primeira posição quer como cliente quer como fornecedor de Portugal. Outro aspecto determinante neste casamento entre os dois países é que Portugal continua a ser uma porta de entrada de Angola na Europa e Angola uma porta de entrada para investimentos na África Austral. 6 Angola 5 de Dezembro de 2013 Se uma empresa que não se encontra saudável em Portugal e opta por Angola por falta de alternativas noutros destinos está a cometer um erro colossal Carlos Bayan Ferreira, presidente da direcção da Câmara de Comércio e Indústria Portugal - Angola Portugal tem o que o mercado angolano precisa A forte presença de empresários portugueses, e também da região, é uma realidade que não pode ser ignorada em Angola, como revelam, aliás, os testemunhos dos empresários ouvidos pelo JOR- NAL DE LEIRIA. Mas, hoje, quem vai para Angola ou quem vende através das exportações tem, obrigatoriamente, de pensar numa relação estreita entre duas economias que precisam uma da outra, oferecendo confiança e credibilidade, já que é a imagem das empresas e do País que está em causa. Por isso, aquele que foi frequentemente apelidado como o el dorado da emigração, apresenta-se cada vez menos como tábua de salvação para empresas ou em dificuldades. Manuel Gomes lembra que Angola poderá ter sido, no passado, uma grande oportunidade para empresas em dificuldades, no sentido em que muitos investimentos foram recuperados num único ano. Mas essa situação não é mais possível, porque o país começa a ser um mercado muito competitivo e já se constata que muitas fábricas têm dificuldade em colocar os seus produtos por falta de preço e de qualidade competitivas. Também Carlos Bayan Ferreira refuta a ideia de el dorado atribuída ao mercado angolano, alegando que este epíteto se associa habitualmente a um sítio cheio de facilidades onde basta estalar os dedos e tudo corre de feição. Não é verdade. O empresário português já não pode colocar vários mercados lado a lado e depois escolher o angolano simplesmente por uma razão abstrata, afectiva ou circunstancial. Se uma empresa que não se encontra saudável em Portugal e opta por Angola por falta de alternativas noutros destinos está a cometer um erro colossal, adverte, lembrando que a entrada e a permanência no país envolvem elevados custos fixos, de estrutura e permanência, desde o primeiro dia de actividade. Posição defendida igualmente por empresários da região que investiram e investem em negócios próprios em Angola e assumem a obrigatoriedade de uma boa situação financeira em Portugal para a localização em Angola. Os custos de instalação e manutenção de uma empresa, com quadros altamente qualificados e uma excelente qualidade dos produtos e serviços são demasiado elevados para se andar a brincar aos empresários. Carlos Bayan Ferreira sublinha que Angola é, contudo, um mercado de futuro, com condições para crescer e se desenvolver, com inúmeros nichos de mercado ainda por explorar e outros com muito espaço para acolher novos agentes >>>

RICARDO GRAÇA 8 Angola 5 de Dezembro de 2013 Investir em Angola é, actualmente, um projecto de médio ou longo prazo em termos de recuperação do capital investido. Trazer para Angola tecnologias obsoletas é um suicídio Manuel Gomes, economista, empresário de Leiria e consultor de três ministérios angolanos económicos. Como exemplo, aponta as muitas empresas portuguesas presentes em Angola que diversificaram os seus investimentos em áreas completamente diferentes daquela com que entraram no mercado, mostrando não só a vontade em multiplicar a actividade mas também a confiança no mercado angolano para absorver novo investimento. Se acrescermos o facto de as parcerias bilaterais se terem tornado efectivas, então o ambiente de negócios apresenta as condições para a articulação dos projectos dos parceiros portugueses e angolanos, de forma a aproveitar e sublimar as sinergias existentes, numa relação winwin, explica o responsável. Porém, para que as empresas se apercebam e aproveitem as oportunidades de negócio implica estar no mercado, atento e, na condição de empresários/inovadores, vê-las antes dos outros. Os empresários portugueses deparam-se localmente com uma concorrência acrescida e crescente, constituída por outros empresários provenientes das mais díspares regiões, muitas vezes com maior capacidade financeira (e técnica) do que o investidor luso, previne Carlos Bayan Ferreira. Manuel Gomes, à semelhança dos empresários instalados naquele mercado, também avisa: investir em Angola é, actualmente, um projecto de médio ou longo prazo em termos de recuperação do capital investido. Trazer para Angola tecnologias obsoletas é um suicídio, diz. Investir em unidades industriais é o caminho Como o objectivo da política económica angolana passa por fazer crescer a indústria transformadora, a abordagem dos empresários portugueses tem que se basear cada vez mais no investimento em unidades industriais (ou em instalações próprias nos outros ramos da economia) no local. Mesmo as grandes consultoras internacionais estão a criar empresas de direito angolano ou perdem mercado, conta Manuel Gomes. É preciso não esquecer que em Janeiro de 2014 entra em vigor a nova pauta aduaneira que, no geral, penaliza bastante as importações de produtos acabados e alivia substancialmente as importações de matérias-primas e componentes. Em suma, do ponto de vista comportamental, os empresários portugueses devem abordar o mercado angolano de forma profissional como o fazem noutros

países. Em negócios, Angola é um país estrangeiro como qualquer outro, afirma o consultor, salvaguardando o facto de os empresários portugueses terem sempre a vantagem da língua e de alguma proximidade cultural. Mas, alerta, essa proximidade irá esbater-se progressivamente à medida que as novas gerações de angolanos vão ocupando postos de decisão. Não têm as relações quase familiares que a minha geração, portuguesa e angolana, têm por razões históricas. De qualquer forma, tal como se tem verificado uma mudança de geração no empresariado português, o economista acredita que os mais jovens e qualificados se irão entender em novos moldes, baseadas no profissionalismo e no interesse mútuo, continuando a aproveitar a língua comum como vantagem competitiva face à concorrência. Investimento português em Angola diminui Apesar do aumento das exportações e da presença em Angola de milhares de empresas portuguesas, o investimento directo naquele país tem vindo a diminuir, 8800 É o número estimado das exportadoras portuguesas presentes no mercado angolano, uma dinâmica que tem permitido o aumento das exportações de Portugal para Angola com as vendas a crescerem 8,8% entre 2008 e 2012. Se compararmos o primeiro trimestre de 2012 com o de 2013, esse crescimento foi de 7,5%. Angola é o quarto cliente de Portugal. segundo dados da Câmara de Comércio e Indústria Portugal Angola. Esta situação não surpreende, já que não é independente do bem-estar económico e financeiro das empresas portuguesas. Tradicionalmente, o comércio externo de Portugal e Angola apresenta um saldo positivo favorável a Portugal, embora, nos dois últimos anos se tenha assistido à sua redução, devido à crescente importação de petróleo angolano por parte de Portugal: em 2012, cerca de 99,9% das exportações angolanas para Portugal foram compostas por petróleo, máquinas e aparelhos e produtos de óptica e precisão. Por seu lado, de entre as exportações portuguesas para Angola, que atingiram, também em 2012, cerca de 3 mil milhões de euros, os principais três grupos de produtos exportados máquinas e aparelhos, produtos alimentares e metais comuns só representaram 55,4% do total das mercadorias exportadas para o mercado angolano. Ou seja, segundo Carlos Bayan Ferreira, o saldo da balança comercial bilateral apresentou, entre Fevereiro e Agosto de 2013, um saldo favorável a Angola, tendo voltado a ser favorável a Portugal no final do 3º trimestre de 2013, em cerca de 39 milhões. Mas, como refere, é difícil comparar valores absolutos das exportações dos dois países já que a base e o significado do comércio externo são diferentes: Portugal importa petróleo, um bem indispensável na sociedade e com elevado valor económico; Angola importa toda uma variedade de mercadorias, >>> PUBLICIDADE Cerâmica A Preferível cpreferivel@gmail.com Tm. 00244 923 354 835 Bairro Setenta, Benguela ANGOLA Angola 5 de Dezembro de 2013 9

DR desde bens agrícolas a produtos com elevada transformação tecnológica, com valores de mercado substancialmente diferentes entre si e frequentemente mais baixos do que o preço do barril de petróleo. Assim, dotadas de economias estruturalmente diferentes, com índices de desenvolvimento também diferentes, as economias portuguesa e angolana não se sobrepõem, na medida em que as mais-valias que cada uma comporta para o comércio bilateral não colidem, antes se complementam. É importante salientar, também, que ao longo dos anos, as dificuldades apresentadas pelo mercado angolano aos empresários se vão esbatendo. Há regras mais transparentes de funcionamento no mercado, foi ampliada a cobertura do sistema financeiro, mas houve também uma maior tomada de consciência por parte de quem quer trabalhar com e em Angola, baseando a sua decisão em critérios económicos e racionais e menos em factores afectivos. Leiria vence em Angola Não existem registos do número de empresas da região em Angola, embora os empresários assumam que são muitas as que têm contribuído para o desenvolvimento daquele território. São cada vez mais frequentes as missões ao mercado angolano, promovidas por câ- Retrato da economia do país Angola podia crescer mais Do ponto de vista económico, Angola continua a crescer embora a taxas que todos pensam que poderiam ser maiores, revela Manuel Gomes. Em 2013, será de 5,1% mas espera-se que seja de 8% (Governo) ou 6,3% (FMI) em 2014. A inflacção desceu para um dígito (9% em 2013) e espera-se que continue a descer (8% em 2014). A moeda nacional (Kwanza) tem mantido bastante estabilidade cambial face ao dólar (96,3 Kz/Dólar em 2013) prevendo-se uma média de 97,8 Kz/USD em 2014. As reservas cambiais têm crescido também, situando-se em cerca de oito meses de importações. A política macroeconómica segue, genericamente, as regras aconselhadas pelo Banco Mundial e FMI e o Banco Central (BNA) e tem feito um excelente trabalho. Angola, como todos os países, também foi afectada pela crise financeira de 2008, seguida pela crise económica que ainda persiste na Europa. Contudo, existe um sistema de transportes muito mais eficiente e já se encontram nos supermercados angolanos produtos agrícolas e pecuários nacionais de boa qualidade, muito impulsionados pelas cadeias de distribuição com a formação de clubes de produtores. As pescas ainda precisam de infraestuturas e de equipamentos para permitir a distribuição de peixe nas províncias do interior do país que é muito vasto, uma situação que a indústria conserveira e de congelação portuguesa pode aproveitar. Sendo que o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) para o período 2013-2017 atribuiu ao crescimento da indústria transformadora um papel fundamental para sair da dependência do petróleo, Portugal tem um papel determinante nesse desígnio. Até porque o impacto das situações de desconversa política no empresariado português estabelecido em Angola não foi relevante. Excepção feita num ou noutro caso de aproveitamento da concorrência de outros países com ligações preferenciais a decisores intermédios nacionais, explica Manuel Gomes, assumindo que se nota alguma cautela na contratação pública de empresas portuguesas por parte de quem decide, mas que, no seu entender, tenderá a esbater-se progressivamente se outros novos episódios desagradáveis não acontecerem. 10 Angola 5 de Dezembro de 2013

maras de comércio e associações empresariais, onde Leiria está sempre bem representada com sectores de negócio diversificados. Se Angola se transformou no quarto destino para os bens e serviços portugueses, o mesmo aconteceu com a região que tem ultrapassado há vários anos a média nacional. Este ano, até Outubro, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, as empresas do distrito registaram vendas para Angola no valor de cerca de 81 milhões de euros, correspondendo a uma variação homóloga face ao ano anterior de 7%. Em 2012, entre Janeiro e Dezembro, o valor das exportações do distrito foi de cerca de 75 milhões de euros. Em Portugal, este ano, registou-se um valor de 2.2 mil milhões de euros, com uma variação de 4,3%. Segundo o INE, o peso das exportações para Angola das empresas sediadas no distrito de Leiria, face ao total de Portugal, tem vindo a crescer desde 2011, situando-se este ano nos 3.66%. Em 2012 foi de 3,57% e em 2011 de 3%. Em sentido inverso, o peso das importações diminui drasticamente, passando de 0.36% em 2011 para 0,01 em 2012 e 2013. Significa que as empresas da região que trabalham com Angola mantêm a boa performance que têm demonstrado na sua ligação ao mercado externo em geral, resultado da grande diversificação de áreas de negócio, mas, acima de tudo, graças a um tecido empresarial que tem sabido inovar e levar para o exterior produtos que fazem frente aos melhores do mundo. Em Angola, basta visitar o Pólo Industrial de Viana/Luanda, o maior do país, para constatar que a grande maioria das empresas são de origem portuguesa muitas delas da região de Leiria. Uma situação que poderá ser confirmada em breve, depois da conclusão do Censo Industrial de Angola. De qualquer forma, as empresas portuguesas já são claramente maioritárias em Angola, em termos de capitais estrangeiros. Mesmo as grandes empresas têm quase todas capitais portugueses. É um dado adquirido e em relação ao qual nenhum país se aproxima, conclui Manuel Gomes. 81 milhões de euros corresponde ao valor das exportações do distrito de Leiria para Angola, entre Janeiro e Outubro de 2013, correspondendo a uma variação homóloga face ao ano anterior de 7%. Em 2012, entre Janeiro e Dezembro, o valor das exportações do distrito foi de cerca de 75 milhões de euros. Em Portugal, este ano, registou-se um valor de 2.2 mil milhões de euros, mas com uma variação de 4,3%. PUBLICIDADE Angola 5 de Dezembro de 2013 11

Fora de Luanda o ambiente é mais tranquilo e relaxante Em Angola vive-se bem Lurdes Trindade lurdestrindadejl@gmail.com Quem vive em Angola dificilmente deixa de referir o clima, as belezas naturais do território, a arte de bem receber da população e o grande desenvolvimento a todos os níveis registado nos últimos anos. Quem lá esteve no passado, fica espantado com o que encontra hoje, assim que coloca os pés no aeroporto de Luanda. As diferenças são enormes. Há rapidez no atendimento, simpatia das pessoas e um colorido ímpar na paisagem. As pessoas vestem-se bem, as casas têm cada vez mais qualidade e as vias de comunicação já permitem a ligação célere entre as várias províncias. O trânsito caótico na capital é apenas um pormenor, pois quem ali vive e trabalha já conhece a dinâmica de funcionamento e integra-se. Carlos Martins está em Angola desde 2009, assumindo as funções de diretor-geral da única vidreira no país, a VIDRUL Vidreira de Angola. Aceitou o desafio lançado no momento em que os accionistas da empresa tomaram a decisão estratégica de a transformar numa vidreira de referência em Angola, antecipando-se aos objectivos do executivo angolano no que se refere à diminuição das importações através do incremento da produção nacional. Tal como a maioria dos expatriados, Carlos Martins dedica-se ao trabalho durante a semana, muitas vezes de segunda a sábado. Ao fim de semana, além do descanso, convive com portugueses e angolanos, saindo ao sábado à noite, almoçando ao domingo em casa de amigos ou passeando pelas províncias de Angola. São zonas mais tranquilas e relaxantes do que a cidade de Luanda, pelo que este é um dos passatempos favoritos dos expatriados que encontram em todo o território empreendimentos turísticos de qualidade. As estradas recuperadas facilitam também deslocação para zonas do país de uma rara beleza e de fáceis paixões. Se se vive bem em Angola? Isso nem se questiona, embora Carlos Martins conheça melhor a realidade de Luanda. Sendo uma das cidades mais caras do mundo, vive-se cada vez melhor a todos os níveis. As ofertas de diversão, de cultura e lazer aumentam, assistindo-se a um grande número de exposições, desde a pintura à fotografia, de concertos musicais, de excelentes restaurantes e de bons locais de diversão. Para não falar das praias disponíveis de um beleza incomparável, como a ilha do Mussulo ou Cabo Ledo! Um dos factores mais interessantes prende-se, segundo Carlos Martins, com a relação com a juventude estudantil. Existe uma vontade enorme dos jovens que frequentam o ensino médio em aprenderem, em conhecerem as experiências trazidas da Europa, permitindo a criação de laços muito fortes. Carlos Martins vive em Angola, mas deixou a família na Marinha Grande. Por isso, Futebol chama portugueses José Dinis é uma referência em Angola Está na Praia do Pedrógão, Leiria, a descansar, depois de seis meses a treinar o Petro, Luanda. José Dinis, que saiu do clube depois de ter vencido a Taça de Angola, prepara-se para regressar ao mercado angolano já em Janeiro de 2014. Ao JORNAL DE LEIRIA disse que está em negociações com dois clubes angolanos, um de Angola e outro de uma província, escusando-se, contudo, a referir nomes. Sinto-me bem em Angola, sou bem acolhido lá, faço o que gosto, fiz um bom trabalho e vou regressar, afirma o treinador que só não ficou no Petro porque perdeu o campeonato de Angola, um dos objectivos que levou o clube a contratá-lo. Carlos Martins está em Angola desde 2009, assumindo as funções de diretor-geral da única vidreira no país, a VIDRUL Vidreira de Angola. as deslocações a Portugal são frequentes. As saudades apertam e as visitas à família e aos filhos são uma necessidade imperiosa de quem, apesar da qualidade de vida que usufrui, vive num país estrangeiro e a milhares de quilómetros de distância das suas raízes. De qualquer forma, ao longo do seu percurso em Angola, José Dinis saiu vencedor várias vezes, tendo ganho a primeira a Taça de Angola ao serviço do ASA, em 2010 e, no ano seguinte, a Super-Taça. Reconhecendo que Angola tem mercado para o seu trabalho, José Dinis anseia pelo regresso, não tendo ainda ponderado a possibilidade de levar jogadores de Portugal. Refere, contudo, que em Angola há muitos jogadores portugueses, lembrando João Ricardo, ex-guarda-redes do União de Leiria que jogou na seleccção angolana. Actualmente é formador na Federação de Futebol de Angola. DR 12 Angola 5 de Dezembro de 2013

GRUPO MOPIC INDÚSTRIA LÍDER NO MERCADO PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE CIMENTOS, COLA E ARGAMASSAS SECAS Importação, representação e comércio de equipamentos de construção civil Exploração, tratamento, classificação e comercialização de inerentes para a indústria Comercialização de produtos de higiene e limpeza DESDE JULHO 2013 NO MERCADO Parque Comercial MOPIC. Pólo Industrial de Viana. Viana Luanda Email: administracao@grupomopic.com. Tlm: 00 244 923425538 / 00 244 912 212 520 www.grupomopic.com

Projecto nasceu em Leiria Grupo missionário Ondjoyetu apoia 25 mil pessoas DR Lurdes Trindade lurdestrindadejl@gmail.com 14 Angola 5 de Dezembro de 2013 A vida dos portugueses em Angola ultrapassa, cada vez mais, o âmbito dos negócios. Num país onde tudo está por fazer, principalmente nas províncias mais distantes da capital, existem muitas famílias afastadas do mundo mais civilizado, que vivem em condições precárias e em situação de pobreza extrema. Nesse sentido, tem sido determinante a intervenção de missionários, entre médicos, enfermeiros, professores e outros voluntários que querem apoiar a população a encontrar caminhos de sobrevivência. É de Leiria o projecto Ondjoyetu ou a a nossa casa se traduzida a expressão da língua Umbundu. Nascido da criação do Grupo Missionário Ondjoyetu em Portugal, em 1999, ano em que um grupo de jovens missionários partiu com a vontade de compreender o que é ser missionário, o projecto é hoje um marco na vida de 25 mil pessoas que se distribuem num território de cerca de 2.100 quilómetros quadrados. É um programa que se traduz num pólo de desenvolvimento integral da população da comuna do Gungo, na província do Kwanza Sul e que se assume como parceiro de desenvolvimento com o povo e com o estado angolano, explica o padre e dos valores ligados a esta realidade, explica o padre David Ferreira, responsável do Grupo Missionário em Portugal. Entre 2000 e 2005, o grupo limitou- -se a projectos de curta duração, mas com o passar do tempo apercebeu-se que o resultado ficava aquém do desejável e necessário. Surgiu então, em 2006, a celebração de um protocolo de 25 mil é o número de pessoas abrangidas pelo projecto Ondjoyetu num território de mais de dois mil quilómetros quadrados geminação entre a diocese de Leiria-- Fátima e a diocese do Sumbe, em Angola. Desse acordo resultou o compromisso do envio de uma equipa missionária permanente que se dedica à realização de projectos concretos à medida das necessidades, privilegiando, entre outras, a área da formação para a saúde preventiva, culinária, primeiros socorros e formação profissional.

Equipa que está agora em Angola com o Sr Bispo D. Luzizila Kiala Os elevados níveis de mortalidade infantil levaram à formação de líderes comunitários para formação às mães e às comunidades, mudando hábitos nocivos às crianças e criando outros relacionados com a higiene, nutrição, cuidados com a água. Para fazer face à falta de água potável para todos, o grupo criou o projecto das manilhas, construindo cisternas para a recolha das águas pluviais e poços para vedar os locais onde habitualmente se recolhe a água. A questão da saúde preocupa- -nos seriamente e apesar do esforço do estado angolano em construir infraestruturas, capacitando técnicos, são ainda muitas as necessidades, conta David Ferreira, lembrando que sempre que existem profissionais nessa área eles são aproveitados para a formação de quem está no terreno: enfermeiros, promotores de saúde e parteiras tradicionais. Na hora das consultas não há mãos a medir, no entanto, não temos conseguido voluntários para assegurar continuamente esta área, lamenta. O grupo dispõe de um camião para permitir o escoamento de produtos agrícolas, fazendo também chegar à população bens de primeira necessidade. Por outro lado, foi criado o projecto cantinas que disponibiliza, a preços quase simbólicos, material escolar, roupa, combustíveis, alguns medicamentos que o sistema nacional de saúde não contempla, bens alimentares e outros artigos que pontualmente são pedidos. Foi também dinamizada a agricultura, num projecto que, além da formação, introduz novas culturas. O objectivo será chegar a uma melhor saúde pela alimentação e, neste caso, temos uma horta experimental que serve de escola e exemplo, conta o padre. >>> DR PUBLICIDADE Angola 5 de Dezembro de 2013 15

PUBLICIDADE 16 Angola 5 de Dezembro de 2013 DR A saúde da mulher constitui outro grande problema naquela comuna, já que, devido à transformação do milho em farinha (base da alimentação), vai criando desgaste grave e incapacitante dos membros superiores. Foi assim construída uma moagem comunitária que permite fazer em vinte minutos o que uma mulher precisaria de oito horas para fazer. Olhando à precariedade das construções, o grupo iniciou a construção em blocos de terra comprimida, uma técnica que utiliza matéria-prima local e permite construções mais robustas e duráveis. O edifício da moagem foi a construção experimental, refere o padre David Ferreira, que tem a equipa já a trabalhar no sentido de melhorar o projecto com a construção de uma máquina mais adequada. Para a realização destas actividades, o grupo tem dinamizado a sede da missão onde recuperou instalações com quarenta anos de existência, estando a iniciar um projecto organizado de construção de infraestruturas de acolhimento, de formação, de apoio à actividade agrícola e comercial e espaço para as actividades relacionadas com a fé. Envidando esforços no sentido de, continuamente encontrar voluntários que assumam o projecto, o grupo missionário depara-se com muitas dificuldades económicas. É preciso custear viagens e despesas inerentes à estadia da equipa missionária, suportar cada projecto concreto, a sua preparação, o envio dos elementos necessários para Angola em contentores e as despesas do arranque de cada projecto. Apesar das dificuldades, temos conseguido muitas ajudas, levando-nos a procurar o ritmo que é possível em cada momento, atendendo às capacidades enquanto grupo e tendo em conta o ritmo da própria comunidade local. Actualmente, os voluntários são leigos comprometidos de várias idades, variando entre os 19 e os 75 anos e de diferentes áreas de formação. Ao todo, desde 2000, integraram o projecto de Angola 54 voluntários, contando com os padres que têm orientado a equipa. Cada voluntário vai pelo tempo que a vida lhe permite, dois, três, seis meses ou até um ano e mais. Neste momento, encontram-se em Angola o padre Vítor Mira (fundador do projecto) e os jovens Ana Sofia Pereira e Carlos Neto, todos da zona de Leiria.

Joaquim Coutinho Duarte, presidente da Associação Empresarial Luso Angolana Angola é quase uma terra prometida, mas apenas para o bem Lurdes Trindade lurdestrindadejl@gmail.com Quais são as expectativas dos empresários portugueses em relação a Angola? São muito grandes e há uma maior consciência de que Angola tem todas as condições para receber os empresários portugueses responsáveis, empreendedores e sérios, ou seja, aqueles 18 Angola 5 de Dezembro de 2013 que pretendam fazer crescer Angola e contribuir para a sua evolução. Angola quer esse conhecimento e essa mais-valia que os portugueses sabem dar. É quase uma terra prometida, mas apenas para o bem. Como caracteriza o povo angolano? É um povo que tem um orgulho extraordinário no seu País, que sente imenso prazer em conduzir os seus destinos e que se opõe às opiniões que são feitas no sentido de os conduzir. Angola não está numa situação de fazer o que os outros querem. Sente que tem um caminho próprio para percorrer e dispensa qualquer opinião! Devemos entender que quando ela vem de Portugal há sempre alguma suspeita, já que muitas vezes ainda é vista como sendo a opinião colonial. Ainda há vestígios do passado recente e não podemos esquecer que 40 anos de história

LURDES TRINDADE num país são muito pouco. Angola sente que hoje faz parte de um mundo em crescimento, que precisa dos outros mas os outros também precisam daquele mercado. Os ganhos são mútuos Portugal precisa de Angola mas Angola também precisa dos portugueses, ninguém vive sozinho no mundo. Mas temos de mostrar a Angola que estamos por bem e que procuramos o seu progresso e evolução. O angolano, mesmo sendo contra determinadas acções que se possam lá praticar, é sempre contra alguém que fala mal dos seus governantes. Eles têm muito orgulho no seu país ao contrário de nós em relação a Portugal. O que mudou em relação ao passado? Angola é um país jovem que, à data da sua independência, ficou sem uma Em Angola há 28 anos O empresário da construção e do despacho aduaneiro Há 28 anos em Angola, Joaquim Duarte Coutinho, 63 anos, é, além de fundador e presidente da Associação Empresarial Luso-Angolana, empresário. Partiu para Angola como gestor na empresa Mota & Companhia, hoje Mota Engil, mas ao fim de 12 anos constituiu a sua empresa. Hoje é presidente do grupo Organizações J.C.D. que opera em diversas áreas de actividade no mercado angolano, desde a construção e prestação de serviços aos transportes, nomeadamente nos despachos aduaneiros, marítimo e aéreo e transitários. Do grupo, fazem parte duas empresas, uma de construção civil e obras públicas, que emprega cerca de oito dezenas de trabalhadores, e a Aero Atlantic Service (AAS), com cerca de 30 pessoas. Uma e outra empresa privilegiam os trabalhadores nativos, possuindo apenas três portugueses. Temos sistematicamente trabalhadores a receber formação em várias áreas, em horário pós-laboral ou laboral, pois consideramos que a aquisição de conhecimentos é essencial para o desenvolvimento das organizações, reflecte o empresário. Na Aero Atlantic Service (AAS) a nossa intervenção começa onde o cliente entender que o devamos fazer, diz o empresário que tem condições para obter o licenciamento das importações (PIP s), franqueamentos, a representação do importador junto dos operadores marítimos, portuários e entidades oficiais e o serviço de entrega das mercadorias ao cliente. Para que tudo corra bem é necessário percorrer todos os circuitos legais. A partir daí, nada falha, exprime. Apesar de viver em Angola, o empresário não esquece, contudo, as suas raízes, mantendo uma estreita ligação à Burinhosa, onde, na sua Quinta da Valinha, anunciou, o mês passado, que vai doar cerca de 300 mil euros para um parque temático oferecerá à população da Burinhosa, que terá "um pórtico de grandes dimensões, um anfiteatro, uma área de restauração e zonas de apoio ao público". larga maioria dos seus bons quadros, professores, técnicos, engenheiros ficou sem nada. Ao longo deste tempo, com as guerras e com seus problemas, Angola tem renascido das cinzas, formando os seus quadros a vários níveis na área do saber e também empresarial. Com o seu potencial, Angola precisa e quer bons empresários nacionais, tendo já pessoas com poder, competência e capacidade para poder dialogar com empresários de outros pontos do mundo. Tem investido muito na área do saber e já encontramos em muitos pontos de Angola quadros em muitas empresas a trilhar o seu próprio caminho. É preciso que nós, portugueses, saibamos acompanhá-los e dar o nosso contributo para esta evolução. Tem de haver respeito mútuo. Qual é o papel da associação empresarial? A associação foi constituída para ajudar os empresários portugueses e angolanos a encontrarem o melhor caminho. Não há dúvida de que neste momento Angola tem as oportunidades de negócio, o potencial está lá. Há uma gama de áreas que podem ser aproveitadas em parceria e ninguém melhor que Portugal pode contribuir para isso. Os portugueses têm uma grande facilidade de comunicação com os angolanos, têm o know how e uma larga experiência empresarial, dominando uma série de grandes áreas no mundo empresarial e no mundo do saber, como a saúde, a educação, a formação, entre outras. Há uma grande amálgama de áreas onde podemos, de forma respeitadora, colaborar com eles. Se fizermos esta colaboração de peito aberto e sincero, Angola está connosco e podemos beneficiar das suas potencialidades, assim como os angolanos beneficiam do nosso saber. Em que áreas os portugueses se destacam? Portugal tem produtos e serviços altamente apreciados no mundo e pelos angolanos em particular. Os seus médicos e professores são muito apreciados. Na área da construção civil, temos um mundo inteiro a respeitarnos. Tal como no calçado, nos têxteis, nos materiais de construção a nossa tecnologia nas energias limpas, o mobiliário. Se nos preocuparmos em fazer bem, se tivermos orgulho no que é nosso e não andarmos a dizer mal dos outros e de nós, somos um País ímpar no mundo. Angola 5 de Dezembro de 2013 19

Primeiro transitário a estabelecer-se naquele país após a independência Grupo Arnaud, a porta de entrada em Angola DR Alexandra Barata alexandrabarata@gmail.com 20 Angola 5 de Dezembro de 2013 trutura organizacional com poucos níveis de decisão, visto ser determinante que a mesma seja ágil, criativa e inovadora para conseguir tomar decisões e responder de forma eficaz com soluções efetivas, explica o empresário de 44 anos. David Fernandes revela que o Grupo Arnaud tem sido o parceiro privilegiado de empresas em Angola em operações de logística e transporte mais exigentes. E dá o exemplo do projeto dos aeroportos de Soyo, Dundo, Saurimo e Luena, que incluiu o fretamento, no espaço de dois meses, de 16 aviões cargueiros para o transporte de 1.600 toneladas para as quatro províncias e o posterior transporte doméstico de Luanda até essas províncias em 120 camiões. Este ano, a Arnaud transportou ainda material para as arenas em Luanda, Namibe e Malange, no âmbito do Campeonato Mundial de Hóquei Patins. Não obstante o transporte interno em Angola ser o mercado com maior potencial de crescimento, é um mercado ainda incipiente, onde vão surgindo soluções que vão resolvendo os problemas, esclarece o gestor. Mas ainda não é um mercado devidamente estru- 48 Com filiais ainda em Cabo Verde, Moçambique e Espanha, o Grupo Arnaud atingiu um volume de negócios consolidado de 48 milhões de euros, em 2012 Os terminais de carga do Grupo Arnaud em Portugal são considerados a porta de entrada em Angola, pois é a partir de Lisboa que mercadorias com origem em todo o mundo são enviadas para aquele país. O reconhecimento da importância deste grupo decorre da sua experiência no mercado local, já que foi, em 1978, o primeiro transitário a estabelecer-se em Angola, após a independência da ex-colónia portuguesa. Além de ser uma terra de oportunidades em que o ritmo de crescimento é elevado, Angola, tal como todos os outros Palop, faz parte da história da Arnaud, afirma David Fernandes, presidente do Conselho de Administração, para justificar a abertura da filial em Luanda, dedicada a projectos especiais e à dinamização das exportações angolanas. Embora ainda numa fase embrionária, estamos já a exportar regularmente contentores de Angola para Moçambique. Todos os embarques e desalfandegamentos em Luanda são acompanhadas a partir de Lisboa. Preservamos uma esturado como aqueles a que estamos habituados na Europa e noutros países, pese embora as grandes melhorias introduzidas nos últimos anos. Com filiais ainda em Cabo Verde, Moçambique e Espanha, o Grupo Arnaud atingiu um volume de negócios consolidado de 48 milhões de euros, em 2012. Temos crescido a uma média de 20% ao ano, não pela via do aumento de volume dos nossos clientes, mas porque alargámos a base dos mesmos. No caso de Angola, somos líderes de mercado em carga aérea e um dos três principais players no mercado do transporte marítimo, assegura.