Daniel. -, 30% de professores estrangeiros e 30% termos de trabalho e desenvolvimento, quer. feita desta forma?
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- Regina Antunes Deluca
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1 Daniel Bessa assinala no entanto que «esta maior proximidade é apenas um ponto de partida, tudo dependendo, no finai, do posicionamento e da capacidade das escolas, e de quem as dirige». Esta entrevista com o presidente da Direcção da EGP-UPBS é ainda complementada com uma outra - que apresentamos na parte final do trabalho -, com Paula Rodrigues, a responsável pelos Serviços de Carreira daquela 'business school'. [Pessoal] Como coloca a EGP-UPBS em termos do que é a ligação entre as universidades e o meio empresarial, tendo em conta a realidade portuguesa, tantas vezes apresentada como ainda incipiente a este nível? [Daniel Bessa] A EGP-UPBS é hoje uma entidade de direito privado, uma associação sem fins lucrativos detida por dois associados institucionais - Universidade do Porto e Faculdade de Economia da Universidade do Porto - e por vinte e dois associados não institucionais, na sua quase totalidade empresas. Embora, em termos de 'brand' e de integração no meio universitário, a sua ligação à Universidade do Porto seja não apenas incontornével como um factor de identidade e de valorização decisivos, a larga maioria dos seus associados e do seu capital são privados, como o é a sua gestão, constituindo em si mesma julgo que um excelente exemplo de cooperação entre a universidade e as empresas portuguesas. A ligação universidade/ empresa pode revestir-se de diversas formas... No caso da EGP-UPBS ela torna-se muito visível também através dos Serviços de Carreira, oferecendo oportunidades quer aos alunos em termos de trabalho e desenvolvimento, quer às empresas ao nível do recrutamento. Como vê a ligação feita desta forma? Os Serviços de Carreira nasceram como um serviço a prestar aos alunos, sobretudo aos alunos de MBA em regime de 'full-time', que hoje ingressam numa escola de negócios - na EGP-UPBS, como em qualquer outra - com a expectativa de que, no final do curso, a escola os ajude a resolver eventuais dificuldades de integração na actividade profissional. Com o tempo, evoluiu para um serviço que, além da vocação original, auxilia também as empresas em situações de recrutamento de profissionais qualificados - serviço que pode prestar de forma particularmente qualificada, dado o facto de constituir uma plataforma de relacionamento muito estreito com mais de um milhar de antigos alunos de MBA e de MBA executivo, oferecendo um potencial de recrutamento quase ilimitado. E no caso dos professores, em que obviamente se apresenta como desejável uma ligação às empresas, qual é a aposta da EGP- UPBS? Hoje em dia, o corpo docente da EGP-UPBS é constituído em 40% por professores da Universidade do Porto - a quem, além da carreira universitária, se exige experiência de trabalho empresarial -, 30% de professores estrangeiros e 30% de gestores de empresas portuguesas, quase todos com formações académicas de nível elevado, como mestrados e, em muitos casos, doutoramentos. Se há coisa que não falta na EGP-UPBS é experiência empresarial - para não falar na experiência empresarial dos mentores que fazemos questão de oferecera cada um dos nossos alunos, o que constitui mais um traço distintivo da escola. Outro tipo de ligação entre os dois mundos tem a ver com a investigação que se faz nas universidades, se depois se conseguir que tenha resultados no mercado com intervenção do meio empresarial. O que lhe parece que poderia ser um ambiente desejável a este nível no nosso país? Os professores universitários de carreira fazem investigação fundamental e investigação aplicada, podendo aquela, de facto, mostrar-se muito afastada das necessidades mais imediatas e quase sempre mais prementes da generalidade das empresas. Não é o caso da quase totalidade dos professores com actividade na EGP-UPBS. Acresce que a escola tem como uma das linhas de actividade mais relevantes - representa hoje mais de 50% da sua facturação - a prestação de serviços de formação e de consultoria às empresas, junto das quais se torna, muitas vezes, um parceiro/ prestador de serviços particularmente relevante. O senhor conhece bem o mundo da política. A partir dessa experiência, como analisa o empenho político que houve nos últimos anos em termos de aproximação entre uni-
2 versidades e empresas? Parece-lhe louvável, longe do que deveria ser, ou será despropositado até usar o termo empenho? Tenho dito que a ligação universidade/ empresa, que terá em todo o mundo os Estados Unidos como país pioneiro e detentor da experiência mais relevante, constitui um objectivo longamente prosseguido pelas universidades e pelas empresas portuguesas. É um objectivo difícil, de consecução complexa e prolongada no tempo, e em que não faltam os obstáculos - da pouca sofisticação da gestão de muitas empresas ao carácter público, administrativo e muitas vezes aristocrático da maior parte das universidades. Mas, como diz o ditado popular, também é verdade que «a necessidade obriga», que as empresas estão hoje submetidas a ambientes competitivos que as empurram cada vez mais para a inovação e para o conhecimento, que os estados não dispõem hoje dos meios suficientes para assegurar um financiamento das universidades de carácter exclusivamente público, tudo convergindo, juntamente com a experiência que foi sendo adquirida, para um relacionamento universidade/ empresa hoje muito mais extenso também em Portugal. Se há coisa que caracteriza os portugueses é a flexibilidade e a adaptabilidade; e há aqueles, entre os quais - sem falsa modéstia - julgo incluir-me, que são capazes de aprender e mudar muito depressa. Capazes de muitas coisas más, somos também, por vezes, capazes do melhor, pensando que a evolução das relações entre as universidades e as empresas, em Portugal, pelo menos a evolução das relações entre algumas universidades e algumas empresas, constitui um bom exemplo do quanto somos capazes de evoluir no bom sentido, Acha que nas instituições de ensino superior viradas para o ensino da gestão há uma maior predisposição para fazer a ligação ao mercado, se compararmos com as de outras áreas? Pela sua própria natureza, as instituições de ensino superior da área da gestão estão mais vocacionadas para uma relação de maior proximidade com as empresas - nas quais se praticam diariamente as actividades que a escola pretende conhecer e divulgar. Mas esta maior proximidade é apenas um ponto de partida, tudo dependendo, no final, do posicionamento e da capacidade das escolas, e de quem as dirige; não faltam, por outro lado, excelentes exemplos de bom relacionamento entre universidades e empresas portuguesas em outras áreas além da gestão - veja-se os casos da engenharia e da saúde, para falar apenas em dois dos mais relevantes. Se nos restringirmos apenas à gestão das pessoas... O que pensa daquilo que se ensina nas nossas universidades em relação ao que se pratica nas nossas empresas? Dizer-se que a gestão das pessoas é a componente mais importante e mais diferenciadora de todas as práticas de gestão é hoje muito mais do que um lugar-comum. Dinheiro, materiais, equipamentos, tecnologia, são coisas que se obtêm com alguma facilidade - o dinheiro está momentaneamente menos acessível, mas isso passará. O mais difícil é organizar as pessoas, criar os processos adequados, as equipas, os comportamentos, as atitudes, a liderança indispensáveis. É nesta área que a sociedade e a economia portuguesa se encontram mais atrasadas - como o revelam, por exemplo, sucessivos relatórios sobre a competitividade no mundo -, sendo esta também, naturalmente, uma das áreas de maior debilidade do ensino da gestão em Portugal, escolas de negócios incluídas. Como nos colocaria, fazendo o contraponto com as situações de outros países, ao nível da ligação entre universidades e empresas? O mundo terá hoje cerca de 200 países - guiome pelos números dos últimos Jogos Olímpicos. Os relatórios sobre competitividade farão o 'assessment' de pouco mais de uma centena, por certo os mais desenvolvidos e os mais relevantes, e Portugal costuma ocupar, nesses 'rankings', posições entre o trigésimo e o quadragésimo lugar; refiro-me a resultados globais, não a este ou àquele resultado em particular. Pode ser melhor ou pior, dependendo do nosso grau de exigência e de ambição, sendo apenas óbvio que se pretendermos acompanhar os melhores temos ainda um longo caminho para evoluir - em todos os aspectos, incluindo a ligação entre as universidades e as empresas portuguesas, mesmo sabendo que este é um daqueles em que nos compararemos de forma mais favorável. Esta questão - da ligação entre universidades e empresas - tem vindo a ser muito falada entre nós. E a ligação entre as universidades e a Administração Pública... Na sua perspectiva, o que é que está a acontecer em Portugal a esse nível? A ligação entre as universidades e a Administração Pública é, em Portugal, infelizmente, mais precária do que a ligação entre as universidades e as empresas. A Administração Pública não está submetida a ambientes tão competitivos como as empresas, sendo portanto natural que não valorize tanto a formação e o conhecimento. Por outro lado, talvez por natureza - pelo menos enquanto se mantiver na tradição mais napoleónica -, tende a ver-se de forma um pouco majestática, com alguma propensão para criar os seus próprios, entre aspas, monopólios de formação, tudo convergindo num relacionamento menos estreito com estabelecimentos de ensino mais abertos e mais concorrenciais, funcionando numa lógica predominantemente de mercado. A Administração Pública representará hoje, em Portugal, cerca de 15% do emprego total; a julgar pela experiência que conheço melhor, a da própria EGP-UPBS, está muito longe disso - seguramente abaixo dos 5% - na percentagem que representa dos nossos alunos e do nosso total de horas de formação. Como vê a sua participação em termos de cidadania pelo papel que desempenha na EGP-UPBS? Numa carreira que se vai aproximando do final, em grande parte ligada ao ensino e à administração universitária - a gestão das empresas veio numa fase já mais avançada -, a EGP-UPBS foi seguramente, se não a minha maior aventura como professor - essa será, para sempre, a Faculdade
3 de Economia-, foi, dizia, a minha maior aventura em termos de administração universitária. Aprendi imenso, cresci muito e realizei-me, diria integralmente, na experiência que foi, e continua ainda a ser, a EGP-UPBS. Do mérito maior ou menor de tudo isto, sou o único que, por natureza, está absolutamente impedido não apenas de se pronunciar mas sequer de construir juízo aceitável. E como vê a instituição no que diz respeito à sua integração na sociedade? A EGP-UPBS é sobretudo uma rede de comunicação e de relacionamento, uma plataforma de aprendizagem e um ponto de encontro de pessoas que vivem a gestão e gostam de gestão. Será sempre o que, em cada momento, formos capazes de fazer dela - dos activos que construiu, dos muitos pontos fracos que continua a ter, da forma como souber aproveitar as oportunidades que se lhe oferecem e defrontar as ameaças que se lhe deparam. Como em quase tudo na vida, depende quase inteiramente de si própria - depende também do seu contexto, mas este tende hoje a ser visto de forma menos constrangedora, consentindo maiores graus de liberdade à nossa criatividade, e à nossa capacidade.
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