PROCESSO n. 1340-97.2014.6.21.0000 REPRESENTANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL REPRESENTADOS: PARTIDO PROGRESSISTA, MARCO AURÉLIO FERREIRA E ANA AMÉLIA LEMOS RELATORA: DRA. LUSMARY FÁTIMA TURELLY DA SILVA Relatório Trata-se de representação ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (fls. 02-04) contra o PARTIDO PROGRESSISTA, MARCO AURÉLIO FERREIRA e ANA AMÉLIA LEMOS, em razão da alegada realização de propaganda eleitoral paga na internet, mediante link patrocinado na rede de relacionamentos facebook, em ofensa ao art. 57-C da Lei n. 9.504/97. Foi concedida medida liminar, para fossem os representados notificados a retirar, de forma imediata, a propaganda eleitoral em questão e, em 48 horas, comprovassem o cumprimento da decisão. Em razões apresentadas conjuntamente, o PARTIDO PROGRESSISTA e a candidata ANA AMÉLIA LEMOS suscitam as respectivas ilegitimidades passivas e, no mérito, sustentam que a prova juntada não seria robusta o suficiente para um juízo de condenação; que a mídia (fotografia) utilizada no perfil de MARCO AURÉLIO não encontra correlação com aquelas oficialmente criadas para a veiculação de material de campanha eleitoral e, também, que são vários os coordenadores da campanha eleitoral da candidata, não podendo ser possível imputar à ANA AMÉLIA LEMOS o controle prévio de seus correligionários. Ainda, arguiram que, no caso dos autos não ocorreu divulgação de propaganda eleitoral paga. Requerem sejam acolhidas as preliminares e julgada improcedente a representação. MARCO AURÉLIO FERREIRA, por seu turno, aduz não ser candidato, e que em momento algum veiculou propaganda paga na internet. Indica que possui uma página pessoal no facebook, e não um perfil de propaganda eleitoral, e que portanto apenas exercitou seu direito fundamental de liberdade de pensamento e manifestação. Sustenta que, a seguir o raciocínio do representante, nenhum cidadão poderia possuir uma página pessoal nas redes sociais. Entende que a denúncia é falsa, que não há prova da autoria da divulgação paga, sendo insuficiente e duvidosa a veracidade ou a efetiva materialidade da suposta propaganda irregular,
e que não há nome ou número de candidato. Decisão Preliminarmente, entendo por acolher a preliminar de ilegitimidade, para figurar no polo passivo da presente demanda, no relativo ao PARTIDO PROGRESSISTA. Como indicado nas razões de defesa, a candidatura de ANA AMÉLIA LEMOS é instrumentalizada via uma coligação, a COLIGAÇÃO ESPERANÇA QUE UNE O RIO GRANDE (PP/PRB/PSDB/SD). Acolho, portanto, a preliminar de ilegitimidade passiva do PARTIDO PROGRESSISTA DO RIO GRANDE DO SUL. Contudo, no relativo à ilegitimidade passiva de ANA AMÉLIA LEMOS, tenho que a legitimidade passiva da candidata, eis que nítida beneficiária da propaganda realizada, confunde-se com a própria questão de fundo ora posta, de forma que ela será analisada em conjunto com o mérito da causa. E, adentrando ao mérito, as representações trazem provas suficientes da realização de propaganda eleitoral paga na internet, mediante a divulgação de link patrocinado no facebook. Isso porque se vê, na folha 04 dos autos, a reprodução de uma página da aludida rede social na qual consta, no espaço destinado às páginas sugeridas, a indicação do perfil de Marco Aurelio Ferreira, seguido da descrição Patrocinado. Esses elementos demonstram, de forma segura, que o link para acesso à página do representado MARCO AURÉLIO foi patrocinado. A sugestão desse link é acompanhada de imagem da candidata ANA AMÉLIA LEMOS, ao lado de outros candidatos às eleições de 2014. No peito de dois deles há adesivos, bastante visíveis, que fazem constar o número de urna da candidata ANA AMÉLIA. Na foto, a candidata sinaliza com o típico V da vitória dos candidatos a cargos eletivos. Propaganda eleitoral, portanto, já veiculada no link patrocinado que sugere a visita à página pessoal de MARCO AURÉLIO FERREIRA. Ou seja, antes mesmo da visita à página propriamente dita já é possível identificar a veiculação de propaganda eleitoral que em princípio não seria irregular, não fosse o fato de se dar através de patrocínio, pagamento.
Calha ressaltar, no ponto, que alegações de cerceamento a liberdade de expressão são absolutamente indevidas pois, como é cediço, todo e qualquer direito fundamental também possui limitações. Também não é o caso de impedimento do cidadão possuir página pessoal no facebook: o que é expressamente vedado pela legislação é patrocinar um link na rede mundial de computadores para veicular propaganda eleitoral. Em relação a isso todos estão proibidos: seja um candidato, um partido, um eleitor, uma empresa. Relativamente à prova colhida, não procedem as alegações defensivas no sentido de que os documentos são frágeis face à ausência de data ou de horário, ou que teriam sido alterados. Isso porque as imagens reproduzem a visualização da rede social em dispositivo móvel, como um smartfone, o que fica evidente pelos ícones no alto da página, alusivos à carga de bateria e qualidade do sinal de rede. Assim, a prova evidencia um juízo que não se dá por presunção, ao contrário: é imagem nítida, cristalina. Até mesmo porque os elementos dos autos permitem concluir, com segurança, que a propaganda foi realizada já no período eleitoral. A denúncia ao Ministério Público ocorreu na data de 25 de agosto, e a propaganda divulgada no link patrocinado foi inequivocamente realizada após o início do processo eleitoral, eis que já contém os números de candidatura e, principalmente, a foto foi produzida durante um comício eleitoral do qual participou a candidata ANA AMÉLIA. Não merece ser acolhida, igualmente, a alegação de que não houve prova de pagamento do espaço no facebook. Foi trazida a indicação de patrocínio, pelo representante. A partir daí, a solução diz com o ônus da prova, pois bastava, ao representado, titular do perfil e portanto cliente do facebook, obter declaração da rede social, afirmando o contrário,por exemplo. Não se trata de produção de prova negativa. Aliás, para comprovar a remoção da propaganda irregular, MARCO AURÉLIO se valeu do mesmo instrumento do representante: apresentou um printscreen de seu perfil no facebook. Daí, merece ressalva também a circunstância de que a apresentação de printscreens autenticados em serviço notarial não têm maior força probante, na espécie, do que uma cópia simples. Senão vejamos.
Veja-se que a expressão cunhada pelo 3 Tabelionato de Notas de Porto Alegre, ao autenticar os documentos de fls. 36-38, é autentico a presente cópia impressa, a qual confere com o verificado no sítio https://www.facebook.com, do que dou fé. Ora, tal informação comprova, apenas, que o printscreen foi realizado do site facebook. Não tem o condão de extinguir dúvidas que os próprios representados suscitam: se o espaço foi pago, ou quem é, afinal de contas, o responsável pelo perfil. Assim, embora tenham negado a prática do ilícito e considerado a prova frágil, os representados MARCO AURÉLIO e ANA AMÉLIA não lograram demonstrar suas alegações, nem mesmo suscitar dúvida contundente acerca dos fatos ou provas trazidos ao processo. Os autos demonstram, portanto, de forma segura, que propaganda eleitoral de ANA AMÉLIA LEMOS foi divulgada na internet mediante pagamento, contrariando a determinação expressa do art. 57-C da Lei n. 9.504/97: Art. 57-C. Na internet, é vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga. 2 o. A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Resta estabelecer a responsabilidade de cada um dos representados pelo ilícito ora impugnado. O artigo 57-C, 2º, da Lei n. 9.504/97, já transcrito, estabelece que estão sujeitos à sanção o responsável pela divulgação da propaganda e seu beneficiário, quando tiver prévio conhecimento do ilícito. Todavia, há que ser complementada a regra, via o disposto no artigo 40-B da Lei n. 9.504/97, comando claro no sentido de que, se as circunstâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade de o beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda, o caso é de responsabilização, também, do candidato: Art. 40-B. A representação relativa à propaganda irregular deve ser instruída com prova da autoria ou do prévio conhecimento do beneficiário, caso este não seja por ela responsável. Parágrafo único. A responsabilidade do candidato estará demonstrada se este, intimado da existência da propaganda irregular, não providenciar, no prazo de
quarenta e oito horas, sua retirada ou regularização e, ainda, se as circunstâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade de o beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda. Na hipótese, a propaganda de Ana Amélia foi divulgada em link patrocinado do perfil de MARCO AURÉLIO FERREIRA, um dos coordenadores de campanha da candidata - fato incontroverso. Ora, muito embora os argumentos de que a campanha da candidata, ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, está ocorrendo de maneira ramificada, regionalizada, e que são vários os coordenadores de campanha, o liame que une a candidata ANA AMÉLIA a MARCO AURÉLIO é bastante forte. Trata-se de um representante da candidata nos atos de campanha, pessoa que ocupa posição estratégica na equipe e, portanto, não resta crível que tenha procedido à revelia dos procedimentos genéricos determinados para a realização da campanha eleitoral de ANA AMÉLIA LEMOS. Essa circunstância caracteriza a responsabilidade também da candidata pelo ilícito, conforme estabelece o artigo 40-B, parágrafo único, da Lei n. 9.504/97, conforme indica a jurisprudência: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROPAGANDA IRREGULAR. IMPACTO VISUAL. SUPERIOR À DIMENSÃO PERMITIDA. REEXAME. PRÉVIO CONHECIMENTO. BEM PARTICULAR. RETIRADA. SUBSISTÊNCIA DA PENALIDADE. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. DESPROVIMENTO. 1. Para que o agravo obtenha êxito, é necessário que os fundamentos da decisão agravada sejam especificamente infirmados, sob pena de subsistirem suas conclusões. 2. O TRE/CE, após examinar as provas e diante das circunstâncias e peculiaridades do caso, concluiu pela impossibilidade de desconhecimento do beneficiário, consignando seu prévio conhecimento. Impossibilidade de se proceder ao reexame de provas. 3. O parágrafo único do art. 65 da Res.-TSE nº 22.718/2008 autoriza o reconhecimento do prévio conhecimento do candidato quando as circunstâncias e as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade de o beneficiário não ter tido conhecimento da propaganda eleitoral irregular, como ficou consignado no acórdão regional. 4. A retirada da propaganda irregular, quando realizada em bem particular, não é capaz de elidir a multa. 5. Agravo regimental desprovido. (TSE, AgR- REspe n. 673.881/CE. Data da Publicação: 29/08/2013) DISPOSITIVO
ANTE O EXPOSTO, acolho a preliminar de ilegitimidade passiva do PARTIDO PROGRESSISTA e, no mérito, julgo procedente as representações, confirmando a liminar concedida e aplicando multa individual: a) no valor de R$ 5.000,00, a MARCO AURÉLIO FERREIRA; b) no valor de R$ 5.000,00, a ANA AMÉLIA LEMOS. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Porto Alegre, 06 de setembro de 2014. Dra. Lusmary Fátima Turelly da Silva, Juíza Auxiliar