(RE)CONSTRUINDO OS VALORES ESTÉTICOS E IDENTITÁRIOS DO NEGRO NO CONTEXTO ESCOLAR

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Transcrição:

(RE)CONSTRUINDO OS VALORES ESTÉTICOS E IDENTITÁRIOS DO NEGRO NO CONTEXTO ESCOLAR Haiany Larisa Leôncio Bezerra - UEPB haianyleoncio@hotmail.com Magliana Rodrigues da Silva - UEPB maglianarodrigues@hotmail.com Maria Gorette Andrade - UEPB goretteandrade1@hotmail.com Introdução Atualmente, muito se tem discutido acerca da diversidade que permeia o cotidiano social. Enfatiza-se a busca por estratégias teórico-metodológicas que, atreladas ao ensino de língua portuguesa, possam suscitar no aluno a percepção da variedade de textos, linguagens e culturas existentes, pois conforme enfatizam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 2001), tais aspectos devem convergir a serviço do conhecimento do aluno. A questão da diversidade abre caminhos para reflexões acerca da pluralidade cultural, um tema relevante que, na perspectiva dos PCN (1997, p. 19), propõe uma concepção da sociedade brasileira que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que a compõe, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas, e apontar transformações necessárias. Nesse sentido, trazer para o contexto escolar essa diversidade propicia ao aluno, além do (re)conhecimento das culturas que inevitavelmente se misturam no seu próprio país, a capacidade de se autovalorizar enquanto cidadão e, sobretudo, de respeitar o outro, dentro e fora da escola. Diante disso, o trabalho com a temática Afro-brasileira é interessante por diversos motivos, a começar pela influência do negro na formação do nosso país, além do resgate cultural, do combate ao preconceito, bem como da valorização da estética e identidade negras. Afinal, a escola é o ambiente propício ao respeito às diferenças e à valorização da diversidade, a (sic) história e a (sic) cultura negras com a dignidade que lhes é

devida (Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, 2006, p. 56). Nessa perspectiva, o presente artigo apresenta uma reflexão acerca do trabalho com a cultura Afro, a partir de um viés reflexivo, buscando a (re)construção de valores estéticos e identitários do negro na sociedade atual, bem como no cotidiano dos próprios alunos. Na concepção de Gomes (2008, p. 20), a identidade negra é entendida [...] como um processo construído historicamente em uma sociedade que padece de um racismo ambíguo e do mito da democracia racial. Para tanto, pautamo-nos nas metodologias da pesquisa exploratória, de base qualitativa, configurando-se ainda como uma pesquisa-ação. Partimos das percepções decorrentes das atividades desenvolvidas no projeto Base Artística e Reflexiva (B.A.R.), que recebe o apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e da UEPB. No que se refere ao público alvo, o projeto destina-se a alunos do ensino regular da educação básica e, atualmente, funciona na Escola Estadual de Ensino Fundamental José Pinheiro, localizada na cidade de Campina Grande, Paraíba. Procuramos abordar temáticas diversificadas, atrelando-as ao ensino de língua portuguesa. Mais especificamente, buscamos, a partir de assuntos relevantes, trabalhar a língua(gem) numa perspectiva sociointeracionista, mediante a abordagem de gêneros textuais. Conforme aponta Marcuschi (2008, p. 161), os gêneros textuais são nossa forma de inserção, ação e controle social no dia-a-dia. Nesta pesquisa, cabe salientar que as discussões e resultados evidenciados fazem parte de uma sequência didática aplicada no segundo semestre do ano de 2014, na qual contemplamos a cultura Afro e o combate ao racismo. Nesse contexto, consideramos pertinente o trabalho com o subtema estética negra, partindo do princípio de que a sala de aula deve ser um espaço em que o aluno (negro ou não) possa enxergar-se para além da cor da pele. Refletindo a estética e identidade negras no contexto escolar Um dos aspectos que, equivocadamente, refletem na desvalorização do negro na sociedade atual, além da cor da pele, diz respeito à sua aparência. No entanto, deve-se evidenciar a estética negra enquanto um fator identitário. Para Gomes (2008, p. 278),

[...] reconhecer a existência de uma beleza negra remete à percepção da alteridade, à construção das identidades, aos conflitos entre os diferentes padrões estéticos oriundos dos povos da diáspora africana e o padrão ocidental. Não se trata apenas da percepção vinda do pólo dos grupos étnico-raciais que, historicamente, se encontram no poder. Trata-se, também, de uma percepção construída pelos integrantes do outro pólo, de uma ressignificação de um padrão estético do ponto de vista do negro, como agente político. Partindo desse pressuposto, evidenciaremos a metodologia e os resultados decorrentes da sequência didática aplicada através do projeto B.A.R., mais especificamente, do encontro referente à estética negra. Inicialmente, levamos a música Olhos coloridos, interpretada pela cantora Sandra de Sá, de autoria do cantor e compositor Macau. Vale salientar que essa música nasceu de uma situação de racismo vivenciada pelo próprio compositor, o que a torna ainda mais relevante para o contexto da aula. Diante disso, atentamos para a miscigenação de raças e o reconhecimento, por parte do negro, da sua própria cor. Evidenciamos que o ato de protestar pode ser feito de diversas formas, nesse caso, através da música, como forma de denúncia e crítica social. A partir disso, pudemos verificar a percepção e posicionamento dos alunos acerca da temática. Após esse momento, exibimos o vídeo "O cabelo de Lelê", baseado no livro infantil de Valéria Belém, que conta a historia de Lelê, uma menina que sofre por ter cabelos crespos e, certo dia, decide conhecer a história dos países africanos para compreender a origem de seus cabelos, resultando na aceitação pessoal da personagem. Na sequência, solicitamos a leitura silenciosa do conto Incidente na raiz, do escritor Cuti, a partir do qual os discentes puderam estabelecer um diálogo com os textos anteriores. Enfatizamos o teor narrativo e fictício do conto; as personagens; o enredo; bem como a mensagem traduzida, o que possibilitou um maior envolvimento dos alunos com a história. Nesse contexto, destacamos a não aceitação da personagem Jussara dos seus próprios padrões de beleza, resultando na negação da sua ancestralidade, o que se confirma logo no título através das palavras incidente e raiz. Em seguida, com vistas a aproximar ainda mais os discentes do contexto social, apresentamos comentários preconceituosos, veiculados na internet, acerca da beleza negra de Leila Lopes (Miss Universo) e Lupita ( do filme 100 anos de escravidão), eleita a mulher mais bonita do mundo em 2014. Assim, abordamos em

consonância com o texto anterior, a estética negra como uma fuga do padrão, fomentando nos alunos a reflexão sobre esse padrão. Apresentamos, ainda, o caso da cantora nigeriana Denica, recente alvo de polêmicas devido ao clareamento da pele, através de um creme lançado pela sua própria marca de cosméticos. Além disso, mencionamos algumas polêmicas envolvendo celebridades quanto ao notável clareamento da pele. Sobre esse aspecto, Gomes (2008, p. 31-32) enfatiza: No Brasil, o racismo, a discriminação e o preconceito racial que incidem sobre os negros ocorrem não somente em decorrência de um pertencimento étnico [...], mas pela conjugação desse pertencimento com a presença de sinais diacríticos, inscritos no corpo. [...] A presença desses sinais é rejeitada pelo ideal do branqueamento e tratada de maneira eufemística no mito da democracia racial. Para finalizar, levamos a propaganda Meu cabelo não é ruim. Ruim é o seu preconceito, retomando a questão estética. Quanto à propaganda, procuramos destacar aspectos relevantes do gênero, a começar pelo caráter argumentativo e persuasivo. Os alunos puderam perceber que as propagandas não visam apenas convencer o consumidor a adquirir determinado produto, em termos financeiros, mas também persuadir a atitude do público para uma posição, ideia ou perspectiva ideológica. Nesse contexto, enfatizamos a funcionalidade do slogan, elemento primordial na construção de uma propaganda, uma vez que, por ser de fácil memorização, procura resumir tudo o que se quer passar para o público alvo. Além disso, evidenciamos a linguagem verbal e não verbal como constituintes do gênero. Partimos do pressuposto de que a partir do trabalho com gêneros textuais, o texto pode ser abordado em sala de aula com maior pertinência, posto que a diversidade textual disponível na sociedade indiscutivelmente faz parte do cotidiano dos próprios alunos. Considerações finais Considera-se o PIBID como um programa indispensável para a formação inicial de professores, uma vez que permite ao licenciando (re)pensar continuamente suas práticas metodológicas. Percebemos essa relevância a partir do desenvolvimento do projeto B.A.R. e, por conseguinte, dos alunos participantes.

Abordar a estética negra, dentro de um contexto sociocultural, possibilitou o resgate e a valorização da identidade Afro. Além disso, trouxemos para o contexto escolar a conscientização, mostrando ao aluno que é preciso respeitar o outro independentemente da beleza ou cor da pele. Saliente-se, ainda, a relevância do trabalho como gêneros textuais, no que diz respeito ao ensino de língua portuguesa. Os documentos oficiais defendem que o aluno precisa ser capaz de se posicionar criticamente frente às situações comunicativas diversas, as quais se manifestam a partir das múltiplas linguagens existentes. Desse modo, é primordial que o discente (re)conheça a funcionalidade daquilo que lhe é apresentado. Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. In: Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua portuguesa. Brasília: Ministério de Educação, 2001.. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. In: Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília: MEC/ SEF, 1997.. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. In: Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Brasília: SECAD, 2006. GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.