Área temática: Teoria Econômica e Métodos Quantitativos A influência do Custo Brasil na atração de Investimento Direto Estrangeiro para o período de 2000-2010 Ana Clara Barbieri aclarabarbieri@hotmail.com Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas do Sul de Minas Itajubá MG Os debates acerca do Custo Brasil intensificaram-se a partir da década de 1990, década marcada pela abertura comercial, pela implementação do Plano Real e pela privatização de setores antes pertencentes ao poder público. A partir da conceituação de Custo Brasil feita pela Confederação Nacional da Indústria CNI (1995), Banco Mundial (1996), Lima et. al. (1997), Haddad e Hewings (1998), Mancuso (2004), Marques (2010), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA (2012) e Departamento de Competitividade e Tecnologia DECOMTEC (2013), é possível afirmar que o termo reúne os entraves prejudiciais ao desenvolvimento econômico do País, e que sua existência traduz-se em custos adicionais às empresas que aqui operam. Com base na leitura desses autores foram identificadas as variáveis mais relevantes à proposta desta pesquisa, são elas: carga tributária, infraestrutura de transportes, burocracia e encargos sociais. A CNI (2008) define o sistema tributário brasileiro como sendo oneroso e excessivamente burocrático; destaca que a profusão de tributos exige obrigações desnecessárias e custosas dos contribuintes. Somente na esfera tributária temos três das quatro variáveis aqui tratadas: carga tributária, burocracia e encargos sociais. Não se pode pensar, no entanto, que tais variáveis são por si só desfavoráveis à competitividade do Brasil. O problema repousa sobre a quantidade: ora no excesso de
tributação, de encargos sociais e de burocracia; ora na falta de investimento em infraestrutura de transportes. A carga tributária do Brasil é tida como uma das maiores do mundo. Em 2012, o percentual registrado foi de 36,27% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Elevado também é o percentual total de impostos sobre o lucro: 67,1% no mesmo ano, bem acima do percentual registrado no Chile (25%), considerado pelo Doing Business (2012) o país com o melhor desempenho regional e global neste quesito. O percentual de encargos sociais, por sua vez, é reflexo de uma rígida legislação trabalhista. Não há um consenso quanto ao percentual de encargos sociais pago pelas empresas brasileiras, porém a redução desse tipo de contribuição tem sido muito citada como principal forma de desonerar a folha de pagamentos. Para Camargo (1996), a alíquota vigente é de 45%. Pastore (1997) afirma que o percentual total é da ordem de 102,6%. Já o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos DIEESE (1997) traz um percentual de 25,1%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2008) divulgou que a porcentagem de gastos com pessoal da indústria de transformação é de 32,4%. Este mesmo valor foi utilizado pelo Bureau of Labor Statistics (2009) dos Estados Unidos para representar o percentual de encargos sociais cobrados no Brasil. A burocracia é um dos obstáculos mais citados em se tratando de Custo Brasil, no entanto nenhum autor citado neste paper entra em maiores detalhes sobre o assunto. Aqui ela é interpretada como a complexidade existente na legislação tributária que, como consequência, gera lentidão na preparação e no pagamento dos impostos por parte das empresas. O tempo gasto pelas empresas situadas no Brasil para executar esta tarefa é de 2.600 horas por ano, e é tido pelo Doing Business como o país que apresenta a maior lentidão neste aspecto (DOING BUSINESS, 2009). A ineficiência da infraestrutura de transportes foi também um dos alvos mais apontados na revisão da literatura. A falta de investimento nesta área compromete a competitividade da economia brasileira de maneira sistêmica. Hirschman (1958) aponta-nos o investimento público em infraestrutura como forma de incentivar o investimento privado e, desse modo, sanar os grandes problemas do setor. Não só no modelo de Hirschman, mas também sob a ótica Keynesiana, o investimento público é imperativo para que um país cresça e se desenvolva economicamente (MONTES; REIS, 2011).
As inversões de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), cujo principal objetivo é lidar com empreendimentos produtivos, cresceram 30,3% no Brasil em 2008, ao passo que outros países em desenvolvimento registraram um crescimento de apenas 17,3%. Em contrapartida, verificou-se um recuo no IDE de 42,6%, em 2009, devido à crise internacional, iniciada nos Estados Unidos e que se estendeu aos demais países desenvolvidos (SILVA, 2013). Silva (2013) argumenta que tamanho declínio foi ocasionado pelo desaquecimento da economia brasileira em relação aos asiáticos (Índia e China). Dentre os fatores relevantes para repelir o investidor estão a infraestrutura insatisfatória do país e o fraco apoio institucional ao IDE, visto que o Brasil não assinou nenhum tratado de investimento com outro país na última década, enquanto que Índia e China assinaram 43 e 48, respectivamente. O IDE, por seu objetivo, constitui ou faz parte das empresas atuantes em território nacional. Os gargalos presentes na economia afetariam a atração deste tipo de investimento? Diante dos entraves listados como parte do Custo Brasil, o presente artigo tem por objetivo principal verificar se estes influenciam a entrada de capital estrangeiro no País, mais precisamente, de IDE. Assim, a metodologia de pesquisa, além de ter sua origem em uma rigorosa fundamentação teórica, consiste em mensurar o impacto de cada uma das variáveis que compõem o Custo Brasil, aqui elencadas, na atração de Investimento Direto Estrangeiro. Para tal, será feito uso do Modelo de Regressão Linear Múltipla, tendo como variável dependente os ingressos de IDE para o período de 2000-2010. As variáveis independentes estão representadas pelo percentual total sobre o lucro das empresas (proxy de carga tributária ), taxa de investimento em infraestrutura de transportes (proxy de infraestrutura de transportes ), tempo total gasto pelas empresas para efetuar o pagamento de impostos (proxy de burocracia ) e percentual de encargos sociais (constante para todos os anos), sendo levado em conta o percentual encontrado na Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE (2008). Dado o surgimento de fatores (muitos deles exógenos) que dificultaram a coleta das variáveis necessárias ao presente estudo, tentou-se minimizar esses casos, por exemplo, com o uso de variáveis proxies. Palavras-chave: Custo Brasil; Investimento Direto Estrangeiro; Economia Brasileira; Modelo de Regressão Linear Múltipla.
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